Portugal Muçulmano: Atividade Económica
No al-Andaluz, a forma como estava organizada a exploração e a posse da terra em nada se assemelhava ao regime fundiário até então vigente.
A aristocracia urbana não tinha autonomia em relação ao Estado nem poderes absolutos sobre os seus dependentes, tal como na sociedade feudal. Esta aristocracia era detentora de terras e, por vezes, de grandes propriedades. Estes "senhores muçulmanos" exerciam a função de alcaide (qaid) de um castelo (hisn) ou torre (borj) e dependiam da boa vontade do poder real na redistribuição dos tributos.
Para além da grande propriedade e das terras comunitárias do interior serrano, no al-Andaluz existia ainda um terceiro sistema fundiário: as hortas urbanas de pequena e média propriedade. Estas ocupavam as terras mais férteis e estavam na dependência de um complexo sistema de abastecimento de água através de uma rede de canais.
No Garb-al-Andaluz (nome dado à parcela de território português ocupado pelos Árabes) podem considerar-se três grandes áreas hortícolas e com terra fértil: os campos do Mondego, as hortas saloias de Lisboa, com Sintra e Palmela, e a faixa litoral do Algarve. Estas regiões tinham uma grande produção de hortaliças, leguminosas e fruta. De acordo com fontes literárias da época, nessa altura já eram conhecidos os figos e as passas do Algarve, as pêras e as maçãs de Sintra, os melões de Almeirim e as macieiras, as cerejeiras e as vinhas de Coimbra.
Os cereais mais cultivados neste período eram o trigo e a cevada e nas terras alagadas de Santarém a sua produtividade era bastante elevada, podendo ser ceifado cada seis semanas. O cultivo destes cereais também se estendia para outras regiões, tais como Évora, uma parte significativa do Alto Alentejo e, principalmente, Beja.
Relativamente à variedade de espécies cultivadas, e de acordo com Ibn Bassal, agrónomo toledano do século XI, as espécies arbóreas eram quatro: a figueira, a amendoeira, a videira e a oliveira. As árvores de fruto eram cerca de uma dezena, destacando-se a romãzeira, a macieira e a ameixeira. De seguida temos as hortaliças: o cabaço, a beringela, a fava, a cebola, o pepino, a couve-flor e a alface. Este tipo de alimentos demonstra a grande diferença em termos de hábitos dietéticos do Norte ibérico, onde as farinhas e as carnes eram predominantes.
Em relação ao vinho, e apesar das restrições sobre o consumo exagerado, o seu fabrico e consumo eram elevados.
Na época islâmica existiam povoados implantados em antigas zonas de laboração mineira e com atividades relacionadas com a extração e trabalho dos metais. São disto exemplo as minas romanas de Vipasca (Aljustrel) e do Lousal, próximo de Grândola. Trata-se de uma mineração artesanal, onde inúmeros afloramentos metálicos, os chamados "chapéus-de-ferro", permitiam a extração direta de prata e ouro, quase sem haver revolvimento de terras.
Ao mesmo tempo, à imagem do que acontecia com as grandes minas de azougue (mercúrio) de Almaden (Córdova), existia no Garbe um importante complexo mineiro, controlado pelos poderes públicos: é a mina de ouro de Almada, frente a Lisboa, cujo nome (al-mada), tal como a sua homónima cordovesa, significa "mina" em árabe.
O ouro e a prata, para além da sua larga utilização na cunhagem de moeda, eram profusamente utilizados no artesanato urbano, na confeção das mais variadas joias e artefactos de prestígio social ou apotropaica.
Para além dos metais preciosos, que desempenharam um papel crucial na economia do Garbe, é de salientar a exploração e o trabalho de outros metais, tais como o cobre, o ferro e o estanho. O cobre era extraído em pequenas quantidades nas antigas jazidas romanas do Alentejo. O bronze nesta altura continua a servir como matéria-prima a uma metalurgia de objetos do quotidiano, que ia desde fivelas, pontas de fuso e brincos até arneses e apliques de armas e armaduras.
O estanho, uma outra componente desta liga, provinha de duas grandes bolsas mineiras. Uma delas, talvez a mais importante, provinha das vertentes orientais da serra da Estrela, e o seu escoamento era feito pela antiga via da prata. A outra bolsa, que assumiu alguma importância até ao século XI, compreendia os vales do Vouga e do Alto Mondego e as encostas ocidentais das serras beirãs, onde se destacava o vale de Lafões. O estanho chegava a Coimbra pela calçada do Norte, que por sua vez ligava à Galiza, abastecendo de seguida os mercados urbanos de Lisboa e de todo o Garbe. Para além da sua utilização nas ligas de bronze, era também trabalhado no artesanato urbano, sendo utilizado no revestimento interior dos tachos e frigideiras de cobre onde se preparavam os alimentos.
Na área de Mértola, para além do manganês utilizado para a decoração cerâmica, na época islâmica foram explorados o chumbo e a galena, bastante utilizados em vidrados e em ligas pobres tais como o cobre.
Em relação ao uso do ferro, admite-se que tenha existido alguma mineração numa faixa que se prolonga de Montemor-o-Novo e Alvito até às serranias de Noudar, para lá do Guadiana.
Há também outros produtos não metálicos explorados no Garbe, sendo de referir os mármores de construção do Alto Alentejo, ainda que a sua procura seja neste período menos elevada do que na época romana. Existem também indícios de canteiras de gesso, indícios esses atestados pelas barcaças que desciam o Tejo carregadas de pedra calcária para abastecer os fornos de cal em Alcochete, que, por sua vez, abasteciam o mercado urbano de Lisboa.
Para além do sal, que nunca deixou de ser extraído em grandes quantidades no estuário do Tejo, em Alcácer do Sal e no Algarve, extraía-se agora o âmbar-cinzento, bastante procurado em todo o Mediterrâneo pelas suas características profiláticas, dos cachalotes pescados com esse objetivo em toda a costa do Garbe, com maior incidência sobre Lisboa e Faro.
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