sociolinguística (linguística)
A sociolinguística ou sociologia da linguagem, é uma disciplina da linguística que estuda os aspetos resultantes da relação entre a língua e a sociedade, concentrando-se em especial na variabilidade social da língua.
Apesar da falta de estudos sistemáticos que comprovem estas observações, é possível verificar que o português falado na região de Lisboa tem sofrido profundas alterações desde os finais dos anos 80, na medida em que a cidade recebeu uma onda de imigração de origem africana com grande impacto cultural e demográfico, o que afetou a língua falada em Lisboa, nomeadamente ao nível do léxico com palavras como: "dama", "bué", etc. Pode também observar-se que a língua muda de geração em geração, e que palavras como "chato", "chatice" e "chatear", que nas décadas de 60 e 70 eram consideradas calão, são hoje palavras que circulam num nível corrente de linguagem. Também parece haver diferenças entre a linguagem usada pelos homens e a linguagem usada pelas mulheres. Note-se, por exemplo, que ainda nos nossos dias o uso de palavrões está mais associado às comunidades masculinas do que às femininas, como se pode observar pelo número praticamente inexistente de mulheres seguidoras da modalidade de comédia mediática que é o stand-up comedy, muito apoiado no cómico de linguagem com base no calão. Além de fenómenos relacionados com a variação étnica e etária das línguas, a sociolinguística procura explicar também a formação de "variantes de prestígio", de que são exemplos as designações de "português padrão" ou "português correto", anteriormente correspondentes à variedade falada em Coimbra, mas mais recentemente identificadas com a variante falada em Lisboa.
Qualquer estudo sociolinguístico deve partir de uma análise cuidadosa do mapa sociológico de uma comunidade, uma vez que quanto mais complexo for o seu tecido social, mais heterogéneo será o uso que essa comunidade faz da língua. Em geral, os fatores sociais que apresentam o maior poder de influência sobre a variação linguística dentro de uma comunidade são o sexo, a idade, o nível de instrução, o nível socio-cultural e a etnia a que pertence um determinado grupo. É óbvio que nem todos os fatores têm que funcionar de forma idêntica em todas as comunidades e para cada comunidade é preciso ter em consideração o contexto em que está inserida, ou seja, as suas coordenadas sociais, geográficas, culturais, económicas, históricas e temporais. As consequências da variação linguística afetam maioritariamente os planos fonético-fonológico e morfológico das línguas, ainda que outros planos possam ser afetados. Seguem-se a título de exemplo alguns fenómenos de variação dependentes do nível de instrução em português europeu:
• Plano fonético-fonológico: "sarralheiro" em vez de "serralheiro"; "gasoilo" em vez de "gasóleo"
• Plano morfológico: regularização de paradigmas flexionais nas 2.ªs pessoas do Pretérito Perfeito do Indicativo - ex: "*tu vistes", "*tu contastes" e "*vós ouvisteis", "*vós contasteis" em vez de "tu ouviste/contaste" e "vós ouvistes/contastes"
• Plano sintático: "*a gente vamos" em vez de "a gente vai/ nós vamos"
• Plano lexical: expressões como "*derivado a" em vez de "devido a";
Em resumo, a sociolinguística interessa-se pelos seguintes aspetos:
• Conceito de prestígio linguístico
• Conceito de socioleto, de estilo e de gíria
• Consequências e motivações sociais associadas ao bilinguismo, à diglossia, às línguas francas, pidgin e crioulas
• Processos de elevação de uma variedade linguística ao estatuto de língua
• Fenómeno do tabú linguístico (nomes de genitais, atos sexuais ou escatológicos, de doenças, da morte ou do Diabo) e dos eufemismos (expressões alternativas que atenuam o significado dos tabús linguísticos) usados para substituir esses tabús linguísticos
• Variação social como mecanismo catalisador da mudança linguística ao longo do tempo
• Aspetos relacionados com o uso social da língua:
- Formas de tratamento como expressão da cortesia ou do princípio da delicadeza subjacente a uma interação verbal (em português possuímos um sistema de formas de tratamento que alterna basicamente entre a 2.ª pessoa - tu e a 3.ª pessoa - você, embora neste caso exista uma diversidade social bastante complexa - ex: "o senhor/a", "o Sr(a). Dr(a).", "o/a Sr(a). Professor(a)", etc.; já em japonês as formas de tratamento distribuem-se por sete níveis)
- Relações de poder social entre sujeitos falantes (o estatuto social dos intervenientes determina as escolhas linguísticas)
- Rituais linguísticos de tomada de palavra durante a conversação
A sociolinguística como ciência surgiu nos finais dos anos cinquenta com o trabalho de Marcel Cohen, Pour une sociologie du langage (1956), tendo-se alargado a Itália, com os trabalhos de Tullio Mauro (1963), e aos Estados Unidos, com as pesquisas empíricas de W. Labov (1966) e de M. Halliday (1971). Foram duas as perspetivas teórico-metodológicas que surgiram em sociolinguística: uma, de pendor mais sociológico, preocupada com a identificação e explicação das relações subjacentes às estruturas sociais e às estruturas linguísticas, e outra, de carácter mais antropológico, interessada pelo comportamento linguístico das comunidades à luz de uma dimensão cultural e social. São, igualmente, de destacar os trabalhos pioneiros em sociolinguística interaccional desenvolvidos por J.Y. Gumperz, que se dedicou à análise das funções sociais associadas às estratégias linguísticas desenvolvidas durante as interações verbais. São atualmente autores importantes neste domínio, para além dos já referidos, D. Hymes, B. Bernstein, J. A. Fishman, M. Alvar, F. Moreno Fernández, e no plano nacional, Maria Emília Ricardo Marques.
Uma vez que a sociolinguística se ocupa do estudo de um tipo de variação linguística, aquele que está dependente da dinâmica social, é frequente a sobreposição do seu objeto de estudo com o de outras disciplinas que também se ocupam da variação linguística, ainda que a outros níveis, como é caso da dialectologia, da etnolinguística, da análise conversacional e da pragmática.
Apesar da falta de estudos sistemáticos que comprovem estas observações, é possível verificar que o português falado na região de Lisboa tem sofrido profundas alterações desde os finais dos anos 80, na medida em que a cidade recebeu uma onda de imigração de origem africana com grande impacto cultural e demográfico, o que afetou a língua falada em Lisboa, nomeadamente ao nível do léxico com palavras como: "dama", "bué", etc. Pode também observar-se que a língua muda de geração em geração, e que palavras como "chato", "chatice" e "chatear", que nas décadas de 60 e 70 eram consideradas calão, são hoje palavras que circulam num nível corrente de linguagem. Também parece haver diferenças entre a linguagem usada pelos homens e a linguagem usada pelas mulheres. Note-se, por exemplo, que ainda nos nossos dias o uso de palavrões está mais associado às comunidades masculinas do que às femininas, como se pode observar pelo número praticamente inexistente de mulheres seguidoras da modalidade de comédia mediática que é o stand-up comedy, muito apoiado no cómico de linguagem com base no calão. Além de fenómenos relacionados com a variação étnica e etária das línguas, a sociolinguística procura explicar também a formação de "variantes de prestígio", de que são exemplos as designações de "português padrão" ou "português correto", anteriormente correspondentes à variedade falada em Coimbra, mas mais recentemente identificadas com a variante falada em Lisboa.
Qualquer estudo sociolinguístico deve partir de uma análise cuidadosa do mapa sociológico de uma comunidade, uma vez que quanto mais complexo for o seu tecido social, mais heterogéneo será o uso que essa comunidade faz da língua. Em geral, os fatores sociais que apresentam o maior poder de influência sobre a variação linguística dentro de uma comunidade são o sexo, a idade, o nível de instrução, o nível socio-cultural e a etnia a que pertence um determinado grupo. É óbvio que nem todos os fatores têm que funcionar de forma idêntica em todas as comunidades e para cada comunidade é preciso ter em consideração o contexto em que está inserida, ou seja, as suas coordenadas sociais, geográficas, culturais, económicas, históricas e temporais. As consequências da variação linguística afetam maioritariamente os planos fonético-fonológico e morfológico das línguas, ainda que outros planos possam ser afetados. Seguem-se a título de exemplo alguns fenómenos de variação dependentes do nível de instrução em português europeu:
• Plano fonético-fonológico: "sarralheiro" em vez de "serralheiro"; "gasoilo" em vez de "gasóleo"
• Plano morfológico: regularização de paradigmas flexionais nas 2.ªs pessoas do Pretérito Perfeito do Indicativo - ex: "*tu vistes", "*tu contastes" e "*vós ouvisteis", "*vós contasteis" em vez de "tu ouviste/contaste" e "vós ouvistes/contastes"
• Plano sintático: "*a gente vamos" em vez de "a gente vai/ nós vamos"
• Plano lexical: expressões como "*derivado a" em vez de "devido a";
Em resumo, a sociolinguística interessa-se pelos seguintes aspetos:
• Conceito de prestígio linguístico
• Conceito de socioleto, de estilo e de gíria
• Consequências e motivações sociais associadas ao bilinguismo, à diglossia, às línguas francas, pidgin e crioulas
• Processos de elevação de uma variedade linguística ao estatuto de língua
• Fenómeno do tabú linguístico (nomes de genitais, atos sexuais ou escatológicos, de doenças, da morte ou do Diabo) e dos eufemismos (expressões alternativas que atenuam o significado dos tabús linguísticos) usados para substituir esses tabús linguísticos
• Variação social como mecanismo catalisador da mudança linguística ao longo do tempo
• Aspetos relacionados com o uso social da língua:
- Formas de tratamento como expressão da cortesia ou do princípio da delicadeza subjacente a uma interação verbal (em português possuímos um sistema de formas de tratamento que alterna basicamente entre a 2.ª pessoa - tu e a 3.ª pessoa - você, embora neste caso exista uma diversidade social bastante complexa - ex: "o senhor/a", "o Sr(a). Dr(a).", "o/a Sr(a). Professor(a)", etc.; já em japonês as formas de tratamento distribuem-se por sete níveis)
- Relações de poder social entre sujeitos falantes (o estatuto social dos intervenientes determina as escolhas linguísticas)
- Rituais linguísticos de tomada de palavra durante a conversação
A sociolinguística como ciência surgiu nos finais dos anos cinquenta com o trabalho de Marcel Cohen, Pour une sociologie du langage (1956), tendo-se alargado a Itália, com os trabalhos de Tullio Mauro (1963), e aos Estados Unidos, com as pesquisas empíricas de W. Labov (1966) e de M. Halliday (1971). Foram duas as perspetivas teórico-metodológicas que surgiram em sociolinguística: uma, de pendor mais sociológico, preocupada com a identificação e explicação das relações subjacentes às estruturas sociais e às estruturas linguísticas, e outra, de carácter mais antropológico, interessada pelo comportamento linguístico das comunidades à luz de uma dimensão cultural e social. São, igualmente, de destacar os trabalhos pioneiros em sociolinguística interaccional desenvolvidos por J.Y. Gumperz, que se dedicou à análise das funções sociais associadas às estratégias linguísticas desenvolvidas durante as interações verbais. São atualmente autores importantes neste domínio, para além dos já referidos, D. Hymes, B. Bernstein, J. A. Fishman, M. Alvar, F. Moreno Fernández, e no plano nacional, Maria Emília Ricardo Marques.
Uma vez que a sociolinguística se ocupa do estudo de um tipo de variação linguística, aquele que está dependente da dinâmica social, é frequente a sobreposição do seu objeto de estudo com o de outras disciplinas que também se ocupam da variação linguística, ainda que a outros níveis, como é caso da dialectologia, da etnolinguística, da análise conversacional e da pragmática.
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Como referenciar
Porto Editora – sociolinguística (linguística) na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2025-03-22 06:24:40]. Disponível em
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