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Imolação Americana no Vietname
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A independência do Laos, do Camboja e do Vietname, este temporariamente dividido pela linha do Paralelo 17, foi reconhecida, para cada um dos territórios, após os acordos de Genebra (26 de abril a 21 de julho de 1954). No território do Vietname do Norte, foi organizada uma república democrática, liderada por Ho Chi Mihn de tendência socialista, ao passo que o Sul vivia sob a regência de uma república de tipo nacionalista, chefiada pelo católico e ocidentalizado Dihn Diem, que recebia apoio dos Estados Unidos. Cedo vieram à baila as fortes divergências entre as duas partes do Vietname. Dihn Diem, que dirigia uma ditadura militar, contava com o apoio da burguesia e da comunidade católica, enquanto que no Vietname do Norte a tendência mais forte era a da oposição ao Sul reunida em torno da Frente Nacional de Libertação (FNL), onde os comunistas eram predominantes (Vietcongs).
Os Estados Unidos temeram que os regimes comunistas se multiplicassem nesta área do Globo, e por esse motivo, decidiram cooperar com Saigão, a capital do Sul, apoiando o seu governo com o envio de armas e de conselheiros militares, durante 1956. Era o primeiro passo de uma guerra que se previa fácil para o Sul e o seu todo poderoso aliado. Contudo, os vietcongs, um grupo menos numeroso, ia ganhando terreno, e recebia auxílio do Laos e do Camboja. Face ao constante e ameaçador avanço destes guerrilheiros comunistas, o presidente americano em exercício no início da década de 60, John Kennedy, ordenou o reforço da ajuda concedida ao seu aliado.
O presidente que substituiu Kennedy, entretanto assassinado em 1962, decidiu reavivar este apoio enviando tropas e material bélico mais moderno.
No princípio dos anos 60, os Estados Unidos da América tentaram exterminar uma revolta comunista que rebentara no Sul do Vietname, rivalizando com a intervenção de outras duas potências na região, a China e a Rússia. Em 1962, ano em que os norte americanos se envolveram na política vietnamita, Diem, que via a sua popularidade decrescer radicalmente, sobretudo após a imolação de monges budistas pelo fogo, foi assassinado por militares em novembro. A este facto seguiu-se uma sucessão de golpes de estado provocadores de um clima de instabilidade, conducente à ingerência dos americanos na política interna do país, através do envio de tropas para combater as forças do Vietcong (FNL), apoiado pela República Democrática do Vietname. No ano de 1964, chegava ao Vietname o general americano Westmoreland, o que era um prenúncio de que os EUA se envolveriam em grande escala. Em 1965 havia já cerca de 65 000 americanos no terreno e, volvidos dois anos, este número ascendia a aproximadamente meio milhão de militares americanos.
Começava assim um período de violentos combates, que incidiram na área do corredor de Ho Chi Minh nas montanhas junto às fronteiras com o Laos e o Camboja. Na sequência de incidentes aeronavais no Golfo de Tonquim (no Vietnam do Norte), o presidente norte americano Johnson autorizou um bombardeamento na região Norte em 1964. A FNL, perante estes desenvolvimentos da situação, procurou instigar uma sublevação popular, concretizada na ofensiva do Têt, em 1968, mas não teve sucesso.
A guerra entre os Estados Unidos e o Vietname atingiu um grau extremo de violência, com responsabilidades para as duas partes. As tropas americanas não se inibiram de utilizar armas químicas (como o napalm) e de desferir massivos bombardeamentos, paralelamente, os vietcongs, menos apetrechados a nível técnico, socorriam-se do recurso à guerra de guerrilha nas florestas, contando também com o apoio de nações amigas como a Rússia e a China.
Nos Estados Unidos crescia, entre a opinião pública, a contestação à guerra, numa época em que os jovens viviam sob o lema da paz e do amor. O envolvimento dos americanos na guerra não tardou a tornar-se bastante impopular. Embora as suas tropas estivessem mais bem equipadas e fossem numerosas, a impossibilidade de dominarem o inimigo quebrou a sua autoconfiança. O presidente Johnson viu-se forçado a deter os bombardeamentos planeados sobre a República Democrática do Vietname em 1968, para tentar consolidar as negociações que não conseguiam por termo ao conflito, que mesmo após a morte de Ho Chi Mihn não teve nenhuma alteração. O presidente Nixon, em 1969, mostrou-se favorável à retirada do seu exército e ao estabelecimento de negociações, que resultariam no firmamento dos Acordos de Paris em 1973 (cujas conversações começaram preparatoriamente em 1969), segundo os quais seria fundado um Conselho Nacional de Reconciliação do Vietname onde interviriam todas as forças políticas. Todavia, a guerra só cessou com a queda do governo de Saigão e a vitória dos Vietcongs.
Este conflito não se confinava a uma disputa entre o Vietname e os Estados Unidos da América; no Laos, depois do desaire dos acordos de 1962, assistiu-se ao abandono do governo pelos comunistas, e Suvanna Fuma deixou de lado a sua posição neutral, e voltou à guerra com o Pathet Lao, contando com o auxílio dos tailandeses e dos norte americanos (1964).
No Camboja, o príncipe Norodom Sihanuk lutava em duas frentes: tinha de enfrentar, simultaneamente, a burguesia de direita e a fação intelectual comunista pró-chinesa, que passou a atuar na clandestinidade após a repressão que se seguiu à revolta de Samlaut de 1967. Confrontado com as pretensões dos norte americanos, dos tailandeses e dos vietnamitas do Sul, quando estava comprometido com o Vietcong, acabou por romper relações com os Estados Unidos entre 1965 e 1969, mas em março de 1970 foi afastado do poder por um golpe de estado de direita chefiado pelo general Lon Nol.
Norodom Sihanuk, em conjunto com os Khmers Vermelhos, criou então a Frente Unida Nacional de Kampuchea (FUNK), e instaurou em Pequim, na China, o Grupo Revolucionário de União Nacional Kmmer (GRUNK).
Na fase final da Guerra do Vietname tanto o Camdoja como o Laos foram bombardeados pelas tropas norte americanas; o Camboja por ser usado como um refúgio para o Vietcong, e o Laos, por sua vez, pelo facto de Pathet Lao procurar, em conjunto com o Vietname Norte, assumir o controlo das rotas de abastecimento de armas ao Vietcong (fornecidas através do corredor de Ho Chi Mihn). Deste modo a Guerra do Vietname alastrou-se aos países da vizinhança, que não ficaram imunes a esta escala da violência.
Além disso, a guerra assumira uma faceta de confronto não declarado, entre as duas super-potências. Era mais um episódio da "GUERRA FRIA". A União soviética, fortemente empenhada em minar o poderio do rival americano apoiava logisticamente as forças militares do Vietname do Norte, embora sem descer ao terreno das operações.
Por outro lado, a guerra transformara-se num tormentoso quebra-cabeças para as diversas administrações norte-americanas. Provava-se que não bastava a força do número e a qualidade do material bélico mais sofisticado para derrotar as tropas "vietcong", conhecedoras exímias do terreno onde operavam e com uma capacidade de sacrifício invulgar. A tática de guerrilha revelou-se, assim, muito mais eficaz. As "baixas" entre os soldados avolumavam-se. Na América, a população, cansada de ver morrer os "seus filhos" numa guerra que não compreendia, a "15 000 km de casa", como diziam, exigia, de forma cada vez mais ruidosa, o fim da intervenção militar.
A retirada das tropas norte-americanas das montanhas e florestas do Vietname foi decretada pelo presidente Nixon em 1969, para, em seguida, ser fortalecida a sua presença em Saigão e arredores. Mal sucedidos no Sul do Laos em 1971 mas vitoriosos no travão da ofensiva de Hanói em 1972, os americanos preparavam a retirada, não sem deixar um rasto de aldeias massacradas (como May Lai, por exemplo) e outras atrocidades.
O Presidente Nixon fez algumas viagens diplomáticas às capitais da China e da Rússia, após as quais foi ordenado o reinício do bombardeamento no Norte em 1972, através dos B - 52, poderosos bombardeiros que despejaram milhares de toneladas de bombas sobre o Norte vietnamita. As negociações discutidas numa fase inicial pelo responsável pela Pasta dos Negócios Estrangeiros norte americano, Henry Kissinger, e Lê Duc Tho, resultaram nos acordos de Paris de janeiro de 1973, firmados entre os Estados Unidos, o Vietname Norte e Sul e o Grupo Revolucionário Provisório do Sul (GRP).
A partir daqui foi acertada a realização de eleições para facultar a unificação do país, sob o acordo da ala de Direita, do GRP e do grupo neutral. Entretanto, no Laos, após o período da Guerra Civil, foram finalmente assinados os acordos de Vientiane, em fevereiro desse ano de 1973, onde ficou estabelecida uma política de unidade nacional, que reconciliaria a direita com o Pathet Lao, que no entanto acabou por favorecer a apropriação do poder por uma ala de Esquerda.
A Guerra do Vietname foi uma guerra perdida a todos os níveis pelos americanos, que se empenharam no combate ao alastramento dos regimes comunistas, mas tiveram de enfrentar uma dura guerra de guerrilha onde dificilmente se poderiam sagrar vencedores. Esta guerra em que os Estados Unidos se envolveram é, até certo ponto, semelhante à intervenção russa na guerra do Afeganistão. Tal como os americanos, os soviéticos foram movidos pela aspiração de alastrar a sua rede de influências e fazer prevalecer o seu domínio geopolítico sobre outros povos, e tal como os americanos, depararam-se com dificuldades quase intransponíveis.
O envolvimento americano na Guerra do Vietname saldou-se numa gigantesca perda de vidas humanas (cerca de 55 000 mortos), mais de 2 000 desaparecidos e dezenas de milhar de feridos e mutilados, sem contar com o "stress" de guerra, numa época em que muitos jovens da chamada geração de 60 reclamavam políticas pacifistas. Entre eles, William Jefferson ("Bill") Clinton, um jovem do sul que não participou nesta guerra, que tanto contestou.
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Como referenciar
Porto Editora – Imolação Americana no Vietname na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2024-12-06 05:11:30]. Disponível em
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