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Ernesto Sábato
Controverso novelista e ensaísta argentino, Ernesto Sábato nasceu a 24 de junho de 1911, em Rojas, província de Buenos Aires, na Argentina.
Finalizados os seus estudos primários na Escola n.º1 de Rojas, seu pai decidiu mandá-lo para La Plata, capital da província de Buenos Aires, para prosseguir os estudos secundários até obter o Bacharelato no Colégio Nacional, que pertencia à Universidade de La Plata, tendo terminando esses estudos em 1928, ingressando depois em 1929 na Faculdade de Ciências Físico-Matemáticas da Universidade Nacional de La Plata. Neste ambiente estudantil Ernesto Sábato começa a vincular-se a organizações estudantis anarquistas, com posições fincadamente contra o regime argentino da época. Em 1930 deu-se um golpe militar na Argentina que abala o regime existente e Ernesto Sábato filiou-se de imediato no Partido Comunista, do qual seria, mais tarde (em 1933), Secretário-Geral. Este envolvimento político levou Ernesto Sábato ao abandono dos seus estudos universitários.
Em 1934, depois de alguns anos de forte envolvimento político, Sábato começou a revelar grandes dúvidas e incertezas em relação ao Comunismo. Viajou até Bruxelas com o intuito de participar num Congresso contra o fascismo e a guerra, mas a desilusão com os ideais que aí encontrou defendidos foi tal que "foge" para Paris, onde começou a escrever uma pequena novela intitulada La fuente muda. Permaneceu em Paris até 1936, ano em que regressou a Buenos Aires e retomou os estudos universitários. Em 1937 acabou o Doutoramento em Física pela Universidade de La Plata e, no ano seguinte, conseguiu uma bolsa e foi para Paris trabalhar em radiações atómicas no Laboratório Joliot-Curie. Nesta estadia em Paris tomou contacto com os surrealistas franceses (muito na moda na altura), tendo chegando mesmo a publicar textos do género - como é o caso de "Litocronismo" - na revista Minoture.
Em 1939 transferiram-lhe a bolsa para o MIT - Massachusetts' Institute of Technology - nos Estados Unidos, onde iria trabalhar sobre os raios cósmicos e a relatividade. Terminada a bolsa, regressou a Buenos Aires, em 1940, ingressando como professor na Universidade de La Plata para lecionar as disciplinas de Relatividade e Mecânica Quântica. Nessa mesma data conheceu José Luís Borges (1899-1986) e começou um longo percurso de publicações e escrita em revistas como a Sur e jornais como o La Nación.
Em 1943 desencadeou-se em Ernesto Sábato uma terrível crise existencial, onde balança entre a ciência e a literatura, optando pelo abandono da primeira, dedicando-se, a partir de então, exclusivamente à escrita.
Em 1954 foi publicado Uno y el universo - onde Ernesto Sábato demonstra a sua grande capacidade para conjugar temas metafísicos com a literatura, expondo os grandes problemas filosóficos da criação do mundo, do homem, da morte, etc. - pela Editorial Sudamericana, ganhando o Prémio da "Municipalidad de Buenos Aires" e o "Gran Prémio de Honor de la Sociedad Argentina de Escritores".
Em 1947 fez uma grande viagem por Itália e, no barco de regresso à Argentina, começou a escrever o rascunho de El túnel - novela protagonizada por um autêntico anti-herói existencial, que se revela incapaz de comunicar seja com quem for. Depois de ter sido rejeitado por diversas editoras, El túnel foi publicado em 1948 pela Editorial Sur. A partir da data da sua publicação, esta novela - considerada a sua primeira grande novela - foi desde logo traduzida para francês e publicada em Nova Iorque. Em 1952 assistia-se à versão cinematográfica de El túnel - uma boa adaptação, apreciada pela crítica da época e que muito satisfez Ernesto Sábato.
Em 1951 a Editora Emecé publicou Hombres e engranajes - umas reflexões de Sábato sobre o dinheiro, a razão e o derrube completo da sociedade da época.
Como figura permanentemente preocupada e atenta ao modo de ser argentino, Ernesto Sábato publicou, em 1956, El outro rostro del peronismo e Tortura y liberdad de prensa, como resultado e reflexo importante dos feitos políticos na Argentina.
Em 1961 foi publicada a sua segunda grande novela, Sobre héroes y tumbas, que revela um penetrante estudo sobre o ser humano.
Em 1963 publicou-se El escritor y sus fantasmas - uma obra de reflexão pura - que terá a sua edição definitiva em 1970.
Em 1978 veio a público aquela que será considerada a sua terceira grande novela: Abaddón el exterminador, revelando irónicos juízos de valor sobre a literatura em geral, a arte, a filosofia e o excesso de racionalismos que caracterizam toda a obra de Sábato. Abaddón el exterminador, pelo exemplar conteúdo, obteve numerosos prémios e condecorações de reconhecimento internacional, de entre os quais se destacam: "Gran Prémio de la Sociedad Argentina de Escritores" (1974), "Prémio Consagración Nacional" (1974) e o "Prémio de Melhor Livro Estrangeiro" (Paris, 1976).
Em 1983 Ernesto Sábato foi nomeado Presidente da Comissão Nacional sobre o Desaparecimento de Pessoas (Conadep), tendo-se dedicado a reunir e analisar informação sobre a repressão existente durante a ditadura militar argentina, com vista a processar os seus responsáveis. Fruto deste trabalho aparece a público a sua obra intitulada Nunca Más (embora seja mais conhecida por Informe Sábato - Relatório Sábato), obtendo o Prémio Gabriela Mistral em 1984.
Nos finais da década de 80, devido à sua progressiva miopia, Ernesto Sábato passou a dedicar-se quase exclusivamente à pintura - arte da qual é de destacar um magnífico autorretrato.
Na década de 90 a crítica internacional começou uma espécie de jornada de reconhecimento público do escritor e do homem Ernesto Sábato, galardoando-o com diversos títulos e prémios de prestígio, dos quais se destacam: Doutor Honoris Causa, concedido pela Universidade de Buenos Aires com base na sua trajetória, nos seus antecedentes e nos reconhecidos méritos intelectuais do escritor e do homem; Prémio Cervantes (1984) pelo percurso literário de relevo; título de "Chevalier des Arts et des Lettres" pela vasta obra de reconhecido valor intelectual; título "Chevalier de la Légion d'Honeur" pelo percurso pessoal de defesa dos homens num regime de opressão; e muitos outros que apenas confirmam um reconhecimento internacional de um Ernesto Sábato multifacetado: ensaísta, novelista, militante político, professor, pintor.
Autor de uma vasta obra que oferece ao seu leitor uma visão ampla sobre o homem, a sociedade, a natureza, a história, a arte e os artistas, Ernesto Sábato apresenta essa abrangente obra como, acima de tudo, globalizante, envolvida com tudo: com o homem e com o mundo.
A comprovar o seu mérito e o seu reconhecimento além fronteiras, a obra de Ernesto Sábato está traduzida em 34 idiomas, sendo a sua leitura se não obrigatória, pelo menos de referência quando se fala das Letras hispano-americanas.
Finalizados os seus estudos primários na Escola n.º1 de Rojas, seu pai decidiu mandá-lo para La Plata, capital da província de Buenos Aires, para prosseguir os estudos secundários até obter o Bacharelato no Colégio Nacional, que pertencia à Universidade de La Plata, tendo terminando esses estudos em 1928, ingressando depois em 1929 na Faculdade de Ciências Físico-Matemáticas da Universidade Nacional de La Plata. Neste ambiente estudantil Ernesto Sábato começa a vincular-se a organizações estudantis anarquistas, com posições fincadamente contra o regime argentino da época. Em 1930 deu-se um golpe militar na Argentina que abala o regime existente e Ernesto Sábato filiou-se de imediato no Partido Comunista, do qual seria, mais tarde (em 1933), Secretário-Geral. Este envolvimento político levou Ernesto Sábato ao abandono dos seus estudos universitários.
Em 1934, depois de alguns anos de forte envolvimento político, Sábato começou a revelar grandes dúvidas e incertezas em relação ao Comunismo. Viajou até Bruxelas com o intuito de participar num Congresso contra o fascismo e a guerra, mas a desilusão com os ideais que aí encontrou defendidos foi tal que "foge" para Paris, onde começou a escrever uma pequena novela intitulada La fuente muda. Permaneceu em Paris até 1936, ano em que regressou a Buenos Aires e retomou os estudos universitários. Em 1937 acabou o Doutoramento em Física pela Universidade de La Plata e, no ano seguinte, conseguiu uma bolsa e foi para Paris trabalhar em radiações atómicas no Laboratório Joliot-Curie. Nesta estadia em Paris tomou contacto com os surrealistas franceses (muito na moda na altura), tendo chegando mesmo a publicar textos do género - como é o caso de "Litocronismo" - na revista Minoture.
Em 1939 transferiram-lhe a bolsa para o MIT - Massachusetts' Institute of Technology - nos Estados Unidos, onde iria trabalhar sobre os raios cósmicos e a relatividade. Terminada a bolsa, regressou a Buenos Aires, em 1940, ingressando como professor na Universidade de La Plata para lecionar as disciplinas de Relatividade e Mecânica Quântica. Nessa mesma data conheceu José Luís Borges (1899-1986) e começou um longo percurso de publicações e escrita em revistas como a Sur e jornais como o La Nación.
Em 1943 desencadeou-se em Ernesto Sábato uma terrível crise existencial, onde balança entre a ciência e a literatura, optando pelo abandono da primeira, dedicando-se, a partir de então, exclusivamente à escrita.
Em 1954 foi publicado Uno y el universo - onde Ernesto Sábato demonstra a sua grande capacidade para conjugar temas metafísicos com a literatura, expondo os grandes problemas filosóficos da criação do mundo, do homem, da morte, etc. - pela Editorial Sudamericana, ganhando o Prémio da "Municipalidad de Buenos Aires" e o "Gran Prémio de Honor de la Sociedad Argentina de Escritores".
Em 1947 fez uma grande viagem por Itália e, no barco de regresso à Argentina, começou a escrever o rascunho de El túnel - novela protagonizada por um autêntico anti-herói existencial, que se revela incapaz de comunicar seja com quem for. Depois de ter sido rejeitado por diversas editoras, El túnel foi publicado em 1948 pela Editorial Sur. A partir da data da sua publicação, esta novela - considerada a sua primeira grande novela - foi desde logo traduzida para francês e publicada em Nova Iorque. Em 1952 assistia-se à versão cinematográfica de El túnel - uma boa adaptação, apreciada pela crítica da época e que muito satisfez Ernesto Sábato.
Em 1951 a Editora Emecé publicou Hombres e engranajes - umas reflexões de Sábato sobre o dinheiro, a razão e o derrube completo da sociedade da época.
Como figura permanentemente preocupada e atenta ao modo de ser argentino, Ernesto Sábato publicou, em 1956, El outro rostro del peronismo e Tortura y liberdad de prensa, como resultado e reflexo importante dos feitos políticos na Argentina.
Em 1961 foi publicada a sua segunda grande novela, Sobre héroes y tumbas, que revela um penetrante estudo sobre o ser humano.
Em 1963 publicou-se El escritor y sus fantasmas - uma obra de reflexão pura - que terá a sua edição definitiva em 1970.
Em 1978 veio a público aquela que será considerada a sua terceira grande novela: Abaddón el exterminador, revelando irónicos juízos de valor sobre a literatura em geral, a arte, a filosofia e o excesso de racionalismos que caracterizam toda a obra de Sábato. Abaddón el exterminador, pelo exemplar conteúdo, obteve numerosos prémios e condecorações de reconhecimento internacional, de entre os quais se destacam: "Gran Prémio de la Sociedad Argentina de Escritores" (1974), "Prémio Consagración Nacional" (1974) e o "Prémio de Melhor Livro Estrangeiro" (Paris, 1976).
Em 1983 Ernesto Sábato foi nomeado Presidente da Comissão Nacional sobre o Desaparecimento de Pessoas (Conadep), tendo-se dedicado a reunir e analisar informação sobre a repressão existente durante a ditadura militar argentina, com vista a processar os seus responsáveis. Fruto deste trabalho aparece a público a sua obra intitulada Nunca Más (embora seja mais conhecida por Informe Sábato - Relatório Sábato), obtendo o Prémio Gabriela Mistral em 1984.
Nos finais da década de 80, devido à sua progressiva miopia, Ernesto Sábato passou a dedicar-se quase exclusivamente à pintura - arte da qual é de destacar um magnífico autorretrato.
Na década de 90 a crítica internacional começou uma espécie de jornada de reconhecimento público do escritor e do homem Ernesto Sábato, galardoando-o com diversos títulos e prémios de prestígio, dos quais se destacam: Doutor Honoris Causa, concedido pela Universidade de Buenos Aires com base na sua trajetória, nos seus antecedentes e nos reconhecidos méritos intelectuais do escritor e do homem; Prémio Cervantes (1984) pelo percurso literário de relevo; título de "Chevalier des Arts et des Lettres" pela vasta obra de reconhecido valor intelectual; título "Chevalier de la Légion d'Honeur" pelo percurso pessoal de defesa dos homens num regime de opressão; e muitos outros que apenas confirmam um reconhecimento internacional de um Ernesto Sábato multifacetado: ensaísta, novelista, militante político, professor, pintor.
Autor de uma vasta obra que oferece ao seu leitor uma visão ampla sobre o homem, a sociedade, a natureza, a história, a arte e os artistas, Ernesto Sábato apresenta essa abrangente obra como, acima de tudo, globalizante, envolvida com tudo: com o homem e com o mundo.
A comprovar o seu mérito e o seu reconhecimento além fronteiras, a obra de Ernesto Sábato está traduzida em 34 idiomas, sendo a sua leitura se não obrigatória, pelo menos de referência quando se fala das Letras hispano-americanas.
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Como referenciar
Porto Editora – Ernesto Sábato na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2023-09-22 18:05:24]. Disponível em
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Porto Editora – Ernesto Sábato na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2023-09-22 18:05:24]. Disponível em