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Impressionismo
IntroduçãoArtes PlásticasLiteraturaIntrodução
Embora resultante de uma experiência espontânea e localizada, desenvolvida por alguns pintores franceses no final de oitocentos, o Impressionismo rapidamente ganhou uma dimensão internacional, expandindo-se simultaneamente a outras manifestações artísticas, como a fotografia, a literatura, a filosofia, a música, entre outras. Testemunham-no as obras de carácter impressionista do compositor francês Claude Debussy, do escritor Marcel Proust e do filósofo Friedrich Nietzsche.
Algumas das principais características da estética impressionista, desenvolvidas a partir das experiências precursoras no campo pictórico, denunciam a tendência para o abandono da linguagem ilusionista e objetiva que caracterizava a produção artística académica e oficial, a tentativa de fixar e transmitir a aparência superficial e momentânea da realidade, a dissolução das formas tradicionais, o que anuncia tanto o fim das tendências revivalistas e neorromânticas como o eclodir das linguagens modernas, ligadas ao culto da personalidade criadora e do subjetivismo linguístico.
Efeitos particulares de cor e de luz são os elementos procurados pelos pintores, mais voltados para quadros de exterior, onde os contornos dos objetos são esfumados. A designação justifica-se porque é evidente a valorização da impressão pura, sem mostras de intelectualização, procurando atingir mais o efeito do que a causa da sensação visual.
Artes Plásticas
Os artistas que fundaram o grupo impressionista encontravam-se, durante a década de sessenta do século XIX, em Paris, onde estudavam pintura em diferentes academias e ateliers. Entre eles contavam-se Pissaro, Manet, Degas, Cézanne, Sysley, Monet, Renoir e Bazille.
Abandonando a linguagem académica do estilo oficial assim como os temas tradicionais ligados à representação de cenas históricas ou religiosas, os primeiros trabalhos destes artistas denunciavam uma direta filiação na estética naturalista do grupo de Barbizon, liderado pelo influente pintor de paisagens Gustave Courbet. Destes artistas retomam a preferência por temáticas ligadas à paisagem ou ao quotidiano (geralmente relacionadas com a natureza) assim como o gosto pela observação direta e pela prática da pintura ao ar livre.
Ainda durante a década de 60, os pintores impressionistas instalaram-se junto à costa, procurando as praias luminosas ao longo do Canal da Mancha, onde desenvolveram pinturas cada vez mais coloridas e fluidas onde transparecem de forma evidente algumas das pesquisas cromáticas dos pintores ingleses Turner e Constable.
Se os anos sessenta constituíram, para estes pintores, um período de pesquisa intensa em clima de franca colaboração, a década seguinte permitiu a fixação de algumas das coordenadas fundamentais da estética impressionista, de que resultaram uma maior aproximação estética e uma identificável unidade de estilo.
As exposições coletivas que o grupo realizou em Paris, geralmente à margem dos Salões oficiais, provocaram forte e indignada reação por parte da opinião pública e dos críticos de arte, ainda imbuídos de um gosto académico de tradição beauxartiana. Numa destas exposições, o jornalista Leroy, um crítico hostil, designou este grupo por impressionistas, termo que derivou de uma tela de Claude Monet intitulada "Impressão, sol nascendo". Reconhecendo a involuntária "perspicácia" do crítico, de imediato os artistas aceitaram e adotaram este nome para o grupo.
De entre as principais características gramaticais e formais que ressaltam das obras deste período, salientam-se a tendência para a fragmentação das figuras e dos objetos, a textura densa, a decomposição cromática nos tons puros do espetro e o uso de cores complementares para definir o claro-escuro. Em síntese, uma tentativa de traduzir a realidade através da exaltação empírica e sensual dos valores cromáticos e lumínicos (a partir dum maior conhecimento do fenómeno percetivo, possibilitado pelos progressos científicos ao nível da ótica e da psicologia da visão), exemplarmente representada pelas séries de quadros que Monet pintou, sobre o mesmo tema, explorando diferentes condições de luz.
Para além das representações de paisagens e de momentos simples do quotidiano, alguns pintores, como Renoir e Degas, encontram motivo de inspiração noutros temas ligados à vida urbana e ao mundo do espetáculo (cafés, teatros, salões de baile). Testemunham-no alguns ousados trabalhos a pastel de Degas, influenciados pela obra de Ingres.
A partir de finais dos anos 70, ao mesmo tempo que o movimento se expandia a novas geografias (para além dos países europeus, conheceu um importante desenvolvimento nos Estados Unidos da América), acentuaram-se as divergências estéticas entre os artistas fundadores do grupo, que, gradualmente, vão estabelecendo percursos autónomos. Perdendo a homogeneidade de programa e de orientações técnicas e formais que caracterizou a produção dos anos 60, o Impressionismo diluiu-se em inúmeras interpretações e linguagens pessoais.
Esta dispersão foi reforçada, a partir de 1880, com a chegada ao grupo de pintores jovens, como Georges Seurat, Vincent Van Gogh, Paul Gauguin e Toulouse-Lautrec, cujas orientações estéticas foram responsáveis pela própria desagregação do movimento, pela tentativa de intelectualização cientifista dos princípios empíricos que caracterizaram a pintura impressionista.
Apesar de condenado (pelo menos aparentemente) pelos movimentos que se lhe seguiram, como o Simbolismo, o Pós-impressionismo e o Expressionismo, o Impressionismo foi responsável pela abertura de novos caminhos para a arte que permitiram o desenvolvimento das principais correntes estéticas do século XX.
A influência do Impressionismo no contexto artístico português foi pontual e reduzida. A produção pictórica nacional de final de oitocentos, que teve como protagonistas, Silva Porto, José Malhoa e Oliveira Marques, entre outros, encontrava-se fortemente dominada pelas correntes naturalistas de influência francesa (através da assimilação da obra dos artistas da Escola de Barbizon). De entre os poucos trabalhos que denunciam mais claramente a filiação nos princípios estéticos do Impressionismo salientam-se algumas pinturas de José Malhoa, como a tela À beira-mar ou os excelentes trabalhos que Henrique Pousão realiza em Itália, no fim da sua curta vida, como As casa brancas de Capri ou Mulher da Água.
Literatura
A literatura acusa o movimento em Eça de Queirós, Ramalho Ortigão, Fialho de Almeida, Cesário Verde. O recurso estilístico mais significativo é a hipálage, porque permite transmitir um atributo do sujeito (agente) para a ação. Segundo Cressot, o «impressionismo é uma forma de perceber o mundo exterior e de traduzir tais perceções». Capta os factos exteriores mas não os liga às causas ou efeitos; prefere as formas impessoais, as construções nominais, a cenestesia (perceção de sensações internas, como a exteriorização do medo), a prosopopeia; o objeto captado é animado de dinamismo interno; materializa o abstrato. A paisagem traduz estados psicológicos; conta o tempo psicológico vivido subjetivamente; emprega frases curtas, sobrepostas. Segundo Elisa Richter, «a personificação dos objetos e a espiritualização do inanimado são dois factos estilísticos que obedecem a atitudes distintas: expressionista a primeira, impressionista a segunda».
Na poesia de Eugénio de Castro o impressionismo dá cambiantes em aliterações sugestivas. Veja-se Oaristos e "Na messe que enlourece, estremece a quermesse...". Esta marca de Simbolismo instrumental surge na sequência do movimento e tem também reflexos em Pessoa, por exemplo, em "Saudade dada".
Embora resultante de uma experiência espontânea e localizada, desenvolvida por alguns pintores franceses no final de oitocentos, o Impressionismo rapidamente ganhou uma dimensão internacional, expandindo-se simultaneamente a outras manifestações artísticas, como a fotografia, a literatura, a filosofia, a música, entre outras. Testemunham-no as obras de carácter impressionista do compositor francês Claude Debussy, do escritor Marcel Proust e do filósofo Friedrich Nietzsche.
Algumas das principais características da estética impressionista, desenvolvidas a partir das experiências precursoras no campo pictórico, denunciam a tendência para o abandono da linguagem ilusionista e objetiva que caracterizava a produção artística académica e oficial, a tentativa de fixar e transmitir a aparência superficial e momentânea da realidade, a dissolução das formas tradicionais, o que anuncia tanto o fim das tendências revivalistas e neorromânticas como o eclodir das linguagens modernas, ligadas ao culto da personalidade criadora e do subjetivismo linguístico.
Artes Plásticas
Os artistas que fundaram o grupo impressionista encontravam-se, durante a década de sessenta do século XIX, em Paris, onde estudavam pintura em diferentes academias e ateliers. Entre eles contavam-se Pissaro, Manet, Degas, Cézanne, Sysley, Monet, Renoir e Bazille.
Abandonando a linguagem académica do estilo oficial assim como os temas tradicionais ligados à representação de cenas históricas ou religiosas, os primeiros trabalhos destes artistas denunciavam uma direta filiação na estética naturalista do grupo de Barbizon, liderado pelo influente pintor de paisagens Gustave Courbet. Destes artistas retomam a preferência por temáticas ligadas à paisagem ou ao quotidiano (geralmente relacionadas com a natureza) assim como o gosto pela observação direta e pela prática da pintura ao ar livre.
Ainda durante a década de 60, os pintores impressionistas instalaram-se junto à costa, procurando as praias luminosas ao longo do Canal da Mancha, onde desenvolveram pinturas cada vez mais coloridas e fluidas onde transparecem de forma evidente algumas das pesquisas cromáticas dos pintores ingleses Turner e Constable.
Se os anos sessenta constituíram, para estes pintores, um período de pesquisa intensa em clima de franca colaboração, a década seguinte permitiu a fixação de algumas das coordenadas fundamentais da estética impressionista, de que resultaram uma maior aproximação estética e uma identificável unidade de estilo.
As exposições coletivas que o grupo realizou em Paris, geralmente à margem dos Salões oficiais, provocaram forte e indignada reação por parte da opinião pública e dos críticos de arte, ainda imbuídos de um gosto académico de tradição beauxartiana. Numa destas exposições, o jornalista Leroy, um crítico hostil, designou este grupo por impressionistas, termo que derivou de uma tela de Claude Monet intitulada "Impressão, sol nascendo". Reconhecendo a involuntária "perspicácia" do crítico, de imediato os artistas aceitaram e adotaram este nome para o grupo.
De entre as principais características gramaticais e formais que ressaltam das obras deste período, salientam-se a tendência para a fragmentação das figuras e dos objetos, a textura densa, a decomposição cromática nos tons puros do espetro e o uso de cores complementares para definir o claro-escuro. Em síntese, uma tentativa de traduzir a realidade através da exaltação empírica e sensual dos valores cromáticos e lumínicos (a partir dum maior conhecimento do fenómeno percetivo, possibilitado pelos progressos científicos ao nível da ótica e da psicologia da visão), exemplarmente representada pelas séries de quadros que Monet pintou, sobre o mesmo tema, explorando diferentes condições de luz.
Para além das representações de paisagens e de momentos simples do quotidiano, alguns pintores, como Renoir e Degas, encontram motivo de inspiração noutros temas ligados à vida urbana e ao mundo do espetáculo (cafés, teatros, salões de baile). Testemunham-no alguns ousados trabalhos a pastel de Degas, influenciados pela obra de Ingres.
A partir de finais dos anos 70, ao mesmo tempo que o movimento se expandia a novas geografias (para além dos países europeus, conheceu um importante desenvolvimento nos Estados Unidos da América), acentuaram-se as divergências estéticas entre os artistas fundadores do grupo, que, gradualmente, vão estabelecendo percursos autónomos. Perdendo a homogeneidade de programa e de orientações técnicas e formais que caracterizou a produção dos anos 60, o Impressionismo diluiu-se em inúmeras interpretações e linguagens pessoais.
Esta dispersão foi reforçada, a partir de 1880, com a chegada ao grupo de pintores jovens, como Georges Seurat, Vincent Van Gogh, Paul Gauguin e Toulouse-Lautrec, cujas orientações estéticas foram responsáveis pela própria desagregação do movimento, pela tentativa de intelectualização cientifista dos princípios empíricos que caracterizaram a pintura impressionista.
Apesar de condenado (pelo menos aparentemente) pelos movimentos que se lhe seguiram, como o Simbolismo, o Pós-impressionismo e o Expressionismo, o Impressionismo foi responsável pela abertura de novos caminhos para a arte que permitiram o desenvolvimento das principais correntes estéticas do século XX.
A influência do Impressionismo no contexto artístico português foi pontual e reduzida. A produção pictórica nacional de final de oitocentos, que teve como protagonistas, Silva Porto, José Malhoa e Oliveira Marques, entre outros, encontrava-se fortemente dominada pelas correntes naturalistas de influência francesa (através da assimilação da obra dos artistas da Escola de Barbizon). De entre os poucos trabalhos que denunciam mais claramente a filiação nos princípios estéticos do Impressionismo salientam-se algumas pinturas de José Malhoa, como a tela À beira-mar ou os excelentes trabalhos que Henrique Pousão realiza em Itália, no fim da sua curta vida, como As casa brancas de Capri ou Mulher da Água.
Literatura
A literatura acusa o movimento em Eça de Queirós, Ramalho Ortigão, Fialho de Almeida, Cesário Verde. O recurso estilístico mais significativo é a hipálage, porque permite transmitir um atributo do sujeito (agente) para a ação. Segundo Cressot, o «impressionismo é uma forma de perceber o mundo exterior e de traduzir tais perceções». Capta os factos exteriores mas não os liga às causas ou efeitos; prefere as formas impessoais, as construções nominais, a cenestesia (perceção de sensações internas, como a exteriorização do medo), a prosopopeia; o objeto captado é animado de dinamismo interno; materializa o abstrato. A paisagem traduz estados psicológicos; conta o tempo psicológico vivido subjetivamente; emprega frases curtas, sobrepostas. Segundo Elisa Richter, «a personificação dos objetos e a espiritualização do inanimado são dois factos estilísticos que obedecem a atitudes distintas: expressionista a primeira, impressionista a segunda».
Na poesia de Eugénio de Castro o impressionismo dá cambiantes em aliterações sugestivas. Veja-se Oaristos e "Na messe que enlourece, estremece a quermesse...". Esta marca de Simbolismo instrumental surge na sequência do movimento e tem também reflexos em Pessoa, por exemplo, em "Saudade dada".
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Como referenciar
Porto Editora – Impressionismo na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2025-01-23 00:14:17]. Disponível em
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