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Memória Consentida: 20 anos de Poesia (1959/1979)
Coletânea que abrange a poesia selecionada pelo autor do período de 1959 a 1979 e que, além da eliminação de algumas composições, suprime as composições escritas em língua inglesa e incluídas em Reino Submarino. O título Memória Consentida releva esse trabalho de revisão e seleção efetuado pelo autor, mas remete também para a compreensão da sua poesia enquanto "memorial privado de uma história coletiva" (cf. REBELO, Luís de Sousa - prefácio a Memória Consentida, Lisboa, 1982), no espaço dialógico e mulicultural da língua portuguesa. Deste modo, se, na linha do postulado teórico de T. S. Eliot, "o conceito de tradição [...] continua a ser o mais adequado ao enquadramento crítico da poesia de Knopfli" (cf. REBELO, Luís de Sousa, idem, p. 11), nos volumes reunidos em Memória Consentida essa tradição deve ser considerada no sentido de duplo entroncamento na tradição lírica portuguesa moderna (em que a herança de Pessoa ocupa o papel principal) e neomaneirista, sem excluir a abertura a outras tradições poéticas, nomeadamente a brasileira, bem como a receção de tradições poéticas europeias.
Do apelo da africanidade ("africano sou [...] Trago no sangue uma amplidão / de coordenadas geográficas e mar Índico" - "Naturalidade"), manifestada numa ligação à terra, traduzida não simplesmente no ancoramento da sua poesia a um espaço concreto, o espaço moçambicano, mas na conversão de algumas das suas imagens mais recorrentes (o rio, o vento, a planura) em símbolos da reflexão sobre o tempo e sobre a existência, à expressão temática do desenraizamento, do exílio, dos desconcertos do mundo, que atinge um momento de amargurada disforia em O Escriba Acocorado, a poesia de Knopfli distingue-se por um discreto humor, por uma desinibida confessionalidade, pela preferência por notações do quotidiano, por uma coloquialidade, por uma explícita alusão (em epígrafes, em pastiche, em dedicatória) a outros poetas da sua preferência (Carlos Drummond de Andrade, Éluard, etc.), processos com que despista a crítica para interpretações simplistas, mas que constituem, essencialmente, um instrumento de distanciamento na expressão de uma amargura e de um desassossego lucidamente autocontrolados. A contenção do extravasamento para o poema do dilaceramento interior passa ainda pela reflexão sobre a própria escrita e pela multiplicação de "Artes Poéticas", onde assume a importância da economia discursiva, do "mínimo detalhe" na explanação de "razões exclusivamente do foro íntimo": "São mal equilibrados, / numa economia exígua de palavras, / estes versos, porque escorrem / e se plasmam ao longo / de um vasto e duro panorama de fome" ("Ars Poética 66").
Do apelo da africanidade ("africano sou [...] Trago no sangue uma amplidão / de coordenadas geográficas e mar Índico" - "Naturalidade"), manifestada numa ligação à terra, traduzida não simplesmente no ancoramento da sua poesia a um espaço concreto, o espaço moçambicano, mas na conversão de algumas das suas imagens mais recorrentes (o rio, o vento, a planura) em símbolos da reflexão sobre o tempo e sobre a existência, à expressão temática do desenraizamento, do exílio, dos desconcertos do mundo, que atinge um momento de amargurada disforia em O Escriba Acocorado, a poesia de Knopfli distingue-se por um discreto humor, por uma desinibida confessionalidade, pela preferência por notações do quotidiano, por uma coloquialidade, por uma explícita alusão (em epígrafes, em pastiche, em dedicatória) a outros poetas da sua preferência (Carlos Drummond de Andrade, Éluard, etc.), processos com que despista a crítica para interpretações simplistas, mas que constituem, essencialmente, um instrumento de distanciamento na expressão de uma amargura e de um desassossego lucidamente autocontrolados. A contenção do extravasamento para o poema do dilaceramento interior passa ainda pela reflexão sobre a própria escrita e pela multiplicação de "Artes Poéticas", onde assume a importância da economia discursiva, do "mínimo detalhe" na explanação de "razões exclusivamente do foro íntimo": "São mal equilibrados, / numa economia exígua de palavras, / estes versos, porque escorrem / e se plasmam ao longo / de um vasto e duro panorama de fome" ("Ars Poética 66").
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Como referenciar
Porto Editora – Memória Consentida: 20 anos de Poesia (1959/1979) na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2023-09-25 08:20:08]. Disponível em
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