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A Castro
Sendo um dos expoentes máximos do Humanismo em Portugal e um dos grandes promotores do Classicismo, em confronto com a tradição literária, António Ferreira legou-nos, entre outros grandes valores literários, a tragédia A Castro, forma abreviada do título da Tragédia mui sentida e elegante de Dona Inês de Castro, editada por Manuel de Lira, em 1587. Esta obra, que foi representada em Coimbra, inaugura a tragédia clássica em Portugal.
Demonstrando conhecimentos sobre os autores clássicos, António Ferreira teve como fontes mais importantes Joannes Princeps, do português Diogo Teive, Jephtes e Baptistes do humanista holandês Jorge Buchanan e as tragédias de Séneca.
António Ferreira deve ter-se inspirado também em Garcia de Resende que tratou o tema no poema Trovas à Morte de D. Inês de Castro, e de fontes históricas que tinha à mão. Neste último caso, o Autor não seguiu exatamente a história, optando por poetizar o acontecimento, como o tinha feito Garcia de Resende e o fará Camões.
As narrações dos cronistas Pero Lopes d'Ayala e Rui de Pina mostravam que o casamento do Infante D. Pedro com D. Inês de Castro (dama castelhana que viera para Lisboa no séquito de D. Constança) não era possível sem a dispensa, por parte da Santa Sé, de dois impedimentos (o Príncipe era primo do pai de Inês e esta era sua comadre), dispensa que não aconteceu.
Quando D. Constança, esposa de D. Pedro, morreu, aquele fez entrar Inês de Castro no reino contra a vontade do rei de Portugal, D. Afonso IV, que a tinha exilado. D. Pedro instalou-a em Coimbra, no Paço de Santa Clara, perante o escândalo dos nobres e do clero.
Os irmãos de Inês exerciam grande influência sobre D. Pedro, futuro herdeiro do trono. Além disso, os filhos de Inês punham em perigo a sucessão do legítimo herdeiro, D. Fernando e a independência de Portugal. Perante tais factos, D. Afonso IV reuniu o Conselho da Coroa em Montemor-o-Velho e decidiu-se mandar matar Inês.
A peça está dividida em cinco atos, como mandavam as normas aristotélicas. No ato I, surge de imediato o elemento gerador da ação: o amor de D. Pedro e D. Inês que põe em perigo a independência nacional. O coro e o anticoro intervêm na ação, segundo as normas greco-latinas, pronunciando-se sobre os benefícios e os malefícios causados pelo amor.
No ato II, D. Afonso IV discute com os conselheiros; dilacerado entre o seu coração de pai e a sua função de rei, lava as mãos e deixa que aqueles prendam D. Inês. No ato III, D. Inês conta à Ama um sonho cruel e o coro anuncia a sua morte. No ato IV, o conflito atinge o clímax com o emocionante espetáculo de Inês implorando a clemência do rei para si e para seus filhos. O rei hesita e a tragédia consuma-se. No ato V, D. Pedro sabe do sucedido por um mensageiro e promete vingança.
Como afirmam A. J. Saraiva e Óscar Lopes em História da Literatura Portuguesa, "O nó da peça está no encontro de D. Inês, que representa o direito ao amor e à vida, e como que o protesto da natureza e da liberdade, com Afonso IV, que por lógica do cargo deveria encarnar a Razão de Estado, mas, angustiado perante a opção difícil, se limita, in extremis, a deixá-la atuar por iniciativa dos Conselheiros.
Pelo que toca a D. Afonso IV e aos seus conselheiros, o conflito trava-se entre a Razão de Estado ou "bem comum", propugnada pelos Conselheiros ("O bem comum, Senhor, tem, mais larguezas/ com que justifica obras duvidosas"), e o sentimento de justiça, individualmente considerado no caso de Inês, tanto mais que se trata de uma pena de morte e "enganam-se os juízes muitas vezes". Seria difícil encontrar-se uma tragédia cujas determinantes decorram de uma tão irresistível lógica de situações.
Demonstrando conhecimentos sobre os autores clássicos, António Ferreira teve como fontes mais importantes Joannes Princeps, do português Diogo Teive, Jephtes e Baptistes do humanista holandês Jorge Buchanan e as tragédias de Séneca.
António Ferreira deve ter-se inspirado também em Garcia de Resende que tratou o tema no poema Trovas à Morte de D. Inês de Castro, e de fontes históricas que tinha à mão. Neste último caso, o Autor não seguiu exatamente a história, optando por poetizar o acontecimento, como o tinha feito Garcia de Resende e o fará Camões.
As narrações dos cronistas Pero Lopes d'Ayala e Rui de Pina mostravam que o casamento do Infante D. Pedro com D. Inês de Castro (dama castelhana que viera para Lisboa no séquito de D. Constança) não era possível sem a dispensa, por parte da Santa Sé, de dois impedimentos (o Príncipe era primo do pai de Inês e esta era sua comadre), dispensa que não aconteceu.
Quando D. Constança, esposa de D. Pedro, morreu, aquele fez entrar Inês de Castro no reino contra a vontade do rei de Portugal, D. Afonso IV, que a tinha exilado. D. Pedro instalou-a em Coimbra, no Paço de Santa Clara, perante o escândalo dos nobres e do clero.
Os irmãos de Inês exerciam grande influência sobre D. Pedro, futuro herdeiro do trono. Além disso, os filhos de Inês punham em perigo a sucessão do legítimo herdeiro, D. Fernando e a independência de Portugal. Perante tais factos, D. Afonso IV reuniu o Conselho da Coroa em Montemor-o-Velho e decidiu-se mandar matar Inês.
A peça está dividida em cinco atos, como mandavam as normas aristotélicas. No ato I, surge de imediato o elemento gerador da ação: o amor de D. Pedro e D. Inês que põe em perigo a independência nacional. O coro e o anticoro intervêm na ação, segundo as normas greco-latinas, pronunciando-se sobre os benefícios e os malefícios causados pelo amor.
No ato II, D. Afonso IV discute com os conselheiros; dilacerado entre o seu coração de pai e a sua função de rei, lava as mãos e deixa que aqueles prendam D. Inês. No ato III, D. Inês conta à Ama um sonho cruel e o coro anuncia a sua morte. No ato IV, o conflito atinge o clímax com o emocionante espetáculo de Inês implorando a clemência do rei para si e para seus filhos. O rei hesita e a tragédia consuma-se. No ato V, D. Pedro sabe do sucedido por um mensageiro e promete vingança.
Como afirmam A. J. Saraiva e Óscar Lopes em História da Literatura Portuguesa, "O nó da peça está no encontro de D. Inês, que representa o direito ao amor e à vida, e como que o protesto da natureza e da liberdade, com Afonso IV, que por lógica do cargo deveria encarnar a Razão de Estado, mas, angustiado perante a opção difícil, se limita, in extremis, a deixá-la atuar por iniciativa dos Conselheiros.
Pelo que toca a D. Afonso IV e aos seus conselheiros, o conflito trava-se entre a Razão de Estado ou "bem comum", propugnada pelos Conselheiros ("O bem comum, Senhor, tem, mais larguezas/ com que justifica obras duvidosas"), e o sentimento de justiça, individualmente considerado no caso de Inês, tanto mais que se trata de uma pena de morte e "enganam-se os juízes muitas vezes". Seria difícil encontrar-se uma tragédia cujas determinantes decorram de uma tão irresistível lógica de situações.
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Como referenciar
Porto Editora – A Castro na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2024-12-07 16:54:40]. Disponível em
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