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Baltasar Dias
Nasceu na ilha da Madeira e parece ter vivido no período compreendido entre os últimos anos do reinado de D. Manuel e os primeiros de D. Sebastião. Terá vindo para o continente ainda jovem, onde, embora cego, se dedicou à atividade das letras não só por vocação mas também por necessidade de ganhar a vida.
De acordo com versos da sua autoria, parece ter abraçado o celibato: "E pois que a liberdade / He preço que não tem par, / Senhor, esta he a verdade, / que não me quero cazar, / porque não tenho vontade".
Aproveitando a sua condição de cego, alguns livreiros oportunistas publicaram como seus muitos dos versos de Baltasar Dias, conhecido que era o êxito que estes tiveram em muitas cidades e aldeias onde o poeta os declamava para conseguir algum dinheiro. Conhecedor desta situação pouca ética, o autor requereu junto do rei, à semelhança do que fizera Gil Vicente, o privilégio de só ele poder imprimir e vender as suas composições. De origem pobre, pois não tinha, de acordo com Alberto Figueira Gomes, in Baltasar Dias - Autos, Romances e Trovas, introdução, fixação de texto e glossário, "outra yndustria para viver", a concessão deste privilégio ajudou-o a melhorar um pouco a sua situação.
Viveu na Capital, não se sabendo por quanto tempo, e passou os últimos anos da sua vida na região da Beira: "Vossa fama pregoeira, / me faz esta vos mandar, / posto que estou nesta Beira / tão remoto de trovar, / que não faço trova inteira / vede o que pode fazer / o que mora numa aldeia...".
Contemporâneo do Renascimento caracterizado pela mudança, Baltasar Dias manteve-se, contudo, um adepto dos princípios medievais, nomeadamente no que se refere ao espírito cavaleiresco de fé, de heroísmo e de renúncia. Profundamente crente, homem que aceitava e compreendia os outros e que se sujeitava a provações das quais retirava ensinamentos especiais, era portador de uma mensagem otimista e cheia de esperança no Evangelho, a que os conhecimentos de Teologia não eram alheios. De espírito místico e piedoso, sentia uma grande atração pelo sagrado.
Sendo um homem de cultura mediana, segundo Alberto Figueira Gomes na obra já citada, trabalhava, contudo, a língua materna com desenvoltura, de forma a retirar os efeitos desejados junto do público: "Sabia empregar palavras que iam direitas ao coração do povo".
Recorria a uma linguagem simples mas emotiva, adaptando-a à natureza das personagens que a usam, de acordo com a sua condição, meio, formação e educação. Assim, encontramos:
- uma linguagem rude nos pastores;
- uma linguagem apimentada na "velha alcoólica";
- uma linguagem dúplice nos judeus;
- uma linguagem amaneirada no "diabólico cortesão";
- uma linguagem elevada e cuidada na boca dos que têm uma missão nobre na vida.
Conhecia o castelhano, que empregava, e usava frequentemente expressões latinas.
Parece ter lido alguns escritores clássicos, como se pode verificar pelas citações que faz de Terêncio, Cícero e Ovídio.
O seu estilo era grave, sentencioso e nobre. Enquanto cego, a palavra assumia no autor uma expressão espiritual superior e muito intimista.
É fundamentalmente um autor de tom sério e melancólico, embora se encontrem algumas obras caracterizadas por um certo espírito de graça espontânea, uma linguagem mais livre e impregnada de termos populares.
As suas obras tratavam temáticas variadas, a saber:
- insurgimento contra as solicitações da carne;
- crítica ao meio social e aos costumes, através da sátira;
- crítica à administração da justiça e a certa parcialidade no julgamento dos pobres e os nobres;
- crítica à violência e ao despotismo.
Por outro lado, a sua obra reflete uma formação e tendências próprias da Idade Média, nomeadamente:
- o discernimento sobre os bens terrenos e sobre a forma como estes são utilizados, resultando daí o acesso ou o impedimento à salvação da alma;
- o valor transcendental da penitência, como o jejum voluntário, cilício, peregrinação aos lugares santos (Jerusalém e Santiago de Compostela);
- a visão de vida como uma passagem muito breve;
- a dor como forma de aperfeiçoamento moral;
- o corpo como um entrave ao progresso espiritual e como inimigo principal da virtude máxima - a castidade;
- a morte como o termo da condenação de viver;
- a vida como um dom sagrado da qual só Deus e o rei podem dispor;
- a esmola como um ato dignificante para quem dá e para quem recebe;
- a paciência como o bem maior do pobre;
- a justiça de Deus como a única verdadeira.
Embora a grande parte das suas obras não tivesse sido feita por encomenda, parece que os temas dos autos religiosos foram sugeridos por membros do clero para comemorar datas litúrgicas ou festas de santos.
Não se conhece a data da sua morte, mas não teria vivido para além do reinado de D. Sebastião, não tendo assistido ao desastre de Alcácer Quibir.
De acordo com versos da sua autoria, parece ter abraçado o celibato: "E pois que a liberdade / He preço que não tem par, / Senhor, esta he a verdade, / que não me quero cazar, / porque não tenho vontade".
Aproveitando a sua condição de cego, alguns livreiros oportunistas publicaram como seus muitos dos versos de Baltasar Dias, conhecido que era o êxito que estes tiveram em muitas cidades e aldeias onde o poeta os declamava para conseguir algum dinheiro. Conhecedor desta situação pouca ética, o autor requereu junto do rei, à semelhança do que fizera Gil Vicente, o privilégio de só ele poder imprimir e vender as suas composições. De origem pobre, pois não tinha, de acordo com Alberto Figueira Gomes, in Baltasar Dias - Autos, Romances e Trovas, introdução, fixação de texto e glossário, "outra yndustria para viver", a concessão deste privilégio ajudou-o a melhorar um pouco a sua situação.
Viveu na Capital, não se sabendo por quanto tempo, e passou os últimos anos da sua vida na região da Beira: "Vossa fama pregoeira, / me faz esta vos mandar, / posto que estou nesta Beira / tão remoto de trovar, / que não faço trova inteira / vede o que pode fazer / o que mora numa aldeia...".
Contemporâneo do Renascimento caracterizado pela mudança, Baltasar Dias manteve-se, contudo, um adepto dos princípios medievais, nomeadamente no que se refere ao espírito cavaleiresco de fé, de heroísmo e de renúncia. Profundamente crente, homem que aceitava e compreendia os outros e que se sujeitava a provações das quais retirava ensinamentos especiais, era portador de uma mensagem otimista e cheia de esperança no Evangelho, a que os conhecimentos de Teologia não eram alheios. De espírito místico e piedoso, sentia uma grande atração pelo sagrado.
Sendo um homem de cultura mediana, segundo Alberto Figueira Gomes na obra já citada, trabalhava, contudo, a língua materna com desenvoltura, de forma a retirar os efeitos desejados junto do público: "Sabia empregar palavras que iam direitas ao coração do povo".
Recorria a uma linguagem simples mas emotiva, adaptando-a à natureza das personagens que a usam, de acordo com a sua condição, meio, formação e educação. Assim, encontramos:
- uma linguagem rude nos pastores;
- uma linguagem apimentada na "velha alcoólica";
- uma linguagem dúplice nos judeus;
- uma linguagem amaneirada no "diabólico cortesão";
- uma linguagem elevada e cuidada na boca dos que têm uma missão nobre na vida.
Conhecia o castelhano, que empregava, e usava frequentemente expressões latinas.
Parece ter lido alguns escritores clássicos, como se pode verificar pelas citações que faz de Terêncio, Cícero e Ovídio.
O seu estilo era grave, sentencioso e nobre. Enquanto cego, a palavra assumia no autor uma expressão espiritual superior e muito intimista.
É fundamentalmente um autor de tom sério e melancólico, embora se encontrem algumas obras caracterizadas por um certo espírito de graça espontânea, uma linguagem mais livre e impregnada de termos populares.
As suas obras tratavam temáticas variadas, a saber:
- insurgimento contra as solicitações da carne;
- crítica ao meio social e aos costumes, através da sátira;
- crítica à administração da justiça e a certa parcialidade no julgamento dos pobres e os nobres;
- crítica à violência e ao despotismo.
Por outro lado, a sua obra reflete uma formação e tendências próprias da Idade Média, nomeadamente:
- o discernimento sobre os bens terrenos e sobre a forma como estes são utilizados, resultando daí o acesso ou o impedimento à salvação da alma;
- o valor transcendental da penitência, como o jejum voluntário, cilício, peregrinação aos lugares santos (Jerusalém e Santiago de Compostela);
- a visão de vida como uma passagem muito breve;
- a dor como forma de aperfeiçoamento moral;
- o corpo como um entrave ao progresso espiritual e como inimigo principal da virtude máxima - a castidade;
- a morte como o termo da condenação de viver;
- a vida como um dom sagrado da qual só Deus e o rei podem dispor;
- a esmola como um ato dignificante para quem dá e para quem recebe;
- a paciência como o bem maior do pobre;
- a justiça de Deus como a única verdadeira.
Embora a grande parte das suas obras não tivesse sido feita por encomenda, parece que os temas dos autos religiosos foram sugeridos por membros do clero para comemorar datas litúrgicas ou festas de santos.
Não se conhece a data da sua morte, mas não teria vivido para além do reinado de D. Sebastião, não tendo assistido ao desastre de Alcácer Quibir.
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Como referenciar
Porto Editora – Baltasar Dias na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2024-12-09 23:00:36]. Disponível em
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