Geração de 50
A intuição de coexistirem várias vozes poéticas sob um contexto histórico comum foi sentida por poetas como David Mourão-Ferreira que, no fim da década de 50, apresentava um "Depoimento sobre a poesia da geração de 50". Tendo ganho consistência posteriormente graças a contributos como o de Óscar Lopes (Estrada Larga 3), a noção de geração de 50 tem o seu desenvolvimento mais completo no trabalho de investigação levado a cabo por Fernando J. B. Martinho sobre a poesia portuguesa da década de 50 numa análise exaustiva das direções tomadas pelos poetas que se concentraram em torno de publicações como Távola Redonda, Graal, Tempo Presente, Árvore, Cassiopeia, Cadernos do Meio-Dia, Cancioneiro Geral, A Serpente, Notícias do Bloqueio, Eros ou Anteu ou de grupos como o Grupo Surrealista de Lisboa e o Grupo Surrealista Dissidente. Embora nenhum dos grupos, afirmado no período de 1950 a 1960, assuma uma posição hegemónica, os traços definidores dessa década residem, segundo Fernando J. B. Martinho, em tendências como "o afastamento em relação ao Neorrealismo enquanto tendência hegemónica do período anterior, devendo, a respeito dos que se situam na continuidade desse movimento, falar-se antes de uma evolução, que responde a novas condições socioculturais [...]; a valorização do poético e, no plano da instituição literária, a generalização da publicação, sob designações mais ou menos eufemísticas, de revistas de grupo [...]", que se desenvolvem numa atmosfera mental onde irrompem "o ceticismo perante as utopias, o pessimismo, por um lado, e a acentuação da singularidade, da individualidade, frequentemente derivando para as formas extremas de solipsismo, por outro" (MARTINHO, Fernando J. B. - Tendências Dominantes da Poesia Portuguesa da Década de 50, Lisboa, 1996, p. 17). Para Fernando Guimarães, o eixo em torno do qual se desenvolve a poesia da geração de 50 identifica-se com uma "consciência, surgida com a modernidade, de que a poesia é um exercício de linguagem, [que] acaba por ser compensada pela convicção de que a poesia é também um exercício de imaginação", caminhos que dividem as opções poéticas desta década entre as que dão mais ênfase à imaginação (caso dos surrealistas) e as que compreendem a unidade poemática como construção verbal (caso, por exemplo, dos autores reunidos em Távola Redonda ou autores individualizados, como Jorge de Sena, Sophia de Mello Breyner ou Eugénio de Andrade).
Partilhar
Como referenciar
Porto Editora – Geração de 50 na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2025-02-16 11:30:43]. Disponível em
Outros artigos
-
Jorge de SenaPoeta, ficcionista, dramaturgo e ensaísta, Jorge Cândido de Sena, nascido a 2 de novembro de 1919 e ...
-
Távola RedondaTávola Redonda, uma das revistas literárias portuguesas mais marcantes dos anos 50, vinda à luz em 1...
-
Fernando GuimarãesPoeta, ensaísta e tradutor português, nascido a 3 de fevereiro de 1928, no Porto. Licenciado em Ciên...
-
LisboaAspetos geográficos Cidade, capital de Portugal, sede de distrito e de concelho. Localiza-se na Regi...
-
David Mourão-FerreiraEscritor português, nasceu em Lisboa a 24 de fevereiro de 1927 e morreu, também nesta cidade, a 16 d...
-
Crónica de D. PedroPrimeira crónica escrita por Fernão Lopes. Na medida em que parece tratar-se de um desenvolvimento a
-
Cristãos e Muçulmanos em PortugalTodos os povos fiéis ao Islão, árabes ou convertidos, e gentes orientais - sírios, egípcios e berber
-
Cortes de TomarCortes convocadas em 1581. Após a sua realização, Filipe II de Espanha foi reconhecido como rei de P
-
Cortes de LisboaEntre 1285 e o final do século XVII, pensa-se que tiveram lugar em Lisboa perto de quarenta Cortes (
-
Cortes de ÉvoraA cidade de Évora acolheu a realização de Cortes doze vezes, entre 1282 e 1535. Pela sua importância
Partilhar
Como referenciar 
Porto Editora – Geração de 50 na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2025-02-16 11:30:43]. Disponível em