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repetição (retórica)
Em estilística, a repetição é um termo genérico que engloba as repetições de palavras e as repetições de sons. Ao utilizar a língua como um material sonoro, a repetição transmite pela acumulação de palavras ou sons idênticos uma maior força expressiva.
REPETIÇÕES DE PALAVRAS:
Entre as repetições de palavras, é possível encontrarem-se o epizeuxe (ou paliologia), que consiste em repetir uma palavra sem conjunção, obtendo-se assim um efeito de insistência e intensificação:
"E também o vento é vão, dizias, dizias. Que só o crepúsculo é verdadeiro, o crepúsculo dos deuses. Esse, repetes, repetes, pulsa na música de Wagner..."
(Albano Martins. 1989. Rodomel Rododendro. Lisboa: Quetzal: 14)
Se por exemplo se repetem duas palavras e se as articulam através de uma conjunção, então estamos no plano da epanáfora:
Emigrou e trabalhou anos e anos a fio...
Se por outro lado se repete a conjunção copulativa e, estamos perante o polissíndeto:
"Vinham com ele, amarrados, os bois, as noras, os carvalhos, e a voz rouca do cuco e da poupa, o aroma poroso dos rododendros"
(Albano Martins. 1989. Rodomel Rododendro. Lisboa: Quetzal:29)
Outra figura de repetição de palavras é o paralelismo, repetição de estruturas sintáticas ao longo de versos ou frases.
"Rodomel. Mel rosado de antigas e árduas colmeias. De Rodes e de Tirinto. De Lesbos e de Creta. Da Babilónia e da Assíria."
(Albano Martins. 1989. Rodomel Rododendro. Lisboa: Quetzal: 24)
A anáfora é outra figura de repetição de palavras em início de versos ou frases sucessivas:
"cada palavra tua é um homem de pé
cada palavra tua faz do orvalho uma faca,"
Eugénio de Andrade, "Elegia das águas negras para Che Guevara" 1971, in Poesia, Porto: Fundação Eugénio de Andrade.
A epífora ou epístrofe é um mecanismo simétrico ao da anáfora, mas em que a repetição se verifica no fim de versos ou frases consecutivas:
"Praça da liberdade, confirmas. Dizes e confirmas."
(Albano Martins. 1989. Rodomel Rododendro. Lisboa: Quetzal: 23)
A anadiplose consiste na retoma, na oração seguinte, de uma palavra da oração anterior:
"Íamos de braço dado, recuperando ecos, lantejoulas. Na crina dos cavalos ensopados de humidade. A humidade que tolhe os pulsos e os deixa exaustos - cavalos cansados ao peso da tarde."
(Albano Martins. 1989. Rodomel Rododendro. Lisboa: Quetzal: 13)
A antanáclase é outra figura que consiste na repetição da mesma palavra mas assumindo diferentes significados.
"O mel das rosas que enfloram a cabeça dos enigmas. Da rosa dos ventos."
(Albano Martins. 1989. Rodomel Rododendro. Lisboa: Quetzal: 24)
A epanalepse coloca a mesma palavra no início e no fim de uma frase:
O homem é o pior inimigo do homem.
O poliptoto consiste em utilizar palavras flexionadas ou derivadas da mesma palavra:
"Da alegria perdida, reencontrada, perdida entre os escombros e as abjeções do real, mais falso e verdadeiro que todas as verdades apreendidas (...)"
(Albano Martins. 1989. Rodomel Rododendro. Lisboa: Quetzal: 30)
A paronomásia é uma figura em que se utilizam palavras que se aproximam na sonoridade, mas que se distanciam no significado:
"Os alcatruzes por onde a custo retiras, em delicadas, esdrúxulas parcelas, o hausto e o simulacro de ardidas vivências, violências antigas."
(Albano Martins. 1989. Rodomel Rododendro. Lisboa: Quetzal: 33)
REPETIÇÕES DE SONS:
As repetições de sonoridades possuem um efeito rítmico, um efeito de respiração do texto, assumindo muitas vezes valores simbólicos, evocativos de imagens visuais, acústicas e de sentimentos.
A assonância é uma repetição de sons vocálicos, resultando numa espécie de rima discreta:
"As ancas nuas das éguas bravas
cheiram ao sol verde das searas."
Eugénio de Andrade, "Planície", in Poesia, Porto: Fundação Eugénio de Andrade: 220.
A aliteração tem o mesmo efeito, mas consiste na repetição de sons consonânticos:
"Rodomel. Mel rosado de antigas e árduas colmeias. De Rodes e de Tirinto. De Lesbos e de Creta. Da Babilónia e da Assíria. O mel das rosas que enfloram a cabeça dos enigmas. Da rosa dos ventos."
(Albano Martins. 1989. Rodomel Rododendro. Lisboa: Quetzal: 24)
REPETIÇÕES DE PALAVRAS:
Entre as repetições de palavras, é possível encontrarem-se o epizeuxe (ou paliologia), que consiste em repetir uma palavra sem conjunção, obtendo-se assim um efeito de insistência e intensificação:
"E também o vento é vão, dizias, dizias. Que só o crepúsculo é verdadeiro, o crepúsculo dos deuses. Esse, repetes, repetes, pulsa na música de Wagner..."
(Albano Martins. 1989. Rodomel Rododendro. Lisboa: Quetzal: 14)
Se por exemplo se repetem duas palavras e se as articulam através de uma conjunção, então estamos no plano da epanáfora:
Emigrou e trabalhou anos e anos a fio...
Se por outro lado se repete a conjunção copulativa e, estamos perante o polissíndeto:
"Vinham com ele, amarrados, os bois, as noras, os carvalhos, e a voz rouca do cuco e da poupa, o aroma poroso dos rododendros"
(Albano Martins. 1989. Rodomel Rododendro. Lisboa: Quetzal:29)
Outra figura de repetição de palavras é o paralelismo, repetição de estruturas sintáticas ao longo de versos ou frases.
"Rodomel. Mel rosado de antigas e árduas colmeias. De Rodes e de Tirinto. De Lesbos e de Creta. Da Babilónia e da Assíria."
(Albano Martins. 1989. Rodomel Rododendro. Lisboa: Quetzal: 24)
A anáfora é outra figura de repetição de palavras em início de versos ou frases sucessivas:
"cada palavra tua é um homem de pé
cada palavra tua faz do orvalho uma faca,"
Eugénio de Andrade, "Elegia das águas negras para Che Guevara" 1971, in Poesia, Porto: Fundação Eugénio de Andrade.
A epífora ou epístrofe é um mecanismo simétrico ao da anáfora, mas em que a repetição se verifica no fim de versos ou frases consecutivas:
"Praça da liberdade, confirmas. Dizes e confirmas."
(Albano Martins. 1989. Rodomel Rododendro. Lisboa: Quetzal: 23)
A anadiplose consiste na retoma, na oração seguinte, de uma palavra da oração anterior:
"Íamos de braço dado, recuperando ecos, lantejoulas. Na crina dos cavalos ensopados de humidade. A humidade que tolhe os pulsos e os deixa exaustos - cavalos cansados ao peso da tarde."
(Albano Martins. 1989. Rodomel Rododendro. Lisboa: Quetzal: 13)
A antanáclase é outra figura que consiste na repetição da mesma palavra mas assumindo diferentes significados.
"O mel das rosas que enfloram a cabeça dos enigmas. Da rosa dos ventos."
(Albano Martins. 1989. Rodomel Rododendro. Lisboa: Quetzal: 24)
A epanalepse coloca a mesma palavra no início e no fim de uma frase:
O homem é o pior inimigo do homem.
O poliptoto consiste em utilizar palavras flexionadas ou derivadas da mesma palavra:
"Da alegria perdida, reencontrada, perdida entre os escombros e as abjeções do real, mais falso e verdadeiro que todas as verdades apreendidas (...)"
(Albano Martins. 1989. Rodomel Rododendro. Lisboa: Quetzal: 30)
A paronomásia é uma figura em que se utilizam palavras que se aproximam na sonoridade, mas que se distanciam no significado:
"Os alcatruzes por onde a custo retiras, em delicadas, esdrúxulas parcelas, o hausto e o simulacro de ardidas vivências, violências antigas."
(Albano Martins. 1989. Rodomel Rododendro. Lisboa: Quetzal: 33)
REPETIÇÕES DE SONS:
As repetições de sonoridades possuem um efeito rítmico, um efeito de respiração do texto, assumindo muitas vezes valores simbólicos, evocativos de imagens visuais, acústicas e de sentimentos.
A assonância é uma repetição de sons vocálicos, resultando numa espécie de rima discreta:
"As ancas nuas das éguas bravas
cheiram ao sol verde das searas."
Eugénio de Andrade, "Planície", in Poesia, Porto: Fundação Eugénio de Andrade: 220.
A aliteração tem o mesmo efeito, mas consiste na repetição de sons consonânticos:
"Rodomel. Mel rosado de antigas e árduas colmeias. De Rodes e de Tirinto. De Lesbos e de Creta. Da Babilónia e da Assíria. O mel das rosas que enfloram a cabeça dos enigmas. Da rosa dos ventos."
(Albano Martins. 1989. Rodomel Rododendro. Lisboa: Quetzal: 24)
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Como referenciar
Porto Editora – repetição (retórica) na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2024-12-12 11:02:02]. Disponível em
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