aristocracia operária
Camada da classe operária que usufrui de salários mais elevados e condições de vida material superiores aos dos restantes membros da classe. No entender de Lenine (1965, Collected works (volume 32, 4th edition, English Edition). Moscovo: Progress Publishers), a aristocracia operária desenvolveu-se, nos países capitalistas ocidentais, com base na relativa prosperidade proporcionada pelas mais-valias obtidas pela exploração capitalista das colónias e protetorados debaixo do domínio imperialista. Uma vez que toda a sua ação política e social está condicionada pelo medo de perderem os seus privilégios, esta camada pode, indiretamente, funcionar como classe-apoio da burguesia e do capitalismo. É considerada a base do reformismo social-democrata.
Sem negar a pertinência do conceito, desde que se aplique apenas à identificação dos lugares no contexto da divisão social do trabalho - diferenciação entre trabalho manual e trabalho intelectual no interior da classe operária, por via da ocupação de lugares em organizações sindicais e outras -, Poulantzas questiona a adesão dos membros desta camada à social-democracia. Apoiado em estudos históricos e sociológicos, o autor verifica que as preferências políticas e sindicais da aristocracia operária correspondem, grosso modo, à dos "operários pobres". Isto é, a adesão destas diferentes camadas operárias parecem dividir-se, no período entre as duas guerras mundiais, "em partes sensivelmente iguais entre o partido e os sindicatos comunistas e o partido e os sindicatos socialistas" (1976, POULANTZAS, Nicos - Teoria das classes sociais. Porto: Publicações Escorpião).
Após a Segunda Guerra Mundial é aceitável considerar que o desenvolvimento da aristocracia operária, nos países centrais, está ligado à relação salarial de tipo fordista e ao Estado-providência. A primeira substituiu, a partir dos anos 50, a relação salarial tipo taylorista e contribuiu para o pleno emprego estável e o crescimento dos salários, através de uma distribuição mais equilibrada dos ganhos de produtividade entre o capital e o trabalho. Por sua vez, o Estado-providência - compromisso tenso e instável (a médio prazo) entre o Estado, o capital e o trabalho - implementou uma dupla renúncia: enquanto os capitalistas abdicaram de uma parte dos seus lucros em favor de uma partilha do rendimento menos desfavorável ao trabalho, os trabalhadores (e as suas organizações) optavam, em alguns casos tacitamente, pela via reformista (Santos, 1990).
Desde os anos 80 do século XX que o Estado-providência tem sido alvo de ataques cerrados por parte das classes dominantes que, desinteressadas de qualquer compromisso, pretendem reforçar as condições para a intensificação da acumulação capitalista (Santos, 1998). Esta "utopia (em vias de realização) de uma exploração sem limites", no dizer de Bourdieu, ao produzir a degradação dos salários (diretos e indiretos) e o aumento do trabalho precário e do desemprego, provocou, de novo, a discussão em torno da tese marxista clássica da pauperização operária e da tendência de certos setores das classes médias em entrarem em processos de proletarização (1968[1848], Marx e Engels - Manifesto do Partido Comunista. São Paulo: Editora Escriba, e 1971[1849], Marx - Trabalho assalariado e capital. Porto: edição do tradutor). Esta tese é contestada pelos críticos liberais e sociais-democratas, que sustentam a sua argumentação justamente no crescimento de camadas operárias beneficiando de bons salários, bem como na situação das classes médias em geral. Ora, o desmantelamento do Estado-providência tem conduzido, senão à pauperização absoluta - empobrecimento crescente dos trabalhadores por via da redução geral dos salários -, pelo menos à pauperização relativa - diminuição do peso dos rendimentos do trabalho em favor dos do capital em termos de produto interno bruto. A classe operária, incluindo a camada mais qualificada e melhor remunerada, fortemente atingida pelos programas de desindustrialização e de deslocalização levados a cabo pelas principais empresas transnacionais, figura entre as classes sociais mais afetadas por este processo de recuperação capitalista.
Sem negar a pertinência do conceito, desde que se aplique apenas à identificação dos lugares no contexto da divisão social do trabalho - diferenciação entre trabalho manual e trabalho intelectual no interior da classe operária, por via da ocupação de lugares em organizações sindicais e outras -, Poulantzas questiona a adesão dos membros desta camada à social-democracia. Apoiado em estudos históricos e sociológicos, o autor verifica que as preferências políticas e sindicais da aristocracia operária correspondem, grosso modo, à dos "operários pobres". Isto é, a adesão destas diferentes camadas operárias parecem dividir-se, no período entre as duas guerras mundiais, "em partes sensivelmente iguais entre o partido e os sindicatos comunistas e o partido e os sindicatos socialistas" (1976, POULANTZAS, Nicos - Teoria das classes sociais. Porto: Publicações Escorpião).
Após a Segunda Guerra Mundial é aceitável considerar que o desenvolvimento da aristocracia operária, nos países centrais, está ligado à relação salarial de tipo fordista e ao Estado-providência. A primeira substituiu, a partir dos anos 50, a relação salarial tipo taylorista e contribuiu para o pleno emprego estável e o crescimento dos salários, através de uma distribuição mais equilibrada dos ganhos de produtividade entre o capital e o trabalho. Por sua vez, o Estado-providência - compromisso tenso e instável (a médio prazo) entre o Estado, o capital e o trabalho - implementou uma dupla renúncia: enquanto os capitalistas abdicaram de uma parte dos seus lucros em favor de uma partilha do rendimento menos desfavorável ao trabalho, os trabalhadores (e as suas organizações) optavam, em alguns casos tacitamente, pela via reformista (Santos, 1990).
Desde os anos 80 do século XX que o Estado-providência tem sido alvo de ataques cerrados por parte das classes dominantes que, desinteressadas de qualquer compromisso, pretendem reforçar as condições para a intensificação da acumulação capitalista (Santos, 1998). Esta "utopia (em vias de realização) de uma exploração sem limites", no dizer de Bourdieu, ao produzir a degradação dos salários (diretos e indiretos) e o aumento do trabalho precário e do desemprego, provocou, de novo, a discussão em torno da tese marxista clássica da pauperização operária e da tendência de certos setores das classes médias em entrarem em processos de proletarização (1968[1848], Marx e Engels - Manifesto do Partido Comunista. São Paulo: Editora Escriba, e 1971[1849], Marx - Trabalho assalariado e capital. Porto: edição do tradutor). Esta tese é contestada pelos críticos liberais e sociais-democratas, que sustentam a sua argumentação justamente no crescimento de camadas operárias beneficiando de bons salários, bem como na situação das classes médias em geral. Ora, o desmantelamento do Estado-providência tem conduzido, senão à pauperização absoluta - empobrecimento crescente dos trabalhadores por via da redução geral dos salários -, pelo menos à pauperização relativa - diminuição do peso dos rendimentos do trabalho em favor dos do capital em termos de produto interno bruto. A classe operária, incluindo a camada mais qualificada e melhor remunerada, fortemente atingida pelos programas de desindustrialização e de deslocalização levados a cabo pelas principais empresas transnacionais, figura entre as classes sociais mais afetadas por este processo de recuperação capitalista.
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Como referenciar
Porto Editora – aristocracia operária na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2023-03-30 05:53:28]. Disponível em
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