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Persas: Primeiro Império Universal
A dinastia governante na Pérsia, com sede em Fars (Parsa), tinha como antepassado o rei Haxamanish ou Aquemenes. Sucederam-lhe três reis: Teispes, Ciro I e Cambises I. Não sabemos praticamente nada destes, exceto que Ciro I foi, provavelmente, o rei persa que jurou submissão a Asurbanipal da Assíria pouco depois do ano de 639 a. C. Quando Ciro II, a quem justamente se apelida "o Grande", acedeu ao trono em 559 a. C., já tinha decidido revoltar-se contra o controlo do seu avô Astiages. Após a vitoria sobre este, fundou o Império Persa, através de uma série de brilhantes conquistas que o celebrizaram a par de Alexandre, embora menos conhecido. Às regiões centrais, tradicionalmente constituindo a força dos Impérios mesopotâmicos, Babilónia, Assíria, Urartu, acrescentou, a oeste, a Alta Mesopotâmia e a Lídia (tomada de Sardes a Creso, em 546 a. C.), e na direção do oriente conquistou, com dificuldade, os nómadas arianos, as províncias do Irão e do atual Afeganistão (Sogdiana, Bactriana, Aracósia, Gedrósia), colocando-o em contacto direto com a civilização do Vale do Indo.
As causas do êxito de Ciro II são, contudo, pouco claras. Ao lado do entusiasmo religioso, que não deve ser muito valorizado, pois os Persas não possuem o fanatismo religioso dos Muçulmanos que hoje ocupam a região, e da ardente juventude de um povo em pleno surto, destaca-se o seu valor pessoal de herói lendário, a sua moderação, a generosidade para com os vencidos, numa dominação diluída e pouco estruturada.
O reinado de Cambises, filho de Ciro, foi curto (529-521 a. C.), marcado pela fácil tomada do Egito, em 525 a. C. Também as revoltas e conspirações internas, que com Dario se iriam transformar numa ampla sublevação, materializaram a ausência de estruturas institucionais, nesta monarquia feudal, demasiado extensa com limites de vasto império.
Dario reprimiu com vigor e eficácia a sublevação, particularmente gravosa na Babilónia, no Elam, na própria Pérsia. Para resolver os problemas provenientes da diversidade de povos submetidos, que incluía Medos, Babilónicos, Sírios, Fenícios, Lídios e Gregos Jónios, bem como Arianos, desde o Irão até ao Indo, organizou vinte satrapias, vastas como reinos. Estas eram entregues a chefes amplamente autónomos, aos quais se deixava grande liberdade de meios para garantirem a ordem, a entrada de tributos anuais, calculados de forma precisa segundo a riqueza de cada região, e o recrutamento dos contingentes militares. Os sátrapas são fiscalizados e observados por um funcionário civil e financeiro e um chefe militar, e submetidos a um controlo e inspeção policial rigorosa dos correios do grande Rei, denominados, de maneira bastante significativa, "os olhos e os ouvidos" do soberano.
O Império contava com diversos elementos para a sua unidade e coesão: o aramaico, língua administrativa do Oriente, era empregue conjuntamente com línguas regionais, tais como o iraniano, o babilónico, o egípcio, o grego, entre outras; o exército, que era formado por elementos recrutados nos locais, mas organizado em torno de uma forte guarda real de 15 000 soldados de elite, Medos e Persas; as grandes rotas comerciais, simultaneamente administrativas e estratégicas, sendo a mais conhecida a que conduzia de Éfeso, passando por Sardes, às capitais Persépolis, Pasárgada, Susa, Ecbátana e Babilónia; a moeda, cunhada essencialmente com os tesouros muçulmanos das capitais cujos "dáricos" de ouro são muito procurados nos mercados e dão ao rei poderosos meios de corrupção e, mais tarde, de recrutamento de mercenários, essencialmente hoplitas gregos, barcos fenícios, cipriotas e outros. De uma forma global e genérica, o Império continua subadministrado, muito tolerante, por vezes condescendente, desde que assegurados os desejos régios, o que se explica pela sua imensidão, pela fraqueza numérica persa, elemento dirigente, e pela dispersão populacional, muito desigual, num modelo repetido posteriormente pelos Selêucidas.
A religião oficial persa é o mazdeísmo que evoluiu desde a fundação inicial por Zoroastro. Era dominada por uma casta sacerdotal dos magos, cuja doutrina não conformista, propondo um ideal depurado de justiça social e de reforma espiritual, foi um poderoso fator de unidade nacional. Mas os soberanos transformaram-no em favor pessoal. A religião oficial, pondo de parte os Magos, opositores do carácter material do poder e partidários de um proselitismo desajustado, organiza em redor da figura régia um culto prático, a adoração do fogo sagrado, e faz de Ahura-Mazda o suserano das restantes divindades. O próprio rei é suserano do Universo, representante do deus supremo na Terra, soberano de direito divino e portador de um carisma que a vitória materializa, um conceito recuperado pelos imperadores romanos. É dever do rei assegurar a justiça, garantir o reino do direito e da verdade divina, e ele louva em inscrições triunfais, que correspondem a "confissões justificativas", o seu espírito cavalheiresco, o seu horror à mentira, a sua vontade de fazer reinar sobre os súbditos a bondade do deus.
Do ponto de vista artístico, os persas tiveram somente uma arte real, sem especial originalidade, pois não existiam tradições iranianas anteriores. Neste sentido, os diferentes povos do Império contribuíram com materiais, artesãos e tecnologia para a edificação dos palácios, sobretudo Susa e Persépolis. As sepulturas reais e as grandes inscrições são, sobretudo a partir de Dario, obras rupestres, de acesso condicionado e difícil e ornadas de relevos cujos motivos, por toda a parte reproduzidos, representam o rei homenageando o seu protetor Ahura-Mazda diante do altar de fogo, por vezes cercado de dignatários da corte e do exército. No conjunto, esta arte monumental, e por vezes muito ornada, toma de empréstimo às civilizações antigas, e mesmo aos gregos, sobretudo Jónicos, técnicas experimentadas: a dos Babilónios (palácios complexos, tijolos esmaltados), a dos Assírios (capitéis em forma de cabeça de touro adossados), a do Egito (salas com colunas e tecnologia dos Hipogeus).
Dario, considerado senhor do mundo pelos seus súbditos, foi o primeiro monarca persa a denominar-se "Rei dos reis" (Shahanshah). No final do seu reinado, porém, surgiram os primeiros sinais indicadores de tragédia iminente na periferia do Império, quando as cidades gregas da Ásia Menor se revoltaram contra o domínio persa. Os Persas esmagaram a revolta e desencadearam um ataque contra Atenas em 490 a. C., mas foram vencidos em Maratona. Em 480 a. C., Xerxes, filho de Dario, comandou um exercito significativo contra Atenas e Esparta. Depois de alcançar uma difícil vitória sobre os espartanos do desfiladeiro de Termópilas, os Persas foram derrotados na batalha naval de Salamina e em terra em Plateias. Após esta série de desaires, eclodiriam um pouco por todo o Império diversas rebeliões e, decorridos 150 anos, os Persas não puderam competir com o génio e a estratégia militar de Alexandre, o Grande, que em 334 a. C., com um exército de 400 000 homens, atravessou os Dardanelos e derrotou os Persas em Issus, na costa mediterrânica. Em 331 a. C., Alexandre atingiu o coração do Império e tomou Babilónia, Susa, e, finalmente, Persépolis, que incendiou num ato de vingança pela anterior destruição de Atenas.
As causas do êxito de Ciro II são, contudo, pouco claras. Ao lado do entusiasmo religioso, que não deve ser muito valorizado, pois os Persas não possuem o fanatismo religioso dos Muçulmanos que hoje ocupam a região, e da ardente juventude de um povo em pleno surto, destaca-se o seu valor pessoal de herói lendário, a sua moderação, a generosidade para com os vencidos, numa dominação diluída e pouco estruturada.
O reinado de Cambises, filho de Ciro, foi curto (529-521 a. C.), marcado pela fácil tomada do Egito, em 525 a. C. Também as revoltas e conspirações internas, que com Dario se iriam transformar numa ampla sublevação, materializaram a ausência de estruturas institucionais, nesta monarquia feudal, demasiado extensa com limites de vasto império.
Dario reprimiu com vigor e eficácia a sublevação, particularmente gravosa na Babilónia, no Elam, na própria Pérsia. Para resolver os problemas provenientes da diversidade de povos submetidos, que incluía Medos, Babilónicos, Sírios, Fenícios, Lídios e Gregos Jónios, bem como Arianos, desde o Irão até ao Indo, organizou vinte satrapias, vastas como reinos. Estas eram entregues a chefes amplamente autónomos, aos quais se deixava grande liberdade de meios para garantirem a ordem, a entrada de tributos anuais, calculados de forma precisa segundo a riqueza de cada região, e o recrutamento dos contingentes militares. Os sátrapas são fiscalizados e observados por um funcionário civil e financeiro e um chefe militar, e submetidos a um controlo e inspeção policial rigorosa dos correios do grande Rei, denominados, de maneira bastante significativa, "os olhos e os ouvidos" do soberano.
O Império contava com diversos elementos para a sua unidade e coesão: o aramaico, língua administrativa do Oriente, era empregue conjuntamente com línguas regionais, tais como o iraniano, o babilónico, o egípcio, o grego, entre outras; o exército, que era formado por elementos recrutados nos locais, mas organizado em torno de uma forte guarda real de 15 000 soldados de elite, Medos e Persas; as grandes rotas comerciais, simultaneamente administrativas e estratégicas, sendo a mais conhecida a que conduzia de Éfeso, passando por Sardes, às capitais Persépolis, Pasárgada, Susa, Ecbátana e Babilónia; a moeda, cunhada essencialmente com os tesouros muçulmanos das capitais cujos "dáricos" de ouro são muito procurados nos mercados e dão ao rei poderosos meios de corrupção e, mais tarde, de recrutamento de mercenários, essencialmente hoplitas gregos, barcos fenícios, cipriotas e outros. De uma forma global e genérica, o Império continua subadministrado, muito tolerante, por vezes condescendente, desde que assegurados os desejos régios, o que se explica pela sua imensidão, pela fraqueza numérica persa, elemento dirigente, e pela dispersão populacional, muito desigual, num modelo repetido posteriormente pelos Selêucidas.
A religião oficial persa é o mazdeísmo que evoluiu desde a fundação inicial por Zoroastro. Era dominada por uma casta sacerdotal dos magos, cuja doutrina não conformista, propondo um ideal depurado de justiça social e de reforma espiritual, foi um poderoso fator de unidade nacional. Mas os soberanos transformaram-no em favor pessoal. A religião oficial, pondo de parte os Magos, opositores do carácter material do poder e partidários de um proselitismo desajustado, organiza em redor da figura régia um culto prático, a adoração do fogo sagrado, e faz de Ahura-Mazda o suserano das restantes divindades. O próprio rei é suserano do Universo, representante do deus supremo na Terra, soberano de direito divino e portador de um carisma que a vitória materializa, um conceito recuperado pelos imperadores romanos. É dever do rei assegurar a justiça, garantir o reino do direito e da verdade divina, e ele louva em inscrições triunfais, que correspondem a "confissões justificativas", o seu espírito cavalheiresco, o seu horror à mentira, a sua vontade de fazer reinar sobre os súbditos a bondade do deus.
Do ponto de vista artístico, os persas tiveram somente uma arte real, sem especial originalidade, pois não existiam tradições iranianas anteriores. Neste sentido, os diferentes povos do Império contribuíram com materiais, artesãos e tecnologia para a edificação dos palácios, sobretudo Susa e Persépolis. As sepulturas reais e as grandes inscrições são, sobretudo a partir de Dario, obras rupestres, de acesso condicionado e difícil e ornadas de relevos cujos motivos, por toda a parte reproduzidos, representam o rei homenageando o seu protetor Ahura-Mazda diante do altar de fogo, por vezes cercado de dignatários da corte e do exército. No conjunto, esta arte monumental, e por vezes muito ornada, toma de empréstimo às civilizações antigas, e mesmo aos gregos, sobretudo Jónicos, técnicas experimentadas: a dos Babilónios (palácios complexos, tijolos esmaltados), a dos Assírios (capitéis em forma de cabeça de touro adossados), a do Egito (salas com colunas e tecnologia dos Hipogeus).
Dario, considerado senhor do mundo pelos seus súbditos, foi o primeiro monarca persa a denominar-se "Rei dos reis" (Shahanshah). No final do seu reinado, porém, surgiram os primeiros sinais indicadores de tragédia iminente na periferia do Império, quando as cidades gregas da Ásia Menor se revoltaram contra o domínio persa. Os Persas esmagaram a revolta e desencadearam um ataque contra Atenas em 490 a. C., mas foram vencidos em Maratona. Em 480 a. C., Xerxes, filho de Dario, comandou um exercito significativo contra Atenas e Esparta. Depois de alcançar uma difícil vitória sobre os espartanos do desfiladeiro de Termópilas, os Persas foram derrotados na batalha naval de Salamina e em terra em Plateias. Após esta série de desaires, eclodiriam um pouco por todo o Império diversas rebeliões e, decorridos 150 anos, os Persas não puderam competir com o génio e a estratégia militar de Alexandre, o Grande, que em 334 a. C., com um exército de 400 000 homens, atravessou os Dardanelos e derrotou os Persas em Issus, na costa mediterrânica. Em 331 a. C., Alexandre atingiu o coração do Império e tomou Babilónia, Susa, e, finalmente, Persépolis, que incendiou num ato de vingança pela anterior destruição de Atenas.
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Como referenciar
Porto Editora – Persas: Primeiro Império Universal na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2024-12-07 14:52:47]. Disponível em
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