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sintaxe
Estudo do modo como as palavras se podem organizar entre si para formarem frases. É a componente da gramática que se ocupa da descrição do conhecimento sintático intuitivo e interiorizado, traduzível pela capacidade que os falantes têm de decidir se uma frase é gramatical (bem formada segundo as regras da língua) ou agramatical (não aceitável, não permitida pelas regras da língua). Este conhecimento é responsável pela criatividade linguística, isto é, a capacidade de produzir e compreender um número ilimitado de frases nunca antes produzidas usando um número limitado de elementos: o léxico e as regras. Por outras palavras, sabemos intuitivamente que as seguintes frases são gramaticais:
i) Amanhã termino este trabalho.
ii) Hoje está a chover.
Sabemos também inconscientemente que as seguintes frases violam alguma regra de boa formação do Português:
iii) *Muitas houve atrocidades na Civil Espanhola Guerra.
(Houve muitas atrocidades na Guerra Civil Espanhola.)
iv) *Ontem eu vi ele no teatro.
(Ontem eu vi-o no teatro.)
v) *Houveram muitas atrocidades na Guerra Civil Espanhola.
(Houve muitas atrocidades na Guerra Civil Espanhola.)
vi) *A maior parte das pessoas compram revistas.
(A maior parte das pessoas compra revistas)
vii) *O poema de Drummond que eu gostei mais foi 'Procura da poesia'.
(O poema de Drummond de que eu gostei mais foi 'Procura da poesia'.)
Em todos os exemplos acima apresentados, o tipo de violação processa-se a nível sintático.
Fazem parte do conhecimento gramatical questões sobre:
Ordem básica das palavras na frase: o Português é uma língua SVO, ou seja, a ordem linear esperada é Sujeito-Verbo-Objeto. Existem, contudo, casos em que esta ordem não se verifica, como no exemplo seguinte em que o sujeito "rinocerontes" é pós-verbal: Existem rinocerontes no Kruger Park, em África do Sul. O exemplo iii) rompe com esta prescrição sintática do Português. Outras línguas possuem outra ordem de palavras: o latim apresenta ordem livre, porque as relações sintáticas eram dadas não pela posição ocupada pelos constituintes na frase mas por informações flexionais de caso (ex: - m para acusativo singular). As línguas célticas, por exemplo, são do tipo VSO (Verbo-Sujeito-Objeto).
Relações gramaticais e processos de as marcar: faz parte da sintaxe a identificação das funções sintáticas possíveis (sujeito, complemento direto, complemento indireto, predicativo do sujeito, etc.) e a capacidade de as reconhecer numa frase. Este conhecimento está relacionado com o anterior, na medida em que a posição das palavras na frase é muitas vezes indicador da sua função sintática, o que tem consequências bem distintas no significado da frase:
viii) O Pedro (SU) beijou a Ana (OD).
ix) A Ana (SU) beijou o Pedro (OD).
Do mesmo modo, a identificação das relações gramaticais permite resolver casos de ambiguidade estrutural:
x) O jornalista trouxe notícias da Austrália.
Esta frase pode ser entendida de duas formas. Se o constituinte "da Austrália" for complemento determinativo do nome "notícias", o sintagma é sinónimo de "notícias sobre a Austrália"; se por outro lado "da Austrália" for entendido como complemento circunstancial de lugar dependente do verbo "trazer", estamos perante outro tipo de relação gramatical sinónima de "trouxe notícias a partir de/ vindas da Austrália". Outro exemplo de agramaticalidade no uso das funções sintáticas é visível em iv), em que o pronome esperado seria "o" (e não "ele"), que é o pronome pessoal que assume função de objeto direto.
Estrutura dos constituintes: nem todos os tipos de palavras podem ser combinados para formar unidades maiores, a que se dá o nome de sintagmas. Analisemos os seguintes casos:
xi) *Meus amigos querem viajável.
xii) *Os trabalhadores eleição o novo chefe.
No exemplo xi) há uma agramaticalidade por duas razões: o determinante possessivo é acompanhado por um artigo definido em concordância, o que não se verificou; o verbo tem restrições de seleção, ou seja, espera ser seguido por outro verbo no infinitivo ou por um nome, mas nunca por um adjetivo. No segundo caso, é esperado que o sintagma nominal (SN) tenha como núcleo apenas um nome, não dois "Os trabalhadores eleição". Este tipo de conhecimento acerca da distribuição (total de contextos sintáticos possíveis em que cada palavra ocorre) das categorias gramaticais (nome, verbo, adjetivo, advérbio, etc.) e acerca da constituição das categorias sintagmáticas (sintagma nominal, sintagma verbal, sintagma adjetival) representa outro setor dos estudos em sintaxe.
Processos de concordância: a concordância é um processo de redundância frequente nas línguas. No português temos processos de concordância nominal em género e número e entre sujeito e predicado. Ruturas destes processos, normais em falantes não nativos do português, desencadeiam fenómenos de agramaticalidade:
xiii) A problema do Portugal é as dívidas.
xiv) Os menino pequeno anda sozinho na rua.
Dependências léxico-sintáticas locais: outro domínio do conhecimento sintático que nos permite saber que o verbo esperar seguido de oração completiva introduzida pela conjunção "que" seleciona o modo conjuntivo do verbo dependente:
xv) *Espero que sabes o que estás a fazer.
Em sintaxe para além das regras de formação da frase simples, estuda-se também a formação de frases complexas e o modo como elas se articulam entre si.
A sintaxe foi sempre uma dimensão privilegiada pela gramática tradicional, de tradição greco-latina, e pela didática das línguas, que desenvolveu uma terminologia e metalinguagem nem sempre coincidentes com as adotadas pelas várias correntes da linguística moderna que se têm debruçado sobre a componente sintática das línguas. É este facto que explica as designações equivalentes de complemento direto/ objeto direto, complemento circunstancial/ oblíquo, oração/ frase, etc. Era muitas vezes tratada em associação com a morfologia, sendo a sua distinção apenas feita pela linguística moderna.
A sintaxe conheceu um tratamento mais descritivista e científico a partir do funcionalismo de A. Martinet e mais tarde com o programa generativista, fortemente interessado no funcionamento sintático das línguas, pelo que desenvolveu uma metodologia e todo um aparelho teórico adaptado à descrição sintática das regularidades das línguas.
i) Amanhã termino este trabalho.
ii) Hoje está a chover.
Sabemos também inconscientemente que as seguintes frases violam alguma regra de boa formação do Português:
iii) *Muitas houve atrocidades na Civil Espanhola Guerra.
(Houve muitas atrocidades na Guerra Civil Espanhola.)
iv) *Ontem eu vi ele no teatro.
(Ontem eu vi-o no teatro.)
v) *Houveram muitas atrocidades na Guerra Civil Espanhola.
(Houve muitas atrocidades na Guerra Civil Espanhola.)
vi) *A maior parte das pessoas compram revistas.
(A maior parte das pessoas compra revistas)
vii) *O poema de Drummond que eu gostei mais foi 'Procura da poesia'.
(O poema de Drummond de que eu gostei mais foi 'Procura da poesia'.)
Em todos os exemplos acima apresentados, o tipo de violação processa-se a nível sintático.
Fazem parte do conhecimento gramatical questões sobre:
Ordem básica das palavras na frase: o Português é uma língua SVO, ou seja, a ordem linear esperada é Sujeito-Verbo-Objeto. Existem, contudo, casos em que esta ordem não se verifica, como no exemplo seguinte em que o sujeito "rinocerontes" é pós-verbal: Existem rinocerontes no Kruger Park, em África do Sul. O exemplo iii) rompe com esta prescrição sintática do Português. Outras línguas possuem outra ordem de palavras: o latim apresenta ordem livre, porque as relações sintáticas eram dadas não pela posição ocupada pelos constituintes na frase mas por informações flexionais de caso (ex: - m para acusativo singular). As línguas célticas, por exemplo, são do tipo VSO (Verbo-Sujeito-Objeto).
Relações gramaticais e processos de as marcar: faz parte da sintaxe a identificação das funções sintáticas possíveis (sujeito, complemento direto, complemento indireto, predicativo do sujeito, etc.) e a capacidade de as reconhecer numa frase. Este conhecimento está relacionado com o anterior, na medida em que a posição das palavras na frase é muitas vezes indicador da sua função sintática, o que tem consequências bem distintas no significado da frase:
viii) O Pedro (SU) beijou a Ana (OD).
ix) A Ana (SU) beijou o Pedro (OD).
Do mesmo modo, a identificação das relações gramaticais permite resolver casos de ambiguidade estrutural:
x) O jornalista trouxe notícias da Austrália.
Esta frase pode ser entendida de duas formas. Se o constituinte "da Austrália" for complemento determinativo do nome "notícias", o sintagma é sinónimo de "notícias sobre a Austrália"; se por outro lado "da Austrália" for entendido como complemento circunstancial de lugar dependente do verbo "trazer", estamos perante outro tipo de relação gramatical sinónima de "trouxe notícias a partir de/ vindas da Austrália". Outro exemplo de agramaticalidade no uso das funções sintáticas é visível em iv), em que o pronome esperado seria "o" (e não "ele"), que é o pronome pessoal que assume função de objeto direto.
Estrutura dos constituintes: nem todos os tipos de palavras podem ser combinados para formar unidades maiores, a que se dá o nome de sintagmas. Analisemos os seguintes casos:
xi) *Meus amigos querem viajável.
xii) *Os trabalhadores eleição o novo chefe.
No exemplo xi) há uma agramaticalidade por duas razões: o determinante possessivo é acompanhado por um artigo definido em concordância, o que não se verificou; o verbo tem restrições de seleção, ou seja, espera ser seguido por outro verbo no infinitivo ou por um nome, mas nunca por um adjetivo. No segundo caso, é esperado que o sintagma nominal (SN) tenha como núcleo apenas um nome, não dois "Os trabalhadores eleição". Este tipo de conhecimento acerca da distribuição (total de contextos sintáticos possíveis em que cada palavra ocorre) das categorias gramaticais (nome, verbo, adjetivo, advérbio, etc.) e acerca da constituição das categorias sintagmáticas (sintagma nominal, sintagma verbal, sintagma adjetival) representa outro setor dos estudos em sintaxe.
Processos de concordância: a concordância é um processo de redundância frequente nas línguas. No português temos processos de concordância nominal em género e número e entre sujeito e predicado. Ruturas destes processos, normais em falantes não nativos do português, desencadeiam fenómenos de agramaticalidade:
xiii) A problema do Portugal é as dívidas.
xiv) Os menino pequeno anda sozinho na rua.
Dependências léxico-sintáticas locais: outro domínio do conhecimento sintático que nos permite saber que o verbo esperar seguido de oração completiva introduzida pela conjunção "que" seleciona o modo conjuntivo do verbo dependente:
xv) *Espero que sabes o que estás a fazer.
Em sintaxe para além das regras de formação da frase simples, estuda-se também a formação de frases complexas e o modo como elas se articulam entre si.
A sintaxe foi sempre uma dimensão privilegiada pela gramática tradicional, de tradição greco-latina, e pela didática das línguas, que desenvolveu uma terminologia e metalinguagem nem sempre coincidentes com as adotadas pelas várias correntes da linguística moderna que se têm debruçado sobre a componente sintática das línguas. É este facto que explica as designações equivalentes de complemento direto/ objeto direto, complemento circunstancial/ oblíquo, oração/ frase, etc. Era muitas vezes tratada em associação com a morfologia, sendo a sua distinção apenas feita pela linguística moderna.
A sintaxe conheceu um tratamento mais descritivista e científico a partir do funcionalismo de A. Martinet e mais tarde com o programa generativista, fortemente interessado no funcionamento sintático das línguas, pelo que desenvolveu uma metodologia e todo um aparelho teórico adaptado à descrição sintática das regularidades das línguas.
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Como referenciar
Porto Editora – sintaxe na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2024-10-07 21:38:18]. Disponível em
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