Macondes
Povo étnico do Sudeste de África, oriundo do povo dos Bantos que viveu no sul do lago de Niassa. Atualmente, os Macondes estão estabelecidos no planalto de Mueda, província de Cabo Delgado, a norte de Moçambique (perto de 400 000 Macondes) e, também, no sul da Tanzânia (cerca de 900 000 Macondes).
Segundo uma lenda do povo maconde, um homem, que vivia sozinho no mato, esculpiu, a partir de um cepo de uma árvore, uma mulher de quem teve três filhos. Os dois primeiros morreram à nascença e o terceiro, que nascera num planalto, sobreviveu. Por este motivo, os primitivos Macondes escolheram os planaltos para viverem. Esta etnia manteve-se aí isolada até ao início do século XX, altura em que os Portugueses conseguiram transpor as florestas densas e as zonas íngremes que protegiam aquele povo. Em consequência deste contacto tardio com outras culturas, os seus costumes conservaram uma forte tradição e coesão. As atividades principais dos Macondes são a agricultura e a escultura. É por esta arte que são mundialmente conhecidos, sobretudo pelas suas máscaras e esculturas em madeira, reveladoras da estética e da cultura deste povo.
Quanto às máscaras, elas podem ser corporais ou faciais. Estas, em forma de elmo, as mais conhecidas internacionalmente, representam o espírito de um antepassado na sua conduta moral e são utilizadas durante a cerimónia de iniciação masculina que integra o mapico (complexo de crenças e de atividades rituais dos Macondes). O lipico (singular de mapico) é o nome designativo da máscara ou do mascarado. Relativamente às esculturas trabalhadas em madeira, sobretudo em ébano e pau-preto, há três grandes tipos distintos: ujamaa, binadamu e shetani.
Quanto ao primeiro tipo de esculturas, o termo ujamaa apresenta vários significados, como família, cooperação, fraternidade, união. São esses valores que são representados em escultura, em forma de torre de madeira esculpida, por isso, conhecida também por "árvore da vida". No centro da escultura, surge uma grande figura patriarcal ou matriarcal, junto a um tronco ou num espaço oco, à volta da qual se encontram vários elementos humanos, em tamanho mais pequeno, entrelaçados entre si, que executam tarefas domésticas. Pela sua complexidade e pela dificuldade em tornar harmoniosa essa torre esculpida, a ujamaa permite ao escultor demonstrar o seu virtuosismo e a sua técnica.
Durante o período colonial e devido ao regime político da altura, muitos Macondes refugiaram-se na Tanzânia (país fronteiriço de Moçambique). A FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique), ao iniciar a sua campanha de guerrilha contra os Portugueses, em 1964, defendeu os escultores, tentando assegurar-se da permanência dos artistas no interior do país moçambicano, a fim destes poderem continuar o seu trabalho. A solidariedade internacional, pela causa nacionalista moçambicana, levou a que aquelas esculturas, símbolos ancestrais de cooperação e fraternidade, se tornassem em símbolos de resistência e de unidade popular moçambicana, refletindo assim uma nova era política.
O segundo tipo, o binadamu, é constituído não só por figuras humanas esculpidas (um homem sentado a fumar cachimbo, uma mulher carregando potes de água), como também por animais (leões, elefantes, entre outros). Este estilo surgiu, na década de 1920, quando os portugueses, interessados em adquirir os trabalhos de madeira dos Macondes, encomendaram simplesmente figuras esculpidas. O tipo de esculturas criadas pelos artesãos, que mais não era do que a visão do quotidiano daquele povo, veio, por um lado, reforçar a imagem estereotipada de uma África idílica e, por outro, obrigar os escultores a aperfeiçoarem as suas técnicas realistas, tornando-os numa espécie de fotógrafos do povo. Mais tarde, durante o período de guerra pela independência do país, estes temas idílicos foram substituídos por temas sobre a opressão colonial.
O terceiro tipo de escultura, o shetani (por vezes traduzido, satanás ou diabo, e cujo plural é mashaitani) surgiu pela primeira vez, em 1959, com o escultor Samaki Likankoa e representa espíritos benignos e malignos. Posteriormente, este estilo tornou-se mais abstrato, representando esses espíritos de forma distorcida e, por vezes, grotesca. Assim, para simbolizar o espírito maligno, a figura humana esculpida pode apresentar: uma quebra de simetria provocada pela ausência de um membro do corpo; uma deformação corporal; a localização de um braço ou uma perna na cabeça, entre outras formas.
Estes tipos de esculturas, que seduziram o público europeu na década de 60, lembram as obras do Surrealismo, pela sua espantosa modernidade, apesar de nelas se retratar aspetos culturais e tradicionais de África. Os seus principais escultores (uma profissão especializada e só exercida por homens) são Samaki Likankoa, Alegria Mussaka, Rafael Nkutunga, Chilava, Nkabala, Cristiano Madanguo, Constantino Mpagua, entre outros.
Segundo uma lenda do povo maconde, um homem, que vivia sozinho no mato, esculpiu, a partir de um cepo de uma árvore, uma mulher de quem teve três filhos. Os dois primeiros morreram à nascença e o terceiro, que nascera num planalto, sobreviveu. Por este motivo, os primitivos Macondes escolheram os planaltos para viverem. Esta etnia manteve-se aí isolada até ao início do século XX, altura em que os Portugueses conseguiram transpor as florestas densas e as zonas íngremes que protegiam aquele povo. Em consequência deste contacto tardio com outras culturas, os seus costumes conservaram uma forte tradição e coesão. As atividades principais dos Macondes são a agricultura e a escultura. É por esta arte que são mundialmente conhecidos, sobretudo pelas suas máscaras e esculturas em madeira, reveladoras da estética e da cultura deste povo.
Quanto às máscaras, elas podem ser corporais ou faciais. Estas, em forma de elmo, as mais conhecidas internacionalmente, representam o espírito de um antepassado na sua conduta moral e são utilizadas durante a cerimónia de iniciação masculina que integra o mapico (complexo de crenças e de atividades rituais dos Macondes). O lipico (singular de mapico) é o nome designativo da máscara ou do mascarado. Relativamente às esculturas trabalhadas em madeira, sobretudo em ébano e pau-preto, há três grandes tipos distintos: ujamaa, binadamu e shetani.
Quanto ao primeiro tipo de esculturas, o termo ujamaa apresenta vários significados, como família, cooperação, fraternidade, união. São esses valores que são representados em escultura, em forma de torre de madeira esculpida, por isso, conhecida também por "árvore da vida". No centro da escultura, surge uma grande figura patriarcal ou matriarcal, junto a um tronco ou num espaço oco, à volta da qual se encontram vários elementos humanos, em tamanho mais pequeno, entrelaçados entre si, que executam tarefas domésticas. Pela sua complexidade e pela dificuldade em tornar harmoniosa essa torre esculpida, a ujamaa permite ao escultor demonstrar o seu virtuosismo e a sua técnica.
Durante o período colonial e devido ao regime político da altura, muitos Macondes refugiaram-se na Tanzânia (país fronteiriço de Moçambique). A FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique), ao iniciar a sua campanha de guerrilha contra os Portugueses, em 1964, defendeu os escultores, tentando assegurar-se da permanência dos artistas no interior do país moçambicano, a fim destes poderem continuar o seu trabalho. A solidariedade internacional, pela causa nacionalista moçambicana, levou a que aquelas esculturas, símbolos ancestrais de cooperação e fraternidade, se tornassem em símbolos de resistência e de unidade popular moçambicana, refletindo assim uma nova era política.
O segundo tipo, o binadamu, é constituído não só por figuras humanas esculpidas (um homem sentado a fumar cachimbo, uma mulher carregando potes de água), como também por animais (leões, elefantes, entre outros). Este estilo surgiu, na década de 1920, quando os portugueses, interessados em adquirir os trabalhos de madeira dos Macondes, encomendaram simplesmente figuras esculpidas. O tipo de esculturas criadas pelos artesãos, que mais não era do que a visão do quotidiano daquele povo, veio, por um lado, reforçar a imagem estereotipada de uma África idílica e, por outro, obrigar os escultores a aperfeiçoarem as suas técnicas realistas, tornando-os numa espécie de fotógrafos do povo. Mais tarde, durante o período de guerra pela independência do país, estes temas idílicos foram substituídos por temas sobre a opressão colonial.
O terceiro tipo de escultura, o shetani (por vezes traduzido, satanás ou diabo, e cujo plural é mashaitani) surgiu pela primeira vez, em 1959, com o escultor Samaki Likankoa e representa espíritos benignos e malignos. Posteriormente, este estilo tornou-se mais abstrato, representando esses espíritos de forma distorcida e, por vezes, grotesca. Assim, para simbolizar o espírito maligno, a figura humana esculpida pode apresentar: uma quebra de simetria provocada pela ausência de um membro do corpo; uma deformação corporal; a localização de um braço ou uma perna na cabeça, entre outras formas.
Estes tipos de esculturas, que seduziram o público europeu na década de 60, lembram as obras do Surrealismo, pela sua espantosa modernidade, apesar de nelas se retratar aspetos culturais e tradicionais de África. Os seus principais escultores (uma profissão especializada e só exercida por homens) são Samaki Likankoa, Alegria Mussaka, Rafael Nkutunga, Chilava, Nkabala, Cristiano Madanguo, Constantino Mpagua, entre outros.
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Como referenciar
Porto Editora – Macondes na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2023-05-31 17:52:04]. Disponível em
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