anacoluto
Figura de sintaxe que consiste em interromper uma frase iniciada, geralmente após uma pausa, e retomá-la através da mudança de construção sintática.
Enquanto figura de estilo, tem como objetivo realçar a expressão interrompida, na medida em que a coloca como tópico, ainda que não continuado, da frase. No exemplo que se segue, a expressão interrompida é retomada na construção frásica seguinte através do pronome elas.
No entanto, devido à reorganização sintática do discurso, a expressão interrompida, que parecia vir a assumir a função de sujeito da frase, é recuperada sob a forma de complemento circunstancial.
"Umas carabinas que guardavam atrás do guarda-roupa, a gente brincava com elas, de tão imprestáveis."
(José Lins do Rego, Menino de Engenho, Rio de Janeiro, José Olimpio:136)
"Este povo, que é meu, por quem derramo
As lágrimas que em vão caídas vejo,
Que assaz de mal he quero pois que o amo,
Sendo tu tanto contra meu desejo
Por ele a ti rogando choro e bramo, (...)"
(Camões, Os Lusíadas, II, 40)
Os anacolutos são frequentes na oralidade, uma vez que o carácter imediato e não planificado da fala espontânea conduz a reorientações sintáticas nas construções frásicas. Seguem-se portanto, alguns exemplos disso:
O João, ouvi dizer que o convidaram para fazer uma campanha publicitária.
Eu, não sei, [X] pareceu-me que ouvi um barulho estranho.
No primeiro caso, o sintagma nominal "o João" é retomado não como sujeito da frase, como se esperaria pela sua posição inicial, mas como complemento direto pronominalizado. No segundo caso, o pronome pessoal da primeira pessoa "eu" com função de sujeito é retomado pelo pronome clítico com função de complemento indireto "me".
Em linguística, fenómenos como os anacolutos tem sido tratados como construções sintáticas de tópicos marcados (cfr. Inês Duarte, 1987. A construção de topicalização na gramática do português. Regência, Ligação e Condições sobre Movimento - dissertação de doutoramento. Universidade de Lisboa).
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