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períodos de glaciação da Terra
A evolução das temperaturas do globo durante os últimos 270 mil anos conhece-se bem devido às investigações que se têm feito ao fundo do mar e na superfície terrestre. O Quaternário apresenta-nos uma imensa variedade de climas, com alternância de fases glaciares e interglaciares, que se refletiram acentuadamente na modelação da superfície. É precisamente nesta era geológica que ocorreu a maior parte do processo de hominização. Desta forma, é importantíssimo conhecer profundamente as transformações ocorridas na Terra neste período, porque os vestígios da presença humana (Paleolítico) encontram-se depositados num contexto geológico evolutivo da Era Quaternária.
Os locais mais elevados do planeta, as altas latitudes e as altas montanhas conheceram épocas de frio muito intenso e de formação de gelo permanente. À sua volta os terrenos mantinham-se gelados e eram erodidos em consequência da existência e da alternância entre períodos de gelo e períodos de degelo. As épocas de clima frio receberam o nome de "glaciações" e as épocas mais amenas de "interglaciações". No decurso de cada glaciação podem ainda ocorrer breves períodos de clima mais temperado que se designam por "interestádios", pois separam os "estádios" frios que constituem cada glaciação. Nas latitudes baixas, em vez de se verificarem estes fenómenos ligados à glaciação era mais frequente a alternância de períodos muito chuvosos (períodos pluviais) com períodos de grande aridez (períodos interpluviais). Nas latitudes mais baixas as oscilações climáticas não foram tão expressivas. Assim, a uma diminuição da temperatura correspondia o início de uma fase de glaciação e simultaneamente a um período pluvial nas zonas tropicais.
O período de glaciações mais conhecido situa-se no Quaternário, que se divide em Pleistoceno e Holoceno. A periodização que se segue baseia-se nos dados apresentados pela geologia, pela paleobotânica, pela paleontologia, pelo paleomagnetismo e, naturalmente, pelas análises laboratoriais. É o Pleistoceno que mais interessa porque vai desde o início do Quaternário até à última glaciação. Para melhor organização do período, é legítimo fazer-se uma divisão em três fases: Pleistoceno inferior, médio e superior. Cronologicamente, o Pleistoceno inferior vai desde o início do Quaternário até à inversão da polaridade do campo magnético da Terra há cerca de 1 milhão e trezentos mil anos; o Pleistoceno médio inicia-se no fim do anterior e vai até ao início da interglaciação Riss-Würm datada de 0,12 milhões de anos; o Pleistoceno inferior compreende o último período interglaciar e a glaciação de Würm, terminando com a oscilação de Alleröd, ocorrida a 9800 anos a. C.
Foram os Alpes que serviram para se estabelecer uma escala para as diferentes glaciações. A observação da mobilização de materiais terrestres superficiais deixados pela ação dos glaciares, nomeadamente os circos, os vales em U e a formação de moreias laterais e frontais, proporcionaram a possibilidade de se saber que fenómenos climáticos ocorreram na Terra e quais os seus efeitos na geologia, nos seres vivos e nas espécies vegetais. As primeiras investigações no início do século XX permitiram o conhecimento de quatro glaciações - Gunz, Mindel, Riss, Würm - posteriormente notou-se a ocorrência de um período anterior à glaciação de Gunz ao qual se deu o nome de Donau e hoje já se conhece outra etapa ainda anterior à de Donau, através de alguns depósitos, que se designou de glaciação de Biber. Esta nomenclatura baseia-se nos nomes dos afluentes do Danúbio nos vales onde se verificaram os fenómenos. Saliente-se que estas são as designações mais conhecidas, mas paralelamente foram dadas outras: na Europa do Norte às três últimas glaciações dá-se o nome de Elster, Saale e Weichsel; em Inglaterra existe uma nomenclatura própria para as glaciações e interglaciações - Beestoniano, Cromeriano, Angliano, Hoxniano, Holsteiniano, Ipswichiano e Devonsiano.
Como foi dito anteriormente, é possível detetar momentos de uma suavização da temperatura no decurso de uma glaciação. Assim, conhecem-se alguns estádios separados entre si por interestádios: três no Donau (Donau I, Donau II e Donau III), dois no Gunz (Gunz I e Gunz II), dois no Mindel (Mindel I e Mindel II), três no Riss (Riss I, Riss II, Riss III) e quatro no Würm (Würm I, Würm II, Würm III e Würm IV). Ainda dentro de cada estádio verifica-se a existência de várias fases. Catalogam-se igualmente os períodos interglaciares Donau-Gunz, Gunz-Mindel, Mindel-Riss, Riss-Würm. Estas divisões nem sempre são unânimes entre os investigadores.
Na Europa, a glaciação começou nos pontos mais altos da Escandinávia até à Sibéria, em densas camadas de gelo. Nos períodos em que a glaciação atingia maiores níveis estendeu-se pelo Mar do Norte até ao Sul das Ilhas Britânicas. Atingia a Alemanha, o Norte da Holanda, a Polónia, a Dinamarca e o Mar Báltico. Os Alpes, os Pirenéus, os Cárpatos e os Apeninos ficaram cobertos por uma espessa camada de gelo que atingiu alturas de três mil metros e alcançou a extensão de trinta mil quilómetros. O que se passou na Península Ibérica difere do modelo alpino, pois só existem restos da última glaciação (Würm) e raras marcas da glaciação de Riss.
Na Ásia, a glaciação fez-se igualmente sentir em grandes áreas: no Norte, dos Urais à Península do Tamir, o gelo cobria mais de quatro milhões de quilómetros quadrados; no Cáucaso, a extensão era de seiscentos quilómetros quadrados; os Himalaias também foram atingidos por três ou quatro glaciações.
O continente americano conheceu as glaciações com gelo a cobrir territórios numa extensão de 12 milhões de quilómetros quadrados. No Norte e no Sul dos Andes também se conheceram glaciações. O mesmo se pode registar para os montes da Nova Zelândia e da Austrália.
Como já foi referido, nas baixas latitudes, ao invés de se verificarem períodos de glaciação, ocorreram momentos de grande pluviosidade cuja marca se encontra nos efeitos da subida do nível da água nos lagos e rios. Foi o que aconteceu no Mar Morto; no Quénia e na Abissínia, onde se formaram grandes lagos; no deserto do Sara e do Calaári, que se cobriram de vegetação; e na bacia de Bonneville, na América, onde surgiram lagos.
Nos períodos de glaciação ocorre o fenómeno de retração das águas do mar devido à acumulação de uma quantidade considerável de água sob a forma de gelo nas calotes polares e nos glaciares. Este fenómeno provocaria o aprofundamento do leito dos rios. Nos períodos interglaciares, com a transgressão marinha, favorecia-se a acumulação de aluviões e o arrastamento de materiais, formando socalcos ou plataformas nas margens dos rios. Os sedimentos que se foram depositando ao longo da Era Quaternária no interior de grutas e de abrigos sob rocha, nos terraços fluviais e nas antigas praias constituem excelentes locais de investigação para a pré-história.
Foi durante os períodos interglaciares que se assistiu a uma expansão das espécies vegetais e da melhoria de condições para a vida animal. É necessário também levar em linha de conta que o florescimento ou degradação da cobertura vegetal, aliados ao desenvolvimento de grandes massas de gelo e a variações da pluviosidade, condicionam o fenómeno de erosão, transporte e sedimentação, processos que modelam a superfície terrestre e que ocorrem em função dos períodos de glaciação. Houve, assim, uma constante readaptação da fauna e da flora a novas condições impostas pelos climas. Em relação à fauna, verificou-se em muitos casos uma permanência no mesmo local, o que implicou, naturalmente, um enorme esforço adaptativo. As espécies que não tiveram essa capacidade de adaptação viram-se obrigadas a procurar regiões onde o clima era menos rigoroso. Outras, simplesmente, desapareceram por impossibilidade de adaptação ou de migração. Também a análise de fósseis vegetais, através da palinologia e da antracologia têm-se revelado muito úteis para o conhecimento dos efeitos do clima ao longo da referida era geológica. A título de exemplo, algumas zonas temperadas da Europa durante a última glaciação caracterizavam-se pela sua paisagem de tundra e eram habitadas por renas, mamutes e o rinoceronte-lanudo. Estes estavam tão bem adaptados ao clima que tiveram que migrar para o Norte (Escandinávia) ou então desapareceram por não se adaptarem às novas temperaturas do fim do Würm, como foi o caso das duas últimas espécies.
Após a última glaciação o clima tornou-se mais ameno e aumentou o teor de humidade. Entrava-se no Holoceno, com duas fases nítidas, esta primeira a que se deu o nome de Boreal, cuja vegetação era eminentemente de coníferas, e a segunda, chamada Atlântica, ao longo da qual se verificou o avanço dos bosques de folha caduca, fazendo regredir a floresta de coníferas para o Norte.
Os locais mais elevados do planeta, as altas latitudes e as altas montanhas conheceram épocas de frio muito intenso e de formação de gelo permanente. À sua volta os terrenos mantinham-se gelados e eram erodidos em consequência da existência e da alternância entre períodos de gelo e períodos de degelo. As épocas de clima frio receberam o nome de "glaciações" e as épocas mais amenas de "interglaciações". No decurso de cada glaciação podem ainda ocorrer breves períodos de clima mais temperado que se designam por "interestádios", pois separam os "estádios" frios que constituem cada glaciação. Nas latitudes baixas, em vez de se verificarem estes fenómenos ligados à glaciação era mais frequente a alternância de períodos muito chuvosos (períodos pluviais) com períodos de grande aridez (períodos interpluviais). Nas latitudes mais baixas as oscilações climáticas não foram tão expressivas. Assim, a uma diminuição da temperatura correspondia o início de uma fase de glaciação e simultaneamente a um período pluvial nas zonas tropicais.
O período de glaciações mais conhecido situa-se no Quaternário, que se divide em Pleistoceno e Holoceno. A periodização que se segue baseia-se nos dados apresentados pela geologia, pela paleobotânica, pela paleontologia, pelo paleomagnetismo e, naturalmente, pelas análises laboratoriais. É o Pleistoceno que mais interessa porque vai desde o início do Quaternário até à última glaciação. Para melhor organização do período, é legítimo fazer-se uma divisão em três fases: Pleistoceno inferior, médio e superior. Cronologicamente, o Pleistoceno inferior vai desde o início do Quaternário até à inversão da polaridade do campo magnético da Terra há cerca de 1 milhão e trezentos mil anos; o Pleistoceno médio inicia-se no fim do anterior e vai até ao início da interglaciação Riss-Würm datada de 0,12 milhões de anos; o Pleistoceno inferior compreende o último período interglaciar e a glaciação de Würm, terminando com a oscilação de Alleröd, ocorrida a 9800 anos a. C.
Como foi dito anteriormente, é possível detetar momentos de uma suavização da temperatura no decurso de uma glaciação. Assim, conhecem-se alguns estádios separados entre si por interestádios: três no Donau (Donau I, Donau II e Donau III), dois no Gunz (Gunz I e Gunz II), dois no Mindel (Mindel I e Mindel II), três no Riss (Riss I, Riss II, Riss III) e quatro no Würm (Würm I, Würm II, Würm III e Würm IV). Ainda dentro de cada estádio verifica-se a existência de várias fases. Catalogam-se igualmente os períodos interglaciares Donau-Gunz, Gunz-Mindel, Mindel-Riss, Riss-Würm. Estas divisões nem sempre são unânimes entre os investigadores.
Na Europa, a glaciação começou nos pontos mais altos da Escandinávia até à Sibéria, em densas camadas de gelo. Nos períodos em que a glaciação atingia maiores níveis estendeu-se pelo Mar do Norte até ao Sul das Ilhas Britânicas. Atingia a Alemanha, o Norte da Holanda, a Polónia, a Dinamarca e o Mar Báltico. Os Alpes, os Pirenéus, os Cárpatos e os Apeninos ficaram cobertos por uma espessa camada de gelo que atingiu alturas de três mil metros e alcançou a extensão de trinta mil quilómetros. O que se passou na Península Ibérica difere do modelo alpino, pois só existem restos da última glaciação (Würm) e raras marcas da glaciação de Riss.
Na Ásia, a glaciação fez-se igualmente sentir em grandes áreas: no Norte, dos Urais à Península do Tamir, o gelo cobria mais de quatro milhões de quilómetros quadrados; no Cáucaso, a extensão era de seiscentos quilómetros quadrados; os Himalaias também foram atingidos por três ou quatro glaciações.
O continente americano conheceu as glaciações com gelo a cobrir territórios numa extensão de 12 milhões de quilómetros quadrados. No Norte e no Sul dos Andes também se conheceram glaciações. O mesmo se pode registar para os montes da Nova Zelândia e da Austrália.
Como já foi referido, nas baixas latitudes, ao invés de se verificarem períodos de glaciação, ocorreram momentos de grande pluviosidade cuja marca se encontra nos efeitos da subida do nível da água nos lagos e rios. Foi o que aconteceu no Mar Morto; no Quénia e na Abissínia, onde se formaram grandes lagos; no deserto do Sara e do Calaári, que se cobriram de vegetação; e na bacia de Bonneville, na América, onde surgiram lagos.
Nos períodos de glaciação ocorre o fenómeno de retração das águas do mar devido à acumulação de uma quantidade considerável de água sob a forma de gelo nas calotes polares e nos glaciares. Este fenómeno provocaria o aprofundamento do leito dos rios. Nos períodos interglaciares, com a transgressão marinha, favorecia-se a acumulação de aluviões e o arrastamento de materiais, formando socalcos ou plataformas nas margens dos rios. Os sedimentos que se foram depositando ao longo da Era Quaternária no interior de grutas e de abrigos sob rocha, nos terraços fluviais e nas antigas praias constituem excelentes locais de investigação para a pré-história.
Foi durante os períodos interglaciares que se assistiu a uma expansão das espécies vegetais e da melhoria de condições para a vida animal. É necessário também levar em linha de conta que o florescimento ou degradação da cobertura vegetal, aliados ao desenvolvimento de grandes massas de gelo e a variações da pluviosidade, condicionam o fenómeno de erosão, transporte e sedimentação, processos que modelam a superfície terrestre e que ocorrem em função dos períodos de glaciação. Houve, assim, uma constante readaptação da fauna e da flora a novas condições impostas pelos climas. Em relação à fauna, verificou-se em muitos casos uma permanência no mesmo local, o que implicou, naturalmente, um enorme esforço adaptativo. As espécies que não tiveram essa capacidade de adaptação viram-se obrigadas a procurar regiões onde o clima era menos rigoroso. Outras, simplesmente, desapareceram por impossibilidade de adaptação ou de migração. Também a análise de fósseis vegetais, através da palinologia e da antracologia têm-se revelado muito úteis para o conhecimento dos efeitos do clima ao longo da referida era geológica. A título de exemplo, algumas zonas temperadas da Europa durante a última glaciação caracterizavam-se pela sua paisagem de tundra e eram habitadas por renas, mamutes e o rinoceronte-lanudo. Estes estavam tão bem adaptados ao clima que tiveram que migrar para o Norte (Escandinávia) ou então desapareceram por não se adaptarem às novas temperaturas do fim do Würm, como foi o caso das duas últimas espécies.
Após a última glaciação o clima tornou-se mais ameno e aumentou o teor de humidade. Entrava-se no Holoceno, com duas fases nítidas, esta primeira a que se deu o nome de Boreal, cuja vegetação era eminentemente de coníferas, e a segunda, chamada Atlântica, ao longo da qual se verificou o avanço dos bosques de folha caduca, fazendo regredir a floresta de coníferas para o Norte.
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Como referenciar
Porto Editora – períodos de glaciação da Terra na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2025-01-19 10:34:44]. Disponível em
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