doença autoimune
Chamam-se doenças autoimunes ou de autoagressão àquelas patologias em que ocorre um fenómeno de autoimunidade, ou seja, em que há um desenvolvimento de certas reações imunes aos constituintes naturais do organismo, que levam a lesões localizadas ou sistémicas.
Fazem parte deste grupo de doenças a artrite reumatoide, o lúpus eritematoso sistémico, a colite ulcerosa, entre outras.
No estado normal, o sistema imunológico produz proteínas chamadas anticorpos, cuja função é proteger o organismo das eventuais agressões, sejam dos vírus, das bactérias, de células cancerígenas e quaisquer outros corpos estranhos. Estes agentes agressores, capazes de determinar a produção automática de anticorpos, são chamados de antígenos.
Devido a uma desordem imunológica - a autoimunidade -, o sistema imunológico defensivo perde a capacidade de distinguir os corpos estranhos (antígenos) das suas próprias células, passando a direcionar anticorpos contra o próprio organismo. Estes anticorpos dirigidos anormalmente contra o próprio organismo são chamados de autoanticorpos.
Os autoanticorpos reagem assim com elementos do próprio organismo, formando complexos imunológicos. São estes complexos imunológicos que vão crescendo nos diversos tecidos, dependendo do tipo da doença autoimune, causando lesões graves sobre a função do órgão lesado ou sobre o próprio organismo.
Várias questões se colocam no sentido de determinar o porquê de um constituinte orgânico passar a ser reconhecido como non-self, ou seja como estranho ao organismo. Supõe-se que há uma falência da atividade supressora que poderia impedir a reação negativa, mas que pelo contrário faz eclodir as doenças de autoagressão.
O stress, através de ação neuroendócrina, é uma das causas que pode modificar a atividade supressora.
As doenças autoimunes são doenças multifatoriais onde os fatores psicossociais estão na origem, evolução, agravamento ou cura. Existem sempre fatores psicossomáticos presentes nos pacientes com doença autoimune, mas poucos são os estudos que demonstram esta correlação.
Existem exceções, como o trabalho de Solomon sobre os aspetos psicossomáticos em doentes que sofrem de artrite reumatoide. Segundo Solomon, na sua origem está presente a ação de fatores de stress e concomitantemente falha de mecanismos adaptativos em indivíduos com distúrbios imunológicos e possíveis alterações prévias de personalidade.
Poder-se-á explicar algumas das doenças autoimunes e sua implicação psicossomática:
- A colite ulcerosa é normalmente designada a rainha das doenças psicossomáticas. Caracteriza-se pela existência de um processo inflamatório no intestino grosso, que, pela sua intensidade, apresenta-se com múltiplas ulcerações.
Para Sperling, a colite ulcerosa é o equivalente somático de uma depressão psicótica.
Segundo Engel, estes pacientes têm um ego frágil e tendem a estabelecer relações de dependência em que a rutura é o principal fator desencadeante de uma crise ulcerosa.
A psicoterapia é nestes casos de bastante utilidade, tendo dado resultados muito positivos.
- A artrite reumatoide é uma doença crónica que atinge predominantemente as mulheres. A sua característica principal é a inflamação articular persistente, mas há casos em que outros órgãos são comprometidos.
Halliday descreveu estes pacientes como muito reprimidos na sua vida afetiva, sendo predominantemente tímidos e controlados. Para Cobb, estas mulheres são autoritárias e agressivas, mas há uma inibição da expressão da sua agressividade, num constante esforço de contenção de sentimentos hostis inconscientes e que serão assim remetidos para o corpo.
Por fim, o lúpus eritematoso sistémico (LES) causa inflamações em várias partes do corpo, especialmente na pele, sangue e rins. Varia bastante de paciente, de casos simples, que exigem intervenções médicas mínimas, a casos significativos, com danos em órgãos vitais como pulmões, coração, rim e cérebro. A doença é caracterizada por períodos de atividade intercalados por períodos de remissão que podem durar semanas, meses ou anos.
Vários estudos demonstraram existir uma origem psicológica no desencadeamento do lúpus: a presença de uma situação de stress ou de crise no período que antecedia o início da doença, seja por problemas conjugais, situações de perda, estados depressivos, etc.
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