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Geração da Imprensa Livre
Pensa-se que o primeiro periódico angolense desta época tenha sido A Aurora, fundado em 1855, isto é, dez anos depois da fundação do Boletim Oficial - órgão de natureza oficial que dava guarida a publicações de natureza literária e ensaística, a relatos de viagens pelo interior do sertão angolano e que teve um papel pioneiro em termos dinamizadores da cultura angolana, mais especificamente luandense. Mas será, sem dúvida, ao semanário A Civilização da África Portuguesa, editado em 1866, que caberão as honras do início da Geração Jornalística da "Imprensa Livre". Este jornal teve o mérito de ser o impulsionador de outros gostos jornalísticos adormecidos que lhe vão seguir o caminho.
Durante os três anos da sua publicação abriu-se, sem dúvida, caminho a um jornalismo polémico e audacioso que assim se manteria até à primeira década do século XIX. No entanto, não se pode dizer que tenha sido um jornal que defendesse os reais interesses de Angola, uma vez que era, sobretudo, virado para os interesses particulares da burguesia colonial europeia. De igual modo, o Comércio de Loanda, o Mercantil e O Cruzeiro do Sul seguiram-lhe as pisadas. Contudo, a partir de 1878, iniciar-se-ia com Alfredo Troni o Jornal de Loanda que marcava, nesta ótica, a transição de um jornalismo maioritariamente de cariz colonial para um jornalismo cada vez mais virado para as coisas de Angola e do seu povo. É exatamente no Jornal de Loanda que iremos encontrar uma vasta produção literária crioula, de braços dados com um jornalismo de intervenção e luta - denúncia do verdadeiro sistema a que Angola estava sujeita.
Deste jornalismo de denúncia, passar-se-á para o jornalismo da acusação frontal e responsável com o aparecimento de periódicos pertencentes e controlados por africanos, "filhos da terra".
A esta geração de jornalistas estava reservada a tarefa de denunciar, de acusar e de combater ferozmente o regime colonial português que asfixiava Angola e as suas gentes.
Para além deste jornalismo e respetivos órgãos (jornais) políticos e comerciais, começa-se então a caminhar a passos largos para órgãos literários - de maior ou menor expressão. Assim, em maio de 1886, surge, na Catumbela, A Ventosa - jornal satírico em prosa e em verso; em setembro do mesmo ano aparece, em Luanda, O Serão- folha literária, noticiosa e charadística; em agosto de 1888, ainda na capital de Angola, vem à luz O Foguete - semanário crítico, biográfico, noticioso, literário, instrutivo e de anúncios, curiosamente de distribuição gratuita.
Pena é que estes órgãos, por circunstâncias óbvias, pouco estejam virados para os reais motivos culturais angolanos, estando mais orientados para a cultura portuguesa. Mas seriam, porém, a base de um projeto para a construção de um grupo literário e cultural de "reais" intelectuais africanos - grupo esse que viria a formar-se mais tarde sob o título de "Novos Intelectuais de Angola".
"Imprensa Livre" era essencialmente visto como um órgão - ou um conjunto de órgãos - apostado em defender a diferenciação da cor, transformada em elemento distintivo da raça e valor humano. Havia que combater a poesia dos colonos com falta de honradez; urgia proclamar o passado cultural e civilizacional do homem negro, para que os europeus soubessem que ele tinha um passado e, portanto, teria também um futuro. Mas além do racismo, havia também que lutar contra o exotismo, o misteriosismo fácil e o forte poder de que o sistema colonial se nutriu na primeira metade do século XX, bem veiculado por uma literatura vasta, encarregada de celebrar a epopeia do homem branco nos trópicos como implantador e difusor da lusitanidade. Havia, enfim, que resistir à grande potência do Império Colonial e, portanto, que "ferir" o europeismo e partir à descoberta da verdadeira Angola - aquela Angola das sanzalas, da harmonia e solidariedade do povo com as tradições ancestrais e não a Angola do colonizador.
A verdadeira tarefa desta grande Geração da Imprensa Livre era a de dar a conhecer e mostrar esta verdadeira Angola e fazer passar uma literatura autêntica, que escrevesse acerca dos verdadeiros e reais interesses dos africanos e da natureza da sua vida.
Tarefa árdua e muito combatida por um sistema opressivo, conseguiu sobreviver ao tempo e, sobretudo, dar o primeiro passo para a abertura de novas estradas que levassem até à consagração e glorificação do povo angolano.
Durante os três anos da sua publicação abriu-se, sem dúvida, caminho a um jornalismo polémico e audacioso que assim se manteria até à primeira década do século XIX. No entanto, não se pode dizer que tenha sido um jornal que defendesse os reais interesses de Angola, uma vez que era, sobretudo, virado para os interesses particulares da burguesia colonial europeia. De igual modo, o Comércio de Loanda, o Mercantil e O Cruzeiro do Sul seguiram-lhe as pisadas. Contudo, a partir de 1878, iniciar-se-ia com Alfredo Troni o Jornal de Loanda que marcava, nesta ótica, a transição de um jornalismo maioritariamente de cariz colonial para um jornalismo cada vez mais virado para as coisas de Angola e do seu povo. É exatamente no Jornal de Loanda que iremos encontrar uma vasta produção literária crioula, de braços dados com um jornalismo de intervenção e luta - denúncia do verdadeiro sistema a que Angola estava sujeita.
Deste jornalismo de denúncia, passar-se-á para o jornalismo da acusação frontal e responsável com o aparecimento de periódicos pertencentes e controlados por africanos, "filhos da terra".
A esta geração de jornalistas estava reservada a tarefa de denunciar, de acusar e de combater ferozmente o regime colonial português que asfixiava Angola e as suas gentes.
Para além deste jornalismo e respetivos órgãos (jornais) políticos e comerciais, começa-se então a caminhar a passos largos para órgãos literários - de maior ou menor expressão. Assim, em maio de 1886, surge, na Catumbela, A Ventosa - jornal satírico em prosa e em verso; em setembro do mesmo ano aparece, em Luanda, O Serão- folha literária, noticiosa e charadística; em agosto de 1888, ainda na capital de Angola, vem à luz O Foguete - semanário crítico, biográfico, noticioso, literário, instrutivo e de anúncios, curiosamente de distribuição gratuita.
Pena é que estes órgãos, por circunstâncias óbvias, pouco estejam virados para os reais motivos culturais angolanos, estando mais orientados para a cultura portuguesa. Mas seriam, porém, a base de um projeto para a construção de um grupo literário e cultural de "reais" intelectuais africanos - grupo esse que viria a formar-se mais tarde sob o título de "Novos Intelectuais de Angola".
"Imprensa Livre" era essencialmente visto como um órgão - ou um conjunto de órgãos - apostado em defender a diferenciação da cor, transformada em elemento distintivo da raça e valor humano. Havia que combater a poesia dos colonos com falta de honradez; urgia proclamar o passado cultural e civilizacional do homem negro, para que os europeus soubessem que ele tinha um passado e, portanto, teria também um futuro. Mas além do racismo, havia também que lutar contra o exotismo, o misteriosismo fácil e o forte poder de que o sistema colonial se nutriu na primeira metade do século XX, bem veiculado por uma literatura vasta, encarregada de celebrar a epopeia do homem branco nos trópicos como implantador e difusor da lusitanidade. Havia, enfim, que resistir à grande potência do Império Colonial e, portanto, que "ferir" o europeismo e partir à descoberta da verdadeira Angola - aquela Angola das sanzalas, da harmonia e solidariedade do povo com as tradições ancestrais e não a Angola do colonizador.
A verdadeira tarefa desta grande Geração da Imprensa Livre era a de dar a conhecer e mostrar esta verdadeira Angola e fazer passar uma literatura autêntica, que escrevesse acerca dos verdadeiros e reais interesses dos africanos e da natureza da sua vida.
Tarefa árdua e muito combatida por um sistema opressivo, conseguiu sobreviver ao tempo e, sobretudo, dar o primeiro passo para a abertura de novas estradas que levassem até à consagração e glorificação do povo angolano.
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Como referenciar
Porto Editora – Geração da Imprensa Livre na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2023-03-30 02:39:17]. Disponível em
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