Intervenção Cubana em Angola
O ano de 1961 em Portugal foi marcado pela guerra de Angola (15 de março) e pela invasão de Goa pela União Indiana. Estes dois acontecimentos provocaram uma profunda alteração da vida política nacional. Portugal iniciou uma prolongada, e desgastante guerra, que durou 13 anos e se alargou a outras colónias africanas, como a Guiné e Moçambique.
A ofensiva de março de 1961 foi precedida pela revolta do Cassange, reprimida violentamente em janeiro desse ano e à qual se seguiu a rebelião em Luanda (4 de fevereiro de 1961) desencadeada pelo Movimento Popular para a Libertação de Angola (MPLA).
Salazar, na sequência da "Abrilada" (1961), dirigida pelo ministro da Defesa, General Júlio Botelho Moniz, impôs uma política intransigente que se podia sintetizar no slogan "para Angola, rapidamente e em força". Perante esta recusa de conceder a independência a Angola, justificada pela invocação de direitos históricos, tentou-se amenizar a situação pelo alargamento da autonomia das colónias, pela promoção de políticas de convívio racial e pelo início de uma política reformista encetada por Adriano Moreira, que rapidamente foi abandonada. Ao fim de ano e meio a ofensiva de Angola esboroava-se. Os colonos portugueses entraram na luta e a tropa foi chamada a intervir.
A 7 de outubro de 1961, terminaram as operações militares, substituídas pelas operações policiais, enquanto a guerrilha mudava de estratégia. Estruturava-se então a Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), o MPLA ganhava força e surgia o movimento do Galo Negro (UNITA).
As Forças Armadas portuguesas responderam à retaliação dos rebeldes africanos de uma forma rápida, com uma guerra pouco dispendiosa, alimentada por soldados mal equipados e mal remunerados. Os guerrilheiros angolanos, ao contrário dos portugueses, passaram a dispor de melhor armamento (como a espingardas Simonov e Kalachnikov).
Os apoios aos movimentos armados angolanos prosseguirão após a saída dos Portugueses. Em 1974, os conflitos estavam longe de terminar em Angola. Depois do abandono luso, o novo país nasce com uma guerra civil que ainda prossegue nos nossos dias. Angola será objeto do interesse internacional - como sempre fora, aliás, mas agora de forma bem mais clara. A guerra acaba por ser uma representação do conflito de interesses a nível internacional. Em clima de confrontação ideológica e política entre os dois grandes blocos internacionais, o de Leste achou que seria importante este país africano cair na sua órbita. É que o território angolano foi reconhecido como importante do ponto de vista geoestratégico e de política económica. A União Soviética empenhou-se a fundo nesse processo - enquanto pôde. Em 1975 aterravam em Luanda os primeiros contingentes de tropas cubanas. Ao lado do MPLA, bem armadas - apenas, no entanto, numa fase inicial da intervenção, enquanto a economia soviética não entrou em colapso - as tropas de Cuba não obtiveram glória com esta intervenção. Pelo contrário, a guerrilha bem organizada fustigou incessantemente um adversário pouco adaptado às condições do terreno, cada vez pior equipado e desmoralizado. O decréscimo forçado do apoio soviético, como já foi referido, impediu a renovação e o refresco das tropas que eram desgastadas e completamente ineficazes.
Envolvidas numa guerra que não era a sua, as tropas cubanas foram sendo deixadas ao abandono. Nos anos 80 do século XX, o clima de guerra fria e de rivalidade entre as grandes potências ia abrandando. Iniciaram-se então as negociações, difíceis, sobre a retirada dos Cubanos de Angola (e dos Sul-africanos da Namíbia, território indissociavelmente unido a esta questão). Mas o caminho era difícil de desbravar. Entre 22 e 24 de junho de 1984, Eduardo dos Santos (presidente do MPLA) e Jonas Savimbi (secretário-geral da UNITA) assinaram um acordo que os analistas consideraram decisivo. Mas não foi. Trata-se do acordo de Gbadolite, aprovado (e logo rasgado) sob mediação do Presidente do Zaire, Mobutu Sese Seko. Assim, mais do que diplomacia, o acordo de Gbadolite motivou o desacordo e inspirou a última grande ação militar, uma autêntica demonstração de força do Governo de Luanda, onde participaram os últimos contingentes cubanos: a sangrenta ofensiva do Cuíto-Canavale. E, mais do que os acordos até então negociados, esta ação resultou momentaneamente: Savimbi aceitou negociar, os Cubanos saíram de Angola e a diplomacia pôde entrar de novo em ação, desta vez em Portugal. As rondas negociais resultaram no acordo de Bicesse, que, julgava-se e festejava-se, iria colocar um ponto final na guerra civil angolana que causara, até àquela altura, a morte de mais de 650 mil combatentes de várias nacionalidades.
A intervenção cubana em África é história que ainda está por contar. A guerra, indesejada pelo povo cubano, abriu feridas profundas na sociedade da ilha, que demorarão a cicatrizar. Milhares de jovens cubanos foram arrastados para um conflito, a muitos quilómetros de suas casas, com o qual nada tinham a ver. Perde-se a conta aos que perderam a vida e aos muitos mais que daí vieram estropiados e doentes, aos que foram jovens e voltaram velhos e sem esperança.
A ofensiva de março de 1961 foi precedida pela revolta do Cassange, reprimida violentamente em janeiro desse ano e à qual se seguiu a rebelião em Luanda (4 de fevereiro de 1961) desencadeada pelo Movimento Popular para a Libertação de Angola (MPLA).
Salazar, na sequência da "Abrilada" (1961), dirigida pelo ministro da Defesa, General Júlio Botelho Moniz, impôs uma política intransigente que se podia sintetizar no slogan "para Angola, rapidamente e em força". Perante esta recusa de conceder a independência a Angola, justificada pela invocação de direitos históricos, tentou-se amenizar a situação pelo alargamento da autonomia das colónias, pela promoção de políticas de convívio racial e pelo início de uma política reformista encetada por Adriano Moreira, que rapidamente foi abandonada. Ao fim de ano e meio a ofensiva de Angola esboroava-se. Os colonos portugueses entraram na luta e a tropa foi chamada a intervir.
A 7 de outubro de 1961, terminaram as operações militares, substituídas pelas operações policiais, enquanto a guerrilha mudava de estratégia. Estruturava-se então a Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), o MPLA ganhava força e surgia o movimento do Galo Negro (UNITA).
As Forças Armadas portuguesas responderam à retaliação dos rebeldes africanos de uma forma rápida, com uma guerra pouco dispendiosa, alimentada por soldados mal equipados e mal remunerados. Os guerrilheiros angolanos, ao contrário dos portugueses, passaram a dispor de melhor armamento (como a espingardas Simonov e Kalachnikov).
Os apoios aos movimentos armados angolanos prosseguirão após a saída dos Portugueses. Em 1974, os conflitos estavam longe de terminar em Angola. Depois do abandono luso, o novo país nasce com uma guerra civil que ainda prossegue nos nossos dias. Angola será objeto do interesse internacional - como sempre fora, aliás, mas agora de forma bem mais clara. A guerra acaba por ser uma representação do conflito de interesses a nível internacional. Em clima de confrontação ideológica e política entre os dois grandes blocos internacionais, o de Leste achou que seria importante este país africano cair na sua órbita. É que o território angolano foi reconhecido como importante do ponto de vista geoestratégico e de política económica. A União Soviética empenhou-se a fundo nesse processo - enquanto pôde. Em 1975 aterravam em Luanda os primeiros contingentes de tropas cubanas. Ao lado do MPLA, bem armadas - apenas, no entanto, numa fase inicial da intervenção, enquanto a economia soviética não entrou em colapso - as tropas de Cuba não obtiveram glória com esta intervenção. Pelo contrário, a guerrilha bem organizada fustigou incessantemente um adversário pouco adaptado às condições do terreno, cada vez pior equipado e desmoralizado. O decréscimo forçado do apoio soviético, como já foi referido, impediu a renovação e o refresco das tropas que eram desgastadas e completamente ineficazes.
Envolvidas numa guerra que não era a sua, as tropas cubanas foram sendo deixadas ao abandono. Nos anos 80 do século XX, o clima de guerra fria e de rivalidade entre as grandes potências ia abrandando. Iniciaram-se então as negociações, difíceis, sobre a retirada dos Cubanos de Angola (e dos Sul-africanos da Namíbia, território indissociavelmente unido a esta questão). Mas o caminho era difícil de desbravar. Entre 22 e 24 de junho de 1984, Eduardo dos Santos (presidente do MPLA) e Jonas Savimbi (secretário-geral da UNITA) assinaram um acordo que os analistas consideraram decisivo. Mas não foi. Trata-se do acordo de Gbadolite, aprovado (e logo rasgado) sob mediação do Presidente do Zaire, Mobutu Sese Seko. Assim, mais do que diplomacia, o acordo de Gbadolite motivou o desacordo e inspirou a última grande ação militar, uma autêntica demonstração de força do Governo de Luanda, onde participaram os últimos contingentes cubanos: a sangrenta ofensiva do Cuíto-Canavale. E, mais do que os acordos até então negociados, esta ação resultou momentaneamente: Savimbi aceitou negociar, os Cubanos saíram de Angola e a diplomacia pôde entrar de novo em ação, desta vez em Portugal. As rondas negociais resultaram no acordo de Bicesse, que, julgava-se e festejava-se, iria colocar um ponto final na guerra civil angolana que causara, até àquela altura, a morte de mais de 650 mil combatentes de várias nacionalidades.
A intervenção cubana em África é história que ainda está por contar. A guerra, indesejada pelo povo cubano, abriu feridas profundas na sociedade da ilha, que demorarão a cicatrizar. Milhares de jovens cubanos foram arrastados para um conflito, a muitos quilómetros de suas casas, com o qual nada tinham a ver. Perde-se a conta aos que perderam a vida e aos muitos mais que daí vieram estropiados e doentes, aos que foram jovens e voltaram velhos e sem esperança.
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Como referenciar
Porto Editora – Intervenção Cubana em Angola na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2023-10-03 14:01:04]. Disponível em
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