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Geração da Mensagem

A Geração da Mensagem (1950-53) da literatura angolana de expressão portuguesa formou-se na continuidade do movimento dos "Novos Intelectuais de Angola", cujo lema - "Vamos Descobrir Angola!" - operaria uma revolução decisiva na sociedade colonial dos fins da década de 40.
Mensagem apresenta-se, assim, como o órgão catalisador de um punhado de jovens angolanos dispostos assumirem uma atitude de combate frontal ao sistema sociocultural vigente na época. Foi, sem dúvida, o mais forte contributo para a verdadeira busca de uma cultura, de uma literatura autêntica, social e, sobretudo, participada.
Segundo os próprios mentores desta Geração, Mensagem pretendia ser o marco iniciador de uma cultura nova, de Angola e por Angola; fundamentalmente angolana. Cultura essa que se desejava que fosse forte, verdadeira, pujante e humana. Por estes motivos, Mensagem proclamava, bem alto, o slogan cultural e político de "redescobrir" Angola.
Se se pretender encontrar as motivações literárias que deram origem a esta fortíssima e marcante geração, será essencial dizer que terá sido o Modernismo brasileiro um dos movimentos literários estrangeiros que mais incentivou estes jovens (juntamente com outros movimentos literários e culturais europeus vigentes na época) e que mais os fez avançar com a vontade de produzirem uma literatura capaz de traduzir exatamente as necessidades, sentimentos, inquietudes, problemas e ansiedades da terra angolana. O intuito principal desta Geração era, sem margem para dúvida, dar vida ao eco das novas ideias, vindas da Europa e da América do Sul, e de fazer passar uma tomada de consciência da iminente necessidade coletiva de agir.
Quando na revista Mensagem aparece um convite explícito ao povo angolano para que se construísse uma "língua angolana", a Geração - reivindicativa como era - passa a constituir-se uma gritante força que impulsionará a cultura do país a afirmar-se num quadro social e humano plenamente definido. Desta forma, Mensagem deve ser classificada como uma revista literária de conteúdo declaradamente político.
Numa época em que o estatuto da voz pertencia em exclusivo aos "não naturais" de Angola, foi significativo que os "filhos do país" tivessem assumido tal decisão, assumindo a fala que, embora pertencesse à mesma linguagem codificada do dominador (a língua portuguesa), era uma "fala outra", porque era germinada no terreno oposto - Mensagem nasce nos musseques de Luanda, local onde vivia a maioria do povo colonizado, e daí "parte" para as mãos dos intelectuais. Esta "fala outra" deveria corresponder a uma nova escrita que teria que combater, sem tréguas, uma literatura colonial falseadora das realidades e do sentir das gentes africanas. A nova poesia de Angola teria de encarar o ritmo-emoção característico do homem africano; ritmo-emoção esse que lhe era transmitido pela própria natureza em que ele se integrava e com quem vivia em contacto direto e em plena comunhão. A poesia angolana tornava-se, pois, social, gritando a dor, a nostalgia, mas reivindicando com coragem a transformação das relações sociais e políticas. Assim, esta nova poesia de Angola devia denunciar sem medo, esmagar as covardias, as imposturas e as mentiras.
Mensagem acontece entre 1950 e 1953. Estes limites cronológicos correspondem, respetivamente, à formação do "Movimento dos Novos Intelectuais de Angola", em Luanda, e à publicação do Primeiro Caderno de Poesia Negra de Expressão Portuguesa, em Lisboa.
Na sua primeira fase, Mensagem caracteriza-se por uma poesia essencialmente evocacionista - havia que evocar o passado (o momento da autenticidade da vida angolana, recuperar e relembrar valores e costumes tradicionais já esquecidos, enfim, as verdadeiras raízes do homem africano) para sobre ele erigir, erguer a tão pretendida angolanidade, o verdadeiro cariz angolano. É uma fase essencialmente virada para o tema da terra, da mãe-terra - o local privilegiado para reavivar o encontro com as próprias raízes. Moldando-se nesta forte temática da terra, a poesia desta primeira fase da Mensagem começava, assim, a cumprir a sua função social. Para que esta função fosse entendida pelo alvo pretendido - o povo angolano na sua generalidade - a escrita é baseada num ritmo de evidente cariz popular: era fundamental que a mensagem fosse plenamente captada pelo povo a quem se dirigia e que circulasse pelos meios mais tradicionais, onde estes textos eram muitas vezes recitados.
A segunda fase poética de Mensagem é marcada pelo alerta contra uma apatia generalizada, imposta por um sistema secular, e pela denúncia aberta contra esse sistema colonial que, pela sua força e poder restritivo, negava, até então, uma possibilidade de futuro àquele povo angolano. Desta forma, poder-se-á dizer que esta segunda fase de Mensagem é uma fase de função puramente social, pois pretendia-se, concretamente, cumprir o objetivo de angolanizar Angola e devolver a africanidade àquele povo, isto é, reencontrar o quase já esquecido "estilo africano de vida".
Esta poesia foi, até determinado momento da sua evolução, o veículo de protesto popular, da contestação à ocupação portuguesa, dela resultando um verdadeiro movimento revolucionário de base e formação popular: o MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola).
Mensagem foi o primeiro movimento cultural consciente que surgiu em Angola nos últimos 50 anos e assumiu uma grande responsabilidade perante a História de Angola.
Mensagem teve apenas dois números, uma vez que logo foi proibida e vetada pelo Governo-Geral que, dentro da mentalidade e linha fascista vigente na época, aniquilava qualquer forma autónoma de cultura.
Esta revista - e respetiva geração que nela se apoiava - desapareceu por razões em tudo alheias à vontade destas, dos seus colaboradores e do seu público. O desaparecimento desta revista, onde estavam concentrados os expoentes máximos do movimento intelectual plenamente virado para as realidades de Angola, foi, efetivamente, uma lamentável perda e um profundo golpe no brilhante percurso da intelectualidade angolana.
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Como referenciar
Porto Editora – Geração da Mensagem na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2023-06-05 08:35:23]. Disponível em
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