Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina
O Parque Natural do Sudoeste Alentejano e da Costa Vicentina foi criado a 7 de julho de 1988, ocupando uma área de 60 688 hectares, e integra parte dos concelhos de Sines, Odemira, Aljezur e Vila do Bispo. A sua mais importante zona húmida é sem dúvida o estuário do Mira, que inclui praias, bancos de areia, falésias, sapal, arrozal, zonas de mato, áreas florestadas, culturas de sequeiro e de regadio e incultos. Quase no limite norte do Parque Natural, encontra-se a ilha do Pessegueiro, próximo de Porto Covo e diante do Forte de Terra. A coroá-la, uma fortaleza, rodeada de águas ricas em peixe, ponto de nidificação e abrigo de algumas aves.
No que diz respeito à vegetação de todo o litoral, esta reflete, para além da pobreza do solo, a exposição direta à salinidade e aos ventos do mar, daí, em parte, o aspeto de desolação com que se apresenta. A generalidade da área é coberta por plantas herbáceas e por arbustos de pequeno porte, a maioria das vezes caindo sobre o solo para garantirem a sua sobrevivência. Nas dunas e medos, a vegetação é dominada por espécies como o estorno e nas zonas de maior mobilidade ocorre um número apreciável de espécies raras ou endémicas. Nas falésias e no alto das arribas, depara-se com um conjunto de plantas adaptadas à secura, ao vento e à salsugem, que se congregam por vezes em pequenos tufos ou moitas, sendo a sabina-das-praias uma das que mais ocorre. Nas zonas húmidas encontra-se, para além de sapal, agrupamentos halofíticos típicos destas zonas que contrastam de forma evidente com as urzes e estevas que dominam as zonas não agricultadas das charnecas litorais. Há ainda a referir montados de sobro, como o existente no barranco do candeeiro, próximo de Vila do Bispo, pinheiro-manso, na Bordeira, figueiras e amendoeiras, no litoral sul de Vila do Bispo, bosquetes de sobro e de medronheiro, nas encostas expostas a norte de um ou outro barranco mais escondido. O promontório de Sagres e o cabo de S. Vicente constituem duas zonas de particular interesse onde se podem encontrar perpétuas douradas, arménias, tomilho-do-algarve e rosmaninhos.
A costa alcantilada, com numerosos rochedos e ilhotas no seu flanco, aliada ao facto de até há relativamente pouco tempo não existir uma presença humana demasiado elevada, faz do litoral português um local ideal para a nidificação de numerosas espécies de avifauna. Para além das típicas gaivotas, aves de presa como a águia-pesqueira, uma das espécies mais ameaçadas de extinção no nosso país, a águia-de-bonelli e o peneireiro-das-torres nidificam nesta costa. O mesmo se passa com as garças (garça-branca e garça-boeira) e com a cegonha-branca, que, facto inédito na Europa, nidifica em ilhotas costeiras. Os curiosos ninhos de cegonha, nomeadamente nas imediações do Cabo Sardão e na Zambujeira do Mar, atraem pela beleza e pelo insólito. Na zona do Cabo de S. Vicente reproduzem-se a gralha-de-bico-vermelho e a gralha-de-nuca-cinzenta, espécies em declínio no continente europeu. Os pombos-das-rochas do Sudoeste são os únicos representantes puros da espécie que restam, enquanto o corvo-marinho-de-crista e o falcão-peregrino concentram neste litoral parte importante dos seus efetivos nacionais. Finalmente, esta costa representa também um importante corredor migratório para os falconiformes e passeriformes em geral e o principal corredor da migração outonal das rolas.
Para além das aves, o litoral do Sudoeste dá abrigo a numerosos mamíferos: raposas, ginetas, saca-rabos e fuinhas. Ao longo do litoral existe uma população de lontras cujos hábitos marinhos representam um facto pouco vulgar no continente europeu, enquanto em numerosas grutas e furnas existem importantes colónias de morcegos cavernícolas.
O litoral do Sudoeste Alentejano e a costa vicentina caracterizam-se por ser habitat de ricas comunidades haliêuticas - peixes, crustáceos e moluscos - constituindo uma das áreas com maior diversidade e abundância de organismos marinhos de toda a costa portuguesa.
A presença humana é atestada quer através de vestígios pré-históricos quer por construções, sobretudo de carácter militar, erguidas em épocas mais recentes. De facto, a construção de pedra sempre primou pela ausência e os materiais mais utilizados em toda a zona foram desde há muito aqueles que estavam mais à mão, sobretudo o barro que, cru ou cozido, fez durante séculos a casa do Sudoeste.
Restam os fortes e fortins, as únicas edificações que ainda pautam o cordão litoral: os fortes da ilha e de terra, em Porto Covo, o castelo de S. Clemente, em Milfontes, os fortes da Arrifana e da Carrapateira, a torre de Aspa, o forte de Beliche, as fortalezas de Sagres e de S. Vicente, os fortes de Baleeira, do Zavial, de Figueira, de Almádena e a bateria do Burgau.
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