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poética
Termo que designa uma disciplina cujo objeto de estudo é a criação de um sistema de normas, noções gerais, modelos e metalinguagem científicos para descrever, classificar e analisar as obras de arte verbal ou criações literárias.
Ao longo dos séculos, esta disciplina tem apresentado várias nomenclaturas, tendo dado origem posteriormente ao termo ciência da literatura, que é considerada como a base teórica dos estudos literários no seu conjunto e que abarca quatro secções: teoria da literatura, crítica literária, história da literatura e literatura comparada. A Poética seria o nome com a qual se denominava esta ciência e que hoje vulgarmente se chama teoria da literatura.
Esta disciplina surge inicialmente na Poética de Aristóteles, na qual são apresentadas reflexões relevantes para a constituição dos fundamentos desta disciplina. Nessa obra, é exposto, entre outros aspetos: o conceito de poesia e língua poética; objeto e modos da mimese poética; conceito e critérios de distinção dos géneros literários; propriedades gerais da tragédia, comédia, epopeia. De referir que, em relação à poética e à retórica, Aristóteles mantém uma clara distinção e oposição entre elas. Apesar de ambas serem disciplinas sobre o discurso, a primeira diz respeito à arte de comunicação, do discurso em público, e a segunda, à arte imaginária.
Na cultura latina, verifica-se uma fusão destes dois sistemas, pois a retórica torna-se uma criação poética, como se constata nas obras de Horácio, Ovídio, Plutarco e Tácito.
Na Idade Média, esta união da retórica e da poética é manifestada pela linguagem. Na época, a poética era encarada como sendo apenas uma classe da retórica.
No Renascimento, regressa-se à distinção destas duas matérias, sendo a poética considerada como um prolongamento da retórica, e esta como uma ciência geral da linguagem literária. Nessa altura, com a publicação da primeira tradução latina da Poética de Aristóteles, aumenta o interesse sobre estas disciplinas.
No século XVIII, o estudo da poética greco-latina é retomado como se constata nas obras Art Poétique (1674) de Nicolas Boileau, Della Perfetta Poesia (1706) de Ludovico Antonio Muratori, Poética (1798) de Ignacio de Luzán.
No século XIX, são publicados vários tratados sobre poética. A retórica, embora continue ligada à poética, é menosprezada pelos românticos que a consideram como um entrave à sua liberdade criadora. No final do século, verifica-se uma degradação destas duas disciplinas em detrimento de uma outra intitulada estilística e que se debruça sobre o conhecimento e as normas retóricas e de estilo, com o objetivo de alcançar a arte de falar e escrever com correção e perfeição. Perante esta decadência da tradição clássica, o francês Paul Valéry procura revalorizar a poética, relacionando-a com a criação ou composição de obras nas quais a linguagem é, simultaneamente, a matéria e o meio.
Ao longo do século XX, este reconhecimento da poética vai ser desenvolvido por uma série de escolas de teoria e crítica literárias. O formalismo russo tenta definir a essência do poético ou literariedade, através das suas teorias sobre o verso e a prosa, o conceito e a função dos géneros literários, a teoria do relato, entre outros aspetos. O new criticism valoriza a poética com a análise da "textura" particular da obra poética, tendo em conta as construções verbais e a especificidade e autonomia do poético como obra de arte da linguagem. A estilística considera que, para compreender a criação poética, é necessário estudar as relações recíprocas entre todos os elementos significantes e significados do texto poético. O estruturalismo checo e francês procura estudar a poesia como parte da linguagem, examinando-a de acordo com procedimentos de análise linguística. A semiótica concebe a obra poética como um signo artístico complexo, integrado num sistema de signos culturais e em relação com um contexto no qual estão inseridos o emissor-autor e o recetor.
O estruturalismo e a semiótica apresentam aspetos importantes dos estudos literários, centrando-se em quatro grandes domínios: a análise das técnicas narrativas (narratologia), tendo como referência principal o livro Le Discours du Récit (1972, Discurso da Narrativa) de Gérard Genette; a análise temática, que estuda a estrutura da história narrada, análise para a qual contribuíram as obras de Vladimir Propp, Roland Barthes, Claude Bremond, Tzvetan Todorov, Greimas e Paul Ricoeur; a retórica e a estilística, que procuram renovar o interesse da retórica não só pelos vários estudos sobre a metáfora e a metonímia, como também pela reativação do projeto taxinómico global das antigas retóricas, salientando-se o Grupo µ ; a poesia e a métrica, com diversos trabalhos sobre a análise das estruturas poéticas, dos paralelismos (fónicos, sintáticos e semânticos) e da métrica, destacando-se figuras de referência, como Jean Cohen, Nicolas Ruwet, Moris Halle, Jacques Roubaud, Benoît de Cornulier, entre outros.
Nos anos 70, várias revistas internacionais debruçam-se sobre o tema, como a Poétique (Paris, 1970), Poetics (La Haya, 1971) e Poetica (Munich, 1978). Considerou-se que a nomenclatura poética, usada desde a obra de Aristóteles, iria prevalecer sobre as designações que se usavam, nas obras inglesas, Theory of Literature (Teoria da Literatura), e nas obras alemãs, Literaturwissenschaft (Ciência da Literatura). No entanto, são estes dois últimos nomes que se consolidam, especialmente, o primeiro. A terminologia adotada então é "teoria da literatura" (designação que substitui o nome "poética"), constituindo uma das quatro disciplinas da ciência da linguagem. René Wellek, o primeiro autor de um manual de Teoria da Literatura (1949), é quem define poética como teoria da literatura, num dos ensaios do seu livro The Attack on Literature (1982).
Ao longo dos séculos, esta disciplina tem apresentado várias nomenclaturas, tendo dado origem posteriormente ao termo ciência da literatura, que é considerada como a base teórica dos estudos literários no seu conjunto e que abarca quatro secções: teoria da literatura, crítica literária, história da literatura e literatura comparada. A Poética seria o nome com a qual se denominava esta ciência e que hoje vulgarmente se chama teoria da literatura.
Esta disciplina surge inicialmente na Poética de Aristóteles, na qual são apresentadas reflexões relevantes para a constituição dos fundamentos desta disciplina. Nessa obra, é exposto, entre outros aspetos: o conceito de poesia e língua poética; objeto e modos da mimese poética; conceito e critérios de distinção dos géneros literários; propriedades gerais da tragédia, comédia, epopeia. De referir que, em relação à poética e à retórica, Aristóteles mantém uma clara distinção e oposição entre elas. Apesar de ambas serem disciplinas sobre o discurso, a primeira diz respeito à arte de comunicação, do discurso em público, e a segunda, à arte imaginária.
Na cultura latina, verifica-se uma fusão destes dois sistemas, pois a retórica torna-se uma criação poética, como se constata nas obras de Horácio, Ovídio, Plutarco e Tácito.
Na Idade Média, esta união da retórica e da poética é manifestada pela linguagem. Na época, a poética era encarada como sendo apenas uma classe da retórica.
No Renascimento, regressa-se à distinção destas duas matérias, sendo a poética considerada como um prolongamento da retórica, e esta como uma ciência geral da linguagem literária. Nessa altura, com a publicação da primeira tradução latina da Poética de Aristóteles, aumenta o interesse sobre estas disciplinas.
No século XVIII, o estudo da poética greco-latina é retomado como se constata nas obras Art Poétique (1674) de Nicolas Boileau, Della Perfetta Poesia (1706) de Ludovico Antonio Muratori, Poética (1798) de Ignacio de Luzán.
No século XIX, são publicados vários tratados sobre poética. A retórica, embora continue ligada à poética, é menosprezada pelos românticos que a consideram como um entrave à sua liberdade criadora. No final do século, verifica-se uma degradação destas duas disciplinas em detrimento de uma outra intitulada estilística e que se debruça sobre o conhecimento e as normas retóricas e de estilo, com o objetivo de alcançar a arte de falar e escrever com correção e perfeição. Perante esta decadência da tradição clássica, o francês Paul Valéry procura revalorizar a poética, relacionando-a com a criação ou composição de obras nas quais a linguagem é, simultaneamente, a matéria e o meio.
Ao longo do século XX, este reconhecimento da poética vai ser desenvolvido por uma série de escolas de teoria e crítica literárias. O formalismo russo tenta definir a essência do poético ou literariedade, através das suas teorias sobre o verso e a prosa, o conceito e a função dos géneros literários, a teoria do relato, entre outros aspetos. O new criticism valoriza a poética com a análise da "textura" particular da obra poética, tendo em conta as construções verbais e a especificidade e autonomia do poético como obra de arte da linguagem. A estilística considera que, para compreender a criação poética, é necessário estudar as relações recíprocas entre todos os elementos significantes e significados do texto poético. O estruturalismo checo e francês procura estudar a poesia como parte da linguagem, examinando-a de acordo com procedimentos de análise linguística. A semiótica concebe a obra poética como um signo artístico complexo, integrado num sistema de signos culturais e em relação com um contexto no qual estão inseridos o emissor-autor e o recetor.
O estruturalismo e a semiótica apresentam aspetos importantes dos estudos literários, centrando-se em quatro grandes domínios: a análise das técnicas narrativas (narratologia), tendo como referência principal o livro Le Discours du Récit (1972, Discurso da Narrativa) de Gérard Genette; a análise temática, que estuda a estrutura da história narrada, análise para a qual contribuíram as obras de Vladimir Propp, Roland Barthes, Claude Bremond, Tzvetan Todorov, Greimas e Paul Ricoeur; a retórica e a estilística, que procuram renovar o interesse da retórica não só pelos vários estudos sobre a metáfora e a metonímia, como também pela reativação do projeto taxinómico global das antigas retóricas, salientando-se o Grupo µ ; a poesia e a métrica, com diversos trabalhos sobre a análise das estruturas poéticas, dos paralelismos (fónicos, sintáticos e semânticos) e da métrica, destacando-se figuras de referência, como Jean Cohen, Nicolas Ruwet, Moris Halle, Jacques Roubaud, Benoît de Cornulier, entre outros.
Nos anos 70, várias revistas internacionais debruçam-se sobre o tema, como a Poétique (Paris, 1970), Poetics (La Haya, 1971) e Poetica (Munich, 1978). Considerou-se que a nomenclatura poética, usada desde a obra de Aristóteles, iria prevalecer sobre as designações que se usavam, nas obras inglesas, Theory of Literature (Teoria da Literatura), e nas obras alemãs, Literaturwissenschaft (Ciência da Literatura). No entanto, são estes dois últimos nomes que se consolidam, especialmente, o primeiro. A terminologia adotada então é "teoria da literatura" (designação que substitui o nome "poética"), constituindo uma das quatro disciplinas da ciência da linguagem. René Wellek, o primeiro autor de um manual de Teoria da Literatura (1949), é quem define poética como teoria da literatura, num dos ensaios do seu livro The Attack on Literature (1982).
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Como referenciar
Porto Editora – poética na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2023-09-29 01:45:38]. Disponível em
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