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Magna Grécia
A partir do século VIII a. C., os Gregos, vindos de várias regiões do seu país natal, fazem-se ao mar, fundando colónias e cidades várias. A falta de terras e de oportunidades lança camponeses e filhos-segundos no caminho da emigração para essas novas terras. Os problemas de instabilidade nas cidades e as querelas políticas motivam também todo esse movimento. Instalam-se nas ricas terras da Itália meridional e da Sicília - colónias tradicionalmente designadas como Magna Grécia -, bem como no Sul de França (Massália, atual Marselha), na Córsega (Aléria) e no levante ibérico, em Emporion, para além do Mar Negro (Ponto Euxino).
A primeira fundação da Magna Grécia (em grego, Megale Hellas) foi Cumas, no ano de 757 a. C., seguida de Naxos (735), Siracusa e Zancle (734), Megara Hyblaia (728) e Rhegiôn (720). Os primeiros colonos vêm de Eubeia, devido à fome que ali grassava. Também virão de Corinto e de outras localidades do Peloponeso: fundam Sybaris, Crotona e Tarento, aliás povoada por filhos ilegítimos concebidos na guerra da Messénia pelas mulheres espartanas infiéis. Gradualmente, todas as regiões gregas verão os seus filhos criarem colónias na Magna Grécia: de Cumas partirão para fundar, ali perto, Neápolis (Nápoles); de Sybaris vão para Metaponto, Claupétia, Scidros e Poseidónia; de Crotona (fundada por aqueus) para Calauria, entre outros exemplos.
Rapidamente, a Magna Grécia floresce, tornando-se mesmo um centro cultural e científico importante no mundo conhecido de então: no século V, Pitágoras e a sua escola filosófica aqui se implantaram, bem como os eleáticos, de Eleia, colónia onde nasceram os filósofos Zenão e Parménides. Registava também, em termos económicos, uma produção agrícola abundante, um artesanato florescente e um comércio ativo e rico (cereais, óleos, vinhos e lãs). Porém, este progresso depressa atrairá cobiça alheia, quer de povos itálicos vizinhos (como os Etruscos), quer de Cartagineses (descendentes de fenícios estabelecidos em Cartago), que procuram instalar-se no oeste da Sicília. Da Córsega, por exemplo, terão que fugir os Gregos ali instalados (de Aléria, por exemplo), oriundos da Foceia (Ásia Menor) no século VI a. C.
Neste mesmo século, os Gregos continuam a assegurar a sua permanência na Península Itálica graças à resistência empreendida contra os italo-etruscos, unidos contra a rica e pujante Magna Grécia. Aristodemos de Cumas é um dos heróis dessa luta; por terra e por mar, a sua cidade natal foi atacada várias vezes. Píndaro celebrará, nas suas odes, este feito do helenismo.
Todavia, também entre as cidades da Magna Grécia se registavam lutas. Para sobreviverem, necessitavam de receber periodicamente novos contingentes de imigrantes: a mais poderosa dessas cidades, Siracusa, no leste da Sicília, para se salvar, no século IV a. C, acolherá cerca de 60 000 coríntios. De facto, e apesar dessas vicissitudes, o sonho do ocidente - da Magna Grécia - continuará entre os Gregos, atingindo mesmo os chefes de Estado, como Péricles, no século V a. C., que promove a fundação de cidades (Thourioi, por exemplo), Alcibíades, general contemporâneo do anterior e discípulo predileto de Sócrates, ou Pirro (século III a. C.), que idealizava a construção de um império helénico na região.
Politicamente, os habitantes desta região submetiam-se à autoridade de um chefe, mesmo que tirano, ao contrário da Grécia-mãe, onde os cidadãos lutavam por assumir as suas responsabilidades perante a pólis (cidade), donde deriva o sistema democrático. A Magna Grécia foi, assim dizendo, fértil em tiranias como em nenhuma outra paragem. Gelon em Siracusa (século V a. C.) é o maior exemplo, tendo tentado formar um império na Sicília e na Itália meridional, fundando até colónias na costa adriática. Alguns, como Dionísio, o Antigo, autodenominavam-se mesmo tiranos.
Ainda que durante muito tempo a Magna Grécia tenha resistido aos ataques exteriores, a partir do século III a. C. começa a soçobrar e a ser cada vez mais fustigada pelos povos itálicos que já desde o século V ameaçavam a região, aliados agora a um surto de malária que dizimou inúmeros habitantes. Tarento, outra das grandes colónias, cairá em 272 a. C. às mãos de um desses povos, cada vez mais poderoso e ameaçador: os Romanos. Pirro tentará lutar contra este avanço, mas nada conseguirá. Atrás de Tarento, cairão outras cidades uma atrás da outra, fruto de uma certa rivalidade e falta de unidade que sempre existiu. Siracusa, pátria de Arquimedes, a mais poderosa cidade da Magna Grécia, resiste: aliar-se-á mesmo a Roma contra Cartago, aliança a que depois renuncia. Último bastião da civilização helénica na Itália Meridional, é inevitavelmente conquistada pelo expansionismo militar romano em 212, às mãos do cônsul Cláudio Marcelo, que ocupa toda a Sicília. Nesta ilha, aquando da ocupação romana, como fatura da resistência de Siracusa, os seus habitantes não terão cidadania romana durante muito tempo (possuíam o estatuto de província), ao contrário do sul da Península Itálica, que a obtém em 89 a. C. O legado helénico perder-se-á com o tempo na Magna Grécia, que se romaniza. Porém, os romanos teriam já há muito sido, em boa parte, helenizados pela influência destes vizinhos que um dia aqui chegaram.
A primeira fundação da Magna Grécia (em grego, Megale Hellas) foi Cumas, no ano de 757 a. C., seguida de Naxos (735), Siracusa e Zancle (734), Megara Hyblaia (728) e Rhegiôn (720). Os primeiros colonos vêm de Eubeia, devido à fome que ali grassava. Também virão de Corinto e de outras localidades do Peloponeso: fundam Sybaris, Crotona e Tarento, aliás povoada por filhos ilegítimos concebidos na guerra da Messénia pelas mulheres espartanas infiéis. Gradualmente, todas as regiões gregas verão os seus filhos criarem colónias na Magna Grécia: de Cumas partirão para fundar, ali perto, Neápolis (Nápoles); de Sybaris vão para Metaponto, Claupétia, Scidros e Poseidónia; de Crotona (fundada por aqueus) para Calauria, entre outros exemplos.
Rapidamente, a Magna Grécia floresce, tornando-se mesmo um centro cultural e científico importante no mundo conhecido de então: no século V, Pitágoras e a sua escola filosófica aqui se implantaram, bem como os eleáticos, de Eleia, colónia onde nasceram os filósofos Zenão e Parménides. Registava também, em termos económicos, uma produção agrícola abundante, um artesanato florescente e um comércio ativo e rico (cereais, óleos, vinhos e lãs). Porém, este progresso depressa atrairá cobiça alheia, quer de povos itálicos vizinhos (como os Etruscos), quer de Cartagineses (descendentes de fenícios estabelecidos em Cartago), que procuram instalar-se no oeste da Sicília. Da Córsega, por exemplo, terão que fugir os Gregos ali instalados (de Aléria, por exemplo), oriundos da Foceia (Ásia Menor) no século VI a. C.
Todavia, também entre as cidades da Magna Grécia se registavam lutas. Para sobreviverem, necessitavam de receber periodicamente novos contingentes de imigrantes: a mais poderosa dessas cidades, Siracusa, no leste da Sicília, para se salvar, no século IV a. C, acolherá cerca de 60 000 coríntios. De facto, e apesar dessas vicissitudes, o sonho do ocidente - da Magna Grécia - continuará entre os Gregos, atingindo mesmo os chefes de Estado, como Péricles, no século V a. C., que promove a fundação de cidades (Thourioi, por exemplo), Alcibíades, general contemporâneo do anterior e discípulo predileto de Sócrates, ou Pirro (século III a. C.), que idealizava a construção de um império helénico na região.
Politicamente, os habitantes desta região submetiam-se à autoridade de um chefe, mesmo que tirano, ao contrário da Grécia-mãe, onde os cidadãos lutavam por assumir as suas responsabilidades perante a pólis (cidade), donde deriva o sistema democrático. A Magna Grécia foi, assim dizendo, fértil em tiranias como em nenhuma outra paragem. Gelon em Siracusa (século V a. C.) é o maior exemplo, tendo tentado formar um império na Sicília e na Itália meridional, fundando até colónias na costa adriática. Alguns, como Dionísio, o Antigo, autodenominavam-se mesmo tiranos.
Ainda que durante muito tempo a Magna Grécia tenha resistido aos ataques exteriores, a partir do século III a. C. começa a soçobrar e a ser cada vez mais fustigada pelos povos itálicos que já desde o século V ameaçavam a região, aliados agora a um surto de malária que dizimou inúmeros habitantes. Tarento, outra das grandes colónias, cairá em 272 a. C. às mãos de um desses povos, cada vez mais poderoso e ameaçador: os Romanos. Pirro tentará lutar contra este avanço, mas nada conseguirá. Atrás de Tarento, cairão outras cidades uma atrás da outra, fruto de uma certa rivalidade e falta de unidade que sempre existiu. Siracusa, pátria de Arquimedes, a mais poderosa cidade da Magna Grécia, resiste: aliar-se-á mesmo a Roma contra Cartago, aliança a que depois renuncia. Último bastião da civilização helénica na Itália Meridional, é inevitavelmente conquistada pelo expansionismo militar romano em 212, às mãos do cônsul Cláudio Marcelo, que ocupa toda a Sicília. Nesta ilha, aquando da ocupação romana, como fatura da resistência de Siracusa, os seus habitantes não terão cidadania romana durante muito tempo (possuíam o estatuto de província), ao contrário do sul da Península Itálica, que a obtém em 89 a. C. O legado helénico perder-se-á com o tempo na Magna Grécia, que se romaniza. Porém, os romanos teriam já há muito sido, em boa parte, helenizados pela influência destes vizinhos que um dia aqui chegaram.
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Como referenciar
Porto Editora – Magna Grécia na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2024-12-02 16:31:11]. Disponível em
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