Holandeses no Brasil
A ocupação do Nordeste brasileiro pelos holandeses decorreu de 1581 a 1654. Foi uma ocupação parcial do território, já que se circunscreveram aos centros urbanos e aos engenhos de açúcar, não chegando a ocupar as terras para o interior. Com a perda da independência em 1580, Portugal deixou as suas colónias entregues a si próprias e esta fragilidade foi aproveitada pelos holandeses. A ascensão do poderio dos Países Baixos fez-se a par da consolidação de uma frota naval, que em pouco tempo, dominava os mares ameaçando quem neles navegava, pois dedicavam-se ao corso com tanto empenho com que se dedicavam às atividades mercantis.
Em 1821, um grupo de mercadores holandeses funda a Companhia das Índias Ocidentais nos moldes já experimentados da Companhia das Índias Orientais. A sua criação nasceu da necessidade de expansão do comércio holandês que viu no Brasil uma oportunidade única: dispunha de um produto apetecido, o açúcar, dispunha de infra estruturas, os engenhos, de mão de obra, os escravos, e encontrava-se fragilizado devido às lutas existentes entre Portugal e Espanha. A decisão de atacar o Brasil foi votada pelo conselho que dirigia a Companhia cujo principal fito era o lucro comercial. Quando os holandeses se viram para o Brasil, já estavam em vias de dispor da primeira indústria de refinação de açúcar, em Amesterdão. Daí a decisão de atacar o Brasil ter sido feita cuidadosamente e com riscos calculados. Atacaram igualmente a costa de África, nomeadamente a Mina e, mais tarde, Luanda, com o intuito de dominar o mercado de escravos.
Nas primeiras décadas do século XVII, os holandeses invadiram a região norte do Brasil. O litoral brasileiro, onde ficavam os aglomerados urbanos, não tinha qualquer tipo de sistema defensivo. Os engenhos de açúcar ficavam um pouco mais para o interior A Baía, que era sede do Governo-Geral desde 1549, foi atacada pela primeira vez pelos holandeses em 1598. Os portugueses conseguiram conquistar de novo a cidade mas acabaram por perdê-la em 1624. Em 1629, Olinda caiu nas mãos dos holandeses e, no ano seguinte, foi a vez do Recife. Aqui instalou-se a governação holandesa. O Rio Grande do Norte foi conquistado em 1633 e, no ano seguinte, a região de Paraíba. Em 1635 foi a vez de Pernambuco. 1637 foi o ano da conquista do Sergipe, mas também da feitoria da Mina na costa de África, com o objetivo de controlar o comércio de escravos. Em 1637 chegou ao Brasil, nomeado pela Companhia das Índias Ocidentais, o conde João Maurício de Nassau-Siegen, alemão de nascimento mas que estava ao serviço dos Países Baixos. A sua nomeação foi feita pela Companhia das Índias Ocidentais e foi o primeiro e único governador do Brasil durante a ocupação holandesa. Trouxe consigo uma equipa de pintores, escritores, arquitetos, com o intuito de transformar o Recife numa cidade europeia. Pela primeira vez uma cidade da América seria governada segundo os moldes e gostos europeus. Os artistas que acompanharam Nassau registaram as paisagens e os animais do Brasil e estas ilustrações, de carácter científico, ficaram conhecidas por toda a Europa.
O movimento independentista de 1640, devolveu a soberania à coroa portuguesa, mas as dificuldades económicas eram muitas, com o tesouro exausto pelas guerras travadas. Era capital recuperar o Brasil e o comércio do açúcar. Mas, a tarefa não parecia fácil. Em 1641 os holandeses entraram no Ceará. A 12 de junho de 1641 foi assinado um tratado de paz entre Portugal e os Países Baixos. O embaixador português Tristão de Mendonça Furtado negociou as condições. Do acordo constava um armistício por dez anos com os países Baixos e a ajuda militar, na luta contra os espanhóis, sob a forma de navios e mercenários. Os territórios ocupados das colónias portuguesas não estavam abrangidos pelo tratado. Nesse mesmo ano, seguiu uma carta para Maurício de Nassau em que se recomendava o combate aos espanhóis e o reforço das posições holandesas no Brasil. Em agosto desse ano, os holandeses conquistam Luanda e em novembro ocupam de novo o Sergipe e o Maranhão. Três anos mais tarde, abandonam o Maranhão. Nesse mesmo ano de 1644, o governador-geral Maurício de Nassau regressa definitivamente à Europa. Durante a sua governação os fazendeiros portugueses e holandeses faziam empréstimos à Companhia, para financiar e expandir os engenhos, mas, em vez de pagar no ano seguinte, pediam novos empréstimos sobre as colheitas seguintes. O número de engenhos aumentou muito durante a ocupação holandesa, mas os cofres da Companhia estavam cheios de notas promissórias e não de dinheiro. A atuação de Nassau desagradou aos administradores da Companhia que o mandaram vir assim que se deram conta da situação. O projeto do Brasil acabara por falhar. Para remediar a situação, impuseram novas regras: só haveria novos empréstimos quando as dívidas estivessem pagas. O resultado foi a revolta por parte dos pernambucanos que não gostaram das novas regras, um prenúncio das mudanças que estavam para vir. O confronto armado entre portugueses e holandeses, em solo brasileiro, deu-se a 19 de abril de 1648, no Recife, com a primeira batalha dos Guararapes. No ano seguinte, a 19 de fevereiro teve lugar a segunda batalha dos Guararapes que foi decisiva para a expulsão dos invasores.
Neste ano, partiu de Lisboa a primeira frota da Companhia-Geral do Comércio do Brasil, projeto entusiasticamente apoiado pelo padre António Vieira. Foi um importante estímulo económico para a colónia que se via agora com dinheiro para financiar a luta contra os holandeses. A Companhia-Geral do Comércio do Brasil foi fundada pela Coroa portuguesa, em 1647, com o propósito de estabelecer um monopólio comercial entre o Brasil e Portugal. A colónia vendia açúcar e especiarias a Portugal que por sua vez abastecia o Brasil de vários produtos como o bacalhau, o vinho, o trigo e tecidos. A Companhia devia também providenciar escravos para trabalhar no Brasil a preços tabelados. Com o tempo, os produtos das colónias eram comprados a menor preço e os produtos que saíam de Lisboa eram vendidos mais caros no Brasil. A Companhia acabou por ser extinta em 1720 perante o descontentamento crescente dos comerciantes brasileiros.
A conjuntura política da segunda metade do século XVII mostrava-se favorável aos desígnios portugueses. Em 1652, a Inglaterra declarou guerra aos Países Baixos e o Recife acabou por capitular dois anos mais tarde. Em 1658 foi a Suécia que declarou guerra aos holandeses. A Inglaterra, aliada de Portugal nesta altura, pressionou os holandeses e a 6 de agosto de 1661 foi assinado o tratado de paz entre Portugal e os Países Baixos. Pelo tratado, Portugal tinha de pagar uma quantia avultada em dinheiro durante 16 anos e restituir a artilharia que se encontrava no Nordeste. Os holandeses podiam ainda comercializar no Brasil e em África através dos portos portugueses. Por sua vez, os holandeses tinham de restituir as terras conquistadas.
A presença holandesa no Brasil deu um impulso decisivo à indústria açucareira. Os holandeses aumentaram substancialmente o número de engenhos, incrementaram o comércio do açúcar e ajudaram a desenvolver e a generalizar o gosto pelo açúcar na Europa. Contudo, quando saíram do Brasil levaram consigo, para as Antilhas, o conhecimento sobre o processo de cultivo e produção da cana-de-açúcar acabando com o monopólio açucareiro do Brasil.
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