missionação
Conjunto de iniciativas e projetos de carácter religioso e espiritual no sentido de difundir credos e confissões, servindo de suporte também a projetos humanitários e de contacto intercultural. A missionação é particularmente querida e desde sempre fomentada no mundo católico, de cuja vivência e objetivos é um dos pilares essenciais. O espírito de missionação radica no ideal do Pentecostes, de levar a palavra e o exemplo de Cristo a todos os homens e lugares. Ide e ensinai a todas as nações..., clamava já Cristo aos seus Apóstolos (Mateus, 28, 20). Primeiro no Império Romano, a missionação partiu da Judeia na direção de Roma, sempre junto ao Mediterrâneo, nos alvores do Cristianismo. Depois, com a queda do Império, no século V, dá-se a evangelização dos povos germânicos que enxameavam por toda a Europa, atingindo-se as Ilhas Britânicas, o leste e o norte do continente. Monges gauleses, italianos e irlandeses cruzam a Europa, conhecendo alguns o martírio em nome da fé. A fundação de mosteiros (cada vez mais sujeitos à regra de S. Bento) permite a cristianização de vastas regiões circundantes. Surgem liturgias traduzidas para as línguas germânicas e eslavas, o que facilita a compreensão aos cristianizados. Nestes primeiros tempos de missionação, a figura do papa Gregório I é tutelar, tal o impulso que lhe dá.
Apesar do perigo árabe e normando a partir do século VIII, a missionação não para, assumindo proporções grandiosas - embora drásticas - com as cruzadas a partir de 1095. A Ordem de Cister, impulsionada por S. Bernardo, bem como as Ordens militares, apoiam o esforço de missionação, reforçado e com um forte cunho evangélico a partir do século XIII, com a ação de dominicanos e, particularmente, dos franciscanos, que se lançam em incursões no mundo islâmico da Ásia, e mesmo na China e Mongólia. Uma nova característica surge com a atividade dos franciscanos na missionação: a adaptação dos missionários às características dos povos a evangelizar, principalmente em termos de língua e costumes. Escolas de árabe e hebraico surgem no sul da Europa, como a de Ramon Lull (franciscano) em Espanha, preparando missionários para o norte de África e outras regiões árabes, numa época em que o sonho de conquista dos Lugares Santos de Israel se mantinha aceso na Cristandade medieval.
Com o advento dos impérios coloniais ibéricos, este esforço missionário transplanta-se para novas regiões e povos, oferecendo-se novos desafios e adversidades desconhecidas. As Ordens religiosas, melhor preparadas e com séculos de atividade missionária, lançam-se nas caravelas à conquista espiritual dos novos mundos. Porém, no início da missionação da América, apesar dos esforços das Ordens Mendicantes (cuja maior figura fora o dominicano Fr. Bartolomeu de las Casas, defensor dos Índios), os missionários europeus fizeram tábua rasa da cultura e história indígenas.
Após a divisão na Cristandade criada pela Reforma Protestante, surge, entre as várias que nascem nos séculos XVI e XVII, uma nova congregação religiosa vocacionada para as missões: a Companhia de Jesus. De facto, os jesuítas rapidamente se prepararão para as missões ultramarinas, embrenhando-se mesmo em regiões desconhecidas e perigosas, principalmente na Ásia e na América do Sul e do Norte, conhecendo alguns dos seus efetivos o martírio (como S. Francisco Xavier na China). Porém, realizam uma obra cultural ímpar, catequizando, ensinando e estudando as línguas, costumes, crenças e histórias locais, adaptando a fé cristã a estes condicionalismos e criando maiores condições de aceitação. Atestam desse esforço as reduções (aldeias indígenas por eles geridas, à volta de uma missão jesuíta) no Paraguai, as missiones na Argentina, a ação dos padres da Companhia na China, bem como a defesa dos Índios no Brasil (um dos seus mentores foi o jesuíta Pe. António Vieira) e outras regiões sul-americanas contra os colonizadores.
Na perspetiva da cultura, a missionação surge como uma fonte riquíssima de conhecimentos vários das regiões ultramarinas, fruto de diversas viagens e observações quotidianas. Escolas, hospitais, ensino de religião (tudo isto gratuitamente) são outras das marcas deixadas pelas missões católicas. Os portugueses, por exemplo, conseguiram difundir a sua língua na Ásia e África de tal forma que, mais tarde, os aventureiros e comerciantes europeus tiveram que a usar como língua franca com os nativos dessas regiões. Além disso, as missões acabavam por ser pontos de referência ou de apoio às incursões colonizadoras de certas zonas. Trouxeram também para outros continentes técnicas e usos europeus de grande utilidade, como a imprensa (os jesuítas portugueses introduzem-na em Goa em 1556) e a medicina.
Paralelamente a este esforço missionário, e como sinal do interesse e apoio papais, cria-se em 1622, em Roma, a Congregação da Propaganda e o seu respetivo Colégio, no seguimento dos propósitos contra-reformistas do Concílio de Trento quanto à evangelização. Em Paris, mais tarde, criar-se-á também a Sociedade e o seminário das Missões Estrangeiras, autêntico viveiro de missionários apostólicos que, todavia, sofrem perseguições e tormentos crescentes na sua ação (perseguição aos jesuítas na América do Sul pelos colonos, por exemplo).
Nos séculos XVIII e XIX, sentir-se-á um novo fulgor na missionação - fragilizada pela Revolução Francesa, com os seus ideais liberais -, nomeadamente em França e Portugal, fruto das várias congregações religiosas (masculinas e femininas) de carácter assistencial e apostólico e da formação de impérios coloniais na Ásia e na África. As ordens religiosas mais antigas reforçam também o seu papel. Obras de propagação e suporte à missionação surgem igualmente em vários países. Missões e colonialismo, nos séculos XIX e XX, estão mais ligados do que nunca, numa época em que se redimensionam e avolumam também as missões protestantes na Ásia, América, África e Oceânia, que conhecem bons resultados e mesmo grandes figuras, como Livingstone, explorador e missionário protestante do século XIX. Doença, pobreza e assistência - como nos católicos igualmente - são as tónicas essenciais das missões protestantes, apoiadas em cerca de 300 sociedades missionárias.
Com o advento dos nacionalismos, surge a necessidade de se criar um clero indígena, de forma a manter - ou implantar - em moldes estáveis a Igreja Católica. No século XX, assiste-se a uma tentativa de adaptação da mensagem cristã às estruturas e condicionalismos locais, a que têm respondido com grande projeção as congregações religiosas de cunho missionário, muitas vezes os únicos interlocutores capazes entre essas regiões e o Ocidente. Porém, ainda antes das descolonizações políticas dos anos 50 e 60, já as missões iniciavam, ao criarem efetivos e estruturas clericais próprias, a descolonização espiritual, embora o fervor missionário nunca desaparecesse nessas regiões, mantendo-se vivo e ganhando nova importância e projeção devido às inúmeras guerras civis e à fragilidade das igrejas locais, bem como à necessidade de preenchimento de certas lacunas de carácter hospitalar, educacional e assistencial.
Apesar do perigo árabe e normando a partir do século VIII, a missionação não para, assumindo proporções grandiosas - embora drásticas - com as cruzadas a partir de 1095. A Ordem de Cister, impulsionada por S. Bernardo, bem como as Ordens militares, apoiam o esforço de missionação, reforçado e com um forte cunho evangélico a partir do século XIII, com a ação de dominicanos e, particularmente, dos franciscanos, que se lançam em incursões no mundo islâmico da Ásia, e mesmo na China e Mongólia. Uma nova característica surge com a atividade dos franciscanos na missionação: a adaptação dos missionários às características dos povos a evangelizar, principalmente em termos de língua e costumes. Escolas de árabe e hebraico surgem no sul da Europa, como a de Ramon Lull (franciscano) em Espanha, preparando missionários para o norte de África e outras regiões árabes, numa época em que o sonho de conquista dos Lugares Santos de Israel se mantinha aceso na Cristandade medieval.
Com o advento dos impérios coloniais ibéricos, este esforço missionário transplanta-se para novas regiões e povos, oferecendo-se novos desafios e adversidades desconhecidas. As Ordens religiosas, melhor preparadas e com séculos de atividade missionária, lançam-se nas caravelas à conquista espiritual dos novos mundos. Porém, no início da missionação da América, apesar dos esforços das Ordens Mendicantes (cuja maior figura fora o dominicano Fr. Bartolomeu de las Casas, defensor dos Índios), os missionários europeus fizeram tábua rasa da cultura e história indígenas.
Na perspetiva da cultura, a missionação surge como uma fonte riquíssima de conhecimentos vários das regiões ultramarinas, fruto de diversas viagens e observações quotidianas. Escolas, hospitais, ensino de religião (tudo isto gratuitamente) são outras das marcas deixadas pelas missões católicas. Os portugueses, por exemplo, conseguiram difundir a sua língua na Ásia e África de tal forma que, mais tarde, os aventureiros e comerciantes europeus tiveram que a usar como língua franca com os nativos dessas regiões. Além disso, as missões acabavam por ser pontos de referência ou de apoio às incursões colonizadoras de certas zonas. Trouxeram também para outros continentes técnicas e usos europeus de grande utilidade, como a imprensa (os jesuítas portugueses introduzem-na em Goa em 1556) e a medicina.
Paralelamente a este esforço missionário, e como sinal do interesse e apoio papais, cria-se em 1622, em Roma, a Congregação da Propaganda e o seu respetivo Colégio, no seguimento dos propósitos contra-reformistas do Concílio de Trento quanto à evangelização. Em Paris, mais tarde, criar-se-á também a Sociedade e o seminário das Missões Estrangeiras, autêntico viveiro de missionários apostólicos que, todavia, sofrem perseguições e tormentos crescentes na sua ação (perseguição aos jesuítas na América do Sul pelos colonos, por exemplo).
Nos séculos XVIII e XIX, sentir-se-á um novo fulgor na missionação - fragilizada pela Revolução Francesa, com os seus ideais liberais -, nomeadamente em França e Portugal, fruto das várias congregações religiosas (masculinas e femininas) de carácter assistencial e apostólico e da formação de impérios coloniais na Ásia e na África. As ordens religiosas mais antigas reforçam também o seu papel. Obras de propagação e suporte à missionação surgem igualmente em vários países. Missões e colonialismo, nos séculos XIX e XX, estão mais ligados do que nunca, numa época em que se redimensionam e avolumam também as missões protestantes na Ásia, América, África e Oceânia, que conhecem bons resultados e mesmo grandes figuras, como Livingstone, explorador e missionário protestante do século XIX. Doença, pobreza e assistência - como nos católicos igualmente - são as tónicas essenciais das missões protestantes, apoiadas em cerca de 300 sociedades missionárias.
Com o advento dos nacionalismos, surge a necessidade de se criar um clero indígena, de forma a manter - ou implantar - em moldes estáveis a Igreja Católica. No século XX, assiste-se a uma tentativa de adaptação da mensagem cristã às estruturas e condicionalismos locais, a que têm respondido com grande projeção as congregações religiosas de cunho missionário, muitas vezes os únicos interlocutores capazes entre essas regiões e o Ocidente. Porém, ainda antes das descolonizações políticas dos anos 50 e 60, já as missões iniciavam, ao criarem efetivos e estruturas clericais próprias, a descolonização espiritual, embora o fervor missionário nunca desaparecesse nessas regiões, mantendo-se vivo e ganhando nova importância e projeção devido às inúmeras guerras civis e à fragilidade das igrejas locais, bem como à necessidade de preenchimento de certas lacunas de carácter hospitalar, educacional e assistencial.
Partilhar
Como referenciar
Porto Editora – missionação na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2025-03-20 01:54:46]. Disponível em
Outros artigos
-
OceâniaDesignação coletiva atribuída à Austrália e aos arquipélagos e ilhas das partes central e sul do oce...
-
ÁfricaÉ o segundo maior continente. Tem uma área de 30 217 000 km2 e ocupa 1/5 do solo terrestre. Atravess...
-
AméricaDesignação que abrange a América Central, a América do Sul e a América do Norte. Tida, por muitos au...
-
ÁsiaÉ o maior continente, com uma área de 44 614 000 km2, que corresponde a 30% da superfície continenta...
-
PortugalGeografia País do Sudoeste da Europa. Situado na parte ocidental da Península Ibérica, abrange uma s...
-
Revolução FrancesaSucessão de movimentações políticas, iniciada em 1789, correspondente a um período conturbado da vid...
-
América do SulAbrange uma área de 17 814 000 km2, o que corresponde a 12,5% da superfície continental da Terra. Es...
-
TrentoDécimo nono concílio ecuménico, reunido em Trento, na Itália, entre 1545 e 1563, convocado pelo papa...
-
RomaAspetos Geográficos Roma é a capital e a maior cidade de Itália. Está localizada na costa oeste da p...
-
GoaEstado situado na costa ocidental da Índia, cerca de 400 km a sul de Bombaim. Depois de descoberto o...
ver+
Partilhar
Como referenciar 
Porto Editora – missionação na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2025-03-20 01:54:46]. Disponível em