Vamos Descobrir Angola!
Em 1948 aqueles jovens negros, brancos e mestiços que eram filhos da terra, filhos do país, iniciavam em Luanda o movimento cultural "Vamos Descobrir Angola!", com o intuito de estudar a terra que lhes fora berço, aquela terra que eles tanto amavam e mal conheciam.
Este movimento teve como nomes cimeiros os de Agostinho Neto (1922-1979), Viriato da Cruz (1928-1973), António Jacinto (1924-) e Mário António (1934-1989), entre outros. A real finalidade deste movimento era a de redescobrir Angola ou, como proclamavam, "Angolanizar Angola".
Este grupo de intelectuais sentia uma forte necessidade de destruir a reinante literatura colonial que falseava a realidade vivencial em Angola e que não entrava no âmago das realidades e sentimentos do africano.
Este movimento "Vamos Descobrir Angola!" incitava os jovens a redescobrir o país em todos os seus aspetos, através de um trabalho coletivo e organizado; apelava à produção literária dirigida ao povo; exigia a expressão dos sentimentos populares e da autêntica natureza africana, mas sem que se fizesse qualquer concessão à sede de exotismo colonial. Tudo deveria basear-se no senso estético, na inteligência, na vontade e na razão africanas. Enquanto estudam o mundo que os rodeia, o mundo angolano de que eles faziam parte, mas que tão mal lhes havia sido ensinado, começa a germinar uma literatura que seria a expressão da sua maneira de sentir, o veículo das suas aspirações - uma literatura de combate pelo seu povo.
Começam, então, a aparecer as primeiras composições literárias marcadas pelas condições ambientais resultantes de um conhecimento perfeito do homem e da terra. Visto deste ponto, compreender-se como o grito "Vamos Descobrir Angola!" correspondeu ao mais forte desejo e à mais premente necessidade do homem angolano se reencontrar consigo mesmo. Angola estava, de facto, "longe" dela.
Os fortes ecos deste "Vamos Descobrir Angola!" chegaram a Portugal e dinamizaram os jovens africanos que aqui estudavam. Motivados pelo exemplo dos que, em Luanda, anunciavam o nascimento da autêntica poesia angolana, eles iniciariam uma atividade literária que os Cadernos da Casa dos Estudantes do Império trariam a público a partir de 1951.
Desenvolvia-se um fenómeno literário original, no âmbito das Literaturas Africanas de Expressão Portuguesa, ativado por um conjunto de jovens intelectuais talentosos e cultos espalhados por Luanda e pelos centros universitários de Lisboa e Coimbra.
Nesta época impunha-se uma nova afirmação para o caso angolano: a luta pela libertação nacional nascida da recusa permanente e secular do povo inteiro de Angola face à presença colonial portuguesa.
Através da Casa dos Estudantes do Império, em Lisboa, chegavam periodicamente a Angola notícias de novos movimentos e reivindicações de outras partes do mundo: o Modernismo Brasileiro que proclamava a brasilidade, os ecos culturais e literários da Negritude e do Afro-Americanismo, o Neorrealismo português, a proclamação da independência da literatura africana francófona, o Surrealismo e o Marxismo, tudo expressões de emancipação e revolta falada de nações que lutavam pela afirmação dos seus povos. Assim, "Vamos Descobrir Angola!" representava uma profunda e vincada ansiedade de plena afirmação do povo angolano. A Angola a descobrir não seria propriamente a do passado, mas sim a do futuro. Ter-se-ia, certamente, que estudar o passado, local onde se iriam buscar as verdadeiras raízes angolanas - há muito abafadas e esquecidas pelo sistema colonial português - e aportá-las para o presente, lê-las à luz das realidades presentes, procurando, assim, a fusão, o equilíbrio dessas duas realidades para, sobre elas, se poder construir a Angola do futuro. O "Vamos Descobrir Angola!" deveria, pois, procurar esse encontro, que seria, antes de mais, um reencontro do angolano com a sua terra.
O movimento possuía sólidas bases teóricas, propondo-se, assim, continuar o espírito combativo dos escritores do final do século XIX e inícios do século XX.
Numa análise mais aprofundada dos verdadeiros intuitos deste movimento "Vamos Descobrir Angola!" apercebemo-nos que o dito projeto de descobrir Angola continha, implicitamente, uma mensagem que só poderia vingar no plano político, apesar de estar a ser passada pelo plano literário. Estes jovens intelectuais, através dos seus textos, faziam passar o forte desejo e a iminente necessidade de parar definitivamente com a alienação a todos os níveis - que o sistema colonial provocava no povo africano: ensinava-se o português, a cultura e a história de Portugal, mas os angolanos desconheciam, quase completamente, as suas raízes, a sua cultura ancestral, as figuras mais marcantes da vida angolana e "esqueciam" cada vez mais as suas línguas próprias. Havia que parar com essas negações à cultura angolana; mas só a literatura, só o texto expressivamente dissimulado poderia fazer passar a mensagem, pois se se voltassem para o plano ativo da intervenção e denúncia política, logo seriam barrados e calados pela censura e a estrutura repressiva do mundo colonial.
Assim, "Vamos Descobrir Angola!" encontra, pois, motivos internos mais que suficientes para lançar em pleno o parto da literatura angolana. A altura era propícia e o terreno estava já mais trabalhado para que, ao lançar à luz do dia esta jovem literatura, ela encontrasse de imediato quem a cultivasse e lhe desse suporte e andamento, em quantidade e em qualidade.
Este movimento teve como nomes cimeiros os de Agostinho Neto (1922-1979), Viriato da Cruz (1928-1973), António Jacinto (1924-) e Mário António (1934-1989), entre outros. A real finalidade deste movimento era a de redescobrir Angola ou, como proclamavam, "Angolanizar Angola".
Este grupo de intelectuais sentia uma forte necessidade de destruir a reinante literatura colonial que falseava a realidade vivencial em Angola e que não entrava no âmago das realidades e sentimentos do africano.
Este movimento "Vamos Descobrir Angola!" incitava os jovens a redescobrir o país em todos os seus aspetos, através de um trabalho coletivo e organizado; apelava à produção literária dirigida ao povo; exigia a expressão dos sentimentos populares e da autêntica natureza africana, mas sem que se fizesse qualquer concessão à sede de exotismo colonial. Tudo deveria basear-se no senso estético, na inteligência, na vontade e na razão africanas. Enquanto estudam o mundo que os rodeia, o mundo angolano de que eles faziam parte, mas que tão mal lhes havia sido ensinado, começa a germinar uma literatura que seria a expressão da sua maneira de sentir, o veículo das suas aspirações - uma literatura de combate pelo seu povo.
Começam, então, a aparecer as primeiras composições literárias marcadas pelas condições ambientais resultantes de um conhecimento perfeito do homem e da terra. Visto deste ponto, compreender-se como o grito "Vamos Descobrir Angola!" correspondeu ao mais forte desejo e à mais premente necessidade do homem angolano se reencontrar consigo mesmo. Angola estava, de facto, "longe" dela.
Os fortes ecos deste "Vamos Descobrir Angola!" chegaram a Portugal e dinamizaram os jovens africanos que aqui estudavam. Motivados pelo exemplo dos que, em Luanda, anunciavam o nascimento da autêntica poesia angolana, eles iniciariam uma atividade literária que os Cadernos da Casa dos Estudantes do Império trariam a público a partir de 1951.
Desenvolvia-se um fenómeno literário original, no âmbito das Literaturas Africanas de Expressão Portuguesa, ativado por um conjunto de jovens intelectuais talentosos e cultos espalhados por Luanda e pelos centros universitários de Lisboa e Coimbra.
Nesta época impunha-se uma nova afirmação para o caso angolano: a luta pela libertação nacional nascida da recusa permanente e secular do povo inteiro de Angola face à presença colonial portuguesa.
Através da Casa dos Estudantes do Império, em Lisboa, chegavam periodicamente a Angola notícias de novos movimentos e reivindicações de outras partes do mundo: o Modernismo Brasileiro que proclamava a brasilidade, os ecos culturais e literários da Negritude e do Afro-Americanismo, o Neorrealismo português, a proclamação da independência da literatura africana francófona, o Surrealismo e o Marxismo, tudo expressões de emancipação e revolta falada de nações que lutavam pela afirmação dos seus povos. Assim, "Vamos Descobrir Angola!" representava uma profunda e vincada ansiedade de plena afirmação do povo angolano. A Angola a descobrir não seria propriamente a do passado, mas sim a do futuro. Ter-se-ia, certamente, que estudar o passado, local onde se iriam buscar as verdadeiras raízes angolanas - há muito abafadas e esquecidas pelo sistema colonial português - e aportá-las para o presente, lê-las à luz das realidades presentes, procurando, assim, a fusão, o equilíbrio dessas duas realidades para, sobre elas, se poder construir a Angola do futuro. O "Vamos Descobrir Angola!" deveria, pois, procurar esse encontro, que seria, antes de mais, um reencontro do angolano com a sua terra.
O movimento possuía sólidas bases teóricas, propondo-se, assim, continuar o espírito combativo dos escritores do final do século XIX e inícios do século XX.
Numa análise mais aprofundada dos verdadeiros intuitos deste movimento "Vamos Descobrir Angola!" apercebemo-nos que o dito projeto de descobrir Angola continha, implicitamente, uma mensagem que só poderia vingar no plano político, apesar de estar a ser passada pelo plano literário. Estes jovens intelectuais, através dos seus textos, faziam passar o forte desejo e a iminente necessidade de parar definitivamente com a alienação a todos os níveis - que o sistema colonial provocava no povo africano: ensinava-se o português, a cultura e a história de Portugal, mas os angolanos desconheciam, quase completamente, as suas raízes, a sua cultura ancestral, as figuras mais marcantes da vida angolana e "esqueciam" cada vez mais as suas línguas próprias. Havia que parar com essas negações à cultura angolana; mas só a literatura, só o texto expressivamente dissimulado poderia fazer passar a mensagem, pois se se voltassem para o plano ativo da intervenção e denúncia política, logo seriam barrados e calados pela censura e a estrutura repressiva do mundo colonial.
Assim, "Vamos Descobrir Angola!" encontra, pois, motivos internos mais que suficientes para lançar em pleno o parto da literatura angolana. A altura era propícia e o terreno estava já mais trabalhado para que, ao lançar à luz do dia esta jovem literatura, ela encontrasse de imediato quem a cultivasse e lhe desse suporte e andamento, em quantidade e em qualidade.
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Como referenciar
Porto Editora – Vamos Descobrir Angola! na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2023-06-03 18:40:37]. Disponível em
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