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Neomaneirismo
O Maneirismo representa uma reação anticlássica, no contexto da Contra-Renascença, nascida da crise religiosa, espiritual e ética do Humanismo, e traduzida numa conceção pessimista do Homem e da vida, revelada em sintomas como a melancolia, o sentido de desconcerto, a imagem de um mundo regido pelo acaso e pela fortuna, o sentimento de insegurança existencial, de efemeridade das coisas e dos bens do mundo. Pela inquietude espiritual, pela rutura com a harmonia e equilíbrio clássicos, o Maneirismo antecipa, em muitos aspetos, o Barroco, com o qual, porém, não se confunde: "contrariamente ao Maneirismo, mais sóbrio e mais frio, introspetivo e cerebral, dilacerado por contradições insolúveis; o barroco tende frequentemente para o ludismo e o divertimento, enquanto o Maneirismo aparece conturbado por um pathos e uma melancolia de raízes bem fundas." (cf. SILVA, Vítor Manuel Aguiar e - Teoria da Literatura, 8.a ed., Coimbra, 1988, p. 478). É nesta medida, por exemplo, que "o tema da ilusão e da efemeridade da vida adquire na poesia maneirista uma expressão pungente e agónica, reflexo de profunda perturbação interior, ao passo que na poesia barroca o mesmo tema se corporiza numa expressão mais exteriorista, não raro teatral e grandiloquente, numa linguagem saturada de elementos sensoriais, denunciadora de um estado de espírito e de uma visão do mundo bem diferente dos do Maneirismo" (id. ibi., pp. 478-479). Exemplo desta oposição, o uso da metáfora, de carácter cerebral e abstrato no Maneirismo, opõe-se à construção da metáfora barroca que comunica uma experiência naturalista e sensorial.
Estabelecida esta distinção, pela qual o Maneirismo adquire uma autonomia poética que recusa a conceção tradicional de forma de transição entre Clássico e Barroco, compreende-se que, do mesmo modo, os termos "Neobarroco" e "Neomaneirismo" não sejam sinónimos, embora sejam muitas vezes aproximados enquanto tendências que preferem a agudeza verbal, as alusões obscuras e paradoxais ou o jogo de conceitos. Apelidam-se de "neomaneiristas" os poetas contemporâneos, como Rui Knopfli, José Bento ou Ruy Belo, entre outros, que exprimem o senso camoniano da mudança enquanto sentido da inquietação pelo devir humano, que convertem a poesia em cenário do desencanto pessoal e da angústia humana; poetas enquadráveis num sentido de "tradição" pela disciplina formal que se impõe, elevando a palavra, pelo seu valor epifânico, ao único meio possível de paz ou de redenção; poetas que surpreendem pelo confessionalismo lúcido com que meditam sobre os desenganos e desencontros da existência, numa visão pessimista que, em alguns casos, adquire um sentido de elevação mística pelo anseio dolorido de penitência e busca de Deus.
Estabelecida esta distinção, pela qual o Maneirismo adquire uma autonomia poética que recusa a conceção tradicional de forma de transição entre Clássico e Barroco, compreende-se que, do mesmo modo, os termos "Neobarroco" e "Neomaneirismo" não sejam sinónimos, embora sejam muitas vezes aproximados enquanto tendências que preferem a agudeza verbal, as alusões obscuras e paradoxais ou o jogo de conceitos. Apelidam-se de "neomaneiristas" os poetas contemporâneos, como Rui Knopfli, José Bento ou Ruy Belo, entre outros, que exprimem o senso camoniano da mudança enquanto sentido da inquietação pelo devir humano, que convertem a poesia em cenário do desencanto pessoal e da angústia humana; poetas enquadráveis num sentido de "tradição" pela disciplina formal que se impõe, elevando a palavra, pelo seu valor epifânico, ao único meio possível de paz ou de redenção; poetas que surpreendem pelo confessionalismo lúcido com que meditam sobre os desenganos e desencontros da existência, numa visão pessimista que, em alguns casos, adquire um sentido de elevação mística pelo anseio dolorido de penitência e busca de Deus.
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Como referenciar
Porto Editora – Neomaneirismo na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2023-09-27 19:26:39]. Disponível em
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