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Império Inca
Poucas civilizações antigas conheceram uma história tão dramática ou representaram o seu papel num cenário tão abrupto como o império inca (1438-1532 d. C.). Desde a sua primeira vitória militar até à sua derrota definitiva nas mãos de umas centenas de aventureiros espanhóis, o império floresceu somente durante um século. No entanto, durante esse breve espaço de tempo, os incas conquistaram todos os grandes estados e tribos do mundo andino, estenderam as fronteiras da civilização sul-americana e criaram o maior império que jamais existiu no Novo Mundo pré-colombiano. No mapa moderno da América do Sul, o império inca começa no Sul da Colômbia, estende-se para sul ao largo da costa e do planalto do Equador e do Peru, atravessa o planalto boliviano até ao Noroeste da Argentina e alarga-se para sul até ao centro do Chile.
Quando os Incas começaram a sua expansão, este vasto território, de mais de 4200 km de longitude e habitado, no mínimo, por seis milhões de pessoas, era uma terra de uma extraordinária diversidade étnica. Não se conhece com exatidão o número de grupos que a habitavam, mas, em 1532, tinha, só no Peru e na Bolívia, mais de cem províncias administrativas, algumas das quais continham mais do que um grupo étnico. Tendo por base uma tradição de 4000 anos de antiguidade, os Incas começaram - ainda que não tenham completado - a tarefa de aglutinar a população, extraordinariamente heterogénea, numa só nação, com uma só língua, uma religião e uma cultura.
Os Incas conheciam o seu império com o nome de Tahuantinsuyu, o "País das quatro zonas". As linhas que separavam estas quatro regiões orientavam-se aproximadamente no sentido norte-sul e este-oeste, cruzando-se em Cuzco, a capital imperial. A divisão do império em partes era um princípio básico da organização social e política dos Incas, mas refletia também a sua dura realidade geográfica.
Se o mundo inca se caracterizava pela divisão entre a costa e a serra, há que juntar-lhe a divisão que existia entre o Norte e o Sul. As melhores terras agrícolas e a maior parte da população das terras altas concentravam-se a sul de Cuzco, no lago Titicaca e na elevada planície que se conhece atualmente como o planalto boliviano. Essas extensas terras planas faziam parte do Collasuyu, a maior e mais meridional das quatro zonas. Em contraste, as zonas costeiras mais ricas eram as do norte de Cuzco, no Chinchaysuyu, que corresponde à atual costa norte do Peru. Tanto os vales fluviais como os desertos que se estendiam entre esses vales cultivavam-se graças à existência de inúmeros canais de rega. As zonas oriental e ocidental, Antisuyu e Cuntisuyu, respetivamente, não eram tão produtivas nem populosas como as áreas do Collasuyu e Chinchaysuyu.
Nos confins de Tahuantinsuyu existia uma grande variedade de plantas e de animais, domesticados todos eles muito antes da criação do Império Inca. No planalto, os animais mais importantes para a obtenção de alimento eram o cuy e o pato. Criavam-se o lama e a alpaca. Do lama obtinha-se lã e carne, servindo ainda como animal de carga, enquanto que da alpaca só se aproveitava a lã. Os povos costeiros criavam também cuyes, mas a maior parte da proteína animal era obtida do mar: peixe, marisco, mamíferos marinhos e aves. Durante todo o império, os cães foram utilizados como animais de companhia.
Entre as plantas mais cultivadas há que citar o milho, o feijão, vários frutos, malagueta, a batata e outros tubérculos, a mandioca, o abacate, o amendoim, a abóbora, o algodão e a coca. Estas plantas cresciam a altitudes muito variadas, refletindo, entre outras coisas, as suas diferentes exigências quanto à temperatura e precipitação. Em geral, quase todas as plantas das zonas altas podiam crescer na costa, mas o inverso não acontecia.
Para se assegurar o abastecimento de alimentos, uma comunidade situada numa zona ecológica, nas terras altas, mantinha uma cadeia de assentamentos-satélite noutras zonas. O "arquipélago" vertical era um modelo antigo de subsistência adotado pelos incas com fins imperialistas. A nobreza inca contou aos espanhóis que os cidadãos dependiam da redistribuição de alimentos controlada pelo Estado mas a verdade é que, na época da conquista espanhola, a maior parte das aldeias de Tahuantinsuyu eram autossuficientes.
Os Incas não conheciam a escrita e a história era uma mistura de feitos, mitos, lendas e propaganda imperial. Por exemplo, a lista dos reis incas menciona treze soberanos desde o começo da dinastia até o momento da conquista espanhola, mas dos oito primeiros, quase metade podem ter sido figuras míticas.
A primeira manifestação arqueológica da cultura inca é a fase de Killke (c. 1200-1438) na zona circundante de Cuzco, no planalto meridional peruano. As origens dos incas eram certamente humildes. Os núcleos escavados dão-nos a conhecer os incas de Killke como um pequeno reino, rústico e totalmente anónimo, que controlava somente as terras situadas imediatamente à volta de Cuzco. Nessa época, os Incas eram simplesmente uma das numerosas entidades políticas das terras altas do Sul, região que se achava num permanente estado de guerra.
A fase mais bem conhecida da história inca, assim como a própria expansão imperial, começou com Pachacuti, que governou entre 1438 e 1471. Tahuantinsuyu nasceu não de uma campanha agressiva, mas a partir de uma vitória defensiva. Os chankas, um povo hostil que vivia no noroeste de Cuzco, sitiou a capital inca. Pachacuti, filho do rei governante e nem sequer herdeiro do trono, assumiu o comando militar, derrotou os chankas, fez-se coroar rei e começou a criação de um império. Depois de consolidar o seu domínio sobre a região de Cuzco, dirigiu-se para Sul, em direção a Collasuyu, anexando-lhe as ricas terras da bacia do Titicaca. Uma das maiores reformas foi a imposição do quechua, a língua inca, como língua franca administrativa de Tahuantinsuyu. O facto de o qechua ser ainda hoje a língua índia mais difundida na América é um legado de Pachacuti.
No entanto, durante o reinado de Pachacuti, Topa Inca conduziu o exército para norte, Chinchaysuyu. Conquistou o planalto até Quito, no atual Equador, mas a sua conquista mais importante foi a da fértil costa setentrional do Peru. Esta zona tinha sido o centro do império chimú, poder político predominante na civilização andina até à sua derrota levada a cabo pelos incas.
Topa Inca ocupou o trono em 1471, onde se manteve durante vinte e dois anos. Ao longo do seu reinado, ampliou o império conquistando a costa sul do Peru, o Sul da Bolívia, o Noroeste da Argentina e o Chile até ao rio Maule. Este avanço seria interrompido não tanto por uma força militar superior, mas sim por ter chegado para além das linhas de abastecimento do império. De qualquer forma, o seu filho sucessor, Huayna Capac (governou entre 1493 e 1525) subjugou algumas zonas ao longo das fronteiras setentrionais do império, mas acrescentou escassos territórios.
Os sete anos decorridos entre a morte de Huayna Capac (1525) e a conquista espanhola (1532) foram marcados por uma dura luta entre o herdeiro legítimo, Huascar, e o seu meio-irmão, Atahualpa. Este conflito fratricida terminou com um terrível confronto civil que devastou o império enfraquecendo-o militarmente, o que favoreceu Francisco Pizarro e os cerca de 100 homens de armas que trazia, que acabaram por conquistar territórios muito mais vastos que a Espanha.
Se excluirmos a família nuclear, a unidade básica da organização social dos Incas era o ayllu, um grupo de parentesco teoricamente endogâmico que descendia pela linha masculina de um antepassado comum. Os ayllus de qualquer província agrupavam-se em unidades mais amplas denominadas saya. No esquema ideal, a divisão das províncias em saya era um sistema de divisão dual: havia dois saya por província. As províncias maiores e mais populosas dividiam-se, ao que parece, em três saya, para favorecer a eficácia governamental. Assim, dois ou três saya constituíam uma província administrativa (waman), que correspondia, mais ou menos, a um grupo étnico indígena, ainda que em algumas províncias correspondesse a mais do que uma tribo. Finalmente, as províncias agrupavam-se para formar as quatro zonas (suyu) que davam o nome ao império.
À frente da hierarquia governamental do Tahuantinsuyu encontrava-se o imperador, que afirmava descender do deus-Sol Inti e que era considerado um ser divino. A poligamia da classe superior permitia que o imperador possuísse um grande número de esposas secundárias. Contudo, a partir do reinado de Topa Inca, a esposa principal do rei (coya) era a sua irmã. O imperador elegia como seu sucessor o filho mais competente nascido do casamento com a esposa principal, mantendo assim intacta a ascendência divina da dinastia governante.
A organização real das províncias do Tahuantinsuyu dependia das circunstâncias. Se o território recém-conquistado se caracterizava pela existência de uma autoridade centralizada, os incas simplesmente associavam a autoridade local ao governo imperial e mantinham a organização política existente. Os membros da aristocracia local eram substituídos por incas de privilégio, se fosse necessário. Nos lugares onde não existia uma autoridade indígena forte, impunha-se a organização decimal por decreto.
O típico centro administrativo inca tinha uma população permanente relativamente escassa, formada por funcionários políticos e religiosos, juntamente com o pessoal de serviço.
As comunicações através do império faziam-se por um sistema de caminhos, um dos mais aperfeiçoados do Mundo, na época. As rotas principais percorriam as terras imperiais, uma pelo planalto e outra pela costa, ligando os principais centros administrativos com Cuzco. O tráfico ao longo do sistema de caminhos era reservado às pessoas que tinham que resolver assuntos oficiais. Os viajantes mais notáveis eram os exércitos incas e os Chaskis, corredores que transportavam as mensagens da hierarquia administrativa.
Ainda que o dogma oficial afirmasse que toda a terra era propriedade do imperador, que a distribuía pelos cidadãos, o ayllu era basicamente uma unidade autossuficiente. Cada ayllu possuía uma parcela de terra adequada ao seu tamanho e cultivava o necessário para o seu sustento. Os ayllus só recebiam alimentos do Estado nas épocas de más colheitas ou outras catástrofes.
A economia do império, por contraste com a dos clãs locais, baseava-se num sistema de prestações pessoais, supervisionado pela hierarquia administrativa e regulado por um conjunto de obrigações recíprocas entre o Estado e o contribuinte. O contribuinte, varão adulto capaz, chefe de família, era obrigado a contribuir todos os anos para o Estado e o seu pessoal oficial deveria igualmente contribuir com um determinado volume de trabalho. Em troca, os cidadãos deviam ser alimentados, alojados e equipados pelo beneficiário do seu trabalho, durante o tempo em que o realizavam.
Outra das contribuições fundamentais dos contribuintes era a mita, o serviço na realização de obras públicas. Mediante este sistema incrementava-se a extensão da terra cultivável do Estado, recorrendo-se à construção de terraços agrícolas nas colinas e canais de rega. Este serviço também incluía a construção e a reparação dos caminhos, pontes, armazéns, palácios, edifícios do governo, templos, etc.
A última obrigação importante do cidadão inca era o serviço no exército, que garantia a coesão do império. O Tahuantinsuyu conseguia as suas vitórias graças aos numerosos contingentes de soldados, à sua organização e disciplina, mais do que ao armamento sofisticado.
Na sua essência, a religião inca era uma forma de culto dos antepassados. O ayllu local tratava de encontrar proteção nos seus antepassados, considerava os seus corpos e túmulos como objetos sagrados e renovava de forma regular as oferendas dos túmulos. Os imperadores mortos eram antepassados que se honravam de forma especial: conservavam-se as suas múmias; ocupavam um lugar de honra nas cerimónias importantes; eram consultados nas épocas de dificuldades. Finalmente, a religião imperial oficial, o culto do deus-Sol Inti, era simplesmente o culto do antepassado divino da dinastia governante. A doutrina inca reconhecia uma série de seres sobrenaturais para além de Inti.
Os Incas erigiram templos da religião oficial por todo o império. O santuário mais importante era o Coricancha, em Cuzco. Habitualmente este edifício recebe o nome de "Templo do Sol". O templo de Coricancha e outros eram oficiados por uma hierarquia de sacerdotes que seguia aproximadamente o modelo da administração civil.
As cerimónias incas eram numerosas, complicadas e estavam reguladas por um calendário lunar. Praticamente, todas as cerimónias supunham o sacrifício de animais, o consumo de alimentos, chicha e coca, e a utilização de belos vestidos. Existia o sacrifício humano, ainda que só se praticasse em ocasiões mais solenes ou em momentos de terríveis desastres.
A conquista espanhola pôs fim a Tahuantinsuyu mas não acabou com a sua população. Na atualidade há treze milhões de índios no Peru, Equador e Bolívia andinos. Ainda hoje, nas remotas aldeias rurais, a população considera que o Mundo está dividido em quatro zonas.
Quando os Incas começaram a sua expansão, este vasto território, de mais de 4200 km de longitude e habitado, no mínimo, por seis milhões de pessoas, era uma terra de uma extraordinária diversidade étnica. Não se conhece com exatidão o número de grupos que a habitavam, mas, em 1532, tinha, só no Peru e na Bolívia, mais de cem províncias administrativas, algumas das quais continham mais do que um grupo étnico. Tendo por base uma tradição de 4000 anos de antiguidade, os Incas começaram - ainda que não tenham completado - a tarefa de aglutinar a população, extraordinariamente heterogénea, numa só nação, com uma só língua, uma religião e uma cultura.
Os Incas conheciam o seu império com o nome de Tahuantinsuyu, o "País das quatro zonas". As linhas que separavam estas quatro regiões orientavam-se aproximadamente no sentido norte-sul e este-oeste, cruzando-se em Cuzco, a capital imperial. A divisão do império em partes era um princípio básico da organização social e política dos Incas, mas refletia também a sua dura realidade geográfica.
Nos confins de Tahuantinsuyu existia uma grande variedade de plantas e de animais, domesticados todos eles muito antes da criação do Império Inca. No planalto, os animais mais importantes para a obtenção de alimento eram o cuy e o pato. Criavam-se o lama e a alpaca. Do lama obtinha-se lã e carne, servindo ainda como animal de carga, enquanto que da alpaca só se aproveitava a lã. Os povos costeiros criavam também cuyes, mas a maior parte da proteína animal era obtida do mar: peixe, marisco, mamíferos marinhos e aves. Durante todo o império, os cães foram utilizados como animais de companhia.
Entre as plantas mais cultivadas há que citar o milho, o feijão, vários frutos, malagueta, a batata e outros tubérculos, a mandioca, o abacate, o amendoim, a abóbora, o algodão e a coca. Estas plantas cresciam a altitudes muito variadas, refletindo, entre outras coisas, as suas diferentes exigências quanto à temperatura e precipitação. Em geral, quase todas as plantas das zonas altas podiam crescer na costa, mas o inverso não acontecia.
Para se assegurar o abastecimento de alimentos, uma comunidade situada numa zona ecológica, nas terras altas, mantinha uma cadeia de assentamentos-satélite noutras zonas. O "arquipélago" vertical era um modelo antigo de subsistência adotado pelos incas com fins imperialistas. A nobreza inca contou aos espanhóis que os cidadãos dependiam da redistribuição de alimentos controlada pelo Estado mas a verdade é que, na época da conquista espanhola, a maior parte das aldeias de Tahuantinsuyu eram autossuficientes.
Os Incas não conheciam a escrita e a história era uma mistura de feitos, mitos, lendas e propaganda imperial. Por exemplo, a lista dos reis incas menciona treze soberanos desde o começo da dinastia até o momento da conquista espanhola, mas dos oito primeiros, quase metade podem ter sido figuras míticas.
A primeira manifestação arqueológica da cultura inca é a fase de Killke (c. 1200-1438) na zona circundante de Cuzco, no planalto meridional peruano. As origens dos incas eram certamente humildes. Os núcleos escavados dão-nos a conhecer os incas de Killke como um pequeno reino, rústico e totalmente anónimo, que controlava somente as terras situadas imediatamente à volta de Cuzco. Nessa época, os Incas eram simplesmente uma das numerosas entidades políticas das terras altas do Sul, região que se achava num permanente estado de guerra.
A fase mais bem conhecida da história inca, assim como a própria expansão imperial, começou com Pachacuti, que governou entre 1438 e 1471. Tahuantinsuyu nasceu não de uma campanha agressiva, mas a partir de uma vitória defensiva. Os chankas, um povo hostil que vivia no noroeste de Cuzco, sitiou a capital inca. Pachacuti, filho do rei governante e nem sequer herdeiro do trono, assumiu o comando militar, derrotou os chankas, fez-se coroar rei e começou a criação de um império. Depois de consolidar o seu domínio sobre a região de Cuzco, dirigiu-se para Sul, em direção a Collasuyu, anexando-lhe as ricas terras da bacia do Titicaca. Uma das maiores reformas foi a imposição do quechua, a língua inca, como língua franca administrativa de Tahuantinsuyu. O facto de o qechua ser ainda hoje a língua índia mais difundida na América é um legado de Pachacuti.
No entanto, durante o reinado de Pachacuti, Topa Inca conduziu o exército para norte, Chinchaysuyu. Conquistou o planalto até Quito, no atual Equador, mas a sua conquista mais importante foi a da fértil costa setentrional do Peru. Esta zona tinha sido o centro do império chimú, poder político predominante na civilização andina até à sua derrota levada a cabo pelos incas.
Topa Inca ocupou o trono em 1471, onde se manteve durante vinte e dois anos. Ao longo do seu reinado, ampliou o império conquistando a costa sul do Peru, o Sul da Bolívia, o Noroeste da Argentina e o Chile até ao rio Maule. Este avanço seria interrompido não tanto por uma força militar superior, mas sim por ter chegado para além das linhas de abastecimento do império. De qualquer forma, o seu filho sucessor, Huayna Capac (governou entre 1493 e 1525) subjugou algumas zonas ao longo das fronteiras setentrionais do império, mas acrescentou escassos territórios.
Os sete anos decorridos entre a morte de Huayna Capac (1525) e a conquista espanhola (1532) foram marcados por uma dura luta entre o herdeiro legítimo, Huascar, e o seu meio-irmão, Atahualpa. Este conflito fratricida terminou com um terrível confronto civil que devastou o império enfraquecendo-o militarmente, o que favoreceu Francisco Pizarro e os cerca de 100 homens de armas que trazia, que acabaram por conquistar territórios muito mais vastos que a Espanha.
Se excluirmos a família nuclear, a unidade básica da organização social dos Incas era o ayllu, um grupo de parentesco teoricamente endogâmico que descendia pela linha masculina de um antepassado comum. Os ayllus de qualquer província agrupavam-se em unidades mais amplas denominadas saya. No esquema ideal, a divisão das províncias em saya era um sistema de divisão dual: havia dois saya por província. As províncias maiores e mais populosas dividiam-se, ao que parece, em três saya, para favorecer a eficácia governamental. Assim, dois ou três saya constituíam uma província administrativa (waman), que correspondia, mais ou menos, a um grupo étnico indígena, ainda que em algumas províncias correspondesse a mais do que uma tribo. Finalmente, as províncias agrupavam-se para formar as quatro zonas (suyu) que davam o nome ao império.
À frente da hierarquia governamental do Tahuantinsuyu encontrava-se o imperador, que afirmava descender do deus-Sol Inti e que era considerado um ser divino. A poligamia da classe superior permitia que o imperador possuísse um grande número de esposas secundárias. Contudo, a partir do reinado de Topa Inca, a esposa principal do rei (coya) era a sua irmã. O imperador elegia como seu sucessor o filho mais competente nascido do casamento com a esposa principal, mantendo assim intacta a ascendência divina da dinastia governante.
A organização real das províncias do Tahuantinsuyu dependia das circunstâncias. Se o território recém-conquistado se caracterizava pela existência de uma autoridade centralizada, os incas simplesmente associavam a autoridade local ao governo imperial e mantinham a organização política existente. Os membros da aristocracia local eram substituídos por incas de privilégio, se fosse necessário. Nos lugares onde não existia uma autoridade indígena forte, impunha-se a organização decimal por decreto.
O típico centro administrativo inca tinha uma população permanente relativamente escassa, formada por funcionários políticos e religiosos, juntamente com o pessoal de serviço.
As comunicações através do império faziam-se por um sistema de caminhos, um dos mais aperfeiçoados do Mundo, na época. As rotas principais percorriam as terras imperiais, uma pelo planalto e outra pela costa, ligando os principais centros administrativos com Cuzco. O tráfico ao longo do sistema de caminhos era reservado às pessoas que tinham que resolver assuntos oficiais. Os viajantes mais notáveis eram os exércitos incas e os Chaskis, corredores que transportavam as mensagens da hierarquia administrativa.
Ainda que o dogma oficial afirmasse que toda a terra era propriedade do imperador, que a distribuía pelos cidadãos, o ayllu era basicamente uma unidade autossuficiente. Cada ayllu possuía uma parcela de terra adequada ao seu tamanho e cultivava o necessário para o seu sustento. Os ayllus só recebiam alimentos do Estado nas épocas de más colheitas ou outras catástrofes.
A economia do império, por contraste com a dos clãs locais, baseava-se num sistema de prestações pessoais, supervisionado pela hierarquia administrativa e regulado por um conjunto de obrigações recíprocas entre o Estado e o contribuinte. O contribuinte, varão adulto capaz, chefe de família, era obrigado a contribuir todos os anos para o Estado e o seu pessoal oficial deveria igualmente contribuir com um determinado volume de trabalho. Em troca, os cidadãos deviam ser alimentados, alojados e equipados pelo beneficiário do seu trabalho, durante o tempo em que o realizavam.
Outra das contribuições fundamentais dos contribuintes era a mita, o serviço na realização de obras públicas. Mediante este sistema incrementava-se a extensão da terra cultivável do Estado, recorrendo-se à construção de terraços agrícolas nas colinas e canais de rega. Este serviço também incluía a construção e a reparação dos caminhos, pontes, armazéns, palácios, edifícios do governo, templos, etc.
A última obrigação importante do cidadão inca era o serviço no exército, que garantia a coesão do império. O Tahuantinsuyu conseguia as suas vitórias graças aos numerosos contingentes de soldados, à sua organização e disciplina, mais do que ao armamento sofisticado.
Na sua essência, a religião inca era uma forma de culto dos antepassados. O ayllu local tratava de encontrar proteção nos seus antepassados, considerava os seus corpos e túmulos como objetos sagrados e renovava de forma regular as oferendas dos túmulos. Os imperadores mortos eram antepassados que se honravam de forma especial: conservavam-se as suas múmias; ocupavam um lugar de honra nas cerimónias importantes; eram consultados nas épocas de dificuldades. Finalmente, a religião imperial oficial, o culto do deus-Sol Inti, era simplesmente o culto do antepassado divino da dinastia governante. A doutrina inca reconhecia uma série de seres sobrenaturais para além de Inti.
Os Incas erigiram templos da religião oficial por todo o império. O santuário mais importante era o Coricancha, em Cuzco. Habitualmente este edifício recebe o nome de "Templo do Sol". O templo de Coricancha e outros eram oficiados por uma hierarquia de sacerdotes que seguia aproximadamente o modelo da administração civil.
As cerimónias incas eram numerosas, complicadas e estavam reguladas por um calendário lunar. Praticamente, todas as cerimónias supunham o sacrifício de animais, o consumo de alimentos, chicha e coca, e a utilização de belos vestidos. Existia o sacrifício humano, ainda que só se praticasse em ocasiões mais solenes ou em momentos de terríveis desastres.
A conquista espanhola pôs fim a Tahuantinsuyu mas não acabou com a sua população. Na atualidade há treze milhões de índios no Peru, Equador e Bolívia andinos. Ainda hoje, nas remotas aldeias rurais, a população considera que o Mundo está dividido em quatro zonas.
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Como referenciar
Porto Editora – Império Inca na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2024-10-11 03:22:38]. Disponível em
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