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Arte muçulmana em Portugal
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Os vestígios de arte islâmica que podemos encontrar no atual território português procederam de uma tradição bem mais recuada. De facto, a região costeira do Sul do país manteve desde sempre estreitas ligações com o Norte de África, o que provam as várias afinidades culturais anteriores às invasões do século VIII (711) e o seu prolongamento até ao século XI, visível no estilo moçárabe. A presença muçulmana no al-Garbe deixou raízes profundas que se vieram a revelar na arte "mudéjar" (fusão dos elementos artísticos peninsulares, cristãos, com os árabes, muçulmanos, do árabe "mudajjam", "autorizado a ficar") e no chamado "gótico alentejano", onde se fundem as técnicas de abobadamento com a utilização de azulejos polícromos. A presença muçulmana pode assim ser vista como uma continuidade e não como uma rutura com as técnicas e estilos antigos, que se mesclam com os modelos vindos de Damasco e da região tunisina.
Esta civilização muçulmana, mediterrânica, do barro e do adobe, estaria separada da civilização atlântica do norte, da pedra e da madeira, pelas bacias do Douro e do Tejo e pela cordilheira montanhosa que atravessa a Península Ibérica. A cidade "mediterrânica" mais setentrional era Coimbra, que dominava Montemor-o-Velho, Oliveira do Hospital e Seia, estendendo-se essa preponderância ainda a Idanha-a-Velha ("Egitania"). Mais a sul estavam os núcleos de Lisboa e Santarém ligados pelo estuário do Tejo às povoações ribeirinhas. Na região alentejana destacam-se pela sua dimensão as cidades muralhadas de Elvas, Beja, Mértola e Alcácer do Sal, além de pequenos núcleos como Estremoz ou Montemor-o-Novo. No Algarve, são notórias várias cidades portuárias como Ossonoba (Faro) e, mais no interior, Silves.
Nestas localidades a presença muçulmana ficou marcada nas estruturas defensivas e no urbanismo, nem sempre um emaranhado de ruas desorganizadas. As recentes escavações de povoados do Sul da Península Ibérica têm revelado alguns casos de assentamentos perfeitamente ortogonais, como é o caso de Madinat al-Zahra (redina Azara), Saltés ou El Forti, em território espanhol. O mais relevante exemplar do urbanismo islâmico no nosso território está presente em Mértola, onde é possível comprovar que toda a organização interna foi previamente planeada, como parece provar o sistema de canalizações e fossas dos edifícios. A implantação não é pois fruto do acaso mas de uma lógica que não obedece à ortogonalidade ou à largueza das vias, mas sim à sua importância e à sua proximidade relativamente aos diferentes locais-chave de uma povoação muçulmana - mesquita, mercados ou portas da cidade. Além da hierarquização das ruas é preciso ter em linha de conta o modo como a casa mediterrânica se liga à estrutura familiar alargada, crescendo assim conforme as necessidades.
Mesquita de Mértola, exemplo da arte muçulmana em Portugal
Os elementos decorativos geométricos são comuns na arte islâmica
Em termos militares as fortificações de tradição magrebina (Berbere) trouxeram para o território português importantes inovações defensivas como a barbacã, de tradição oriental, a torre albarrã, que traz o conceito de defesa passiva, e as torres couraça, de acesso à água, que permitem uma resistência prolongada das populações sitiadas. Ainda se conservam belos vestígios de modos de construir muçulmanos, quer mais arcaicos, de inspiração romana, como é o caso das muralhas de Idanha, quer da época almóada, feitos em taipa, que subsistem nas muralhas de Silves ou de Alcácer do Sal.
No que diz respeito à arquitetura religiosa, a arte islâmica não foi alheia à tradição mediterrânica, absorvendo o legado bizantino ou cristão e adotando os seus tipos de planos às necessidades litúrgicas do Islão. A mesquita de espaço hipostilo surgiu da necessidade monoteísta do Islão de um espaço unitário e aberto, ritmado pelas colunas. A Sé de Lisboa possui ainda vestígios daquilo que seria a mesquita muçulmana, nomeadamente nos silhares e pilastras reutilizados. Os maiores vestígios encontram-se nas mesquitas de Idalha-a-Velha e de Mértola. No primeiro caso, a atribuição é ainda discutida, havendo quem a considere uma basílica visigótica. Como edifício de culto islâmico, integrar-se-ia no estilo de Damasco (três naves basilicais paralelas à quibla, principal galeria da mesquita sobre a qual ergue um nicho ou pórtico), que não se aparenta com nenhuma outra construção religiosa no al-Andaluz. No caso de Mértola, é evidente a fundação almóada sob a construção mudéjar do século XVI, podendo ainda ser admirado o seu mihrab (voltado para Meca, serve para indicar a gibla aos fiéis).
Sob o ponto de vista estilístico, a arte islâmica caracteriza-se pela utilização do arco em ferradura, apesar de este elemento já estar presente na arquitetura visigótica como solução decorativa ou mesmo técnica. Ainda é possível encontrar arcos em ferradura em edifícios do século IX, XI e XII, sendo o mais antigo o da Porta da Vila, em Faro. Outra das características da arte muçulmana advém das leis iconoclastas islâmicas (proibição de representação da imagem de Deus ou de figuras humanas), o que criou decorações com um carácter marcadamente geométrico, muito embora seja possível encontrar representações antropomórficas, como no precioso cofre de marfim do Tesouro da Sé de Braga, que pertenceu a um filho de Almançor. É também uma especificidade da arte islâmica o desenvolvimento das cerâmicas polícromas, que serão uma constante na arte portuguesa ao longo dos séculos subsequentes através da utilização do revestimento azulejar.
Uma outra vertente da cultura muçulmana é o fabrico de tapetes. A sua escola poderá ter deixado raízes em território nacional, na povoação de Arraiolos, onde os artífices locais prolongaram e alteraram gradualmente os padrões iniciais.
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Como referenciar
Porto Editora – Arte muçulmana em Portugal na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2024-12-11 08:54:04]. Disponível em
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