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Stuart Carvalhais

Caricaturista, humorista, ilustrador, pintor e autor de banda desenhada, José Herculano Stuart Torrie d'Almeida Carvalhais nasceu em Vila Real, a 7 de março de 1887, e morreu em Lisboa, a 2 de março de 1961.
Passou os primeiros anos em Espanha, depois no Alentejo, onde frequentou a escola primária e o liceu. Curiosamente, durante a sua passagem pelo Liceu de Évora, registou-se um chumbo a Desenho (amarga ironia), tendo-se mudado para Lisboa nos primeiros anos de novecentos.
Na capital teve formação artística, influenciada pelo modernismo emergente no início do século XX, tendo trabalhado, primeiramente, como repórter fotográfico, depois em ilustração e em caricatura, não sem antes ter sido aprendiz no estúdio de Jorge Colaço, onde aprendeu a pintar azulejo e ilustração, por volta de 1905.
Desenho aguarelado a tinta da china sobre papel, de Stuart Carvalhais
Caricatura de Santa-Rita Pintor, por Stuart Carvalhais (1915, revista Em Foco)
Capa da revista ABC, por Stuart Carvalhais, 1920 (Centro de Arte Moderna, Lisboa)
A sua estreia como caricaturista ocorreu em 1906, em O Século - Suplemento Humorístico, cujo diretor era nem mais nem menos que o seu mestre, Jorge Colaço, e no ano seguinte, em 1907, teve a sua primeira incursão nas histórias aos quadradinhos (como também se designa a banda desenhada), com "As Aventuras de Dois Meninos no Bosque".
Em 1909 trabalhou no Salão Foz, um teatrinho que existia perto do Palácio Foz, onde foi palhaço e caricaturista dos espectadores (utilizando o pomposo nome de Monsieur Brillet, fazendo os fregueses pensar que era um caricaturista estrangeiro), tendo ainda sido diretor do periódico A Sátira, em 1911, participado nos primeiros Salões dos Humoristas (1912 e 1913) e colaborado no jornal Papagaio Real.
Aos 25 anos, entre 1913 e 1914, esteve em Paris durante alguns meses, onde colaborou com diversos periódicos, como Pages Foles, Ruy Blas, Le Rire e Le Sourire, o que lhe proporcionou um precioso contacto com um meio artístico e intelectual muito rico e variado. Na capital francesa, encontrou Amadeu de Sousa Cardoso, Almada Negreiros, Santa Rita e José Pacheco, entre outros artistas portugueses, que por lá estiveram no período áureo da Belle Époque.
De regresso a Lisboa, com o despoletar da Primeira Guerra Mundial, tornou-se presença assídua nas tertúlias jornalísticas e artísticas tão características do Bairro Alto e do Chiado, nomeadamente no célebre café "A Brasileira".
Naturalmente, voltou à colaboração com diversos periódicos, como A Lucta, em 1916, ou o jornal ABC a Rir, do qual foi diretor, continuando também a fazer ilustração diversa, com que por vezes concorria a concursos, mais pressionado pelos amigos do que por sua iniciativa, como por exemplo o que foi promovido pela companhia de seguros A Glória Portuguesa, em 1917, no qual recebeu o 2.º prémio, ou o Prémio da Casa Sassetti, atribuído pelo seu editor.
Em 1920 participou na 3.ª edição do Salão dos Humoristas, em 1922 começou a colaborar com a editora discográfica Valentim de Carvalho (fazendo capas de discos) e em 1925 iniciou a sua longa colaboração com o Diário de Notícias, em que das largas centenas de desenhos (mais de dois mil) que realizou e que se podem encontrar no arquivo do jornal, muitos continuam inéditos. A esse propósito, este prestigiado matutino lisboeta, por ocasião do seu 125.º aniversário (comemorado em 1989), não deixou de incluir nas várias iniciativas que então realizou, a edição de um precioso álbum de inéditos (Stuart Inédito), contendo uma pequena amostra das gravuras que, pelas mais variadas razões, nunca chegaram a ser publicadas pelo DN.
A revolução de 28 de maio de 1926 veio influenciar, de certo modo, o percurso artístico de Stuart, que antes produzia preferencialmente caricatura política e depois passou a dedicar-se mais à sátira social, devido à censura. Nesse ano, começou a sua colaboração com o Sempre Fixe e no ano seguinte com o Magazine Bertrand.
Dos seus múltiplos trabalhos, registam-se as ilustrações coloridas que, embora em muito menor número, não desmereciam em nada as suas congéneres a negro, como o cartaz que realizou para as Festas de Lisboa em 1934 ou as capas de discos, que lhe valeram as suas duas únicas distinções internacionais: em 1928 o 2.º Prémio num concurso em Génova (Itália) e em 1929, o 1.º Prémio em Sevilha.
Este artista boémio extremamente popular e de indumentária desalinhada, retratou como ninguém o dia a dia da sua cidade, tendo como modelo a gente simples que via na rua: bêbados, mendigos, varinas, costureiras, ardinas ou miúdos, sem esquecer os seus inconfundíveis gatos e cachorros, e tendo como cenários de referência: cafés, teatros de revista ou bairros castiços. No fundo, o que marca estes desenhos de Stuart é que eles eram, são, instintivos: são tal e qual como o artista os via: as pessoas, os animais, as situações, os lugares... Por outro lado, há pormenores inconfundíveis em quase todos os desenhos, como o olhar das personagens, representado por dois pontinhos negros cheios de vida, ora muito arregalados e expressivos ora semicerrados e transmitindo bonomia. Nota-se também que, regra geral, os desenhos transmitem uma apreciável dinâmica: a ação está presente nos desenhos de Stuart, mesmo em personagens ou cenários secundários que apenas servem para compor o cenário, como o miúdo, o cão, o gato...
O seu génio criativo permitia-lhe desenhar, com um traço instintivo, rápido e decidido, sob qualquer superfície (guardanapos, papel velho, cartão...) e com qualquer tipo de material (graxa, carvão, vinho, borra de café ou com fósforos!), tendo deixado uma obra de incalculável valor e extensão, pois sempre foi dispersando as centenas de trabalhos que realizou.
Modesto como muito poucos, afirmou sobre si "[...] mas ser artista é ter talento, possuir garra, ser condecorado. [...] Eu não, nunca pintei nada [...], faço bonecos, para distrair a fome. [...] Artistas são os outros [...]." in República, 13 de dezembro de 1940. De facto, Stuart tinha pena de não poder dedicar-se à pintura, mas o seu trabalho anárquico não lhe permitiu ter condições para prosseguir carreira de pintor, produzindo desenhos com extraordinária rapidez e facilidade, consoante as necessidades da bolsa. No entanto, apesar dos apertos económicos por que passou (pela vida desregrada que teve), nunca se lhe ouviu lamúrias nem regateava o preço que lhe pagavam pelos desenhos, sendo este desprendimento materialista marcado pelos muitos desenhos e gravuras que sempre foi, generosamente, oferecendo.
Para além de divertir o público com os desenhos que apareciam nos jornais, revistas ou livros, quem com ele privou é unânime em afirmar que na vida pessoal sempre foi uma pessoa de trato muito divertido, sendo mais que muitas as anedotas reais que se passaram consigo. Apesar de grande parte do meio intelectual do seu tempo o olhar com desdém, o grande escritor que foi Aquilino Ribeiro definiu-o na perfeição: "O grande e pobre Stuart".
A sua presença fez-se sentir num número impressionante de periódicos e edições com os quais colaborou, como o ABC a Rir, A Batalha, a revista Ilustração e o Papagaio, sempre sem nunca ter tido um sítio fixo onde trabalhar, tantas eram as solicitações que ia recebendo.
Para além da caricatura, da ilustração e, com menor produção, da pintura, Stuart notabilizou-se com a criação das célebre e duradouras histórias aos quadradinhos (BD) Quim e Manecas, que apareceram em 1915, em O Século Cómico.
A extraordinária qualidade narrativa e plástica da série, protagonizada por dois irrequietos miúdos, corresponde a um caso raro de longevidade nas histórias aos quadradinhos em Portugal (se bem que com diferentes fases e passando por O Século, pela Ilustração Portuguesa, por Os Sports, pelo Sempre Fixe, pelo Diário de Lisboa e acabando no Cavaleiro Andante, em 1953), mais dadas a histórias completas ou a séries de curta duração. Por outro lado, esta série, constituída por mais de 500 episódios, foi das primeiras bandas desenhadas a utilizar balões em toda a Europa.
A enorme popularidade dos dois petizes foi associada à produção de um filme (datado de 1916, de que se perdeu o rasto), a novelas, jogos, brinquedos e publicidade. A série Quim e Manecas, numa curta fase (1939-1940), passou a designar-se Manecas e João Manuel, tendo aparecido no Sempre Fixe, um semanário humorístico que marcou o humor possível durante o Estado Novo. Realizou ainda, esporadicamente, bandas desenhadas como "Cocó, Reineta e Facada", entre outras divertidas personagens.
Das poucas distinções que recebeu, destaque para o Prémio Domingos Sequeira do Secretariado Nacional de Informação, Cultura Popular e Turismo (SNI), a única atribuída por um organismo oficial, no ano de 1949.
Faleceu a 2 de março de 1961, no Hospital de Santa Maria, com quase 74 anos, tendo o seu último trabalho publicado em vida saído a 22 de fevereiro desse ano, em Os Ridículos.
Em 1987, por ocasião do centenário do seu nascimento, diversos acontecimentos homenagearam este singular artista que marcou fortemente o panorama artístico da primeira metade do século XX e que ainda hoje mantém uma obra rica, diversificada, divertida e atual.
Stuart é patrono da Escola Secundária Stuart Carvalhais, em Massamá (Queluz), onde viveu os seus últimos anos e tem o seu nome atribuído a uma Praceta em Lisboa, a sua cidade de sempre.
Em 2004 a Casa da Imprensa e o El Corte Inglés criaram o Prémio Stuart de Desenho de Imprensa, abrangendo a ilustração e a caricatura.
De entre a bibliografia que existe sobre Stuart, merece referência Crónicas d'um Stuart, de Osvaldo Sousa (1987), Stuart 1887-1987 Centenário do Nascimento (1987), o já referido Stuart Inédito (1989), Aventuras de Manecas e João Manuel (1996) e Stuart Carvalhais: o desenho gráfico e a imprensa, de José Pacheco (2000).
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Como referenciar
Porto Editora – Stuart Carvalhais na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2023-09-21 20:34:45]. Disponível em
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