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Alfredo Troni
Escritor e jornalista angolano, nascido em 1845, em Coimbra, Alfredo Troni foi batizado na freguesia de S. Martinho do Bispo, a 10 de fevereiro do mesmo ano. O registo do batismo atribui-lhe o apelido de Vasques e apresenta-o como "filho de pais incógnitos", de acordo com o prefácio de Manuel António, aquando da edição, em 1973, pelas Edições 70, da novela Nga Mutúri. O apelido de Troni terá sido assumido já depois da formação universitária, conforme provam os registos dos exames na Faculdade.
Filho do catedrático José Adolfo Troni, fez o bacharelato em Direito, no ano de 1867, na Universidade de Coimbra. Não tendo sido um estudante glorioso, a sua passagem pelos bancos da Universidade ficou marcada e notada pela sua capacidade de expressão, construtor de um discurso hábil e humorístico que não escapou à atenção de alguns consagrados nomes da época, nomeadamente Antero de Quental que àquele se referiu em As Prosas nos seguintes termos: "O Sr. Troni encantou a plateia e depois mistificou à sua vontade. Encantou com os seus modos admiravelmente delicados e ingenuamente naturais e mistificou depois com engraçadas sortes de empalmação e cartomância que desempenhou com rara habilidade."
De formação ideológica republicana e socialista, Troni aderiu também à maçonaria. A sua participação em iniciativas políticas, nomeadamente a sua ligação ao movimento estudantil, condenou-o ao desterro em Angola, em 1873, onde viveu cerca de 30 anos.
Formado em Direito, Alfredo Troni fundou e dirigiu, em Luanda, alguns jornais de extrema importância, a saber: Jornal de Loanda (1878), Mukuarimi (1888) e Concelhos do Leste (1891). Veiculadores de intensas polémicas, alguns destes jornais associavam a redação em língua portuguesa e em língua quimbundu que o autor aprendeu. "Mukuarimi" (o linguarudo) é o exemplo por excelência da sua preocupação em permitir o acesso dos nativos às páginas dos jornais.
Chegado a Luanda onze anos antes da Conferência de Berlim (realizada em 1885 pelas potências colonizadoras europeias, com o objetivo de impor uma real ocupação do território), o autor deparou com uma cidade populacionalmente reduzida, onde se começavam a cruzar gentes oriundas de espaços diferentes, cuja diversidade linguística e cultural pressupunha, por vezes, interesses contrários e mesmo antagónicos.
Deste cruzamento, foi resultando uma sociedade enformada pela miscigenação de culturas que balançava entre os pilares legais da sociedade branca e os da sociedade negra. É esta realidade que Alfredo Troni encontra na nova terra e nela se vai integrar de corpo e alma. Para isso, e ao contrário do que era normal em homens da sua formação, Troni preocupa-se em conhecer e reconhecer o seu modus vivendi, preocupação que, entre outros, o seu conterrâneo Óscar Ribas atesta em artigo escrito em Izomba-Associativismo e Recreio e que refere uma canção popular, em Quimbundu, que testemunha a participação de Alfredo Troni nos lazeres da sociedade luandense, como prova da sua integração. "Abrir de braços" que se vai refletir quer na sua atividade jornalística quer na sua obra Nga Mutúri. Pequena novela de 30 páginas, Nga Mutúri (Senhora Viúva) foi publicada em folhetim, no ano de 1882, no jornal português Diário da Manhã e reproduzida, no mesmo ano, no Jornal das Colónias.
Como outros autores, nomeadamente Joaquim Cordeira da Mata, fez parte da chamada Geração de 1880, no período caracterizado pela imprensa livre (1886-1923) e durante o qual proliferou uma série de jornais artesanais que se constituíram como o marco inicial da participação dos naturais de Angola na atividade jornalística.
Foi Secretário Geral da Província de S. Tomé, delegado do Ministério Público em Cabo Verde, Juiz de Direito em Benguela e curador dos serviçais, em Luanda. Em 1878, foi eleito deputado de Angola às Cortes Portuguesas, por larga maioria de votos. Este resultado não foi, contudo, aceite pelo Governo que anulou as eleições e ordenou a transferência de Troni para Moçambique. Recusando esta transferência, o autor abandonou toda a atividade política e dedicou-se definitivamente apenas à advocacia em Angola.
Homem de reconhecida inteligência e cultura e com uma grande formação humanista, sempre se destacou na luta contra a escravatura e na defesa dos direitos dos nativos, sendo o autor do regulamento da lei que declarou extinto o estado de escravidão.
Embora não tendo nascido em Angola, Alfredo Troni é, sem dúvida, um autor que contribuiu para o desenvolvimento da atividade intelectual angolana da sua época. Pioneiro da narrativa angolana, Alfredo Troni é considerado um dos quatro autores fundamentais, juntamente com António de Assis Júnior, Óscar Ribas e Castro Soromenho.
Faleceu a 25 de julho de 1904, na cidade de Luanda.
Filho do catedrático José Adolfo Troni, fez o bacharelato em Direito, no ano de 1867, na Universidade de Coimbra. Não tendo sido um estudante glorioso, a sua passagem pelos bancos da Universidade ficou marcada e notada pela sua capacidade de expressão, construtor de um discurso hábil e humorístico que não escapou à atenção de alguns consagrados nomes da época, nomeadamente Antero de Quental que àquele se referiu em As Prosas nos seguintes termos: "O Sr. Troni encantou a plateia e depois mistificou à sua vontade. Encantou com os seus modos admiravelmente delicados e ingenuamente naturais e mistificou depois com engraçadas sortes de empalmação e cartomância que desempenhou com rara habilidade."
De formação ideológica republicana e socialista, Troni aderiu também à maçonaria. A sua participação em iniciativas políticas, nomeadamente a sua ligação ao movimento estudantil, condenou-o ao desterro em Angola, em 1873, onde viveu cerca de 30 anos.
Chegado a Luanda onze anos antes da Conferência de Berlim (realizada em 1885 pelas potências colonizadoras europeias, com o objetivo de impor uma real ocupação do território), o autor deparou com uma cidade populacionalmente reduzida, onde se começavam a cruzar gentes oriundas de espaços diferentes, cuja diversidade linguística e cultural pressupunha, por vezes, interesses contrários e mesmo antagónicos.
Deste cruzamento, foi resultando uma sociedade enformada pela miscigenação de culturas que balançava entre os pilares legais da sociedade branca e os da sociedade negra. É esta realidade que Alfredo Troni encontra na nova terra e nela se vai integrar de corpo e alma. Para isso, e ao contrário do que era normal em homens da sua formação, Troni preocupa-se em conhecer e reconhecer o seu modus vivendi, preocupação que, entre outros, o seu conterrâneo Óscar Ribas atesta em artigo escrito em Izomba-Associativismo e Recreio e que refere uma canção popular, em Quimbundu, que testemunha a participação de Alfredo Troni nos lazeres da sociedade luandense, como prova da sua integração. "Abrir de braços" que se vai refletir quer na sua atividade jornalística quer na sua obra Nga Mutúri. Pequena novela de 30 páginas, Nga Mutúri (Senhora Viúva) foi publicada em folhetim, no ano de 1882, no jornal português Diário da Manhã e reproduzida, no mesmo ano, no Jornal das Colónias.
Como outros autores, nomeadamente Joaquim Cordeira da Mata, fez parte da chamada Geração de 1880, no período caracterizado pela imprensa livre (1886-1923) e durante o qual proliferou uma série de jornais artesanais que se constituíram como o marco inicial da participação dos naturais de Angola na atividade jornalística.
Foi Secretário Geral da Província de S. Tomé, delegado do Ministério Público em Cabo Verde, Juiz de Direito em Benguela e curador dos serviçais, em Luanda. Em 1878, foi eleito deputado de Angola às Cortes Portuguesas, por larga maioria de votos. Este resultado não foi, contudo, aceite pelo Governo que anulou as eleições e ordenou a transferência de Troni para Moçambique. Recusando esta transferência, o autor abandonou toda a atividade política e dedicou-se definitivamente apenas à advocacia em Angola.
Homem de reconhecida inteligência e cultura e com uma grande formação humanista, sempre se destacou na luta contra a escravatura e na defesa dos direitos dos nativos, sendo o autor do regulamento da lei que declarou extinto o estado de escravidão.
Embora não tendo nascido em Angola, Alfredo Troni é, sem dúvida, um autor que contribuiu para o desenvolvimento da atividade intelectual angolana da sua época. Pioneiro da narrativa angolana, Alfredo Troni é considerado um dos quatro autores fundamentais, juntamente com António de Assis Júnior, Óscar Ribas e Castro Soromenho.
Faleceu a 25 de julho de 1904, na cidade de Luanda.
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Como referenciar
Porto Editora – Alfredo Troni na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2024-12-12 10:26:15]. Disponível em
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