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Revolução Jugoslava
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Conjunto de iniciativas de carácter político e social que convergiram, a partir de 1999, numa revolta popular em Belgrado que eclodiu em outubro de 2000, na sequência da vitória eleitoral da oposição democrática ao regime ditatorial de Slobodan Milosevic.

"Boa tarde, Sérvia libertada!", assim clamava, perante mais de 500 000 pessoas, Vojislav Kostunica, o líder da oposição democrática jugoslava e vencedor das eleições presidenciais de 24 de setembro de 2000, nas quais derrotou Slobodan Milosevic, presidente em exercício e líder do Partido Socialista da Sérvia, à frente dos destinos jugoslavos havia muitos anos. Acabava assim uma das mais sangrentas ditaduras da Europa e um dos regimes que mais semearam a morte e a destruição nos Balcãs.
Tudo começou porque o regime de Belgrado se recusava a reconhecer a vitória de Vojislav Kostunica nas eleições de setembro. Por isso, a oposição jugoslava lançara um ultimato a Milosevic para que reconhecesse a sua derrota eleitoral até à tarde de 5 de outubro. Como tal não sucedeu, mais de meio milhão de jugoslavos concentrou-se, a partir das 13h, na praça em frente ao Parlamento federal, em Belgrado, para protestar e denunciar as fraudes eleitorais, acusando Milosevic de tardar a reconhecer os resultados.

Eram muitos os que vinham de outras regiões da Sérvia, como de Cacak, da Voivodina, de Subotica e de outras localidades. Na linha da frente dos manifestantes, por exemplo, estavam os mineiros de carvão de Kolubara, que tiveram particular destaque nesta "revolução". A polícia formava então cordões de segurança em frente ao Parlamento (embora esse "muro" tivesse sido forçado e rompido várias vezes) e patrulhava as artérias principais da cidade. O Governo sérvio, entretanto, advertia, na Televisão estatal (RTS), a população que "impedirá e punirá" todas as atividades "subversivas", aludindo à campanha de desobediência civil lançada pela oposição em Belgrado e no resto do país.

Pouco tempo depois, a violência começava a despontar e a ganhar forma, com pedras e papéis a serem lançados contra a polícia de choque. Nas ruas, circulavam já muitos tanques, embora estes não tenham nunca intervindo, deslocando-se mesmo para a periferia da cidade, numa atitude de não ingerência no curso da revolução. Muitos polícias começaram a passar para o lado dos manifestantes, como aconteceu com os jornalistas e funcionários da RTS, que deixou de transmitir às 15h. Alguns militares, como os oficiais da 63.ª Brigada Paraquedista ou os polícias de Cacak, apoiaram mesmo os revolucionários, bem como antigos agentes de segurança de Estado. Também os atiradores que estavam em torno da praça do Parlamento, por seu turno, não chegaram a disparar um único tiro, o que favoreceu a ação dos manifestantes e não causou distúrbios ou cenas de violência que poderiam ter encravado o processo. Muitos analistas hoje consideram que esta revolução teve mesmo uma certa cooperação policial e terá até sido, provavelmente, uma "revolução planeada".

Mas, pouco depois, começaram os confrontos entre a polícia que se mantinha fiel a Milosevic e os manifestantes que, instigados por um sacerdote, avançaram para as escadarias do Parlamento. As cenas de violência redobraram a cada momento, com vagas sucessivas de manifestantes a forçar o cordão de segurança, que respondeu com brutalidade e gás lacrimogéneo, dispersando muitos populares, que fugiram para as ruas envolventes. As ondas de manifestantes não paravam todavia de cair sobre a polícia. Colunas de fumo irromperam do Parlamento, parcialmente a arder, com mais granadas de gás a serem lançadas pela polícia.

Mas a polícia começava a passar em bloco para o lado dos manifestantes, que ganhavam novos redutos na capital, desde a Câmara Municipal ao Parlamento e à RTS, para além de rádios locais, que transmitiam a todo o momento programas e notícias dos acontecimentos, incentivando os manifestantes a avançar. Muitos dirigiam-se para Dedinje, em busca de Slobodan Milosevic, que residia naquele bairro. À entrada do luxuoso quarteirão, 150 polícias de choque impediram que 30 mil manifestantes avançassem para a casa do presidente jugoslavo, que persistia em não reconhecer que tinha sido derrotado nas eleições pelo candidato da Oposição, Vojislav Kostunica, insistindo numa segunda volta. Outros aglomeravam-se em número crescente em frente à Câmara, onde por volta das 18h30 tinha chegado Kostunica. A essa mesma hora, o Parlamento - onde se tinham reacendido novos fogos - era tomado por manifestantes. O regime soçobrava às mãos dos manifestantes.

Durante algumas horas, Belgrado viveu horas de tensão, com um frente a frente perigoso entre a polícia e os manifestantes, que acabou por se diluir devido à multidão ter avançado para outros pontos no Centro da cidade. Foi a primeira vez desde o dia 24 de setembro (data da primeira volta das eleições presidenciais) que Milosevic mandou a Polícia de Choque ao encontro dos simpatizantes da Oposição, que várias vezes já se tinham manifestado nas ruas da capital jugoslava. Milosevic parecia, por isso, disposto a resistir pela força à derrota, ainda que estivesse já sem alguns apoios tradicionais, como a Igreja e o Exército. Apesar de alguns manifestantes terem apedrejado a Polícia, esta não usou a força, motivo por que foi possível chegar a uma plataforma de acordo, com a multidão (estudantes, na maioria) a recuar para outros quadrantes da cidade.
Parte da multidão dirigiu-se também para a autoestrada Belgrado-Nis, bloqueando a via durante 30 minutos, após o que se juntou aos outros manifestantes, entretanto reunidos no Centro da cidade.

"Gotov je!" ("Acabou-se!") era o grito oficial dos manifestantes, por entre buzinadelas ensurdecedoras em toda a capital e noutras regiões sérvias. Consumava-se a Revolução Jugoslava, com a derrota - embora não assumida por Milosevic, que iniciaria um autêntico "folhetim" em torno do seu destino, que passaria ou pela prisão no seu país, ou pela sua detenção em Haia, no Tribunal Internacional, ou pelo exílio, que parecia a solução mais desejada pelo ditador - do regime ditatorial do SPS e a emergência de um novo poder democrático e de uma nova figura charneira na política jugoslava: o nacionalista, mas democrata, Vojislav Kostunica. Este, conduzido no cargo de Presidente da Jugoslávia, procurou uma transição suave e tranquila da Jugoslávia para uma democracia plena, aproximando-se do Ocidente, em particular da União Europeia, mas não desdenhando a tradicional amizade com a Rússia. Entretanto, a Jugoslávia, na sequência da investidura de Kostunica como presidente da República, legitimado na Revolução de 5 de outubro, reintegrou de imediato a ONU, a OSCE e o Pacto de Estabilidade para os Balcãs. A adesão ao Conselho da Europa foi outra das intenções que surgiram na sequência da Revolução Jugoslava.

A manutenção da configuração geopolítica da então Jugoslávia parecia ser um dos espinhos resultantes da revolução de 5 de outubro de 2000, pois o reformador Djukanovic, presidente da república jugoslava do Montenegro (Crna Gora), manifestou o desejo de avançar para a autodeterminação do seu país e consequente retirada da Federação da Jugoslávia. Por outro lado, dadas as contingências étnicas e políticas da Jugoslávia e o futuro, na altura incerto, de Milosevic e de alguns radicais sérvios (alguns da Bósnia, como Karadzic e Mladic, apoiantes do ex-ditador de Belgrado e por ele protegidos na terrível guerra da Bósnia), para além da tristemente imorredoira ideia da "Grande Sérvia" ainda latente em muitos jugoslavos, a Revolução Jugoslava parecia algo que ainda não tinha acabado e que poderia vir a ter alguns desenvolvimentos.

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Porto Editora – Revolução Jugoslava na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2024-12-07 11:45:10]. Disponível em
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