Igreja Matriz de Viana do Alentejo
A Matriz de Viana do Alentejo ergue-se junto ao castelo, próxima da porta sul da muralha, estando implantada no lugar outrora ocupado pelo paço dos alcaides. Embora o senhorio desta vila alentejana tivesse temporariamente saído das mãos da Coroa, retornaria ao seu seio com D. João II, monarca que elegeu Viana do Alentejo como seu refúgio, aquando da praga de peste que assolou Lisboa. D. Manuel I manteve-se fiel à vontade de D. João II, e assim, por sua iniciativa, nasceu a nova Matriz, cujo projeto é da autoria de Diogo de Arruda.
A fachada é extremamente fora do vulgar, sobressaindo de imediato os dois volumosos contrafortes de secção retangular, encimados por arco pleno integrado em estrutura retangular, ladeando o portal esculturado.
Sobre o arco pleno ergue-se campanário dotado de dois arcos sineiros, encimados por um terceiro de menores dimensões. Imediatamente por debaixo do arco, rasga-se janela ovalada no topo superior, contornada por dupla moldura, fornecendo luz natural ao coro. O portal em granito é definido por duas portas separadas por mainel espiralado, ladeadas por colunas adossadas. No tímpano destaca-se a volumosa cruz de Cristo central. A exuberante temática naturalista invade este espaço estruturado por série de arquivoltas sobrepujadas por arco conopial imbricado de grossos troncos, proliferando temática simbólica de cariz exuberante (anjos, homens, esferas armilares, escudo real, folhagem, animais, etc.), a par, por exemplo, com uma cena cristã (S. Jorge lutando com o Dragão), reproduzida a nível capitelar.
O resto da fachada é lisa, sendo animada por cunhais apoiados em contrafortes oblíquos. O coroamento das fachadas dos flancos e da nave central é feito por ameias molduradas e chanfradas. As pressões das abóbadas são descarregadas por dupla série de arcobotantes - da nave central para a lateral e desta para a muralha - dotados de botaréus cónicos nos arranques, com correspondência a nível dos coruchéus que correm sobre a cimalha da nave central, também inseridas na linha das ameias.
Rasgado no flanco norte encontra-se outro portal, também manuelino, com arco trilobado e molduração em chanfro. Ainda na sequência deste, sobressai a estrutura exterior da Capela dos Reis, ameada e ornada de coruchéus e gárgulas. Junto ao último tramo do flanco está a sacristia com escada de acesso à Capela de Sto. António.
No interior surpreende-nos a estruturação dum espaço gótico eivado de temática manuelina e ornatos de cariz luso-mourisco, a par com retabulária barroca. O acesso à igreja faz-se através do átrio com pequeno batistério, posteriormente remodelado (século XIX) mas ainda detentor de pia septavada em granito. Junto à porta lateral, duas pias manuelinas reportam-nos de imediato à época de construção do templo. O coro ergue-se sobre o átrio, apoiado em estrutura de arcos.
O templo é constituído por três naves (central mais elevada) formadas por cinco tramos, definidos por arcos plenos de granito assentes em fortes pilares de secção oitavada, ornados de folhagem exuberante mas contidos no espaço delimitado por dois braceletes (a meio do fuste e no arranque dos arcos). As naves são abobadadas e nervuradas com decoração esculpida nas mísulas e nos bocetes, de temas variados - zoomórficos, míticos, emblemáticos, florais, etc.
As naves laterais são ornadas de lambris de azulejos policromos da centúria de Seiscentos. A nave central ostenta, junto ao flanco da Epístola, belo púlpito em mármore de Estremoz e que nos remete de imediato para modelo clássico (renascença tardia), com pano formado por balaustrada singela, com a base decorada no exterior por godrões e pé liso.
A capela-mor condensa diferentes momentos artísticos - a estrutura gótica reveste-se de azulejos policromos do século XVII, o altar adensa-se por entre a plasticidade e tensão da talha dourada (século XVII) e a escultura da Anunciação da Virgem transporta-nos para a centúria de Quinhentos, embora S. Gabriel seja já seiscentista. Obra singular é o panteão da Capela dos Reis, presentemente da invocação do Senhor dos Passos, sobretudo pela abóbada de nervuras bem proporcionada, pelo exotismo que impregna o frontal de altar revestido de azulejos hispano-mouriscos e pelo sentimento barroco das obras de retabulária e escultura que envolvem o túmulo do cavaleiro Diogo Godinho.
A sacristia, para a qual acedemos através de porta quinhentista de verga trilobada cintada por moldura, é abobadada e possui lavabo com decoração de carrancas, estilisticamente filiado no período manuelino. Sobre esta, a Capela de Sto. António, com estrutura de abóbada nervada, possui belas mísulas manuelinas, embora a atmosfera dada por algumas obras de arte, nomeadamente a escultura do orago, seja já barroca.
A Matriz de Viana do Alentejo é um templo luminoso, onde a pedra contrasta com a alvenaria das paredes, embora inicialmente a luz fosse filtrada por vitrais góticos (restam apenas dois, atribuídos a Francisco Henriques e alusivos a S. Pedro e S. João), cuja mística concorria para a sacralização do espaço secular.
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