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Reflexões sobre a Vaidade dos Homens
Reflexões sobre a Vaidade dos Homens ou Discursos Morais sobre os Efeitos da Vaidade oferece um pensamento deliberadamente original, muitas vezes subversivo e muitas vezes conciliante, um pensamento que refletia bem a crise da mentalidade da época.
A maior parte das Reflexões exprime a profunda convicção de que tudo o que se passa na vida psicológica e moral é relativo, pois tudo se pratica para lograr a estima dos homens, para adquirir uma boa reputação, o que leva a que tudo o que façamos seja fingimento com objetivos sociais. A vaidade é, por conseguinte, uma convenção social indispensável que, apesar de possuir um carácter vicioso, inclui-se também no terreno da virtude. Esta contradição psicológica é, em Matias Aires, um índice da presença barroca no seu pensamento, que pretende, essencialmente, denunciar o carácter não natural, contraditório e instável da sociedade. Também o estilo, de movimento oratório, tem caracteres barrocos, mas é claro, vivo e atual. Todavia, encontram-se também nesta obra alguns laivos de Romantismo expressos no pessoalismo doentio, no gosto pela assimetria da Natureza e pela beleza disforme. Mostrando-se parcelar, volúvel, desconcertante, o discurso desta obra não deixa, todavia, de ser orientado por objetivos precisos, ainda que subterraneamente velados pelo autor. Facilmente se descobrem se representarmos num quadro as 163 reflexões que constituem a obra, de acordo com o seu número de linhas, dispondo-as em coluna vertical sempre que se verifique contiguidade de pensamento.
O que se nota de imediato é que a obra está organizada em dois ritmos, um descontínuo, de curto fôlego, e outro mais largo e compacto. O primeiro é revelador de uma inquietação e o segundo manifesta já uma crítica, bem delineada, atingindo determinados comportamentos e instituições sociais.
O autor apresenta, desde o início do livro, a multiplicidade e omnipresença da vaidade, com o intuito de perseguir o carácter contingente da natureza humana. A vaidade é, para Matias Aires, uma força perniciosa e útil, umas vezes antagonista da virtude, outras sua aliada. O autor põe deste modo em questão tudo quanto é instituição humana, que se apresenta como relativo, mutável e arbitrário, e certas atitudes e valores até aí considerados não só bons mas indispensáveis: retiros desenganados, honra, heroísmo, respeito. Qualquer que seja o ponto examinado, o autor teima em colocar como pano de fundo a vida em sociedade, fonte de males, organizada sobre conceitos vãos, de forma a preparar o leitor para uma reaprendizagem da realidade em que o indivíduo seja revalorizado e o saber ou ciência adquiridos na vida civil menosprezados, preferindo-se o simples juízo ao entendimento falacioso. Matias Aires questiona também, nesta obra, o amor que, fruto de uma impressão dos sentidos, nasce para acabar, de acordo com a eterna lei da mudança que rege o Universo. É a segunda força vital ao lado da vaidade e não merece, à luz do seu juízo, censura, pois nada o pode comandar. O segundo ritmo chega, insensivelmente, durante a extensa divagação sobre as freiras sem vocação, encerradas em conventos para que não venham a amar desigualmente. Denuncia certos costumes instituídos na clausura forçada, revelando a sua ineficiência que em lugar de apagar ou prevenir o amor ateia-o. Versa ainda outros temas como a vaidade das Letras e da sabedoria em geral, que se apresentam a seus olhos como um alarde vão. Acusa e põe em causa as solenes conclusões escolásticas, bem como os problemas disputados nas academias e lamenta que os homens prefiram a erudição à verdade. Trata outras questões sociais como a situação da mulher, "espécie de servidão", e o antagonismo entre "nobreza de sangue" e "nobreza de alma", afirmando, de acordo com Verney e a política pombalina, que só os méritos pessoais distinguem os homens.
A maior parte das Reflexões exprime a profunda convicção de que tudo o que se passa na vida psicológica e moral é relativo, pois tudo se pratica para lograr a estima dos homens, para adquirir uma boa reputação, o que leva a que tudo o que façamos seja fingimento com objetivos sociais. A vaidade é, por conseguinte, uma convenção social indispensável que, apesar de possuir um carácter vicioso, inclui-se também no terreno da virtude. Esta contradição psicológica é, em Matias Aires, um índice da presença barroca no seu pensamento, que pretende, essencialmente, denunciar o carácter não natural, contraditório e instável da sociedade. Também o estilo, de movimento oratório, tem caracteres barrocos, mas é claro, vivo e atual. Todavia, encontram-se também nesta obra alguns laivos de Romantismo expressos no pessoalismo doentio, no gosto pela assimetria da Natureza e pela beleza disforme. Mostrando-se parcelar, volúvel, desconcertante, o discurso desta obra não deixa, todavia, de ser orientado por objetivos precisos, ainda que subterraneamente velados pelo autor. Facilmente se descobrem se representarmos num quadro as 163 reflexões que constituem a obra, de acordo com o seu número de linhas, dispondo-as em coluna vertical sempre que se verifique contiguidade de pensamento.
O que se nota de imediato é que a obra está organizada em dois ritmos, um descontínuo, de curto fôlego, e outro mais largo e compacto. O primeiro é revelador de uma inquietação e o segundo manifesta já uma crítica, bem delineada, atingindo determinados comportamentos e instituições sociais.
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Como referenciar
Porto Editora – Reflexões sobre a Vaidade dos Homens na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2024-12-03 04:49:41]. Disponível em
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