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Mosteiro de Cister
Numa Europa culturalmente marcada pela poderosa estrutura religiosa da ordem de Cluny (originária de França mas densamente implantada em quase todos os territórios do continente), surge, nos finais do século XI, uma tentativa de renovação espiritual que contaria com importantes incentivos económicos e políticos em vários países. Este movimento reformador foi protagonizado não só pela ordem Cisterciense mas também pelos Premonstratenses e pelos Cartuxos.
A Ordem de Cister foi fundada em 1098 por monges rebeldes saídos do mosteiro cluniacense de Molesmes. O seu nome deriva do local da sua primeira implantação, na erma floresta de Citeâux, em França, fundada por Roberto de Molesmes. Este monge procurava recuperar uma vida de interioridade e austeridade que equilibrasse os esquecidos valores propostos por S. Bento de equilíbrio da oração litúrgica com o trabalho manual, contestando a pompa da vida monástica de Cluny. A partir do cenóbio de Citeâux foram fundadas quatro abadias (La Ferté, Pontigny, Claraval, Morimond) que se tornariam os principais centros de irradiação do movimento cisterciense, através de processos de filiação relativamente complexos. Uma destas quatro abadias, a de Claraval, foi governada por S. Bernardo que, com as suas reflexões espirituais e o seu trabalho de divulgação se tornou o paladino do espírito de cister.
A expansão cisterciense, estabelecida a partir de várias Abadias-mãe, foi notavelmente rápida. Cister foi capaz de irradiar até à periferia da cristandade medieval muito rapidamente e, em 1153, ano da morte de S. Bernardo, contava já com 343 abadias.
Para fundação dos seus mosteiros, Cister iria procurar lugares não habitados, com escassa demografia religiosa e populacional, procurando, através desse isolamento, potenciar a atividade de oração e contemplação.
Contrariando a opulência do românico cluniacense, S. Bernardo procurou soluções arquitetónicas de carácter simples e austero que anunciavam a passagem para o sistema gramatical e estrutural próprio do gótico. O espaço cisterciense resultava programaticamente da aliança de um sistema de produção a uma dimensão espiritual, o Ora e Labora da tradição beneditina. Foi este rígido sistema disciplinar e vivencial que determinou a estrutura formal dos mosteiros, sendo responsável igualmente por uma relativa invariância das soluções arquitetónicas. Deve, no entanto, reconhecer-se que esta semelhança formal derivava mais, como foi dito, da uniformidade e rigidez dos fundamentos espirituais e da austeridade do seu modus vivendi que da celebrada repetição de um inexistente modelo prototípico.
O mosteiro cisterciense era um espaço fechado, formado por uma igreja e pelos espaços monacais, rodeado por uma cerca murada onde se localizavam edifícios ligados a funções agrícolas como moinhos, oficinas e celeiros.
A organização dos espaços, em torno de um claustro quadrado, encontrava-se organicamente adaptada ao ritmo de vida quotidiana definida pela regra. Num dos topos do claustro ficava a igreja, com planta de cruz latina, geralmente com três naves (exceto as igrejas dos mosteiros femininos que têm mais frequentemente uma nave única), transepto e cabeceira formada por capelas escalonadas ou por deambulatório. O templo estava sempre orientado segundo um eixo nascente-poente.
Os dois grupos da comunidade, os monges e os conversos, ocupavam duas alas opostas do claustro (lado nascente e poente respetivamente). A ala dos monges, com dois pisos, ficava na continuação do braço do transepto do templo. No piso térreo sucediam-se a sacristia, a sala capitular e a escada para o dormitório superior e a sala de trabalho. No lado do claustro oposto à igreja localizava-se o calefatório, a cozinha e o refeitório.
A abadia cisterciense era o centro de um vasto território agrário, formado por granjas e coutos e estruturado por vias de comunicação. Algumas das maiores abadias constituíram, a partir do século XIII vários coutos independentes com póvoas para residência da população civil. Testemunham-no os coutos da Abadia de Alcobaça, em Portugal.
Conhecendo o apogeu no XII, a expansão cisterciense abrandou partir do século XIII. A difícil situação das comunidades rurais foi abordada no Concílio de Trento, tendo daí saído a vontade de reorganização da Ordem de Cister em congregações. Em termos construtivos, os mosteiros receberam muitas transformações durante os vários séculos de vivência das comunidades. Nos inícios do século XIX, as ordens ibéricas sofreram o duro golpe da desamortização dos seus bens.
A Ordem de Cister foi fundada em 1098 por monges rebeldes saídos do mosteiro cluniacense de Molesmes. O seu nome deriva do local da sua primeira implantação, na erma floresta de Citeâux, em França, fundada por Roberto de Molesmes. Este monge procurava recuperar uma vida de interioridade e austeridade que equilibrasse os esquecidos valores propostos por S. Bento de equilíbrio da oração litúrgica com o trabalho manual, contestando a pompa da vida monástica de Cluny. A partir do cenóbio de Citeâux foram fundadas quatro abadias (La Ferté, Pontigny, Claraval, Morimond) que se tornariam os principais centros de irradiação do movimento cisterciense, através de processos de filiação relativamente complexos. Uma destas quatro abadias, a de Claraval, foi governada por S. Bernardo que, com as suas reflexões espirituais e o seu trabalho de divulgação se tornou o paladino do espírito de cister.
A expansão cisterciense, estabelecida a partir de várias Abadias-mãe, foi notavelmente rápida. Cister foi capaz de irradiar até à periferia da cristandade medieval muito rapidamente e, em 1153, ano da morte de S. Bernardo, contava já com 343 abadias.
Para fundação dos seus mosteiros, Cister iria procurar lugares não habitados, com escassa demografia religiosa e populacional, procurando, através desse isolamento, potenciar a atividade de oração e contemplação.
Contrariando a opulência do românico cluniacense, S. Bernardo procurou soluções arquitetónicas de carácter simples e austero que anunciavam a passagem para o sistema gramatical e estrutural próprio do gótico. O espaço cisterciense resultava programaticamente da aliança de um sistema de produção a uma dimensão espiritual, o Ora e Labora da tradição beneditina. Foi este rígido sistema disciplinar e vivencial que determinou a estrutura formal dos mosteiros, sendo responsável igualmente por uma relativa invariância das soluções arquitetónicas. Deve, no entanto, reconhecer-se que esta semelhança formal derivava mais, como foi dito, da uniformidade e rigidez dos fundamentos espirituais e da austeridade do seu modus vivendi que da celebrada repetição de um inexistente modelo prototípico.
O mosteiro cisterciense era um espaço fechado, formado por uma igreja e pelos espaços monacais, rodeado por uma cerca murada onde se localizavam edifícios ligados a funções agrícolas como moinhos, oficinas e celeiros.
A organização dos espaços, em torno de um claustro quadrado, encontrava-se organicamente adaptada ao ritmo de vida quotidiana definida pela regra. Num dos topos do claustro ficava a igreja, com planta de cruz latina, geralmente com três naves (exceto as igrejas dos mosteiros femininos que têm mais frequentemente uma nave única), transepto e cabeceira formada por capelas escalonadas ou por deambulatório. O templo estava sempre orientado segundo um eixo nascente-poente.
Os dois grupos da comunidade, os monges e os conversos, ocupavam duas alas opostas do claustro (lado nascente e poente respetivamente). A ala dos monges, com dois pisos, ficava na continuação do braço do transepto do templo. No piso térreo sucediam-se a sacristia, a sala capitular e a escada para o dormitório superior e a sala de trabalho. No lado do claustro oposto à igreja localizava-se o calefatório, a cozinha e o refeitório.
A abadia cisterciense era o centro de um vasto território agrário, formado por granjas e coutos e estruturado por vias de comunicação. Algumas das maiores abadias constituíram, a partir do século XIII vários coutos independentes com póvoas para residência da população civil. Testemunham-no os coutos da Abadia de Alcobaça, em Portugal.
Conhecendo o apogeu no XII, a expansão cisterciense abrandou partir do século XIII. A difícil situação das comunidades rurais foi abordada no Concílio de Trento, tendo daí saído a vontade de reorganização da Ordem de Cister em congregações. Em termos construtivos, os mosteiros receberam muitas transformações durante os vários séculos de vivência das comunidades. Nos inícios do século XIX, as ordens ibéricas sofreram o duro golpe da desamortização dos seus bens.
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Como referenciar
Porto Editora – Mosteiro de Cister na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2024-12-10 11:05:17]. Disponível em
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