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Palavras Loucas
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A publicação de Palavras Loucas é um dos marcos fundamentais da afirmação do neogarrettismo e, de um modo geral, de todo o movimento neorromântico, que culminaria com o nacionalismo literário do início do século. Aqui se exalta o desejo de "levantar Portugal pela religião, e por mares inéditos demandar antes de mais ninguém a baía hospitaleira e calma dos tempos novos!" ("Profissão da Minha Fé", Carta ao Papa Leão XIII); de renascer um passado em cujos vestígios culturais se encerra a verdadeira alma da nação ("Fazei vossas odes d'esta visão intensa do que fomos, se o Passado vos tenta: dizei de vossos Avós as arrebatadas cavalarias, e buscai sua coragem de ânimo nas feições esmaiadas dos painéis..." ("Do Neogarrettismo no Teatro", in Palavras Loucas, p. 30); de retorno à rusticidade ("Em Portugal seria necessário que nós os poetas emigrássemos para as aldeias, habituando-nos a uma vida doce e monástica no fundo das bibliotecas tristes. [...] E aprenderíamos história portuguesa no convívio do Beirão quasi primitivo ou do Transmontano rude como um tojo, dos pescadores da costa supersticiosos [...]. Talvez assim compreendêssemos o carácter do nosso país, e víssemos bem largo o caminho que nos pode traçar de um momento para o outro, cheio de novo, no meio d' esta Literatura fatigada." (id., p. 32)); de redimir Portugal do "ciclo humilhante e miserável [...], de crise sem grandeza, de fome sem tragédia, de agonia sem desespero" em que se encontra mergulhado, "pois toda a gente se deixa escorregar no pântano sem gritar alto a sua miséria, sem tomar atitudes que, ao menos, se lhe não salvarem a vida, lhe salvem a memória." (id., p. 213). Nesta medida, o neogarrettismo de Palavras Loucas, segundo Américo Oliveira Santos (cf. SANTOS, Américo - "Do Neogarrettismo e das Viagens ao Portugal", in Atas do Colóquio De Garrett ao Neogarrettismo, Maia, 1999, p. 19), surge como "correlato de um sentimento de orfandade e de perda de identidade, que naturalmente se agudiza na sequência do Ultimato" e que encontra uma filiação purificadora na "construção do mito de Garrett: um Garrett que se volve figura totémica e guardião da matriz de todo o sentido; um Garrett prometeico que recolhe e reacende a tradição cultural de um povo e acorda o Volksgeist adormecido; um Garrett demiurgo que da treva faz brotar o teatro, o romance, a poesia e que, através desse conjunto de atos performativos, assim refunda a identidade nacional", renascendo num outro tempo histórico e no "plano intemporal que é o do mito".
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Como referenciar
Porto Editora – Palavras Loucas na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2024-12-06 17:20:03]. Disponível em

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