E se Tivesse a Bondade de me Dizer Porquê?
Volume que colige a narrativa folhetinesca escrita a quatro mãos, por Clara Pinto Correia e Mário de Carvalho, e publicada entre 13 de outubro de 1985 e 4 de maio de 1986, no Diário de Notícias. Experiência que não pode deixar de trazer à memória O Mistério da Estrada de Sintra, escrito nos mesmos moldes e para o mesmo periódico, cem anos antes, por Eça de Queirós e Ramalho Ortigão, não apenas no que diz respeito às circunstâncias de escrita, como relativamente a outros traços, como a dose de inverosimilhança, a multiplicação de peripécias fantásticas, de suspense policial, que envolve a atuação das personagens.
Conferindo à narrativa um pendor mais próximo da ficção científica, o relato de 1986 não deixa de trair, mau grado, certos pontos visíveis de articulação, como o refrão "E se tivesse a bondade de me dizer porquê?", repetido invariavelmente em cada capítulo, ou a obediência a uma estrutura narrativa, cujas coordenadas de espaço, tempo e modalidade são dadas nos primeiros capítulos, que o leitor se encontra em presença de dois ficcionistas dotados de um estilo muito próprio, a ponto de, mesmo se os folhetins não fossem assinados, podermos facilmente atribuí-los a um ou outro autor. Na verdade, no momento em que se lançam nesta aventura, ambos os autores se tinham já estreado na ficção com volumes que, no início dos anos 80, tinham conquistado sucesso junto do público, pelo que, ao contrário da experiência oitocentista, espécie de campo de ensaio para uma escrita que só se afirmaria posteriormente, quer na crónica, quer na ficção, no caso de Novecentos, o mistério das "Brigadas de Extermínio aos Fósseis" só pode ser compreendido como um exercício de estilo que vinha confirmar uma escrita já em processo de amadurecimento.
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Porto Editora – E se Tivesse a Bondade de me Dizer Porquê? na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2025-04-20 05:42:30]. Disponível em
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