Lutas Liberais
Após a morte de D. João VI em 10 de março de 1826, D. Pedro, legítimo herdeiro do trono de Portugal, sendo detentor da Coroa imperial brasileira, era considerado um estrangeiro, o que, pelas leis então vigentes quanto à sucessão, o tornava inelegível para o trono português.
A regência, nomeada em 6 de março de 1826, apenas quatro dias antes da morte do rei, na pessoa da infanta D. Isabel Maria, declarou-o rei de Portugal. A situação, porém, não agradava nem a portugueses nem a brasileiros. Em Portugal, muitos defendiam a legitimidade do trono para D. Miguel, irmão de D. Pedro.
D. Pedro procurou uma solução conciliadora. Assim, após outorgar a Carta Constitucional a Portugal (29 de abril de 1826), abdicou a favor de sua filha D. Maria da Glória, na dupla condição de esta desposar o seu tio D. Miguel e de este jurar a Carta.
D. Miguel não só celebrou os esponsais com a sobrinha como jurou a Carta Constitucional outorgada por seu irmão. Porém, decorrido pouco tempo, faltou ao compromisso assumido, nomeou um novo ministério, dissolveu as Câmaras em março e, convocadas as cortes à maneira antiga, foi proclamado, pelos três estados do reino, rei absoluto.
Foram então sufocados os focos de reação antimiguelista. Os liberais emigraram em massa, e os que ficaram foram alvo do terror miguelista. Foram presas ou degredadas milhares de pessoas, e muitas sumariamente executadas.
Os exilados, após reunirem-se na Ilha Terceira, sob os auspícios de D. Pedro, seguiram para o norte do País. Desembarcaram no Pampelido em 8 de julho de 1832, e daí seguiram para o Porto, onde sofreriam um longo e penoso cerco. Tinha assim início uma guerra civil que se prolongaria por dois anos (1832-1834) e que levaria ao trono D. Maria II.
Após o desembarque no Pampelido, o exército liberal liderado por D. Pedro IV, vindo dos Açores, partiu para a cidade do Porto, onde entrou às primeiras horas da manhã do dia 9. Ao meio-dia chegava à Praça Nova, atual Praça da Liberdade. A cidade fora abandonada pelas tropas miguelistas, o que terá constituído o seu primeiro grande erro. D. Miguel, sabendo da saída de D. Pedro dos Açores, preparara a defesa da cidade de Lisboa para resistir à invasão prevista. Porém, o Porto ficou esquecido nesse plano defensivo.
O visconde de Santa Marta, comandante supremo da divisão miguelista que operava na região entre a Figueira da Foz e Vila do Conde, retirou-se do Porto assim que tomou conhecimento do desembarque e, fixando-se em Vila Nova de Gaia, ordenou que, ainda no dia 9, fosse feito fogo sobre a cidade para tentar refrear os liberais. O almirante liberal Sartorius, por seu turno, no dia 10 de julho, mandou alguns barcos entrar na barra do Porto e abrir fogo sobre as forças miguelistas, enquanto a divisão do tenente-coronel João Schwalbach atravessava o rio e ocupava Gaia, obrigando-as a recuar até Oliveira de Azeméis.
Os liberais, após este episódio, permaneceram no Porto, sendo agora a sua vez de cometer um erro estratégico, ao ficarem sitiados na Cidade Invicta.
No dia 13 os miguelistas atacaram violentamente, sem, no entanto, obterem grande êxito. Cinco dias volvidos, travou-se o combate de Penafiel, após o qual os liberais foram forçados a voltar ao Porto. O general realista Álvaro Xavier Póvoas e o visconde de Santa Marta uniram as suas forças e rodearam a cidade, pelo que D. Pedro mandou uma coluna atacar Valongo, mas caiu numa emboscada e teve de recuar até Rio Tinto. A Serra do Pilar, entretanto, era fortificada pelos realistas.
D. Pedro, na impossibilidade de ocupar o norte do País como previra, reorganizou o exército, entregando o governo das armas do Minho ao brigadeiro Sebastião Drago Cabreira. Depois enviou Palmela a Londres para obter dinheiro, armas, cavalos e mercenários. No dia 27 deu-se um violento combate ao sul de Grijó, onde Póvoas venceu as tropas de Vila Flor. Na cidade chegou a pensar-se na retirada de D. Pedro. Entretanto, as tropas miguelistas passaram a ser lideradas pelo general Gaspar Teixeira e deu-se início ao cerco da cidade. Todo o mês de agosto se passou sem ações de grande importância de qualquer das partes. Em 8 de setembro, os realistas iniciaram os ataques e bombardeamentos, conseguindo no dia 16 ocupar o morro das Antas. Gaspar Teixeira decidiu então preparar um assalto à cidade, que ficou marcado para o dia 29, dia de S. Miguel. No entanto, encontrou uma tal resistência que depressa o assalto se transformou numa retumbante derrota.
O cerco prosseguia e na cidade do Porto começava a escassear tudo. A proximidade do inverno não melhorava as expectativas. No dia 1 de janeiro de 1833 desembarcou na Foz o general João Batista Solignac, a quem foi entregue o comando das forças liberais. Apesar da sua idade algo avançada (contava 62 anos de idade), fez crescer a esperança entre os apoiantes de D. Pedro. Por sua vez, no início de fevereiro, o comando das forças miguelistas passou para o conde de S. Lourenço, para evitar a continuação das rivalidades entre o general Póvoas e o visconde de Santa Marta. No Porto surgiam dois novos inimigos: a cólera e o tifo. Os liberais começavam a pensar seriamente na capitulação.
No dia 1 de junho, Palmela desembarcava na Foz, trazendo consigo voluntários e navios, à frente dos quais estava o capitão-de-mar-e-guerra Carlos Napier. Pouco depois, Napier, investido já no comando da esquadra, retomava um antigo plano de ataque por mar contra Lisboa, que desagradava a D. Pedro, sendo posteriormente substituído pelo desembarque no Algarve. No dia 21 de junho partia uma esquadra liberal rumo a sul, sob o comando do duque da Terceira.
Em 5 de julho o exército realista lançou um violento ataque à cidade, convicto de que a partida da esquadra enfraquecera o poder das tropas ali estacionadas; mas, uma vez mais, o ataque foi repelido. No dia 25, novo e ainda mais vigoroso ataque das tropas realistas, agora já sob o comando do marechal de Bourmont. Os absolutistas foram de novo derrotados.
No dia seguinte, D. Pedro partiu para Lisboa, já ocupada pelo duque da Terceira, deixando a Saldanha a defesa da cidade do Porto. No dia 18 de agosto, Saldanha conseguia uma brilhante vitória que obrigava os absolutistas a levantar parte do cerco e, posteriormente, a retirar as restantes forças. Em 20 de agosto, Saldanha regressou ao Porto em triunfo.
Após o desastroso cerco do Porto e a derrota da Asseiceira (16 de maio de 1834), o exército miguelista retirou para o Alentejo diante do avanço de Saldanha e do duque da Terceira.
D. Miguel, apercebendo-se da fragilidade do seu exército, fruto das baixas e das deserções, reuniu um Conselho em Évora (23 de maio), em que deliberou pedir um armistício aos liberais. O general Azevedo e Lemos, comandante dos absolutistas, interpelou os generais Saldanha e Terceira com o intuito de serem discutidas as condições. Saldanha e Terceira fizeram-lhe saber que D. Pedro não aceitaria qualquer proposta que não fosse a rendição incondicional. Acrescentaram ainda que as suas tropas continuariam a avançar em direção a Évora, onde estava estacionado o exército miguelista, até que este se rendesse. D. Miguel, vendo-se incapaz de prosseguir a guerra, aceitou a rendição nos termos que ficaram definidos na Convenção de Évora-Monte.
A regência, nomeada em 6 de março de 1826, apenas quatro dias antes da morte do rei, na pessoa da infanta D. Isabel Maria, declarou-o rei de Portugal. A situação, porém, não agradava nem a portugueses nem a brasileiros. Em Portugal, muitos defendiam a legitimidade do trono para D. Miguel, irmão de D. Pedro.
D. Pedro procurou uma solução conciliadora. Assim, após outorgar a Carta Constitucional a Portugal (29 de abril de 1826), abdicou a favor de sua filha D. Maria da Glória, na dupla condição de esta desposar o seu tio D. Miguel e de este jurar a Carta.
D. Miguel não só celebrou os esponsais com a sobrinha como jurou a Carta Constitucional outorgada por seu irmão. Porém, decorrido pouco tempo, faltou ao compromisso assumido, nomeou um novo ministério, dissolveu as Câmaras em março e, convocadas as cortes à maneira antiga, foi proclamado, pelos três estados do reino, rei absoluto.
Foram então sufocados os focos de reação antimiguelista. Os liberais emigraram em massa, e os que ficaram foram alvo do terror miguelista. Foram presas ou degredadas milhares de pessoas, e muitas sumariamente executadas.
Os exilados, após reunirem-se na Ilha Terceira, sob os auspícios de D. Pedro, seguiram para o norte do País. Desembarcaram no Pampelido em 8 de julho de 1832, e daí seguiram para o Porto, onde sofreriam um longo e penoso cerco. Tinha assim início uma guerra civil que se prolongaria por dois anos (1832-1834) e que levaria ao trono D. Maria II.
Após o desembarque no Pampelido, o exército liberal liderado por D. Pedro IV, vindo dos Açores, partiu para a cidade do Porto, onde entrou às primeiras horas da manhã do dia 9. Ao meio-dia chegava à Praça Nova, atual Praça da Liberdade. A cidade fora abandonada pelas tropas miguelistas, o que terá constituído o seu primeiro grande erro. D. Miguel, sabendo da saída de D. Pedro dos Açores, preparara a defesa da cidade de Lisboa para resistir à invasão prevista. Porém, o Porto ficou esquecido nesse plano defensivo.
O visconde de Santa Marta, comandante supremo da divisão miguelista que operava na região entre a Figueira da Foz e Vila do Conde, retirou-se do Porto assim que tomou conhecimento do desembarque e, fixando-se em Vila Nova de Gaia, ordenou que, ainda no dia 9, fosse feito fogo sobre a cidade para tentar refrear os liberais. O almirante liberal Sartorius, por seu turno, no dia 10 de julho, mandou alguns barcos entrar na barra do Porto e abrir fogo sobre as forças miguelistas, enquanto a divisão do tenente-coronel João Schwalbach atravessava o rio e ocupava Gaia, obrigando-as a recuar até Oliveira de Azeméis.
Os liberais, após este episódio, permaneceram no Porto, sendo agora a sua vez de cometer um erro estratégico, ao ficarem sitiados na Cidade Invicta.
No dia 13 os miguelistas atacaram violentamente, sem, no entanto, obterem grande êxito. Cinco dias volvidos, travou-se o combate de Penafiel, após o qual os liberais foram forçados a voltar ao Porto. O general realista Álvaro Xavier Póvoas e o visconde de Santa Marta uniram as suas forças e rodearam a cidade, pelo que D. Pedro mandou uma coluna atacar Valongo, mas caiu numa emboscada e teve de recuar até Rio Tinto. A Serra do Pilar, entretanto, era fortificada pelos realistas.
D. Pedro, na impossibilidade de ocupar o norte do País como previra, reorganizou o exército, entregando o governo das armas do Minho ao brigadeiro Sebastião Drago Cabreira. Depois enviou Palmela a Londres para obter dinheiro, armas, cavalos e mercenários. No dia 27 deu-se um violento combate ao sul de Grijó, onde Póvoas venceu as tropas de Vila Flor. Na cidade chegou a pensar-se na retirada de D. Pedro. Entretanto, as tropas miguelistas passaram a ser lideradas pelo general Gaspar Teixeira e deu-se início ao cerco da cidade. Todo o mês de agosto se passou sem ações de grande importância de qualquer das partes. Em 8 de setembro, os realistas iniciaram os ataques e bombardeamentos, conseguindo no dia 16 ocupar o morro das Antas. Gaspar Teixeira decidiu então preparar um assalto à cidade, que ficou marcado para o dia 29, dia de S. Miguel. No entanto, encontrou uma tal resistência que depressa o assalto se transformou numa retumbante derrota.
O cerco prosseguia e na cidade do Porto começava a escassear tudo. A proximidade do inverno não melhorava as expectativas. No dia 1 de janeiro de 1833 desembarcou na Foz o general João Batista Solignac, a quem foi entregue o comando das forças liberais. Apesar da sua idade algo avançada (contava 62 anos de idade), fez crescer a esperança entre os apoiantes de D. Pedro. Por sua vez, no início de fevereiro, o comando das forças miguelistas passou para o conde de S. Lourenço, para evitar a continuação das rivalidades entre o general Póvoas e o visconde de Santa Marta. No Porto surgiam dois novos inimigos: a cólera e o tifo. Os liberais começavam a pensar seriamente na capitulação.
No dia 1 de junho, Palmela desembarcava na Foz, trazendo consigo voluntários e navios, à frente dos quais estava o capitão-de-mar-e-guerra Carlos Napier. Pouco depois, Napier, investido já no comando da esquadra, retomava um antigo plano de ataque por mar contra Lisboa, que desagradava a D. Pedro, sendo posteriormente substituído pelo desembarque no Algarve. No dia 21 de junho partia uma esquadra liberal rumo a sul, sob o comando do duque da Terceira.
Em 5 de julho o exército realista lançou um violento ataque à cidade, convicto de que a partida da esquadra enfraquecera o poder das tropas ali estacionadas; mas, uma vez mais, o ataque foi repelido. No dia 25, novo e ainda mais vigoroso ataque das tropas realistas, agora já sob o comando do marechal de Bourmont. Os absolutistas foram de novo derrotados.
No dia seguinte, D. Pedro partiu para Lisboa, já ocupada pelo duque da Terceira, deixando a Saldanha a defesa da cidade do Porto. No dia 18 de agosto, Saldanha conseguia uma brilhante vitória que obrigava os absolutistas a levantar parte do cerco e, posteriormente, a retirar as restantes forças. Em 20 de agosto, Saldanha regressou ao Porto em triunfo.
Após o desastroso cerco do Porto e a derrota da Asseiceira (16 de maio de 1834), o exército miguelista retirou para o Alentejo diante do avanço de Saldanha e do duque da Terceira.
D. Miguel, apercebendo-se da fragilidade do seu exército, fruto das baixas e das deserções, reuniu um Conselho em Évora (23 de maio), em que deliberou pedir um armistício aos liberais. O general Azevedo e Lemos, comandante dos absolutistas, interpelou os generais Saldanha e Terceira com o intuito de serem discutidas as condições. Saldanha e Terceira fizeram-lhe saber que D. Pedro não aceitaria qualquer proposta que não fosse a rendição incondicional. Acrescentaram ainda que as suas tropas continuariam a avançar em direção a Évora, onde estava estacionado o exército miguelista, até que este se rendesse. D. Miguel, vendo-se incapaz de prosseguir a guerra, aceitou a rendição nos termos que ficaram definidos na Convenção de Évora-Monte.
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Como referenciar
Porto Editora – Lutas Liberais na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2025-02-18 06:13:47]. Disponível em
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