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Os Cátaros
O Catarismo foi uma das maiores heresias da época medieval, tendo sido, entre as maiores, a última. Manifestou-se principalmente durante os séculos XII e XIII, com uma forte incidência em França (onde se designavam cátaros ou albigenses) e na Itália (aqui chamavam-se patarinos). O Languedoc, no Sul de França, foi o principal centro desta heresia. Os cátaros surgiram numa região onde confluíram, historicamente, resquícios do arianismo visigótico remanescentes e certase correntes maniqueístas, como a dos bogomilos bizantinos, que se tornaram ativas no Languedoc durante as Cruzadas. Etimologicamente, o termo catarismo provém da palavra grega Katharos, que significa "puro". Os que aderiram a este movimento de reforma religiosa, que depois redundou em heresia, pretendiam, de facto, atingir esse estado de pureza absoluta.
A doutrina baseava-se, na sua essência, num dualismo maniqueísta, assente na existência de um princípio bom, o Bem, que tinha criado o mundo espiritual, e um princípio mau, o Mal, que estivera na origem do mundo material. A ritualidade cátara era, por oposição ao Cristianismo romano, constituída por um número muito reduzido de ritos. Um destes, o consalamentum, por exemplo, era uma cerimónia de iniciação que implicava uma oração dominical e consistia essencialmente na imposição das mãos e do Evangelho sobre a cabeça do iniciado, sendo normalmente usado em vez do batismo e da confirmação. Este rito, também usado como extrema unção, era muito importante para o conceito de pureza cátara, pois não só retirava o pecado como fortalecia a presença do Espírito Santo no indivíduo, fazendo de um simples crente um indivíduo "perfeito" e um ministro da "Igreja" cátara. Dentro dos perfeitos existia uma hierarquia que era constituída por bispos, filhos maiores (principais coadjutores dos bispos) e filhos menores, que podiam ascender mais tarde a filhos maiores. Muitos diáconos cátaros, ou filhos menores, assumiram tarefas semelhantes às do clero paroquial.
A moral cátara era extremamente rigorosa. Aqueles que se dedicavam ao trabalho manual eram obrigados a absterem-se para sempre de certos alimentos tidos como impuros, como as carnes de animais e seus derivados. O rigor da moral tendia para a destruição do corpo por intermédio de jejuns. Para os cátaros, podia ser digno colocar um fim à vida de qualquer ser humano, pois era o mesmo que unir matéria e espírito. As práticas como a endura, ou iniciação da morte (observância do jejum por um doente, o que o enfraquecia e aniquilava), ou outras formas de suicídio, eram aconselhadas a qualquer membro depois de ter feito o consolamentum. Os cátaros condenavam a hierarquia eclesiástica e os sacramentos, bem como o direito de propriedade, para além de negarem o purgatório e a ressurreição dos mortos. A sexualidade, o casamento e a procriação eram um "mal menor", exceto para os perfeitos, que os podiam praticar sem objeções.
A Igreja, em meados do século XIII, começou, no entanto, a preocupar-se com o catarismo, o qual condenava veementemente. Em 1206, o cónego castelhano Domingos de Guzmán, da Sé de Osma, começou a pregar no Languedoc contra os Cátaros: viria a santificar-se depois com o nome de S. Domingos e com a fundação, em 1215, de uma ordem religiosa destinada ao combate das heresias em nome da Fé: a Ordem dos Pregadores, ou Dominicanos. Entretanto, em 1208, Pierre de Castelnau, legado papal, foi assassinado pelos cátaros. Assim, em 1209, o rigoroso e dinâmico Papa Inocêncio III organizou uma cruzada contra os promotores e fiéis da heresia cátara. Simão de Montfort coordenou esta cruzada, realizando assim uma série de saques em Béziers e Carcassone e noutras cidadelas cátaras no Languedoc. A tomada de Béziers ocorreu a 22 de julho de 1209, tendo ficado marcada por uma autêntica carnificina, onde cristãos fiéis a Roma (20 mil) e hereges cátaros (222) foram confundidos: "Matai-os a todos. Deus reconhecerá os seus", pregou Arnauld d´Amalrie. A proteção que o Conde de Toulouse, Raimundo IV, havia garantido aos Albigenses não lhes serviu de valia, pois em 1213 foram derrotados em Muret. Passados cinco anos, morria, em Toulouse, o cúpido Simão de Montfort. Em 1215, a doutrina albigense foi, por seu lado, condenada teologicamente no 4º concílio de Latrão, convocado por Inocêncio III.A heresia foi destruída de forma gradual com a Inquisição, instituída em 1233, em boa parte devido ao Catarismo. De resto, desde o século XII que os bispos eram os principais defensores da criação da Inquisição; esta seria confiada aos Dominicanos, em 1233, com o objetivo primaz de salvaguardar a Fé. Mas, através da tortura, levou muita gente à morte. O último cátaro queimado na Europa foi Guilhem Bélibaste, em 24 de agosto de 1331, na região de Aude, no Sul de França. Entretanto, o neocatarismo pretendeu, no século XX, refundar o conceito salvífico cátaro, através de uma associação espiritual e de uma série de iniciativas culturais, históricas e espirituais.
A doutrina baseava-se, na sua essência, num dualismo maniqueísta, assente na existência de um princípio bom, o Bem, que tinha criado o mundo espiritual, e um princípio mau, o Mal, que estivera na origem do mundo material. A ritualidade cátara era, por oposição ao Cristianismo romano, constituída por um número muito reduzido de ritos. Um destes, o consalamentum, por exemplo, era uma cerimónia de iniciação que implicava uma oração dominical e consistia essencialmente na imposição das mãos e do Evangelho sobre a cabeça do iniciado, sendo normalmente usado em vez do batismo e da confirmação. Este rito, também usado como extrema unção, era muito importante para o conceito de pureza cátara, pois não só retirava o pecado como fortalecia a presença do Espírito Santo no indivíduo, fazendo de um simples crente um indivíduo "perfeito" e um ministro da "Igreja" cátara. Dentro dos perfeitos existia uma hierarquia que era constituída por bispos, filhos maiores (principais coadjutores dos bispos) e filhos menores, que podiam ascender mais tarde a filhos maiores. Muitos diáconos cátaros, ou filhos menores, assumiram tarefas semelhantes às do clero paroquial.
A moral cátara era extremamente rigorosa. Aqueles que se dedicavam ao trabalho manual eram obrigados a absterem-se para sempre de certos alimentos tidos como impuros, como as carnes de animais e seus derivados. O rigor da moral tendia para a destruição do corpo por intermédio de jejuns. Para os cátaros, podia ser digno colocar um fim à vida de qualquer ser humano, pois era o mesmo que unir matéria e espírito. As práticas como a endura, ou iniciação da morte (observância do jejum por um doente, o que o enfraquecia e aniquilava), ou outras formas de suicídio, eram aconselhadas a qualquer membro depois de ter feito o consolamentum. Os cátaros condenavam a hierarquia eclesiástica e os sacramentos, bem como o direito de propriedade, para além de negarem o purgatório e a ressurreição dos mortos. A sexualidade, o casamento e a procriação eram um "mal menor", exceto para os perfeitos, que os podiam praticar sem objeções.
A Igreja, em meados do século XIII, começou, no entanto, a preocupar-se com o catarismo, o qual condenava veementemente. Em 1206, o cónego castelhano Domingos de Guzmán, da Sé de Osma, começou a pregar no Languedoc contra os Cátaros: viria a santificar-se depois com o nome de S. Domingos e com a fundação, em 1215, de uma ordem religiosa destinada ao combate das heresias em nome da Fé: a Ordem dos Pregadores, ou Dominicanos. Entretanto, em 1208, Pierre de Castelnau, legado papal, foi assassinado pelos cátaros. Assim, em 1209, o rigoroso e dinâmico Papa Inocêncio III organizou uma cruzada contra os promotores e fiéis da heresia cátara. Simão de Montfort coordenou esta cruzada, realizando assim uma série de saques em Béziers e Carcassone e noutras cidadelas cátaras no Languedoc. A tomada de Béziers ocorreu a 22 de julho de 1209, tendo ficado marcada por uma autêntica carnificina, onde cristãos fiéis a Roma (20 mil) e hereges cátaros (222) foram confundidos: "Matai-os a todos. Deus reconhecerá os seus", pregou Arnauld d´Amalrie. A proteção que o Conde de Toulouse, Raimundo IV, havia garantido aos Albigenses não lhes serviu de valia, pois em 1213 foram derrotados em Muret. Passados cinco anos, morria, em Toulouse, o cúpido Simão de Montfort. Em 1215, a doutrina albigense foi, por seu lado, condenada teologicamente no 4º concílio de Latrão, convocado por Inocêncio III.A heresia foi destruída de forma gradual com a Inquisição, instituída em 1233, em boa parte devido ao Catarismo. De resto, desde o século XII que os bispos eram os principais defensores da criação da Inquisição; esta seria confiada aos Dominicanos, em 1233, com o objetivo primaz de salvaguardar a Fé. Mas, através da tortura, levou muita gente à morte. O último cátaro queimado na Europa foi Guilhem Bélibaste, em 24 de agosto de 1331, na região de Aude, no Sul de França. Entretanto, o neocatarismo pretendeu, no século XX, refundar o conceito salvífico cátaro, através de uma associação espiritual e de uma série de iniciativas culturais, históricas e espirituais.
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Como referenciar
Porto Editora – Os Cátaros na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2024-12-02 14:59:10]. Disponível em
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