público![favoritos](/images/ico_favoritos.svg)
A melhor maneira de definir público é diferenciá-lo de outros estados congéneres de organização, de congregação ou de conjugação de indivíduos. A partir de um posicionamento individual na sociedade, podem os seus elementos ser conduzidos, ou por imitação, ou por persuasão, ou por condicionamento, e, muito mais naturalmente, pela sua livre escolha. Se a formação coletiva, que decorre a partir do indivíduo, se faz por livre vontade, ou por imitação, fundam-se numa construção de fundo individual; mas se partem para uma formação persuasiva ou condicionante, podem indiciar, com fronteiras imprecisas entre os dois conceitos, em imposição coletiva sobre o individual. As definições de público podem ir, portanto, desde "explorar as forças desencadeadas e dirigi-las num sentido" (Tshakhotine) até a "liderar uma multidão", que é "um ser amorfo, incapaz de ação" (Gustave Le Bon), para se acentuar essa direção coletiva num só sentido. Dentro dessa perspetiva, para se tirar as diferenças: um "carácter essencial da massa atuante" que "reside na sua organização ou não-organização".
Vistos alguns aspetos diferenciais, vejamos as possibilidades de um caminho evolutivo, que nem sempre avança no sentido da mais perfeita organização, mas pode regredir conforme a ação do seu fundamento individual. Deste modo, tudo parece começar na multidão, que, na forma de um rio que corre, pode orientar-se segundo um canal fluente, ou pode extravasar as margens, sem haver controlo. No entanto, pelo seu estado amorfo, de procura do que quer, quase sempre requer a direção de um líder, que conduz a multidão de forma oral, ou emocional, ou através de uma ideia congregadora que mobilize a fluidez da multidão e se torne uma palavra de ordem.
Nos antípodas desta situação, já a massa decorre, não desta maneira fluida, mas de forma forçada, recorrendo a modos de condicionamento "científicos", com o objetivo de tornar os indivíduos num conjunto homogéneo e subserviente ao poder condicionante. Se uma multidão pode ser momentaneamente orientada, a massa tende a ser condicionada e estruturada de forma mais duradoira.
Se multidão e massa decorrem de uma situação individual ou coletiva de poder, e pretendem uma maior ou menor disposição dos indivíduos através deles, a opinião dirige-se num sentido muito diverso. Parte de uma origem individual, que se vai constituir ou agregar por semelhança de opinião e que, dada essa origem livre, pode tomar legitimamente a conceção de um público, ao qual se propõem as posições em alternativa, possíveis de se juntar em grupos de posição ou de oposição. A opção torna-se, portanto, para além de livre e de forma ponderada, determinante e não determinada. E também racional, distinguindo-se, por exemplo, da irracionalidade e dos sem motivos da massificação, naquilo que os autores chamam "estado de adesão".
Como se depreende do atrás dito, público pode ter estas gradações diferentes. Massa é resultante da imposição de regimes autoritários e totalitários. Muito próximos, e de fronteira diluída, estão alguns estados de persuasão do público nos regimes democráticos, que, procedendo assim, terão apenas uma expressão formal. Porque a opinião, formada da conjunção ou congregação dos elementos de uma sociedade, pertencerá à essência da própria democracia. Deste modo, "o centro do poder é a vontade do povo [...] o povo delega a sua autoridade no Governo e pode derrubá-lo em qualquer altura". Cria-se "um espírito ético [que] governará constituindo-se num fim em si mesmo". Essa livre disposição, esse poder e essa feição ética serão, essencialmente, os elementos constitutivos de um público e distingui-lo-ão da desorganização da multidão e do autoritarismo da massa.
O problema da constituição de um público não se esgotará nesta diferença de conceitos e pode manter um aspeto híbrido. Milton, na sua Aeropagítica, coloca, de um ponto de vista democrático, a imprensa como fator de criação de público. Deste modo, o problema transfere-se da liberdade individual para uma proposta de conjugação, que pode não ser racional, mas tomar um pendor mais dominante, num problema que apresenta vários tipos de cambiantes.
Para melhor definir o conceito de público devemos regressar às suas origens: publicus, que, em latim, é sinónimo de povo. Que se vai tornar, de um ponto de vista espacial, num lugar: o sítio onde o povo se junta, lugar público, mas, mais do que isso, um lugar aberto a todos. Este conceito, mais espacial, vai decorrer no tempo com a conquista da liberdade de expressão. Mas, para além de fazer pública uma expressão individual, o conceito toma sucessivamente a função de tornar público, dar a conhecer a outras pessoas, e de publicar, dar a conhecer, de forma indiscriminada, ao maior número de sujeitos, alcançados por meio de novas e aperfeiçoadas tecnologias. Por este seu último objetivo, e pelo modo instrumental como se utilizam essas tecnologias, se chegará a um conceito mais moderno de público: entidade menos individualizada e mais abstrata, que está sujeita à imposição tecnológica de uma opinião dominante.
Vistos alguns aspetos diferenciais, vejamos as possibilidades de um caminho evolutivo, que nem sempre avança no sentido da mais perfeita organização, mas pode regredir conforme a ação do seu fundamento individual. Deste modo, tudo parece começar na multidão, que, na forma de um rio que corre, pode orientar-se segundo um canal fluente, ou pode extravasar as margens, sem haver controlo. No entanto, pelo seu estado amorfo, de procura do que quer, quase sempre requer a direção de um líder, que conduz a multidão de forma oral, ou emocional, ou através de uma ideia congregadora que mobilize a fluidez da multidão e se torne uma palavra de ordem.
Nos antípodas desta situação, já a massa decorre, não desta maneira fluida, mas de forma forçada, recorrendo a modos de condicionamento "científicos", com o objetivo de tornar os indivíduos num conjunto homogéneo e subserviente ao poder condicionante. Se uma multidão pode ser momentaneamente orientada, a massa tende a ser condicionada e estruturada de forma mais duradoira.
Se multidão e massa decorrem de uma situação individual ou coletiva de poder, e pretendem uma maior ou menor disposição dos indivíduos através deles, a opinião dirige-se num sentido muito diverso. Parte de uma origem individual, que se vai constituir ou agregar por semelhança de opinião e que, dada essa origem livre, pode tomar legitimamente a conceção de um público, ao qual se propõem as posições em alternativa, possíveis de se juntar em grupos de posição ou de oposição. A opção torna-se, portanto, para além de livre e de forma ponderada, determinante e não determinada. E também racional, distinguindo-se, por exemplo, da irracionalidade e dos sem motivos da massificação, naquilo que os autores chamam "estado de adesão".
Como se depreende do atrás dito, público pode ter estas gradações diferentes. Massa é resultante da imposição de regimes autoritários e totalitários. Muito próximos, e de fronteira diluída, estão alguns estados de persuasão do público nos regimes democráticos, que, procedendo assim, terão apenas uma expressão formal. Porque a opinião, formada da conjunção ou congregação dos elementos de uma sociedade, pertencerá à essência da própria democracia. Deste modo, "o centro do poder é a vontade do povo [...] o povo delega a sua autoridade no Governo e pode derrubá-lo em qualquer altura". Cria-se "um espírito ético [que] governará constituindo-se num fim em si mesmo". Essa livre disposição, esse poder e essa feição ética serão, essencialmente, os elementos constitutivos de um público e distingui-lo-ão da desorganização da multidão e do autoritarismo da massa.
O problema da constituição de um público não se esgotará nesta diferença de conceitos e pode manter um aspeto híbrido. Milton, na sua Aeropagítica, coloca, de um ponto de vista democrático, a imprensa como fator de criação de público. Deste modo, o problema transfere-se da liberdade individual para uma proposta de conjugação, que pode não ser racional, mas tomar um pendor mais dominante, num problema que apresenta vários tipos de cambiantes.
Para melhor definir o conceito de público devemos regressar às suas origens: publicus, que, em latim, é sinónimo de povo. Que se vai tornar, de um ponto de vista espacial, num lugar: o sítio onde o povo se junta, lugar público, mas, mais do que isso, um lugar aberto a todos. Este conceito, mais espacial, vai decorrer no tempo com a conquista da liberdade de expressão. Mas, para além de fazer pública uma expressão individual, o conceito toma sucessivamente a função de tornar público, dar a conhecer a outras pessoas, e de publicar, dar a conhecer, de forma indiscriminada, ao maior número de sujeitos, alcançados por meio de novas e aperfeiçoadas tecnologias. Por este seu último objetivo, e pelo modo instrumental como se utilizam essas tecnologias, se chegará a um conceito mais moderno de público: entidade menos individualizada e mais abstrata, que está sujeita à imposição tecnológica de uma opinião dominante.
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Como referenciar
Porto Editora – público na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2025-01-21 09:34:47]. Disponível em
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