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educação (sociologia)

A cultura ocidental tem-se baseado numa fé profunda no progresso contínuo e unidirecional. O desenvolvimento científico, o avanço tecnológico e industrial têm sido os parâmetros que, segundo várias ideologias, levariam o Homem ao domínio do mundo e à superação das contradições sociais. Nos últimos anos, porém - sobretudo a partir da crise de maio de 1968 -, as coisas mudaram. Ninguém ousará considerar mais o futuro como um mera projeção do presente, na medida em que ele é incerto, certo o imprevisível, cada vez mais imperativa a inovação. O futuro é incerto devido às pressões bélicas, à mundialização da economia, à globalização da comunicação, que tornam, dia a dia, menos relevantes as fronteiras estaduais, esbatendo significados nacional, cultural e axiológico específicos.
O fim da guerra fria e a bipolarização mundial fizeram nascer não um mundo multipolar, mas monopolar, com a emergência de vários tipos de fundamentalismos (religiosos, étnicos e políticos) que não contribuem para a paz, a segurança e a liberdade da Humanidade. O avanço tecnológico gera o desemprego e desatualiza sistematicamente a formação escolar profissional. O desemprego, a exclusão social, a droga e a economia são prioridades dos governantes, ipso facto, a problemática da educação. Diminuem-se os orçamentos para a educação, põe-se em dúvida a ligação entre o crescimento económico e a educação, entre a escolaridade, a mobilidade social e a promoção do nível de vida individual.
A escola vai perdendo o monopólio da educação. Partidos políticos, igrejas, sindicatos, associações, empresas, os grandes meios de comunicação, formam e informam com grande abundância, difundindo conhecimentos, por vezes mais atualizados que os da escola. É o tempo da "escola paralela" de que fala Porcher (1977, A escola paralela. Lisboa: Livros Horizonte).
Os critérios da validação escolar deixam de ser fiáveis, sobretudo quando inseridos na escola de massas e no espírito da igualdade de oportunidades. Daí poderem colocar-se questões cruciais:
- Deverão ser selecionados os melhores alunos, reservando-lhes os diplomas, ou deverão ser dadas oportunidades a todos, baixando o nível dos estudos?
- Deverão as universidades e as escolas em geral privilegiar o ótimo, ignorando a igualdade de oportunidades, ou considerar a igualdade em detrimento da qualidade?
A elaboração de programas, a seleção dos conteúdos e as próprias disciplinas (sobretudo o currículo académico) estão, em geral, ligadas, pela História, ao passado, sem correspondência com as reais necessidades do mundo atual. Daí a sensação de incapacidade para a vida que acompanha os alunos formados na escola. Isto é sobretudo aplicável no termo dos nove anos de escolaridade, relativamente aos jovens que não prosseguem estudos. Por isso, é de questionar a validade, a adequação e a necessidade do ensino básico, universal, igual para todos (1989, OCDE - O ensino na sociedade moderna. Porto: ASA.).
O processo educativo, quer pela sua natureza, quer pela sua prática e extensão, tem visado apenas o desenvolvimento cognitivo, ignorando as outras dimensões e capacidades humanas. A substituição dos métodos tradicionais não foi, porém, ainda testada pelo êxito dos novos processos. Além disso, a autoridade do professor está em crise, como, aliás, em crise está a autoridade em geral e a autoridade familiar em particular. Crise que afeta a relação alunos-professor.
Questiona-se a própria ciência. Até à década de 70 do século XX, o positivismo e o funcionalismo não sofriam grande contestação, mas, com a emergência do paradigma sistémico, as coisas mudaram. Ao rigor do paradigma analítico newtoniano contrapõe-se a relatividade do paradigma global com sequências diretas no campo das metateorias e, ipso facto, na educação.
Daqui o sentimento de impotência (não se pode saber tudo...) e de inutilidade (a caducidade dos conhecimentos) e de insegurança relativamente aos valores tradicionais (religiosos, culturais, políticos, económicos, sociais), com refúgios a espaços mais seguros como o misticismo, a magia, o exoterismo, o fundamentalismo, os grupos de vida dionisíaca.
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Como referenciar
Porto Editora – educação (sociologia) na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2023-03-27 01:36:04]. Disponível em
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