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José Rodrigues Miguéis
Romancista, novelista, contista, dramaturgo, desenhador, cronista, licenciou-se em Direito na Universidade de Lisboa, em 1924, e, como bolseiro da Junta de Educação Nacional, obteve uma pós-graduação em Ciências Pedagógicas, na Universidade de Bruxelas, em 1933. Ligado ao grupo literário da Seara Nova, colaborou em periódicos como Alma Nova, O Diabo e Revista de Portugal, e dirigiu, com Bento de Jesus Caraça, o semanário Globo, apreendido em 1932. Professor do ensino secundário e secretário da Liga Propulsora da Instrução, distinguiu-se pelos seus dons de orador, pedagogo, ideólogo. Em 1930, rompeu com a Seara Nova, depois da publicação de artigos onde defendia que os intelectuais têm o dever de passar das afirmações doutrinais à ação, cabendo-lhes, numa perspetiva marxista, um papel de condução e de comunhão com as massas populares organizadas, até ser atingido, por todos os meios, o fim da renovação nacional. Em 1932, publicou a sua obra de estreia, Páscoa Feliz, à qual foi atribuído o Prémio Casa da Imprensa, nitidamente impregnada pela grande admiração que nutria por Raul Brandão, nesses anos de definição literária e ideológica. Impedido de lecionar e de publicar em jornais portugueses, progressivamente coartado nas suas possibilidades de atuação, à medida que a ditadura instituída em 1926 afinava os seus instrumentos de repressão, expatriou-se nos Estados Unidos, não deixando contudo de colaborar com a imprensa portuguesa e espanhola e de revisitar Portugal. Nos Estados Unidos, foi editor assistente das Seleções do Reader's Digest, tradutor e professor universitário. Nomeado membro efetivo da Hispanic Society of America, correspondente da Academia de Ciências de Lisboa, e agraciado, em 1979, com a Ordem Militar de Santiago de Espada, no grau de Grande Oficial. Na Bélgica, nos Estados Unidos, no Brasil, cenários do itinerário pessoal, a experiência do exílio impõe-se como uma das marcas da ficção de José Rodrigues Miguéis, ressentida, para Eduardo Lourenço (cf. O Canto do Signo, 1994), desse estatuto permanente de "estranho e estrangeiro" que atravessa temáticas, perspetiva do narrador e personagens. Alheia às etiquetas literárias que desde as suas primeiras publicações pretenderam rotulá-lo de "russo ou queirosiano, romântico ou realista", a escrita de José Rodrigues Miguéis parte da preocupação com uma função pedagógica da literatura, da necessidade de compreender a relação entre o indivíduo e a sociedade, não coincidindo, porém, com a estética neorrealista portuguesa, entre outros aspetos por um ponto de vista subjetivo sobre o universo social. A opção por um realismo que recusa simultaneamente o modelo queirosiano ("A frieza caricatural de Eça repelia-me", "Nota do Autor" à 2.ª edição de Páscoa Feliz, 1958, p. 155) e um neorrealismo "dos que se metem pelos olhos dentro" (Ibi, p. 151), por um realismo que não se confunde com a especificidade do realismo social brasileiro e norte-americano, por um realismo simultaneamente pessoal e consciente da sua responsabilidade ética e social, conferem ao escritor um espaço único na ficção realista contemporânea. Traduziu em língua portuguesa Erskine Caldwell, F. Scott Fitzgerald, Carson MacCullers, Stendhal. Parte da sua obra encontra-se traduzida em inglês, italiano, alemão, polaco, checo e russo.
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Como referenciar
Porto Editora – José Rodrigues Miguéis na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2023-06-05 00:51:31]. Disponível em
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