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Revolução Russa
Em 1905, a Rússia foi abalada por dois acontecimentos que a marcaram profundamente: a derrota na guerra contra o Japão e um movimento popular antimonárquico que chegou a colocar em perigo o trono. Surgiram os primeiros conselhos de operários ("sovietes"), orientados por militantes revolucionários de um novo tipo, que por um lado rejeitavam a tendência populista para combater o czarismo por meio de atentados bombistas contra personalidades destacadas e impopulares e por outro propunham a criação de partidos políticos de âmbito nacional, fortemente disciplinados e capazes de agitar e enquadrar grandes massas populares.
Apesar do ímpeto revolucionário de que se revestiu e da crescente impopularidade da família reinante e do sistema monárquico, a revolução não conseguiu triunfar. Contudo, uma década mais tarde, a Rússia envolvia-se em novo conflito, desta vez contra a Alemanha expansionista, isto apesar de os políticos do regime e os altos comandos militares terem uma clara noção da falta de preparação do país para sustentar e vencer um conflito de tais dimensões. As derrotas sucederam-se, e com elas cresceu a desconfiança nos poderes instituídos e nos comandos militares; a população sofria carências alimentares sem precedentes e sem solução à vista. Com as derrotas na frente de combate, surgem as deserções em massa e, a pouco e pouco, a contestação dos comandos instala-se. Formam-se novos "sovietes", integrados por soldados, que na sua quase totalidade são camponeses que sofrem duplamente: como combatentes batidos e descrentes na causa pela qual se vinham sacrificando e como camponeses sem terra e sem meios de subsistência. Nas cidades, a movimentação política acrescenta às agruras da guerra a revolta contra a autocracia e a opressão. Nas diversas regiões que compõem o império, as nacionalidades conquistadas em vão se esforçam por obter do czar a concessão da autonomia e o reconhecimento da sua identidade cultural.
Em fevereiro de 1917, sucedem-se as greves e estala um conflito entre o Palácio e o parlamento (a Duma), contrário à repressão. A revolta das tropas de Petrogrado, que se recusam a obedecer aos seus altos comandos, acelera a perda de autoridade do czar, que não tem já forças para impedir a instituição de um governo provisório. Este governo procura obter um amplo apoio popular e político, satisfazendo algumas reivindicações importantes; assim, estabelece a liberdade de imprensa e de reunião essenciais à atividade política, concede o direito à greve reclamado pelos trabalhadores fabris, amnistia os presos políticos e autoriza o regresso dos exilados e deportados, garante a liberdade de religião e determina a detenção da família real.
No entanto, a revolução não se iria ficar por estas reformas, pois os movimentos revolucionários queriam introduzir alterações muito mais profundas na vida política e social do país. Entre os promotores das propostas políticas radicais encontravam-se os militantes bolchevistas, dirigidos por Lenine, que exigiam a satisfação imediata de reivindicações mais extremas: a criação de um governo popular com base nos sovietes de soldados, operários e camponeses; a conclusão imediata de um acordo de paz, sem condições; a distribuição de terras pelos camponeses (reforma agrária) e a colocação da indústria sob o controle de sovietes de operários. Quer o primeiro governo provisório, dirigido pelo príncipe Lvov, quer o que lhe sucedeu, sob a presidência do moderado Kerensky, se recusaram a acatar estas exigências, o que ainda mais radicalizou a vida política do país e fez aumentar a popularidade e a influência dos bolcheviques.
É nesta situação de conflito generalizado (e com um governo desunido) que em outubro os bolcheviques alcançam a maioria no soviete da capital e se lançam deliberadamente à conquista do poder. A ofensiva é desencadeada por forças militares que haviam aderido à revolução e por milícias de operários e camponeses. Em poucos dias (os "dez dias que abalaram o mundo", segundo a consagrada fórmula do jornalista americano John Reed), os bolchevistas apoderam-se dos organismos de governo e, desfrutando de maioria num Congresso dos Sovietes que se realiza em fins de outubro e da incapacidade de Kerensky para organizar uma contraofensiva, assumem o poder na Rússia. Forma-se um "Conselho de Comissários do Povo", com funções executivas e presidido por Lenine, entretanto regressado do exílio. É este Governo que imediatamente procura dar vida às exigências formuladas durante os meses anteriores, assinando um acordo de paz incondicional com a Alemanha (Paz de Brest-Litovsk), promovendo a ocupação de terras pelos camponeses e concedendo direitos autonómicos às nacionalidades do império. O novo regime (a ditadura do proletariado) só seria institucionalizado no ano seguinte, com o país mergulhado em guerra civil e invadido por forças estrangeiras, movidas pela intenção de restabelecer a monarquia czarista e pelo receio de que a Rússia dos sovietes viesse a promover a revolução mundial preconizada pelas correntes políticas revolucionárias e temida pelas forças conservadoras.
Apesar do ímpeto revolucionário de que se revestiu e da crescente impopularidade da família reinante e do sistema monárquico, a revolução não conseguiu triunfar. Contudo, uma década mais tarde, a Rússia envolvia-se em novo conflito, desta vez contra a Alemanha expansionista, isto apesar de os políticos do regime e os altos comandos militares terem uma clara noção da falta de preparação do país para sustentar e vencer um conflito de tais dimensões. As derrotas sucederam-se, e com elas cresceu a desconfiança nos poderes instituídos e nos comandos militares; a população sofria carências alimentares sem precedentes e sem solução à vista. Com as derrotas na frente de combate, surgem as deserções em massa e, a pouco e pouco, a contestação dos comandos instala-se. Formam-se novos "sovietes", integrados por soldados, que na sua quase totalidade são camponeses que sofrem duplamente: como combatentes batidos e descrentes na causa pela qual se vinham sacrificando e como camponeses sem terra e sem meios de subsistência. Nas cidades, a movimentação política acrescenta às agruras da guerra a revolta contra a autocracia e a opressão. Nas diversas regiões que compõem o império, as nacionalidades conquistadas em vão se esforçam por obter do czar a concessão da autonomia e o reconhecimento da sua identidade cultural.
Em fevereiro de 1917, sucedem-se as greves e estala um conflito entre o Palácio e o parlamento (a Duma), contrário à repressão. A revolta das tropas de Petrogrado, que se recusam a obedecer aos seus altos comandos, acelera a perda de autoridade do czar, que não tem já forças para impedir a instituição de um governo provisório. Este governo procura obter um amplo apoio popular e político, satisfazendo algumas reivindicações importantes; assim, estabelece a liberdade de imprensa e de reunião essenciais à atividade política, concede o direito à greve reclamado pelos trabalhadores fabris, amnistia os presos políticos e autoriza o regresso dos exilados e deportados, garante a liberdade de religião e determina a detenção da família real.
É nesta situação de conflito generalizado (e com um governo desunido) que em outubro os bolcheviques alcançam a maioria no soviete da capital e se lançam deliberadamente à conquista do poder. A ofensiva é desencadeada por forças militares que haviam aderido à revolução e por milícias de operários e camponeses. Em poucos dias (os "dez dias que abalaram o mundo", segundo a consagrada fórmula do jornalista americano John Reed), os bolchevistas apoderam-se dos organismos de governo e, desfrutando de maioria num Congresso dos Sovietes que se realiza em fins de outubro e da incapacidade de Kerensky para organizar uma contraofensiva, assumem o poder na Rússia. Forma-se um "Conselho de Comissários do Povo", com funções executivas e presidido por Lenine, entretanto regressado do exílio. É este Governo que imediatamente procura dar vida às exigências formuladas durante os meses anteriores, assinando um acordo de paz incondicional com a Alemanha (Paz de Brest-Litovsk), promovendo a ocupação de terras pelos camponeses e concedendo direitos autonómicos às nacionalidades do império. O novo regime (a ditadura do proletariado) só seria institucionalizado no ano seguinte, com o país mergulhado em guerra civil e invadido por forças estrangeiras, movidas pela intenção de restabelecer a monarquia czarista e pelo receio de que a Rússia dos sovietes viesse a promover a revolução mundial preconizada pelas correntes políticas revolucionárias e temida pelas forças conservadoras.
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Como referenciar
Porto Editora – Revolução Russa na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2024-12-12 17:12:37]. Disponível em
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