< voltar
2 min
Fernando Pessoa (ortónimo)
Em Fernando Pessoa, observa-se a presença de uma pequena humanidade, com diversas personagens que possuem personalidades distintas, designadas heterónimos. Mas há, também, uma personalidade poética ativa que mantém o nome de Fernando Pessoa e, por isso, se designa de ortónimo.
Em Fernando Pessoa ortónimo, sem incluir a Mensagem, coexistem duas vertentes: a tradicional e a modernista. Há poemas mais tradicionais com influência da lírica de Garrett ou do sebastianismo e do saudosismo, apresentando suavidade rítmica e musical, em versos geralmente curtos; mas a maior parte abre caminho a experimentações modernistas com a procura da intelectualização das sensações e dos sentimentos.
Desde a sua colaboração no Orpheu, há uma rutura. Fez um aproveitamento cuidado do impressionismo e do simbolismo, abrindo caminho ao modernismo com o texto-programa do Paulismo (em Impressões do Crepúsculo), onde põe em destaque o vago, a subtileza e a complexidade; desenvolveu outras experimentações modernistas com o Intersecionismo e com o Sensacionismo; revelou-se dialético procurando a intelectualização das sensações e dos sentimentos.
Para Fernando Pessoa, um poema, como a arte, "é um produto intelectual" e, por isso, não acontece "no momento da emoção", mas resulta da sua recordação. A emoção precisa de "existir intelectualmente", o que só na recordação é possível.
Há uma necessidade da intelectualização do sentimento para exprimir a arte. Ao não ser um produto direto da emoção, mas uma construção mental, a elaboração do poema confunde-se com um "fingimento".
Na criação artística, o poeta parte da realidade mas só consegue, com autêntica sinceridade, representar com palavras ou outros signos o "fingimento", que não é mais do que uma realidade nova, elaborada mentalmente graças à conceção de novas relações significativas, que a distanciação do real lhe permitiu.
O fingimento não impede a sinceridade, apenas implica o trabalho de representar, de exprimir intelectualmente as emoções ou o que quer representar. A dialética da sinceridade/fingimento liga-se à da consciência/inconsciência e do sentir/pensar.
Na poesia de Fernando Pessoa, é constante o conflito entre o pensar e o sentir, que em boa parte revela a dificuldade em conciliar o que idealiza com o que consegue realizar, com a sequente frustração que a consciência de tudo isto implica.
Revela-se aí um drama de personalidade que o leva à dispersão, em relação ao real e a si mesmo. A dor de pensar traduz insatisfação e dúvida sobre a utilidade do pensamento.
Fernando Pessoa não consegue fruir instintivamente a vida por ser consciente e pela própria efemeridade. Muitas vezes, a felicidade parece existir na ordem inversa do pensamento e da consciência. O pensamento racional não se coaduna com verdadeiramente sentir sensitivamente.
O tempo, na poesia pessoana, é um fator de desagregação, porque tudo é efémero. Isso leva-o a desejar ser criança de novo. Pessoa sente a nostalgia da criança que passou ao lado das alegrias e da ternura. Chora, por isso, uma felicidade passada, para lá da infância.
Há uma nostalgia do bem perdido, do mundo fantástico da infância, único momento possível de felicidade. Nas palavras do semi-heterónimo Bernardo Soares: "O meu passado é tudo quanto não consegui ser". Para Fernando Pessoa o passado é um sonho inútil, pois nada se concretizou, antes se traduziu numa desilusão. Daí o constante ceticismo perante a vida real e de sonho.
Em Fernando Pessoa ortónimo, sem incluir a Mensagem, coexistem duas vertentes: a tradicional e a modernista. Há poemas mais tradicionais com influência da lírica de Garrett ou do sebastianismo e do saudosismo, apresentando suavidade rítmica e musical, em versos geralmente curtos; mas a maior parte abre caminho a experimentações modernistas com a procura da intelectualização das sensações e dos sentimentos.
Desde a sua colaboração no Orpheu, há uma rutura. Fez um aproveitamento cuidado do impressionismo e do simbolismo, abrindo caminho ao modernismo com o texto-programa do Paulismo (em Impressões do Crepúsculo), onde põe em destaque o vago, a subtileza e a complexidade; desenvolveu outras experimentações modernistas com o Intersecionismo e com o Sensacionismo; revelou-se dialético procurando a intelectualização das sensações e dos sentimentos.
Para Fernando Pessoa, um poema, como a arte, "é um produto intelectual" e, por isso, não acontece "no momento da emoção", mas resulta da sua recordação. A emoção precisa de "existir intelectualmente", o que só na recordação é possível.
Há uma necessidade da intelectualização do sentimento para exprimir a arte. Ao não ser um produto direto da emoção, mas uma construção mental, a elaboração do poema confunde-se com um "fingimento".
Na criação artística, o poeta parte da realidade mas só consegue, com autêntica sinceridade, representar com palavras ou outros signos o "fingimento", que não é mais do que uma realidade nova, elaborada mentalmente graças à conceção de novas relações significativas, que a distanciação do real lhe permitiu.
O fingimento não impede a sinceridade, apenas implica o trabalho de representar, de exprimir intelectualmente as emoções ou o que quer representar. A dialética da sinceridade/fingimento liga-se à da consciência/inconsciência e do sentir/pensar.
Na poesia de Fernando Pessoa, é constante o conflito entre o pensar e o sentir, que em boa parte revela a dificuldade em conciliar o que idealiza com o que consegue realizar, com a sequente frustração que a consciência de tudo isto implica.
Revela-se aí um drama de personalidade que o leva à dispersão, em relação ao real e a si mesmo. A dor de pensar traduz insatisfação e dúvida sobre a utilidade do pensamento.
Fernando Pessoa não consegue fruir instintivamente a vida por ser consciente e pela própria efemeridade. Muitas vezes, a felicidade parece existir na ordem inversa do pensamento e da consciência. O pensamento racional não se coaduna com verdadeiramente sentir sensitivamente.
O tempo, na poesia pessoana, é um fator de desagregação, porque tudo é efémero. Isso leva-o a desejar ser criança de novo. Pessoa sente a nostalgia da criança que passou ao lado das alegrias e da ternura. Chora, por isso, uma felicidade passada, para lá da infância.
Há uma nostalgia do bem perdido, do mundo fantástico da infância, único momento possível de felicidade. Nas palavras do semi-heterónimo Bernardo Soares: "O meu passado é tudo quanto não consegui ser". Para Fernando Pessoa o passado é um sonho inútil, pois nada se concretizou, antes se traduziu numa desilusão. Daí o constante ceticismo perante a vida real e de sonho.
Partilhar
Como referenciar
Porto Editora – Fernando Pessoa (ortónimo) na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2023-06-09 11:40:07]. Disponível em
Artigos
-
Fernando PessoaPoeta, ficcionista, dramaturgo, filósofo, prosador, Fernando Pessoa nasceu em Lisboa a 13 de junho d...
-
Bernardo SoaresÉ um semi-heterónimo de Fernando Pessoa porque - como afirma o seu próprio criador - "não sendo a pe...
-
criação artísticaA criação artística é um processo comunicativo que valoriza os conceitos de criatividade e de arte. ...
-
IntersecionismoMovimento literário de vanguarda criado por Fernando Pessoa e que se caracteriza pela interseção no ...
-
OrpheuRevista lançada em 1915, cujos dois únicos números publicados, em abril e julho, marcam o início do ...
-
SensacionismoA teorização do sensacionismo nos escritos de Fernando Pessoa confere ao movimento sensacionista con...
-
MensagemA Mensagem é a única obra completa publicada em vida de Fernando Pessoa. Contém 44 poemas, escritos ...
-
António EnesJornalista, crítico, dramaturgo e político português, António Enes nasceu em 1848, em Lisboa, e morr...
-
António de MacedoEscritor, cineasta e professor universitário, António de Macedo nasceu a 5 de julho de 1931, em Lisb...
-
António de NavarroPoeta, frequentou o curso de Direito da Universidade de Coimbra, acabando por formar-se em Lisboa na...
Partilhar
Como referenciar 
Porto Editora – Fernando Pessoa (ortónimo) na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2023-06-09 11:40:07]. Disponível em