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Historiografia dos Descobrimentos

Uma das expressões científico-literárias mais relevantes e de maior riqueza editorial e científica em Portugal, a Historiografia dos Descobrimentos portugueses tem já mais de cinco séculos e abarca a epopeia lusa nos vários "impérios" ultramarinos desenhados pelas embarcações e gentes nacionais. Esquecida durante muito tempo, ganhou projeção na segunda metade do século XX.
Alexandre Herculano, "pai" da moderna história em Portugal, passou ao lado, praticamente, do tema dos Descobrimentos, como, em menor grau, Oliveira Martins e Gama Barros, por exemplo. A perda do Brasil em 1822 e a viragem africana da política ultramarina portuguesa, a par do romantismo medievalista do século XIX, territorialista e "virado para dentro" pela legislação de Mouzinho da Silveira, explicam um pouco uma certa falta de "atenção" sobre a expansão portuguesa naquela centúria, embora não possamos esquecer que, desde o século XVIII, a preocupação ultramarina tenha existido entre os historiadores nacionais de maior projeção. Por exemplo, com Ribeiro dos Santos e Sebastião Trigoso ainda em Setecentos e, na época de Herculano, com o incontornável Visconde de Santarém, Costa Quintela (Anais da Marinharia Portuguesa, 1839), Costa Macedo ou até o cardeal Saraiva, entre outros. De lavra deste último, por exemplo, publicou-se uma obra notável, em 1841, Índice Cronológico das Navegações, Viagens, Descobrimentos e Conquistas dos Portugueses desde o Princípio do século XV até 1811, obra de um liberal, em contraponto ao miguelismo do Visconde de Santarém, mas ambos os maiores historiadores dos Descobrimentos portugueses contemporâneos de Herculano.
Mais tarde surge a obra de Luciano Cordeiro, que publicou em 1883 De como Navegavam os Portugueses no Começo do Século XVI, a par da sempre necessária publicação de fontes, que teve, à época, em Andrade Corvo e no seu Roteiro de Lisboa a Goa (1882), um esforço referencial. Estava-se na agonia da monarquia, na agitação socialista e republicana a entrar ideologicamente em Portugal, nas questões luso-inglesas resultantes do Ultimatum inglês e da partilha de África. A defesa da honra e da glória dos feitos pátrios está na ordem do dia, acicatada também pelo centenário de Colombo (1492-1892). Duas obras marcaram a época: Os Descobrimentos Portugueses e os de Colombo, de Pinheiro Chagas, e a magnífica Estudos sobre Navios Portugueses dos Séculos XV e XVI, do comandante Henrique Lopes de Mendonça (autor d'A Portuguesa). A Academia Real das Ciências de Lisboa assumiu na época um notável protagonismo na publicação de estudos sobre a Expansão portuguesa (Memórias da Comisão Portuguesa do Centenário do Descobrimento da América). Também fontes eram publicadas em fins de Oitocentos, como o Esmeraldo de Situ Orbis, de Duarte Pacheco Pereira, por Rafael Basto, ou uma coletânea de documentos da Torre do Tombo sobre os Descobrimentos, a cargo de José Ramos Coelho. Depois, surgem-nos os grandes Francisco Marques de Sousa Viterbo e Braancamp Freire (trabalhou no Arquivo Histórico Português). Às fontes dedicaram também o seu esforço homens como Bulhão Pato, Pedro de Azevedo, Luciano Pereira da Silva, Laranjo Coelho, R. Lima Felner, David Lopes e António Baião, este último um dos maiores eruditos da primeira metade do século XX na temática da Expansão portuguesa. Publicava-se não apenas em Lisboa, mas também na Imprensa da Universidade de Coimbra e mesmo em Goa e Macau. Da época temos ainda a figura de Joaquim Bensaúde, que publicou no estrangeiro (Suíça) fontes portuguesas para os Descobrimentos. Estava-se na época dos mitos da "política de sigilo", do "plano da Índia", exacerbados para glória pátria.
A partir dos anos 20 a historiografia dos Descobrimentos portugueses sofreu um forte impulso, o maior até aos nossos dias. António Sérgio é o primeiro, com um discurso renovado, conceptualmente moderno, seguido por Jaime Cortesão, Quirino da Fonseca, Duarte Leite, Gago Coutinho, Armando Cortesão, entre outros. À época saíu uma obra de síntese, História da Expansão Portuguesa no Mundo (1937-40), dirigida por M. Múrias, António Baião e Hernâni Cidade. Depois, os anos 40 trazem um novo fôlego, de que destacamos Vitorino Magalhães Godinho, Avelino Teixeira da Mota, Luís de Albuquerque, este último um dos maiores nomes da especialidade. De destacar ainda Charles Ralph Boxer, autor de vasta obra sobre a expansão portuguesa na Ásia oriental, principalmente em Macau. Max Justo Guedes, brasileiro, é outro nome que deveremos aqui destacar, como o francês Frédéric Mauro ou Daniel J. Boorstin.
Das grandes obras historiográficas do século XX, as edições comemorativas merecem relevo, como a Monumenta Henricina ou os Portugaliae Monumenta Cartographica, para além d´Os Descobrimentos Portugueses, de Jaime Cortesão, talvez o maior historiador dos Descobrimentos portugueses, sem esquecer Avelino Teixeira da Mota ou Luís de Albuquerque. Também o geógrafo Orlando Ribeiro publicou um ensaio notável sobre a temática, Aspetos e Problemas da expansão Portuguesa.
Muitos foram os historiadores formados por esta plêiade de sábios, como Luís Filipe Tomaz, Artur Teodoro de Matos, Francisco Contente Domingues, José Manuel Garcia, entre outros de grande valia, que, principalmente depois do 25 de abril de 1974, despidos já do comemorativismo do Estado Novo e da exaltação pátria de figuras e feitos dos Descobrimentos, alinham hoje por um discurso baseado em categorias científicas e metodologias modernas e com um discurso plural e abrangente. Continuam a faltar, porém, as fontes publicadas.
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Como referenciar
Porto Editora – Historiografia dos Descobrimentos na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2023-03-27 15:44:03]. Disponível em
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