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Triunfo do Barroco (séc. XVII)
A Reforma Protestante, desencadeada por figuras como Lutero ou Calvino, entre outros pensadores reformistas, tornou mais urgente a reforma da Igreja Católica, há muito ansiada.
Esta renovação da Igreja Católica foi feita de acordo com as normativas do Concílio de Trento (1545-63), um dos pilares deste movimento reformador, também alicerçado na criação da Companhia de Jesus e na Inquisição. Deste concílio saíram as diretrizes que reafirmariam o dogma, o culto tradicional e lançaram as bases da reforma disciplinar.
A reforma do clero (secular e regular) era pedida desde há muito, apesar de alguns esforços realizados com a fundação de novas ordens religiosas com um espírito reformador, que privilegiassem valores como a pobreza, a caridade, a meditação, a pregação, o ensino, a assistência e a missionação dos povos (proselitismo).
A grande ordem religiosa da Reforma Católica foi a Companhia de Jesus, fundada por Inácio de Loyola, um oficial do exército espanhol que, ao ser ferido numa batalha perto de Pamplona, enquanto convalescia, fez umas leituras piedosas e se sentiu inspirado por uma religiosidade especial. Trocou então as armas pela religião, retirando-se para Monserrat, onde escreveu os "Exercícios Espirituais", reveladores do seu programa exegético. Em seguida, dedicou-se aos estudos em várias Universidades e em Paris formou um grupo religioso que se transformaria na Companhia de Jesus (formada em 1534 e aprovada pelo Papa Paulo III em 1540), uma ordem religiosa dedicada à evangelização e salvação das almas.
Um dos grandes trunfos dos Jesuítas constituiu na sua formação intelectual (cultural e teológica), que lhes permitia combater eficazmente os Protestantes. Fora da Europa, a sua missão era dedicar-se às missões na Ásia e na América.
A igreja-mãe desta ordem era o templo romano barroco do Gesú, riscado pelo arquiteto Vignola, que serviu de modelo para todas as construções da Companhia de Jesus. Esta igreja, repetida em diferentes escalas e estilos um pouco por todo o mundo, era exemplo de uma decoração grandiosa e de um espaço amplo e renovado (igreja-salão com os púlpitos, adaptada à pregação da palavra de Deus) para a glória de Deus, contrastante com a austeridade e a simplicidade das igrejas protestantes, nomeadamente as calvinistas.
Esta Companhia foi introduzida em Portugal por iniciativa de D. João III. Em 1538, o Dr. Diogo de Gouveia, principal do Colégio de Santa Bárbara (Paris), onde estudara Santo Inácio de Loyola, informou o rei da existência de um grupo de religiosos que estariam aptos a converter a Índia. Esta ideia agradou ao monarca e assim, em 1540, chegam Francisco Xavier e Simão Rodrigues. O primeiro partiu para o Oriente, enquanto o segundo ficou na metrópole, para lançar as bases da província de Portugal. A primeira casa da Companhia (1542) foi o Mosteiro de Santo Antão-o-Velho, na Mouraria de Lisboa, e nesse mesmo ano fundou-se o Colégio de Coimbra; para a formação dos membros desta ordem, outros se lhe seguiram.
Entretanto, arrancara a missão evangelizadora, obra característica desta congregação. S. Francisco Xavier alcançou Goa em 1542 (6 de maio) com dois companheiros. Percorreu a Índia, foi a Malaca, às Molucas e ao Japão, vindo a falecer em 1552 junto da China. A evangelização foi continuada por diversas vagas de missionários que chegaram a outros territórios como o Tibete e o Sião. Na África os Jesuítas estiveram no Congo, em Angola, na Etiópia, em Moçambique e, no início do século XVII, atingiram Cabo Verde, a Guiné e a Serra Leoa.
A primeira missão no Brasil (1549), dirigida por Manuel da Nóbrega, foi continuada por centenas de expedições durante mais de dois séculos. As casas jesuíticas do império tornaram-se focos de atração de indígenas e centros difusores do Cristianismo, garantindo o prestígio da ordem.
Em Portugal eram confessores, pregadores da alta sociedade, catequisadores e praticavam obras piedosas e de caridade. Contudo, a sua principal atividade era a pedagogia. Entre o final do século XVII e a primeira metade do século XVIII fundaram 30 escolas, bem estruturadas e adaptadas às realidades concretas, onde o ensino seguia os princípios da ratio studiorum.
Encarados como um dos principais entraves à implantação do despotismo esclarecido, centralizador e nacionalista, com as suas instituições submetidas ao Estado, os Jesuítas foram perseguidos por Pombal, que lançou o decreto de expulsão (3 de setembro de 1759). Em 1814 a Companhia foi restaurada, mas só voltaram ao território português no Governo de D. Miguel. Em 1910 a Companhia voltou a ser perseguida e espoliada, todavia, nos nossos dias, continua presente no nosso país.
No período da Reforma Católica desenvolveu-se a arte da talha na Península Ibérica, vindo a revelar-se uma das mais importantes expressões da Arte Barroca e um dos veículos privilegiados da transmissão dos princípios contra-reformistas. Esta eficiente linguagem artística da propaganda barroca atraía o crente, de forma subliminar, levando-o a aceitar as diretrizes da Igreja.
A arte da talha é um produto de ensambladores, de douradores, de desenhadores e imaginários, presente em toda a arte sacra do período barroco. A talha portuguesa foi estudada, entre outros por Robert C. Smith e Germain Bazin, que, seguindo metodologias diversas, propuseram dois tipos de classificação. Bazin divide a talha nacional em quatro tipos: o barroco, o frontal, o D. João V e o baldaquino de inspiração rococó, enquanto Smith propões três estilos: o nacional, o joanino e o rocaille.
Ainda hoje esta arte é considerada, por muitos, como uma arte menor. No entanto, vai gradualmente assumindo um lugar de destaque na expressão artística nacional.
Outra expressão do génio artístico português é a azulejaria. No século XVII fixou-se em Portugal o gosto pelos revestimentos cerâmicos monumentais, tanto em igrejas como em solares, com azulejos de repetição (enxaquetados) e de padrão, quase sempre com cercaduras e barra para a sua integração arquitetónica. Os pintores de azulejos deste tempo usavam gravuras da Europa nas suas criações, sobretudo os "grotescos", e também se inspiravam nas "chitas" originárias da Índia. Mas a figuração podia ser muito variada: cenas religiosas, de caça, de guerra, mitológicas e satíricas. A igreja encomendava, essencialmente, painéis avulsos com santos, emblemas e cenas religiosas, enquanto a aristocracia encomendava azulejo profano para decorar os seus palácios, sobretudo os de Lisboa, depois de 1640, como o Palácio dos Marqueses de Fronteira. Do século XVII até meados do século XVIII passam a importar-se conjuntos monumentais de azulejos dos Países Baixos.
A literatura de Seiscentos foi muito marcada pela Reforma e pelo combate aos livros heréticos. Nela dominavam os temas religiosos, económicos e relacionados com a União Dinástica. As figuras mais marcantes da literatura portuguesa deste período eram juristas, teólogos ou hagiólogos, entre os quais se destacavam: Diogo do Couto (Soldado Prático), D. Francisco de Melo (Epanáforas Bélicas), Manuel Severim de Faria (Noticías de Portugal), Francisco Suarez (Defensio Fidei Catholicae Adversus Anglicanae Sectae Errores), Duarte Ribeiro de Macedo (Discurso sobre a Introdução das Artes no Reino), António de Sousa Macedo (Flores de Espanha, Excelências de Portugal) e o Padre António Vieira, autor de inúmeros sermões dedicados ao combate da escravatura e da Inquisição e à defesa dos Índios e das Companhias.
Esta renovação da Igreja Católica foi feita de acordo com as normativas do Concílio de Trento (1545-63), um dos pilares deste movimento reformador, também alicerçado na criação da Companhia de Jesus e na Inquisição. Deste concílio saíram as diretrizes que reafirmariam o dogma, o culto tradicional e lançaram as bases da reforma disciplinar.
A reforma do clero (secular e regular) era pedida desde há muito, apesar de alguns esforços realizados com a fundação de novas ordens religiosas com um espírito reformador, que privilegiassem valores como a pobreza, a caridade, a meditação, a pregação, o ensino, a assistência e a missionação dos povos (proselitismo).
Um dos grandes trunfos dos Jesuítas constituiu na sua formação intelectual (cultural e teológica), que lhes permitia combater eficazmente os Protestantes. Fora da Europa, a sua missão era dedicar-se às missões na Ásia e na América.
A igreja-mãe desta ordem era o templo romano barroco do Gesú, riscado pelo arquiteto Vignola, que serviu de modelo para todas as construções da Companhia de Jesus. Esta igreja, repetida em diferentes escalas e estilos um pouco por todo o mundo, era exemplo de uma decoração grandiosa e de um espaço amplo e renovado (igreja-salão com os púlpitos, adaptada à pregação da palavra de Deus) para a glória de Deus, contrastante com a austeridade e a simplicidade das igrejas protestantes, nomeadamente as calvinistas.
Esta Companhia foi introduzida em Portugal por iniciativa de D. João III. Em 1538, o Dr. Diogo de Gouveia, principal do Colégio de Santa Bárbara (Paris), onde estudara Santo Inácio de Loyola, informou o rei da existência de um grupo de religiosos que estariam aptos a converter a Índia. Esta ideia agradou ao monarca e assim, em 1540, chegam Francisco Xavier e Simão Rodrigues. O primeiro partiu para o Oriente, enquanto o segundo ficou na metrópole, para lançar as bases da província de Portugal. A primeira casa da Companhia (1542) foi o Mosteiro de Santo Antão-o-Velho, na Mouraria de Lisboa, e nesse mesmo ano fundou-se o Colégio de Coimbra; para a formação dos membros desta ordem, outros se lhe seguiram.
Entretanto, arrancara a missão evangelizadora, obra característica desta congregação. S. Francisco Xavier alcançou Goa em 1542 (6 de maio) com dois companheiros. Percorreu a Índia, foi a Malaca, às Molucas e ao Japão, vindo a falecer em 1552 junto da China. A evangelização foi continuada por diversas vagas de missionários que chegaram a outros territórios como o Tibete e o Sião. Na África os Jesuítas estiveram no Congo, em Angola, na Etiópia, em Moçambique e, no início do século XVII, atingiram Cabo Verde, a Guiné e a Serra Leoa.
A primeira missão no Brasil (1549), dirigida por Manuel da Nóbrega, foi continuada por centenas de expedições durante mais de dois séculos. As casas jesuíticas do império tornaram-se focos de atração de indígenas e centros difusores do Cristianismo, garantindo o prestígio da ordem.
Em Portugal eram confessores, pregadores da alta sociedade, catequisadores e praticavam obras piedosas e de caridade. Contudo, a sua principal atividade era a pedagogia. Entre o final do século XVII e a primeira metade do século XVIII fundaram 30 escolas, bem estruturadas e adaptadas às realidades concretas, onde o ensino seguia os princípios da ratio studiorum.
Encarados como um dos principais entraves à implantação do despotismo esclarecido, centralizador e nacionalista, com as suas instituições submetidas ao Estado, os Jesuítas foram perseguidos por Pombal, que lançou o decreto de expulsão (3 de setembro de 1759). Em 1814 a Companhia foi restaurada, mas só voltaram ao território português no Governo de D. Miguel. Em 1910 a Companhia voltou a ser perseguida e espoliada, todavia, nos nossos dias, continua presente no nosso país.
No período da Reforma Católica desenvolveu-se a arte da talha na Península Ibérica, vindo a revelar-se uma das mais importantes expressões da Arte Barroca e um dos veículos privilegiados da transmissão dos princípios contra-reformistas. Esta eficiente linguagem artística da propaganda barroca atraía o crente, de forma subliminar, levando-o a aceitar as diretrizes da Igreja.
A arte da talha é um produto de ensambladores, de douradores, de desenhadores e imaginários, presente em toda a arte sacra do período barroco. A talha portuguesa foi estudada, entre outros por Robert C. Smith e Germain Bazin, que, seguindo metodologias diversas, propuseram dois tipos de classificação. Bazin divide a talha nacional em quatro tipos: o barroco, o frontal, o D. João V e o baldaquino de inspiração rococó, enquanto Smith propões três estilos: o nacional, o joanino e o rocaille.
Ainda hoje esta arte é considerada, por muitos, como uma arte menor. No entanto, vai gradualmente assumindo um lugar de destaque na expressão artística nacional.
Outra expressão do génio artístico português é a azulejaria. No século XVII fixou-se em Portugal o gosto pelos revestimentos cerâmicos monumentais, tanto em igrejas como em solares, com azulejos de repetição (enxaquetados) e de padrão, quase sempre com cercaduras e barra para a sua integração arquitetónica. Os pintores de azulejos deste tempo usavam gravuras da Europa nas suas criações, sobretudo os "grotescos", e também se inspiravam nas "chitas" originárias da Índia. Mas a figuração podia ser muito variada: cenas religiosas, de caça, de guerra, mitológicas e satíricas. A igreja encomendava, essencialmente, painéis avulsos com santos, emblemas e cenas religiosas, enquanto a aristocracia encomendava azulejo profano para decorar os seus palácios, sobretudo os de Lisboa, depois de 1640, como o Palácio dos Marqueses de Fronteira. Do século XVII até meados do século XVIII passam a importar-se conjuntos monumentais de azulejos dos Países Baixos.
A literatura de Seiscentos foi muito marcada pela Reforma e pelo combate aos livros heréticos. Nela dominavam os temas religiosos, económicos e relacionados com a União Dinástica. As figuras mais marcantes da literatura portuguesa deste período eram juristas, teólogos ou hagiólogos, entre os quais se destacavam: Diogo do Couto (Soldado Prático), D. Francisco de Melo (Epanáforas Bélicas), Manuel Severim de Faria (Noticías de Portugal), Francisco Suarez (Defensio Fidei Catholicae Adversus Anglicanae Sectae Errores), Duarte Ribeiro de Macedo (Discurso sobre a Introdução das Artes no Reino), António de Sousa Macedo (Flores de Espanha, Excelências de Portugal) e o Padre António Vieira, autor de inúmeros sermões dedicados ao combate da escravatura e da Inquisição e à defesa dos Índios e das Companhias.
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Como referenciar
Porto Editora – Triunfo do Barroco (séc. XVII) na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2023-03-27 20:49:32]. Disponível em
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