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Comuna de Paris

Evento singular, radica de certo modo as suas origens nas revoluções de 1830 e 1848, embora se possa recuar até à Revolução Francesa para identificar os seus antecedentes. De facto, Paris, em 1790, é organizada como Comuna legal, dividida em secções presididas por um presidente (maire). Passará a Comuna revolucionária em 1792, fiel a Robespierre, mantendo-se como única autoridade até à Convenção. Desaparece em 1794. Esta seria a história da primeira Comuna. Também, como antecedente político, deveremos considerar as lutas operárias desde 1860, ecos da criação da Internacional em Londres em 1864, altura em que surge em França o denominado Movimento Revolucionário, de cariz marxista e blanquista (termo derivado do nome de Jean Joseph Blanc, político socialista francês, 1811-1882).
Tendo sofrido a humilhação da derrota perante o cerco prussiano à cidade (Guerra Franco-Prussiana, 1870-71), entretanto levantado, os parisienses, republicanos convictos, não aceitando tal malogro, são ainda atingidos pelo triunfo dos realistas nas eleições de fevereiro de 1871. Consideram este resultado uma imposição da maioria rural do país, que eles renegam. Outros acontecimentos têm, porém, lugar no fim do inverno de 1871 na capital. A supressão do soldo à Guarda Nacional e o fim das suas recompensas em tempo de guerra criam, na cidade, uma agitação latente, a par das condições de vida duras dos seus habitantes. A Assembleia Nacional decide ir para Versalhes com o Governo, que autoriza a entrada dos prussianos em Paris para desarmar os habitantes. A 18 de março deflagra uma enorme insurreição em Paris, devido à oposição da população e da Guarda Nacional à entrada e ações dos prussianos na cidade. Os revoltosos fuzilarão mesmo dois generais da Guarda que acataram o desarmamento. Perto da meia-noite desse dia, instala-se no Hotel de Ville o Comité Central da Federação dos Guardas Nacionais, formada em fevereiro daquele ano.
Adolphe Thiers, chefe do Executivo francês, escolhe o confronto. Sob o olhar dos prussianos, as tropas governamentais retiram-se de Paris e cercam-na. A cidade está agora sob um governo insurrecional, apoiado pela Internacional e nas mãos dos federados (Guardas Nacionais), que elegem um Conselho Geral, também denominado Comuna. O Comité Central, dos Guardas Nacionais, ocupa, entretanto, todos os ministérios e liberta a 20 de março os detidos políticos das prisões de Paris. No dia anterior, todavia, eram decretadas eleições municipais, cujos resultados se proclamam em 28 desse mês, instalando-se nova municipalidade no Hotel de Ville.
Ao mesmo tempo, afirma-se o carácter revolucionário do Governo de Paris, que tenta algumas reformas sociais que não conseguirá, porém, aplicar: extensão da autonomia da Comuna a todas as localidades francesas; elegibilidade dos estrangeiros; restabelecimento do calendário republicano; abolição do exército permanente e engrandecimento da Guarda Nacional; abolição da polícia de costumes; criação do Ministério do Trabalho; laicização do Estado e da Escola (separação Igreja/Estado); instauração do salário mínimo; interdição do trabalho noturno; organização de cooperativas de produção; eleição de funcionários; adoção da bandeira vermelha. Estas medidas, entre outras, conferem à Comuna de Paris um carácter eminentemente socialista, de inspiração marxista. Entretanto, sucedem-se os apelos à insurreição nas províncias, onde se dão tentativas esporádicas, duramente reprimidas, aliás. Por seu turno, o exército de Versalhes resiste às ofensivas da Comuna, massacrando os insurretos que captura, tentando criar instabilidade no seio da população.
Perante esta situação conturbada e instável, MacMahon, marechal de França, comandando 100 000 homens fiéis ao governo de Thiers (Versalhes), avança para Paris, para retomar o controlo da cidade. Depois de derrotar tropas da Guarda Nacional, cerca Paris, entrando na cidade a 21 de maio pela porta de S. Cloud, iniciando uma guerra urbana implacável e severa. De 22 a 28 de maio decorrerá a tristemente célebre Semana Sangrenta. Os revolucionários, em retirada, lançam petróleo sobre as Tuilleries e outros edifícios públicos, ateando incêndios no seu rasto de fuga e aniquilando os reféns, entre os quais Mons. Darhoy, arcebispo de Paris. Entre 20 000 a 30 000 comunards serão mortos, para além de mais de 45 000 prisioneiros, dos quais 26 serão fuzilados e mais de 4 500 deportados para a Nova Caledónia. Muitos tombaram também do lado de Versalhes. A amnistia geral será declarada em 1880.
A Comuna de Paris ficará para sempre na história mundial como uma lenda negra para os conservadores mas dourada para as ideologias ditas de "esquerda", que dela herdaram simbolicamente os ideais e formas de luta, para além de canções como a Internacional ou Temps des Cerises. Para muitos foi anárquica, para outros ditatorial. Apesar de esmagada, nunca foram eliminados definitivamente os partidos revolucionários em Paris e no resto da França. Deu ao movimento operário uma experiência histórica concreta e o valor explosivo de um mito. O próprio Marx juntou-se, a 18 de março, à Comuna. Mao Tsé-Tung, Castro e outros espíritos revolucionários dos nossos tempos nela se inspiraram, como tinha já feito Lenine, ao aproveitar a sua organização para constituir os sovietes.
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Como referenciar
Porto Editora – Comuna de Paris na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2023-06-03 20:01:34]. Disponível em
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