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O Grande Gatsby
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Francis Scott Fitzgerald publicou em 1925 o romance The Great Gatsby, no qual se propõe fazer um retrato da América do seu tempo, os turbulentos anos 20 (os "roaring twenties"), a idade do jazz (designação criada pelo próprio Fitzgerald) e da aspirina, período de exuberância associado com a dança (o charleston) e a música e a vulgarização do automóvel.

Romance com múltiplas facetas, é, por um lado, a história dos amores frustrados do pobre provinciano Jay Gatsby por uma rica e caprichosa Daisy, da insensibilidade do mundo artificial em que esta se move e do seu extremo materialismo. É, ainda, uma visão desencantada das assimetrias sociais do imediato após-guerra, contrastando com a euforia da vitória: a pobreza de muitos, o enriquecimento repentino e inexplicado de alguns, o emergir do crime organizado, a corrupção. Gatsby, que, pela exibição ruidosa da sua recém-adquirida fortuna, pretende reaproximar-se de Daisy, ao mesmo tempo que manifesta uma ingénua confiança no seu estatuto de novo-rico, empresário e herói da guerra, forja um retrato compósito falso com pregaminhos intelectuais (a falsa frequência de uma universidade inglesa) e o empolamento das suas façanhas bélicas, mas não consegue esconder as suas facetas mais obscuras, a sua ambígua relação com o mundo do crime organizado, a origem pouco transparente da sua fortuna, etc. Acabará vítima de um conjunto de circunstâncias que não controla, vítima da sua própria ingenuidade, mas também da insensibilidade e do calculismo egoísta de outros.

Trata-se de um mundo em que os valores espirituais são menosprezados ou ignorados, onde o interesse pela posse de bens materiais se sobrepõe à fé nos valores da vida e da felicidade espiritual, representados na narrativa pelo jovem Nick Carraway, oriundo de um estado do interior, empregado no mundo emocionalmente estéril da Bolsa, observador impotente dos acontecimentos, que, desgostado com o mundo em que se procurou inserir, regressa ao seu mundo «puro» do Médio Oeste americano, onde, presume e deseja, ainda estão vivos os valores espirituais em que crê.

O "Grande Gatsby" é, no fundo, um comentário ao Sonho Americano na sua formulação ideal, como uma atitude de esperança e fé que se projeta para a conquista dos sonhos e aspirações humanas. Enquanto sátira social, o romance é ainda um comentário à decadência moral da sociedade americana moderna, com a sua corrupção de valores e o declínio da vida espiritual. Fitzgerald vai mais longe, constatando a inevitável falência do Sonho Americano, por um lado porque a realidade se desencontra dos ideais, mas ainda porque estes são demasiado fantásticos para serem atingidos.

As técnicas narrativas empregadas pelo romancista servem para evidenciar o comentário. Por exemplo, Gatsby é associado com a luz, quer natural (a luz e as estrelas), o que serve para acentuar a irrealidade e a fantasia dos seus sonhos, quer artificial (a iluminação feérica das suas estrondosas festas), que representa os meios materiais pelos quais se alimenta a esperança de reconquistar Daisy. Por outro lado, a associação de Daisy com a escuridão ou pelo menos com o crepúsculo revela o seu carácter insensível, se não mesmo sinistro.

A narrativa desenvolve-se em tom irónico, pela justaposição e contraste de caracteres opostos e imagens antagónicas ou pela combinação de elementos trágicos e cómicos, fazendo variar a ironia entre o tom de troça suave e a crítica áspera, passando por comentários em tom grave.

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Como referenciar
Porto Editora – O Grande Gatsby na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2024-10-16 06:29:54]. Disponível em

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