Guerra Colonial
No rescaldo da Segunda Guerra Mundial, o domínio colonial das potências europeias sobre territórios africanos e asiáticos começou a ser fortemente posto em causa, tendo-se formado um vasto movimento ideológico e político tendente a obter a independência daqueles territórios. Tal foi sendo conseguido, nalguns poucos casos, sem surtos significativos de violência; mas, na maioria das independências, prevaleceu o uso da força. Foi o caso da revolta dos Mau-Mau no Quénia britânico, e da prolongada e duríssima guerra da Argélia, por exemplo.
O último império a ser afetado foi o português, que perdeu a primeira parcela após uma guerra de curta duração em que as forças portuguesas estacionadas em Goa, Damão e Diu não puderam contrariar a invasão daqueles territórios por forças indianas, incomparavelmente mais fortes. Esta derrota serviu, contudo, para demonstrar dois factos importantes: a) Salazar privilegiaria sempre a vertente militar para resolver as questões de soberania que se lhe colocassem no âmbito colonial; de facto, ordenara a resistência a todo o custo, sem olhar aos sacrifícios materiais e humanos que isso acarretaria; b) a posição portuguesa no jogo da diplomacia mundial era débil e incapaz de mobilizar apoios em defesa de domínios coloniais, já que a própria Inglaterra, instada a honrar históricos compromissos de solidariedade em nome da secular aliança entre os dois países, se recusara a apoiar a posição do Governo português.
Em 1961 abre-se um novo capítulo na história do Império colonial português. Dois acontecimentos marcam o início de uma guerra que durará 13 anos, até que o poder revolucionário saído do 25 de abril de 1974 imponha um fim político ao conflito: 1) a 4 de fevereiro, militantes do MPLA (Movimento Popular para a Libertação de Angola) tentam tomar de assalto esquadras de polícia em Luanda, sendo repelidos depois de combates violentos em vários pontos da cidade; 2) em 15 de março, a UPA (União das Populações de Angola, mais tarde denominada FNLA = Frente Nacional de Libertação de Angola) lança uma série de ataques mortíferos em zonas isoladas e desguarnecidas do norte da colónia, tentando erradicar a população branca. Estes dois movimentos, a que anos mais tarde se juntará a UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola), fruto de uma dissidência na UPA, conduzem uma luta de guerrilha que, após uma primeira fase de êxitos táticos, se vê remetida à defensiva. A guerra em Angola não conhecerá nunca um vencedor claro nem um derrotado assumido.
Muito diferente é a situação na Guiné-Bissau, onde se encontra em campo uma única organização política, o PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde), que não encontra rivais no terreno desde o início do conflito em 1963, beneficia de apoios logísticos eficazes nos países vizinhos, tem a simpatia dos governos do Terceiro Mundo com representação e influência na Assembleia Geral das Nações Unidas, consegue os êxitos táticos suficientes para reunir uma assembleia de delegados em Madina do Boé, proclamar unilateralmente a independência e vê-la reconhecida por numerosos países em 1973.
Em Moçambique, a guerra é desencadeada em 1964 pela FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique), que tem de se confrontar não só com outras forças, menos estruturadas, no terreno, mas que enfrenta no seu seio dissidências de carácter étnico, que a enfraquecem. Tal como em Angola, a guerra nunca se decidirá claramente a favor das forças portuguesas, no plano militar, apesar de algumas operações de grande envergadura, desencadeadas particularmente pelo general Kaúlza de Arriaga. Tal como em Angola, o 25 de abril irá encontrar a situação num impasse.
Na África, apenas os territórios insulares (Cabo Verde, São Tomé e Príncipe) ficarão imunes à guerra; na Ásia, Macau sofrerá de alguns momentos de instabilidade por influência da Revolução Cultural na vizinha República Popular da China e Timor só verá surgir os seus movimentos a favor da independência após o 25 de abril de 1974.
Logo em 1961, Salazar formula numa frase lapidar a sua intenção de privilegiar a defesa do império, custe o que custar, enviando tropas para Angola, "imediatamente e em força", rejeitando toda e qualquer negociação, mesmo que Portugal se encontrasse "orgulhosamente só" a partir desse momento. Apesar de privilegiar a solução militar, introduzirá alterações no estatuto legal e social dos indígenas africanos, promoverá ações sociais para captar a simpatia das populações, abrirá as colónias ao investimento metropolitano e externo, procurará incentivar a emigração para África, desviando-a da França, para onde se dirigia de preferência naquele momento. A guerra, travada em três frentes, significará um investimento extremamente gravoso para as finanças do Estado português, provocará dissensões no seio do próprio Governo (golpe do general Botelho Moniz, em abril de 1961), desgastará o moral das próprias forças armadas, retirará braços à produção em Portugal e provocará o isolamento do país na arena diplomática mundial (tanto nas relações multilaterais no seio da Organização das Nações Unidas como a nível bilateral). O seu balanço em termos humanos é trágico: mobilização de cerca de um milhão e quatrocentos mil homens, aproximadamente nove mil mortos e trinta mil feridos e ainda cento e quarenta mil ex-combatentes sofrendo de distúrbio pós-traumático do stress de guerra (isto sem esquecer as vítimas civis, de ambos os lados, obviamente em maior número entre as populações do teatro de guerra, mas que nenhum dos beligerantes alguma vez contabilizou).
Um dos maiores golpes diplomáticos contra as posições do Governo português será a audiência concedida a dirigentes dos movimentos das três colónias pelo papa Paulo VI, em 1 de julho de 1970. Marcello Caetano, que sucede a Salazar na chefia do Governo, não encontrará também solução para o conflito, quer por meios militares quer por meios pacíficos. Será apenas por meios diplomáticos e políticos, por iniciativa do poder revolucionário instituído em 1974, que o conflito verá o seu termo.
O último império a ser afetado foi o português, que perdeu a primeira parcela após uma guerra de curta duração em que as forças portuguesas estacionadas em Goa, Damão e Diu não puderam contrariar a invasão daqueles territórios por forças indianas, incomparavelmente mais fortes. Esta derrota serviu, contudo, para demonstrar dois factos importantes: a) Salazar privilegiaria sempre a vertente militar para resolver as questões de soberania que se lhe colocassem no âmbito colonial; de facto, ordenara a resistência a todo o custo, sem olhar aos sacrifícios materiais e humanos que isso acarretaria; b) a posição portuguesa no jogo da diplomacia mundial era débil e incapaz de mobilizar apoios em defesa de domínios coloniais, já que a própria Inglaterra, instada a honrar históricos compromissos de solidariedade em nome da secular aliança entre os dois países, se recusara a apoiar a posição do Governo português.
Em 1961 abre-se um novo capítulo na história do Império colonial português. Dois acontecimentos marcam o início de uma guerra que durará 13 anos, até que o poder revolucionário saído do 25 de abril de 1974 imponha um fim político ao conflito: 1) a 4 de fevereiro, militantes do MPLA (Movimento Popular para a Libertação de Angola) tentam tomar de assalto esquadras de polícia em Luanda, sendo repelidos depois de combates violentos em vários pontos da cidade; 2) em 15 de março, a UPA (União das Populações de Angola, mais tarde denominada FNLA = Frente Nacional de Libertação de Angola) lança uma série de ataques mortíferos em zonas isoladas e desguarnecidas do norte da colónia, tentando erradicar a população branca. Estes dois movimentos, a que anos mais tarde se juntará a UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola), fruto de uma dissidência na UPA, conduzem uma luta de guerrilha que, após uma primeira fase de êxitos táticos, se vê remetida à defensiva. A guerra em Angola não conhecerá nunca um vencedor claro nem um derrotado assumido.
Em Moçambique, a guerra é desencadeada em 1964 pela FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique), que tem de se confrontar não só com outras forças, menos estruturadas, no terreno, mas que enfrenta no seu seio dissidências de carácter étnico, que a enfraquecem. Tal como em Angola, a guerra nunca se decidirá claramente a favor das forças portuguesas, no plano militar, apesar de algumas operações de grande envergadura, desencadeadas particularmente pelo general Kaúlza de Arriaga. Tal como em Angola, o 25 de abril irá encontrar a situação num impasse.
Na África, apenas os territórios insulares (Cabo Verde, São Tomé e Príncipe) ficarão imunes à guerra; na Ásia, Macau sofrerá de alguns momentos de instabilidade por influência da Revolução Cultural na vizinha República Popular da China e Timor só verá surgir os seus movimentos a favor da independência após o 25 de abril de 1974.
Logo em 1961, Salazar formula numa frase lapidar a sua intenção de privilegiar a defesa do império, custe o que custar, enviando tropas para Angola, "imediatamente e em força", rejeitando toda e qualquer negociação, mesmo que Portugal se encontrasse "orgulhosamente só" a partir desse momento. Apesar de privilegiar a solução militar, introduzirá alterações no estatuto legal e social dos indígenas africanos, promoverá ações sociais para captar a simpatia das populações, abrirá as colónias ao investimento metropolitano e externo, procurará incentivar a emigração para África, desviando-a da França, para onde se dirigia de preferência naquele momento. A guerra, travada em três frentes, significará um investimento extremamente gravoso para as finanças do Estado português, provocará dissensões no seio do próprio Governo (golpe do general Botelho Moniz, em abril de 1961), desgastará o moral das próprias forças armadas, retirará braços à produção em Portugal e provocará o isolamento do país na arena diplomática mundial (tanto nas relações multilaterais no seio da Organização das Nações Unidas como a nível bilateral). O seu balanço em termos humanos é trágico: mobilização de cerca de um milhão e quatrocentos mil homens, aproximadamente nove mil mortos e trinta mil feridos e ainda cento e quarenta mil ex-combatentes sofrendo de distúrbio pós-traumático do stress de guerra (isto sem esquecer as vítimas civis, de ambos os lados, obviamente em maior número entre as populações do teatro de guerra, mas que nenhum dos beligerantes alguma vez contabilizou).
Um dos maiores golpes diplomáticos contra as posições do Governo português será a audiência concedida a dirigentes dos movimentos das três colónias pelo papa Paulo VI, em 1 de julho de 1970. Marcello Caetano, que sucede a Salazar na chefia do Governo, não encontrará também solução para o conflito, quer por meios militares quer por meios pacíficos. Será apenas por meios diplomáticos e políticos, por iniciativa do poder revolucionário instituído em 1974, que o conflito verá o seu termo.
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Como referenciar
Porto Editora – Guerra Colonial na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2023-03-22 18:42:35]. Disponível em
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