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Japão dos Tokugawa (1550-1853)
Por volta de 1550, a guerra no Japão assume enormes proporções.
A divisão causada pelo feudalismo atingiu o seu ponto alto, uma vez que os antigos clãs desapareceram, sendo substituídos pelos dáimios (uma nova classe de senhores feudais, de base camponesa) hereditários que viviam numa guerra permanente.
Contudo, no século XVI, o Japão reunificou-se sob a ação de três grandes figuras militares: Oda Nobunaga, Toyotomi Hideyoshi e Tokugawa Ieyasu. O primeiro, depois de ter conseguido acabar com a resistência dos dáimios nas províncias centrais, venceu os setores armados das seitas budistas e, em 1573, acabou com o xogunato dos Ashikaga, tornando-se ditador.
Esta unificação foi completada por Hideyoshi e Tokugawa. Este último venceu os últimos dáimios em Sekigahara, em 1600, o que lhe valeu em 1603 o título de xógum. Nesta altura, estabeleceu-se na sua nova capital: Edo (atual Tóquio).
Iniciava-se, assim, o xogunato Tokugawa, que iria durar até 1867.
Tokugawa Ieyasu e o seu neto Iemitsu (1604-51) procuraram sempre exercerem um férreo controlo sobre os senhores feudais, que foram divididos entre senhores hereditários pertencentes à família Tokugawa (que compreendiam as famílias unidas por laços de parentesco aos Tokugawa) e os senhores sem qualquer tipo de laço de parentesco com a família do xógum as quais, depois de implantado o cristianimso por portugueses e espanhóis, ficaram submetidas àqueles depois da derrota em Sekigahara. No fundo, o xogunato distribuía as terras como bem entendia acautelando sempre os seus interesses, conservando uma parte sob sua administração direta.
Por outro lado, surge um novo elemento na vida japonesa que deixará algumas marcas e influenciará a sua imagem e política exteriores: o cristianismo. Depois de implantado por portugueses e espanhóis, o cristianismo continuou a ser uma religião livre, já que Nobunaga incentivou os missionários católicos, apesar de Hideyoshi ter tomado as primeiras medidas mais repressivas contra o cristianismo em 1587. Os Tokugawa, por sua vez, temeram a transformação do cristianismo em ideologia subversiva, o que originou constantes perseguições em 1596-98 e depois em 1614-16, acabando por promulgar um decreto que visava a expulsão dos missionários do Japão e a interdição do cristianismo no território nipónico.
Quanto ao imperador, ficou submetido à condição quase de um simples dáimio, não possuindo qualquer tipo de contacto com os nobres, sendo vigiado constantemente na sua corte de Kuioto por homens de confiança do xógum.
Este regime totalitário e ditatorial que os Tokugawa impuseram manteve-se durante muitos séculos, já que estes senhores isolaram totalmente o Japão do resto do Mundo.
Os portos foram fechados ao comércio ocidental, exceto o porto de Nagasáqui, onde se instalou a feitoria holandesa da Companhia das Índias, os únicos europeus que mantinham relações comerciais com o Japão.
Porém, isto não foi causa suficiente para que o Japão, no século XVII, não registasse um grande desenvolvimento económico. A população aumentou consideravelmente. Os progressos no sistema hidraúlico vieram permitir novos arroteamentos e a expansão da cultura do arroz, com os camponeses a interessarem-se cada vez mais em aumentar e comercializar a sua produção. Os próprios samurais, afastados das terras e vivendo nas cidades junto dos seus senhores, transformaram-se em administradores dos feudos, gerindo os rendimentos do xógum ou do dáimio.
As novas ideias confucionistas forneceram bases ideológicas adequadas à conduta destes guerreiros, transformados agora em burgueses, atraindo cada vez mais artífices e mercadores às cidades, originando, desta forma, o nascimento de uma burguesia urbana em constante crescimento.
Esta nova burguesia viria a influenciar profundamente as artes e a literatura. Nasce uma nova sensibilidade artística. Surge o teatro de marionetas e cultiva-se o estudo pela história antiga do país e pela língua nacional. A cultura chinesa continuava a assumir um papel muito importante nos meios intelectuais da época até ao século XVIII, embora se assistisse a um regresso às tradições nacionais, como o xintoísmo, os mitos e cultos japoneses. Aqui sobressai o papel da escola wagakusha que defendia a antiga conceção de origem divina do poder do imperador contribuindo, desta forma, para a revolução de 1868, que impeliu o Japão para a era moderna.
Contudo, no século XVIII, o Japão sofre uma certa estagnação. As fomes e as revoltas dos camponeses eram uma constante e as reformas tornavam-se insuficientes. O isolamento do resto do Mundo e a sociedade conservadora com base nos xóguns prejudicaram o bem-estar económico e social do Japão, devido às suas querelas e lutas políticas, enfrentando os Tokugawa, nos últimos anos do seu governo, sérias dificuldades.
As correntes de pensamento do século XVIII japonês pretendiam um retorno às fontes nacionais como medida para acabar com o confucionismo, conceção filosófica e de vida muito arreigada nos xóguns e no seu sistema político.
No século XIX, multiplicaram-se as revoltas nos centros urbanos e rurais.
Os adeptos da restauração imperial defendiam o nacionalismo cultural, a par da reintrodução no país dos progressos científicos e técnicos do exterior. A presença holandesa em Nagasáqui constituía uma porta aberta para este crescente interesse.
Com efeito, cada vez se tornavam mais intensas as pressões das nações ocidentais para que o Japão se reabrisse ao mundo estrangeiro, ao mesmo tempo que os navios russos e ingleses navegavam ao longo das costas nipónicas no intuito de estabelecerem relações comerciais. Esta tensão no Japão acentuou-se depois da vitória inglesa sobre a China na Guerra do Ópio (1839-1842). A presença crescente de potências ocidentais na China, com concessões territoriais e privilégios comerciais e industriais alargados, impelia essas nações, ávidas de lucro, a cobiçarem o rico mercado japonês, ainda fechado.
Contudo, os Tokugawa, temendo a sua inferioridade militar, tentaram adiar o mais possível o reatar destas relações comerciais.
Em 1853, o xógum cedeu a essas pressões, submetendo-se, nessa altura, às primeiras exigências de um oficial americano, o comandante Matthew Galbraith Perry. Em fevereiro de 1854, quando este mesmo oficial navegava ao largo da baía de Tóquio com a sua esquadra, o xógum acabou por se render, assinando em 31 de março de 1854 o tratado de Kanazawa, que visava a abertura dos portos de Shimoda e Hakodate à navegação americana.
Terminava assim o Japão antigo, dos clãs, dos dámios, dos xóguns, dos valores tradicionais e da sua economia fechada ao longo de 200 anos. Abria-se um futuro de expansão e crescimento económico, o célebre milagre japonês da Era Reiji, que, sem nunca derrubar o poder imperial, ocidentalizou e modernizou o Japão, guindando-o para um lugar cimeiro no concerto das nações.
A divisão causada pelo feudalismo atingiu o seu ponto alto, uma vez que os antigos clãs desapareceram, sendo substituídos pelos dáimios (uma nova classe de senhores feudais, de base camponesa) hereditários que viviam numa guerra permanente.
Contudo, no século XVI, o Japão reunificou-se sob a ação de três grandes figuras militares: Oda Nobunaga, Toyotomi Hideyoshi e Tokugawa Ieyasu. O primeiro, depois de ter conseguido acabar com a resistência dos dáimios nas províncias centrais, venceu os setores armados das seitas budistas e, em 1573, acabou com o xogunato dos Ashikaga, tornando-se ditador.
Esta unificação foi completada por Hideyoshi e Tokugawa. Este último venceu os últimos dáimios em Sekigahara, em 1600, o que lhe valeu em 1603 o título de xógum. Nesta altura, estabeleceu-se na sua nova capital: Edo (atual Tóquio).
Iniciava-se, assim, o xogunato Tokugawa, que iria durar até 1867.
Tokugawa Ieyasu e o seu neto Iemitsu (1604-51) procuraram sempre exercerem um férreo controlo sobre os senhores feudais, que foram divididos entre senhores hereditários pertencentes à família Tokugawa (que compreendiam as famílias unidas por laços de parentesco aos Tokugawa) e os senhores sem qualquer tipo de laço de parentesco com a família do xógum as quais, depois de implantado o cristianimso por portugueses e espanhóis, ficaram submetidas àqueles depois da derrota em Sekigahara. No fundo, o xogunato distribuía as terras como bem entendia acautelando sempre os seus interesses, conservando uma parte sob sua administração direta.
Por outro lado, surge um novo elemento na vida japonesa que deixará algumas marcas e influenciará a sua imagem e política exteriores: o cristianismo. Depois de implantado por portugueses e espanhóis, o cristianismo continuou a ser uma religião livre, já que Nobunaga incentivou os missionários católicos, apesar de Hideyoshi ter tomado as primeiras medidas mais repressivas contra o cristianismo em 1587. Os Tokugawa, por sua vez, temeram a transformação do cristianismo em ideologia subversiva, o que originou constantes perseguições em 1596-98 e depois em 1614-16, acabando por promulgar um decreto que visava a expulsão dos missionários do Japão e a interdição do cristianismo no território nipónico.
Quanto ao imperador, ficou submetido à condição quase de um simples dáimio, não possuindo qualquer tipo de contacto com os nobres, sendo vigiado constantemente na sua corte de Kuioto por homens de confiança do xógum.
Este regime totalitário e ditatorial que os Tokugawa impuseram manteve-se durante muitos séculos, já que estes senhores isolaram totalmente o Japão do resto do Mundo.
Os portos foram fechados ao comércio ocidental, exceto o porto de Nagasáqui, onde se instalou a feitoria holandesa da Companhia das Índias, os únicos europeus que mantinham relações comerciais com o Japão.
Porém, isto não foi causa suficiente para que o Japão, no século XVII, não registasse um grande desenvolvimento económico. A população aumentou consideravelmente. Os progressos no sistema hidraúlico vieram permitir novos arroteamentos e a expansão da cultura do arroz, com os camponeses a interessarem-se cada vez mais em aumentar e comercializar a sua produção. Os próprios samurais, afastados das terras e vivendo nas cidades junto dos seus senhores, transformaram-se em administradores dos feudos, gerindo os rendimentos do xógum ou do dáimio.
As novas ideias confucionistas forneceram bases ideológicas adequadas à conduta destes guerreiros, transformados agora em burgueses, atraindo cada vez mais artífices e mercadores às cidades, originando, desta forma, o nascimento de uma burguesia urbana em constante crescimento.
Esta nova burguesia viria a influenciar profundamente as artes e a literatura. Nasce uma nova sensibilidade artística. Surge o teatro de marionetas e cultiva-se o estudo pela história antiga do país e pela língua nacional. A cultura chinesa continuava a assumir um papel muito importante nos meios intelectuais da época até ao século XVIII, embora se assistisse a um regresso às tradições nacionais, como o xintoísmo, os mitos e cultos japoneses. Aqui sobressai o papel da escola wagakusha que defendia a antiga conceção de origem divina do poder do imperador contribuindo, desta forma, para a revolução de 1868, que impeliu o Japão para a era moderna.
Contudo, no século XVIII, o Japão sofre uma certa estagnação. As fomes e as revoltas dos camponeses eram uma constante e as reformas tornavam-se insuficientes. O isolamento do resto do Mundo e a sociedade conservadora com base nos xóguns prejudicaram o bem-estar económico e social do Japão, devido às suas querelas e lutas políticas, enfrentando os Tokugawa, nos últimos anos do seu governo, sérias dificuldades.
As correntes de pensamento do século XVIII japonês pretendiam um retorno às fontes nacionais como medida para acabar com o confucionismo, conceção filosófica e de vida muito arreigada nos xóguns e no seu sistema político.
No século XIX, multiplicaram-se as revoltas nos centros urbanos e rurais.
Os adeptos da restauração imperial defendiam o nacionalismo cultural, a par da reintrodução no país dos progressos científicos e técnicos do exterior. A presença holandesa em Nagasáqui constituía uma porta aberta para este crescente interesse.
Com efeito, cada vez se tornavam mais intensas as pressões das nações ocidentais para que o Japão se reabrisse ao mundo estrangeiro, ao mesmo tempo que os navios russos e ingleses navegavam ao longo das costas nipónicas no intuito de estabelecerem relações comerciais. Esta tensão no Japão acentuou-se depois da vitória inglesa sobre a China na Guerra do Ópio (1839-1842). A presença crescente de potências ocidentais na China, com concessões territoriais e privilégios comerciais e industriais alargados, impelia essas nações, ávidas de lucro, a cobiçarem o rico mercado japonês, ainda fechado.
Contudo, os Tokugawa, temendo a sua inferioridade militar, tentaram adiar o mais possível o reatar destas relações comerciais.
Em 1853, o xógum cedeu a essas pressões, submetendo-se, nessa altura, às primeiras exigências de um oficial americano, o comandante Matthew Galbraith Perry. Em fevereiro de 1854, quando este mesmo oficial navegava ao largo da baía de Tóquio com a sua esquadra, o xógum acabou por se render, assinando em 31 de março de 1854 o tratado de Kanazawa, que visava a abertura dos portos de Shimoda e Hakodate à navegação americana.
Terminava assim o Japão antigo, dos clãs, dos dámios, dos xóguns, dos valores tradicionais e da sua economia fechada ao longo de 200 anos. Abria-se um futuro de expansão e crescimento económico, o célebre milagre japonês da Era Reiji, que, sem nunca derrubar o poder imperial, ocidentalizou e modernizou o Japão, guindando-o para um lugar cimeiro no concerto das nações.
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Como referenciar
Porto Editora – Japão dos Tokugawa (1550-1853) na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2025-01-14 23:09:29]. Disponível em
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Porto Editora – Japão dos Tokugawa (1550-1853) na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2025-01-14 23:09:29]. Disponível em